Competências na Gestão Intercultural: Desafios para a Aprendizagem e Qualificação Autoria: Tânia Maria Diederichs Fischer, Sônia Maria Guedes Gondim, Marcos Emanoel Pereira, Grace Kelly Marques Rodrigues, Aline Craide, Lucas Lopes de Pinheiro Resumo O presente artigo posiciona-se frente aos desafios relacionados à gestão intercultural em organizações transnacionais, dando ênfase às aprendizagens representadas por competências dos gestores que atuam na área internacional. Reflete sobre os requisitos de modelos de formação para esses gestores que valorizem a aprendizagem, especialmente de caráter relacional. Em outras palavras, o artigo tem como objetivo discutir a questão da formação para a gestão intercultural, a partir da reflexão sobre experiências de capacitação comumente orientadas pelas práticas negociais, em detrimento de competências de caráter relacional, essenciais para o tipo de gestão estudado. Para explorar esta temática foi desenvolvida uma pesquisa em uma organização transnacional de origem brasileira, que está presente em países da Europa, Américas, África e Ásia. O texto se inicia com uma breve contextualização do caso onde a pesquisa foi desenvolvida. Na seqüência, será apresentado o aporte teórico sobre competências e gestão intercultural, de modo a fundamentar as reflexões acerca de requisitos de aprendizagem para a qualificação de quadros gerenciais. A seguir, serão apresentados os principais resultados da pesquisa de natureza quanti-qualitativa, que foram coletados por meio da aplicação de questionários. Finalmente, são apresentadas considerações sobre os requisitos de um modelo de formação de gestores com vistas ao desenvolvimento da competência intercultural. 1 Introdução É fato que o fenômeno da globalização tem maximizado a aproximação de pessoas, territórios e propiciado infinitas possibilidades de interação entre culturas distintas, revelando símbolos, impressões culturais, formação de opiniões e estereótipos em relação a essas culturas. Segundo Canclini (2003), um dos possíveis efeitos dessa aproximação cultural é a necessidade de se aprofundar temas associados a interculturalidade nas organizações, ao se considerar que nesses ambientes o foco não se resume apenas às transações negociais, mas a aprendizagem decorrente da síntese dessas vivências. O produto dessas interações pode ser tão diverso quanto a multiplicidade de referências culturais, as quais, segundo Geertz (1989), refletem uma condição intrínseca ao ser humano que é o vínculo a uma teia de significados simbólicos, os quais, ao longo da vivência humana, são construídos, reconstruídos e aprendidos por grupos sociais ao se sucederem as gerações. Assim, inseridas nesse contexto as organizações deparam-se com diferentes realidades no momento em que se propõem a expandir seus negócios para outros países. Essa diversidade de padrões culturais expõe uma gama de interpretações sobre pessoas, ações, situações, formas distintas de organização do trabalho e de interação com realidades diversas. Porém, nem sempre essa dinâmica se dá de forma harmônica, ou seja, o diálogo ideal é, por vezes, limitado justamente pelo despreparo de gestores com relação a questões sensíveis do relacionamento intercultural, algo que transcende os saberes típicos como conhecimento da geografia e costumes mais difundidos em determinadas localidades. Trata-se aqui de levar em consideração características especiais das aprendizagens que levam a interação cultural, do entendimento de peculiaridades, que, embora implícitas nos relacionamentos, podem se revelar decisivas para uma internacionalização de negócios bem sucedida. É nesse sentido que o presente trabalho busca discutir a competência intercultural desses gestores, a partir de uma pesquisa realizada em uma multinacional brasileira. Impulsionada pela necessidade de expansão dos negócios, a organização pesquisada, ao longo das últimas décadas, tem enviado executivos para a implantação de unidades em diversos países. Entretanto, esses gestores eram preparados para a atuação internacional por meio de programas de treinamento que exploravam, basicamente, um conjunto de ações mais 1 direcionados à lógica do negócio e ao atendimento