PREÂMBULO
UMA INTRODUÇÃO AO ESPÍRITO DESTE LIVRO
Antecedentes
Em 1994, o mestre em Administração, consultor de empresas e
conferencista Stephen Kanitz lançou o brilhante livro O Brasil que dá
certo. As profecias de Kanitz previam para o futuro do Brasil uma
sequência de anos de uma economia pujante. Mais de quinze anos
passados vemos que ele acertou, o Brasil deu certo, mas só na área da
economia. Não é suficiente. Queremos também estar na lista dos países
desenvolvidos em todas as áreas de uma sociedade moderna. Estamos
nos encaminhando para nos tornarmos a quinta maior economia do
mundo. Mas nem só de pão e eletrodomésticos vive o homem. Digamos
que somos a sétima, a sexta ou mesmo já a quinta maior economia do
mundo. E daí?
Este livro deve ser um contraponto, um complemento ao livro de Kanitz
e de outros livros e autores que vaticinaram bons e longos tempos para
o Brasil. Eles acertaram – de certa forma, esses progressos estão aí.
Mas há um sentimento de que não fomos tão bem assim, de que
poderíamos ter ido mais longe e, principalmente, de que os avanços
poderiam ter alcançado várias outras áreas, beneficiado muito mais
pessoas.
Acreditamos ter a percepção do porquê isso não aconteceu. A causa
está presente, está na mente, mais propriamente, na psique do Brasil e
de seu povo, que somos nós. Vamos mostrar isso a partir de agora e nas
248 páginas deste livro. Vamos fazer aqui uma psicanálise da neurose
política brasileira desde a sua infância colonial até os dias atuais.
Nunca estivemos tão bem
O Brasil é um país rico. Mas temos pobres demais. O Brasil é um país
de muitos talentos. Mas temos muitos ignorantes. A tarefa agora é
eliminar a pobreza, educar e qualificar o povo.
Eliminar a pobreza quer dizer fazer uma melhor distribuição da renda.
Educar significa formar cidadãos aculturados e conscientes e não
somente treinar pessoas para uma profissão. Esse é o erro básico de
nossos governantes: quando falam em “educação”, normalmente eles só
pensam em treinar alguém para conseguir um emprego. Cultura do
cidadão, respeito, consciência política não estão no currículo dos
governantes, já que eles próprios não possuem muita cultura geral nem
cultura política. O resultado é que, mesmo que o indivíduo somente
esteja bem alojado, bem vestido e bem alimentado, esse indivíduo não
chegará nunca a ser um cidadão de país desenvolvido. Educação
profissionalizante não é educação para formar cidadãos.
O Brasil é o país do futuro, ouvi isso sempre, desde que era criança.
Agora que o futuro chegou não sabemos o que fazer com ele.
A grande ilusão
Todos estão falando (pelos cotovelos) que nos tornamos um país
“desenvolvido”. As possibilidades estão aí: quinta maior economia,
quinto maior território, a quinta língua mais falada, quinta maior
população. Para ser um país desenvolvido isso não basta. Estamos
atrasados, e muito, em tudo o mais que faz de um país uma sociedade
desenvolvida. Estamos em 154º lugar na cultura geral do povo, a maior
parte da população é iletrada, com pouca ou nenhuma cultura. Temos
muitos analfabetos funcionais. Só um quarto dos alfabetizados é capaz
de ler e entender um texto. Nenhuma universidade brasileira está entre
as 200 melhores do mundo. A nossa democracia foi classificada como
defeituosa, ocupando a 47ª. posição entre as democracias (por falta de
cultura e participação política). Nosso nível de corrupção é o 69º entre
170 países (há 68 países mais honestos e sérios do que o nosso). A
nossa criminalidade é uma das mais altas do mundo. O Brasil é um dos
dez países mais perigosos para se viver, segundo estudos internacionais. A taxa de 50 mil mortes por ano se equipara à guerra civil da
Síria.
E agora, José?
Este livro aborda assuntos em áreas em que o Brasil não está dando
certo. As causas desses atrasos são abordadas, sempre que oportuno,
com
análises
críticas,
motivações
históricas
e,
sobretudo,
com
comentários sobre a psique do povo. Não deixa de ser uma psicanálise
de uma sociedade, do comportamento coletivo do brasileiro em todas as
suas manifestações: política, gerência pública, corrupção, justiça
defeituosa, entre outras.
O livro, ele mesmo, não é sem defeitos, contém simplificações para
salientar pontos de vista. Mas o objetivo é estimular um interesse novo
em assuntos da sociedade. O brasileiro médio “não gosta” de política ou
assuntos que não sejam futebol, sexo ou dinheiro (não necessariamente
nessa ordem).
Este livro espera críticas e recriminações de todos os cantos, o que é
bom começo como pontapé inicial. Precisamos nos conscientizar do que
é ser país desenvolvido, debater educação, justiça e não somente ficar
contentes com o fato de que a economia vai bem – ultimamente, nem
tão bem assim, segundo se lê.
