27 WWW.SOL.PT INÊS PEDROSA FORA DE ÓRBITA Pelo mundo fora, os pedidos de financiamento colectivo cobrem todo o tipo de projectos, mas a cultura é uma das áreas com maior peso e já há exemplos bastante impressionantes. Este ano, o consagrado realizador David Fincher (A Rede Social, Clube de Combate) viu, em Janeiro, o seu filme de animação The Goon cancelado por falta de financiamento. Mas, dez meses depois, em Novembro, graças à petição que a sua produtora lançou no Kickstarter (uma das maiores plataformas de crowdfunding mundial), o projecto recebeu quase 400 mil dólares só em donativos anónimos. Na sétima arte, outro exemplo de peso é o do também aclamado realizador de Queres Ser John Malkovich? ou O Despertar da Mente. No espaço de 60 dias, Charlie Kaufman conseguiu a mesma quantia de David Fincher para o seu próximo filme. A grande diferença é que, enquanto Fincher alcançou a quantia pedida, Kaufman duplicou a verba inicialmente solicitada. Segundo a revista norte-americana Forbes, actualmente as plataformas de crowdfunding angariam no mundo inteiro cerca de 3 mil milhões de dólares (em 2011 o total foi de 1,5 mil milhões de dólares). E as estimativas de sites como o Kickstarter ou o Indiegogo prevêem que, nos próximos anos, o total de apoios atinjam os 500 mil milhões de dólares (seis vezes mais do que o regaste financeiro a Portugal). As platafaformas nacionais Em Portugal esta realidade só chegou no ano passado, quando três alunos do Lisbon MBA International da Universidade Católica se conheceram e perceberam que partilhavam as mesmas ideias e interesses de trabalho em rede. «A ideia surgiu em Abril de 2011, numa altura Regime de tudo ou nada Além de Frankie Chavez, na música, o financiamento do novo álbum dos Primitive Reason (cujo maior apoio chegou do estrangeiro) e dos Poppers foram outros casos de sucesso no PPL. Mas independentemente da área, todos os participantes regem-se pelas mesmas regras. «Ficamos com 5% do total angariado, num sistema de tudo ou nada. Se o objectivo for, por exemplo, cinco mil euros e só forem angariados 4.500, o dinheiro é devolvido às pessoas», refere Pedro Domingos, revelando que só autoriza a colaboração do promotor para cobrir a verba em falta quando o objectivo está praticamente cumprido. «Em tempos tivemos um projecto de teatro que queria nove mil euros e, quando faltava um dia para a campanha terminar, tinham angariado mil. Eles queriam depositar os oito mil em falta para irem buscar os mil doados, mas não aceitámos. Isso seria subverter o conceito», afirma o responsável que também considera o crowdfunding uma excelente forma de «validar um projecto» em termos de audiência. Especializar é o caminho O Desacordo Ortográfico O Lá fora, quem tem uma ideia e quer capital vai a um site especializado: do jornalismo à medicina. Enquanto em Portugal as plataformas de crowdfunding aceitam todo o tipo de projectos, no estrangeiro a segmentação e especialização está a tornar-se cada vez mais comum. O site norte-americano Emphas.is, por exemplo, é vocacionado só para projectos de fotografia e já conta, inclusive, com participações portuguesas. O fotojornalista João Pina conseguiu financiar um livro que documenta os abusos de direitos humanos na América Latina só com esta plataforma, realizando três petições diferentes, mediante as fases do projecto. O ArtistShare é outra das plataformasespecializadascommaisutilizadores. Surgiu em 2000, dedica-se exclusivamente a promover projectosdemúsicaeumdosprojectosem destaque actualmente é o de financiamento ao novo álbum da compositora de jazz Maria Schneider. Mas a especialização é transversal a variadíssimas áreas no estrangeiro. «Há plataformas só para jornalismo, causas sociais, design, medicina, estudo do cancro, doenças raras, etc...», conta Pedro Domingos, da PPL, revelando que esse é um dos grandes objectivos da empresa. E já deram o primeiro passo: «Conseguimos vender recentemente o nosso modelo ao BES Crowdfunding, que se destina apenas a projectos de carácter social». A.H. O português Frankie Chavez Brasil nunca foi um país Também os acentos agudos e de gente adiada. Isto não é circunflexos ficam