das necessidades de mercado, em detrimento de aspectos relacionados à interação cultural entre organização e essas localidades. Nesse contexto e tendo como premissa a formação de gestores apoiada na competência intercultural, cabe salientar que o significado de competência, neste trabalho, corresponde à capacidade do gestor de reconhecer e compreender a existência de crenças e valores próprios de cada cultura, assim como estabelecer diálogos produtivos com a população local, além de dirimir conflitos resultantes de possíveis choques interculturais. Dessa forma, acredita-se que o domínio dessa competência é elemento-chave para o sucesso nos processos de internacionalização de negócios. Essa compreensão inspira-se, ainda, em Chomksy (1978), cuja reflexão sobre o conceito de competência evidencia a habilidade do homem em estabelecer a comunicação em diferentes línguas ainda que estas não lhe sejam familiares. Isto porque, segundo o autor, o homem possui uma competência lingüística que lhe permite, criativamente, expressar seus pensamentos em variadas circunstâncias. Assim, abstraindo o conceito de competência exposto pelo autor, entende-se aqui que, também nas organizações, seja inerente ao homem a capacidade de se adequar a diferentes situações e ambientes. Ser competente não é ser apenas funcionalmente adequado no desempenho de uma ou várias tarefas, mas dispor de um capital de recursos cognitivos e atitudinais que permite ao gestor atuar com sensibilidade e dar respostas inovadoras e criativas aos desafios de diferentes contextos culturais. Em suma, ser competente significa ser capaz de aprender significativamente. Segundo Moreira (2006) para que ocorra aprendizagem significativa, quem aprende tem de manifestar disposição para aprender, o que implica em potencial e vontade. No entanto, questiona-se aqui a forma com que as organizações têm lidado com o desenvolvimento dessa competência, sendo comuns os modelos de formação centrados na atividade-fim da empresa, desprivilegiando outros aspectos da interação organizaçãocomunidade, como as relações estabelecidas com diferentes grupos culturais e suas particularidades. Ademais, vale ressaltar que a escolha do desenho de investigação justifica-se por haver grande produção de conhecimento sobre gestão cultural derivado de estudos de caso único, como a pesquisa de Geert Hofstede sobre a IBM (1983); de Alexandre Carrieri sobre a Telemig (CARRIERI, 2003); e o mais recente, de Leite-da-Silva e cols. sobre a agência ZIX dos Correios e Telégrafos (LEITE-da-SILVA e cols., 2006). Para fundamentar essa reflexão sobre alternativas de modelos de formação sob a perspectiva acima mencionada, procurou-se identificar junto aos funcionários da referida organização, as competências necessárias ao gestor intercultural, bem como os principais desafios gerenciais percebidos por estes no convívio em contextos culturalmente distintos. A partir dos resultados obtidos, buscou-se discutir requisitos para um modelo de formação de gestores de atuação internacional. Os detalhes sobre os resultados da pesquisa e respectivas análises podem ser conferidos mais adiante neste artigo. 2 As definições de Competência A ação de integrar pessoas capazes de tomar iniciativas, ir além das atividades prescritas e com capacidade de compreender, aprender sobre novas situações e contextos de trabalho tornou-se uma constante preocupação das organizações que buscam diferenciar-se de seus concorrentes a partir da gestão de pessoas. Neste sentido, conforme acreditam muitas organizações, a partir da gestão de competências organizacionais e de trabalhadores passa a ser possível promover uma mudança de atitude e formação de seus profissionais em relação às práticas de trabalho necessárias para o sucesso empresarial. Entretanto, o conceito de competência, segundo Ray (2002), está associado à excelência que reconhecemos no outro. Não é uma ação isolada, quando a própria pessoa deve demonstrar ser competente, torna-se, todavia, suficientemente objetiva para que ocorra reconhecimento social. Assim, se existe 2 visibilidade pública, há também o respeito que esta pessoa merece por ser competente. “No mesmo sentido, a palavra competência