Muitos leitores vão dizer que já conhecem tudo de ruim que se registra
neste livro, e concluir com o conhecido: “Isso é Brasil”. Mas isso não
precisa ser Brasil, não é com esse conformismo que vamos aprimorar
nosso país, dotado com tantos recursos materiais e humanos.
Nem só de pão e eletrodomésticos vive o homem
Na mais famosa exortação das Escrituras, o Sermão da Montanha, o
Cristo chamou atenção para os falsos objetivos do homem – os objetivos
materiais. Parece que nossos governantes se concentram mais em alvos
materiais para o povo, esquecendo-se dos valores culturais e espirituais. É função do Estado imbuir os cidadãos de valores culturais e
espirituais e não deixar só para as religiões que, de qualquer modo, não
cumprem essa função a contento. 1
A grande barreira
Temos, e tivemos no passado, bons pensadores e reformadores sociais.
Contudo, temos, e sempre tivemos, uma grande barreira impedindo os
esforços para formar uma sociedade mais culta, mais justa e menos
mesquinha em seus objetivos.
Essa grande barreira, existente até hoje, é a psique brasileira.
Quando temos tudo para organizar uma sociedade moderna rica não só
em valores materiais, mas também em valores culturais, nos deparamos
com uma psique imatura, defeituosa, imediatista. A cultura do oba-oba
nos dá políticos tipo oba-oba, arte tipo oba-oba, modelos sociais tipo
oba-oba.
Vamos, no decorrer dos assuntos deste livro, analisar a psique
brasileira e iremos observar a psique de outros povos mais bem
sucedidos cultural e espiritualmente.
A “missão” deste livro
O propósito deste livro é estimular o interesse por nossa sociedade
brasileira, pela maneira como ela é gerenciada (política), e encorajar o
leitor a buscar em outras fontes mais conhecimento sobre os assuntos
tratados aqui. O livro não é exaustivo, é só uma introdução, uma
primeira tacada nos temas abordados. Os especialistas nos vários
assuntos vão achar que o livro é superficial, mal dirigido. Vão encontrar
defeitos, e suas críticas serão bem vindas, pois é assim que o jogo fica
interessante. No momento atual da nossa história, estamos numa
morosidade que chega a ser enervante, jogando um jogo sem
movimento, com o povo em geral e os eleitores, sem o mínimo interesse
em saber como o seu dinheiro – o dinheiro público – está sendo gasto e
o país gerenciado.
Governantes corruptos do Distrito Federal, depois de roubarem dinheiro público, se
abraçaram e fizeram uma ‘oração’ de agradecimento a Deus. Definitivamente, as
nossas muitas religiões e seitas não estão funcionando.
1
A palavra “missão” é agora usada e abusada por empresas, repartições,
como se estas fossem ordens religiosas e não organizações bem pagas
para fazer um serviço geralmente mal feito. Estamos nos cobrindo com
mantos de religiosidade que não temos. Estamos numa sociedade cheia
de ritos e “missões”
2.
Hoje, não é possível ir a uma empresa ou
repartição sem ter que ler a famigerada “missão”. Assim que este livro
vai ter também uma missão. 
Vamos procurar identificar nossos defeitos psicológicos, sem precisar
colocar a nação inteira em terapia, mesmo porque não existe uma
nação brasileira formada. Estamos mais para uma colcha de retalhos
formada de bons e maus pedaços. Contudo, se conseguirmos entender
que não vamos sair do marasmo moral em que estamos há 500 anos,
não vamos progredir no sentido de uma sociedade humanizada. A
necessidade de uma nova doutrina humanística é enfatizada neste livro.
Religiões e doutrinas políticas existentes falharam. Precisamos de algo
novo que empolgue todos, de governantes ao simples cidadão.
Este livro não é pessimista, é estimulante
Este livro não é técnico, nem para técnicos. Os dados contidos aqui vêm
de levantamentos, estudos e estatísticas de organizações internacionais,
mídia universitária mundial, todas tidas como fontes fidedignas, por
suas pesquisas sérias. Não é um livro de reclamações ou de um
resmungão. Não é um livro pessimista, negativo ou que se coloca a
priori contra isso ou aquilo, só para ser do contra ou diferente. O
objetivo é elevar o nível de conhecimento sobre nosso país, sem
ufanismos ou euforias injustificadas, equipar e estimular o brasileiro
médio a encarar a realidade da nossa sociedade e pensar sobre como
aperfeiçoar a maneira de nós resolvermos nossos problemas crônicos. (A
partir deste ponto o livro vai começar de fato. Acompanhe o autor por
mais 255 páginas de reflexões.)
Num banco, devido à longa espera, tive que ler a sua “missão” missionária, uma
baboseira cheia de proselitismo destinada a converter o incrédulo que sabe que a
“missão” do banco é conseguir lucros de bilhões, quanto mais melhor, prestando o
pior serviço e cobrando as maiores taxas possíveis.
2
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Livro Osmar – O Brasil que NÃO dá certo