ao sabor do necessariamente um elotimbre «aberto ou fechado, na gio: a aceleração desenfreada pronúncia culta da língua». A pode conduzir a acidentes. expressão «pronúncia culta da A esta hora da História, o Bralíngua»,porsisó,seriaumarraial sil já entendeu isso. Os países node discriminação se a ignorância vos tendem a fugir da repetição arrivista que a molda não a tordos erros, ao contrário dos velhos, nasse imediatamente cómica. que se tornam teimosos, rezinuniformização da língua é gões e hábeis a justificar o injusindesejável porque aperta e tificável. afunila um idioma que se afirPortugal ainda hoje acredita mou no mundo pela vastidão da no regresso do D. Sebastião. Não sua criatividade. só acredita como espera que ele volte, manco de uma perna e sacudindo o pó da armadura, prometendo acabar com os impostos e refundar a nação. Os países velhos adaptam a memória aos seus interesses, isto é, só se lembram de como a vida era bela quando eles O adiamento decidido pelo eram novos. Ora a Brasil na aplicação do Acordo vida dos novos só é bela para os velhos. mostra que este não era uma Portugal é um velhi‘cedência’ aos brasileiros nho encantado com os tempos em que vivia descalço e era maHá uns sebastianitos mais asgro porque não tinha mais do que sanhados que bradam contra o uma côdea para comer. Acordo por o tomarem como ucede que o país do Futuro «cedência» ao Brasil, que só decidiu adiar o Acordo Orprocederia a 0,5 por cento de altográfico. terações, contra 1,4 de Portugal. Até ver, é para 2016. Isto é um disparate, como o Dizem alguns optimistas que demonstra aliás o adiamento a ideia é dar tempo para reforagora decidido pelo Brasil. De mular o auto-proclamado Acorqualquer modo, a língua não do. Trata-se de facto de um Dese muda por decreto – e as disacordo, porque, sujeitando a esferenças entre as versões porcrita à «pronúncia culta da tuguesa, africana e brasileira língua», faz com que palavras da língua são de sintaxe e vocomo «recepção», até agora cabulário: a ortografia pode uniformizadas, passem a ter tornar-se igual (o que não grafias distintas consoante a acontece neste Acordo), mas pronúncia do país em questão: as frases continuarão a manem Portugal passaremos a ester as diferenças. crever «receção», porque não Faz sentido manter um ‘Acorpronunciamos o ‘p’. Deixa de hado’ que não é aceite unanimever regras para as locuções. mente pelos países falantes da O Acordo também diz que o hílíngua? fen cai «salvo algumas exceAgora que o suposto princições já consagradas pelo uso». pal interessado adiou a idiotiE o uso justifica que «cor-dece, o velho Portugal podia tam-rosa» permaneça assim, e «cor bém esquecê-la. Sempre era de vinho» passe a andar sem uma asneira a menos, para coatrelado. Porque a rosa é mais meçar o ano. [email protected] antiga do que o vinho? A S DR Fincher tem o apoio dos fãs em que não existia nenhuma plataforma de crowdfunding em Portugal», explica Pedro Domingos, um dos sócios fundadores da PPL. No Verão desse ano estavam online, juntamente com a Massivemov, outra plataforma nacional que apareceu praticamente em simultâneo. Tanto a PPL como a Massivemov aceitam projectos de várias áreas mas, tal como nos sites estrangeiros, a área cultural e criativa é a mais apelativa. «Já tivemos projectos de teatro, arquitectura, documentários, livros e exposições, mas a música tem sido mais facilmente financiada», revela Pedro Domingos, enumerando as razões para este sucesso: «As campanhas correm bem porque já há uma base de fãs, é fácil perceber o projecto, as recompensas [dependendo do valor doado, o promotor oferece contrapartidas] são bastante directas [como um disco autografado ou bilhetes para um espectáculo] e o crowdfunding em Portugal ainda está muito virado para consumidores». RITA CARMO te na área da música. Com uma campanha divulgada apenas na internet, os fãs dos Marillian angariaram cerca de 60 mil dólares para que a banda de pop/rock britânica conseguisse realizar uma tournée nos Estados Unidos. A angariação nunca teve o envolvimento da banda, mas desde então os Marillian têm usado, com sucesso, este sistema para financiar os seus álbuns e digressões.