sugere, ao mesmo tempo, o visível e o oculto, o exterior e o interior, aquilo que resume a ação é o mais padronizado e também, por outro lado, aquilo que parece mais ligado à pessoa e é, por conseguinte, o mais indizível” (RAY, 2002, p.26). Há muitas controvérsias e referências teóricas sobre competências, na psicologia e educação, utilizadas na literatura sobre gestão e a capacitação de gestores. Para Doll e Ollagnier (2004), a noção de competência, ao ser exageradamente utilizada, pode provocar numerosas confusões. Extensivamente, competência passou a ser utilizada como um componente da organização. Desta forma, tanto se refere ao que a pessoa deve ser, mas também ao que a organização deve fazer (DUTRA, FLEURY e RUAS, 2008). Mas se a competência passa a ser um elemento direcionador de esforços da empresa não apenas quanto ao negócio, mas em conseqüência, como fator determinante do processo de capacitação, devese refletir melhor sobre seu significado. Segundo Doll e Ollagnier (2004), a dificuldade em definir competência designa a capacidade de produzir uma conduta em um determinado contexto, o que confirma que houve aprendizagem significativa. Para Noam Chomsky (1978), a noção de competência sugere que o sujeito é capaz de realizar idealmente graças ao seu potencial biológico; diferentemente do desempenho que é observável e, em muitos casos, mensurável. Remete, como dizem os autores supracitados, à noção de construção interna, na vertente cognitiva, mas também aos saberes necessários à solução de problemas no trabalho. Desta forma, diferentes empresas preconizam que ao determinar suas competências, visando elencar estratégias que maximizem a possibilidade de prosperar e sobreviver, poderão subsidiar objetivamente o rol de quais as competências que deverão ser desenvolvidas em seus trabalhadores, dando sentido mensurável a este desenvolvimento. Assim, Fleury e Fleury (2000) afirmam que somente setores da economia mais avançados têm preocupação com a chamada Gestão por Competências, pois são empresas que sabem que as pessoas fazem muita diferença em seu resultado, que precisam trabalhar com o conhecimento, a inteligência e o comprometimento de seus funcionários. Foi no final da década de 1980, a partir dos estudos feitos por Prahalad e Hammel (1995), que se começou a explorar o conceito de competências essenciais (ou core competences), apontando-as como elementos decisivos para a sobrevivência das empresas. Para os autores, as competências essenciais são um conjunto de habilidades e tecnologias que resultam em um diferencial fundamental para a competitividade da empresa, sendo primordial essa união. Além disso, diferenciam competências organizacionais das competências essenciais. Ao definir sua estratégia, a empresa identifica as competências essenciais do negócio sendo que em suas diferentes áreas haveria algumas competências organizacionais, necessárias para cada função. Assim, para que tais competências essenciais e organizacionais sejam uma real fonte de vantagem para a empresa, como preconizam os autores, as pessoas que nela trabalham devem estar capacitadas para disseminar esses valores e fazer com que esta estratégia dê resultados. Desta maneira, têm-se, estreitamente associadas às competências organizacionais, as competências individuais, pois as empresas tentam identificar as habilidades e conhecimentos de cada funcionário na tentativa de antecipar situações em que eles serão precisos e tentar otimizar o investimento humano que eles representam. Os recursos individuais deverão estar a favor dos propósitos coletivos, pois a identificação e o desenvolvimento das pessoas, como também o desenvolvimento dos mecanismos de retenção nas organizações, mostram-se como as maiores mudanças na área de recursos humanos. E as organizações ganham benefícios a partir dos recursos que seus funcionários representam. Todavia, ser dotado de conhecimentos, habilidades e atitudes não significa necessariamente ser competente, pois é preciso mobilização de competências, entendendo-as 3 não como um recurso, mas como a utilização dos mesmos. Portanto, a competência é uma organização de saberes em um sistema funcional, apresentando três dimensões: a rede de componentes cognitivos, afetivos e sensório-motores; a aplicabilidade desta rede a um contexto determinado e a orientação deste a uma finalidade. Para Le Boterf (2003), não haverá competência senão posta em ato, a competência só pode ser competência em situação. Freitas (2008) afirma que para tanto, ao ampliar a mobilidade das pessoas, especialmente dos quadros gerenciais, é possível aumentar seu rol de habilidades, e com isso fazer face ao cenário de crescente complexidade que caracteriza a era da globalização. Observa-se, a partir dessas colocações, que é possível conceber outras formas de entendimento acerca do conceito de competência. Na visão tradicional, para a qual a idéia de qualificação técnica é que propicia o referencial necessário para se trabalhar a relação profissional indivíduo-organização, enfatiza-se que a qualidade do profissional está diretamente associada a recursos como conhecimentos e/ou experiências que a pessoa teria acumulado durante sua vida profissional e que a qualificação é definida pelos requisitos associados à posição ou cargo, ou pelos saberes ou estoque de conhecimentos da pessoa. Assume-se que, para além destas competências técnicas, deve haver em paralelo uma preocupação com as competências relacionais, as quais dificilmente são aprendidas em cursos ou treinamentos ministrados pela empresa, o que corrobora a idéia de que a competência do indivíduo não é simplesmente um estado, não se reduz a um know-how específico, tampouco ao estoque de conhecimentos teóricos e empíricos detidos por ele (ZARIFIAN, 2001). A questão da competência deve ser tratada como algo dinâmico e que não depende apenas de fatores externos para que possa ser desenvolvida. Assim, no que concerne às atribuições internacionais, foco do presente artigo, tal preocupação é apontada por Franke e Nicholson (2002) ao afirmarem que a competência técnica é necessária para resolver problemas nos negócios e para ganhar respeito entre os colegas, mas não deve ser o único motivo para o sucesso da designação. Mais importante, conforme os autores, são habilidades interpessoais, características da personalidade ou os fatores inerentes à história social. Davel e Ghadiri (2008) chamam a atenção para a sedução que a aprendizagem intercultural suscita em pessoas de diferentes culturas que podem aprender em conjunto, principalmente em situações de conflito. Ao analisar estas colocações, percebe-se que além de suas competências técnicas, o gestor internacional deverá carregar consigo atributos que lhe permitam interagir com pessoas de universos culturais diferentes. Fala-se, portanto, em competências interculturais cujas características serão apresentadas a seguir. 3 A Gestão Intercultural: foco nas competências interculturais Encontros entre culturas distintas sempre estiveram presentes nos relacionamentos humanos, sendo tão antigos quanto a própria humanidade. Na época das colonizações, ou mesmo antes, quando se travavam grandes batalhas em busca de novos territórios, povos diferentes passavam a se relacionar, de maneira amigável ou não, e daí originavam novos conhecimentos, novas idéias, novas formas de se olhar o mundo. Assim, seja na antiguidade ou nos dias atuais, ditos globalizados, a partir do instante em que culturas díspares entram em contato, descortinam-se inúmeras possibilidades de se entender o que antes estava claramente definido, pois pelo fato de uma cultura possuir seus determinados padrões de significado, o que é comum para seus membros pode parecer estranho para outros grupos sociais. Para refletir acerca destas questões, tem-se o conceito de interculturalidade, entendida como o processo dinâmico conseqüente do encontro de duas ou mais culturas distintas e por vezes arriscado, uma vez que pode levar a conflitos e problemas relacionados a questões de identidade de diferentes atores participantes destas culturas (DEMORGON, 2005 apud Guitel, 2006). Freitas (2008) afirma que as pesquisas teóricas e empíricas em torno de aspectos 4 interculturais são recentes, ou seja, seu despontar data do final da década de 1980 conseqüentes do início do processo de globalização e do interesse despertado pelo tema da cultura organizacional nessa época, em função da entrada de produtos japoneses no mercado internacional. Além disso, pelo fato dos estudos sobre a interculturalidade ainda estarem em construção, encontram-se abertos a uma série de abordagens de natureza epistemológica e metodológica (BUENO; DOMINGUES; DEL CORSO, 2008). Entretanto, o mais usual ainda são os estudos sobre sucessos e fracassos organizacionais ou de projetos em função de uma maior ou menor atenção dedicada à compatibilidade cultural dos parceiros. É corriqueiro também, quando se pensa em investigar aspectos atinentes à interculturalidade em organizações, analisar os processos que envolvam atribuições internacionais de profissionais a fim de compreender e explicar como efetivamente ocorre o encontro entre culturas diferentes no contexto de trabalho. Neste sentido, é importante destacar que conforme Homen e Tolfo (2004), quando entra em cena a internacionalização dos negócios, a questão de como administrar os recursos humanos de uma mesma empresa e de como estabelecer um diálogo produtivo entre a organização e as localidades com as quais interage espalhadas geograficamente, passa a exigir uma atenção especial no que diz respeito às questões relacionadas a interculturalidade. Para tanto, a literatura acadêmica assinala que a chamada Gestão Internacional de Pessoas (GIP), entendida como a área que emerge dentro das organizações a partir da internacionalização dos negócios, deve preocupar-se com a interação que ocorre entre culturas diferentes atentando-se às relações entre os indivíduos que constroem e reconstroem suas identidades com as atribuições internacionais. Para Machado e Hernandes (2003) é a partir do reconhecimento do outro que pode haver a compreensão de si, sendo por isso que em situações de confronto com outras culturas, diferentes da sua de origem, as pessoas vivem conflitos psicológicos, conseqüentes da dificuldade em reconhecer o outro. Ademais, cabe à GIP estabelecer políticas bem como implementar diferentes práticas para atrair, desenvolver e reter profissionais com competências que sejam compatíveis aos processos de internacionalização da empresa. Mas quais seriam os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários aos ‘executivos globais’? Como lembra Guedes (2007, p. 63), “é comum o pesquisador utilizar sua própria cultura como esquema interpretativo”. Tal indagação nos faz perceber, da mesma forma que Guitel (2006), que um item ainda pouco explorado pela literatura relacionada à Gestão Internacional de Pessoas diz respeito à identificação das competências pessoais que são imperativas às pessoas que venham a trabalhar em ambientes multiculturais. Ou seja, torna-se pertinente elucidar o quê pessoas propensas a atuarem em contextos culturais diversos deverão ter ou desenvolver para que possam efetivamente oportunizar vantagem competitiva para a empresa, como prega a Gestão por Competências. Desta forma, faz-se necessário ter em mãos uma lista de pré-requisitos, ou melhor, de determinadas competências interculturais, a fim de atender às expectativas demandadas por empresas e profissionais (FREEMANN; GUITEL, 2008). Guitel (2006, p.1) define competência intercultural como “a capacidade de se comunicar de maneira eficaz com pessoas de um universo cultural diferente, seja ele nacional, organizacional, funcional ou profissional”. A autora acrescenta que alguns estudos desenvolvidos no campo da comunicação intercultural confirmaram a necessidade de dois grupos de culturas diferentes construírem, por meio de suas interações, um conjunto comum de valores, no qual ocorre uma re-negociação de suas identidades com vistas a tornar o processo de comunicação eficiente. O portador de uma competência intercultural tem como missão certificar-se de que os valores e os propósitos de sua organização estão sendo comunicados através da criação de uma base comum de significados, de uma visão compartilhada. Pode-se aqui ressaltar a importância de se colocar em prática o caminho 5 inverso, ou seja, esse gestor deve também ser capaz de compreender os valores compartilhados pela comunidade. Assim, em ambas as direções há presente um processo de alteridade, ou seja, uma relação do indivíduo com o outro, sendo por meio dessa troca que cada um constrói ou reconstrói sua identidade. Para Chomsky (1978), através da competência lingüística seria possível que houvesse uma capacidade humana em adaptar atos e palavras a uma infinidade de situações ou de transferir capacitações de um campo a outro. Delange e Pierre (2007) afirmam que a competência intercultural na empresa, como em qualquer outro lugar, não é uma competência isolada de outras competências e dos modos de comunicação do campo social. Conforme os autores, a competência intercultural se situa no seio das competências sociais e relacionais de base, que são, por exemplo, as capacidades de estabelecer e manter relações, de se comunicar, de compreender o pensamento do outro e partilhar emoções que ele sente (empatia), interagir (capacidade de cooperação), a agir sobre o outro sem obrigação. Uma comprovação destas colocações respalda-se nos achados de uma pesquisa qualitativa realizada por Guitel (2006) entre os anos 2000 e 2002 com um grupo de gestores de várias empresas francesas de diversos setores, a qual permitiu identificar algumas qualidades necessárias para o sucesso de uma atribuição internacional. Constatou-se que o conjunto dessas habilidades varia muito pouco de uma empresa para outra e os resultados mostraram que o perfil de um indivíduo apto a atuar internacionalmente extrapolaria os conhecimentos e habilidades técnicos, sendo necessário também habilidades inter-relacionais e inter-pessoais, habilidades lingüísticas, curiosidade e motivação para viver no exterior, tolerância face à incerteza e à ambigüidade, flexibilidade, paciência e respeito, empatia cultural e personalidade forte (ego strength). A competência intercultural consistiria no conjunto desses elementos adicionados à capacidade de perceber novos ambientes e adaptarse a eles, como anteriormente mencionado, e, mais ainda, enfrentar um choque cultural e evitar armadilhas culturais como a adoção de um universal ou etnocêntrico comportamento (GUITEL, 2006). Além disso, para a autora, uma competência intercultural pode também garantir elementos essenciais como a sensibilidade e modéstia/humildade, infelizmente difíceis de serem detectadas e também perdidas em inúmeras experiências de executivos internacionais. Segundo Guitel (2006), a modéstia ou humildade seja, talvez, o mais importante componente da competência intercultural, pois não é fácil de ser praticada principalmente quando este executivo atua em altas posições dentro da empresa. Freitas (2008) corrobora com tais colocações, pois para a autora, o perfil do profissional apto a atuar em contextos internacionais deverá privilegiar as habilidades relacionais e/ou interpessoais, sensibilidade cultural, empatia, autonomia e certa humildade, que para a autora estaria traduzida em saber escutar, admitir seus preconceitos, não desesperar-se quando erra, aprender com os próprios erros, etc. Entretanto, o que se percebe é que este tipo de conhecimento e/ou habilidade dificilmente fará parte de treinamentos disponibilizados pela empresa, que se preocupa mais em atender aos requisitos técnicos da nova atividade de seu executivo. Kets de Vries (1997) já apontava esta lacuna ao esclarecer alguns problemas relacionados à experiência de executivos expatriados, pois para o autor, há a ausência de programas preparatórios, por parte das empresas, que alertem para as situações de conflito e dificuldade que os indivíduos terão que enfrentar vivendo em outro país e que ocasionam o choque cultural. Deste modo, diferentes indicadores auditivos, visuais ou olfativos que provocam uma confusão inicial e também fatores familiares precisam ser gerenciados nessas situações. O que se percebe é que a competência intercultural é latente, e não é exercida em uma situação previamente estabelecida. Assim, estas competências interculturais não são um estado ou um 6 conhecimento possuído, um título universitário, mas uma capacidade de responder a uma sucessão de imprevistos em um estado de imersão-integração (DELANGE; PIERRE 2007). Desta forma, no que diz respeito aos aspectos interculturais da empresa, Guitel (2006) afirma que os estudos relacionados à identificação das habilidades pessoais e competências interculturais estão longe de serem explorados. Tais mudanças, de acordo com a autora, confirmam a emergência de novos paradigmas que estabeleçam as competências mais cobiçadas em um gestor internacional a fim de trazer uma vantagem competitiva e um ponto de referência em termos de negócios de alta performance e Gestão de Pessoas Internacionais. Esta também seria a oportunidade de se começar a pensar que não são somente as competências técnicas que podem trazer êxito para os processos de internacionalização das empresas. Muito além do executivo ter visão estratégica, possuir orientação do mercado ou dominar a língua do país de destino, deverá compreender os símbolos dessa nova cultura, sendo competente, portanto, nos processos de interação com o outro, com o diferente. Destarte, se a nova dimensão atual requer um novo tipo de executivo, o executivo intercultural, que possa analisar e tratar das diferentes culturas supostamente presentes na interação de trabalho, ser competente em um contexto de interação cultural passa a ser sinônimo de tolerância, de compreensão de situações que são incomunicáveis sem desvalorizar a perspectiva do outro, de não agir de forma etnocêntrica tampouco narcisista. Tais saberes que devem ser inerentes aos executivos globais que ultrapassam fronteiras, não são especificamente competências técnicas, mas sim competências sociais, relacionais e que não necessariamente estão descritas pela empresa (DELANGE; PIERRE 2007). Em resumo, o que se percebe é que é grande o desafio de conciliar necessidades organizacionais e interesses individuais, contemplar a subjetividade no contexto da objetividade organizacional (DAVEL; VERGARA, 2001), equilibrar os valores individuais e organizacionais (DEMO, 2005, SMITH e outros, 2006; TAMAYO; BORGES, 2006), movimentar e desenvolver pessoas capacitando-as para as funções gerenciais (DAVEL; MELO, 2005, DUTRA, 2002) e, por último, incorporar as competências individuais e organizacionais no âmbito das políticas de gestão (BITTENCOURT; BARBOSA, 2004, CARBONE; BRANDÃO; LEITE; VILHENA, 2005, FLEURY; FLEURY, 2000). Tais desafios, e outros tantos não apontados, ao serem analisados no âmbito da gestão internacional fazem aumentar os fatores a serem observados. Isto justifica a necessidade de estudar o processo de gestão internacional para buscar insumos que venham a subsidiar políticas mais efetivas de gestão de pessoas na preparação de gestores para atuarem fora de seu país de origem. Diante dessas questões, corrobora-se a importância de se refletir acerca de aspectos interculturais e sobre as nuances que surgem a partir dela. O estudo sobre as formas de gestão de um ambiente multicultural nas organizações pode levar à melhoria de posturas atuais e à formulação de novas estratégias que sejam cada vez mais eficientes no tratamento do ambiente, trazendo conseqüentemente benefícios para as práticas de gestão das organizações (BUENO; DOMINGUES; DEL CORSO, 2008), tanto em aspectos técnicos como principalmente em domínios cognitivos. Expostas algumas discussões teóricas, focando-se nas competências interculturais, tem-se o respaldo para apresentar os resultados da pesquisa realizada a qual objetivava elencar as competências necessárias que os profissionais da organização estudada devem ter para atuar em contextos internacionais. 4 A Pesquisa: apresentação e análise de resultados Conforme mencionado, a pesquisa, desenvolvida entre os anos de 2007 e 2008 teve por objetivo identificar junto aos funcionários da organização, as competências necessárias ao 7 gestor intercultural, bem como os principais desafios destacados por estes gestores em experiências multiculturais. As questões centrais que orientaram o desenvolvimento do estudo foram as seguintes: 1. Como os gestores expatriados da organização percebem as características culturais nos locais em que operaram quanto a desafios, riscos e possibilidades, considerando as diretrizes de negócio traçadas pela organização? 2. Que capacitações são requeridas dos gestores da organização no âmbito da gestão internacional? 3. De que modo o conhecimento dessas capacitações poderá contribuir para a formação de futuras gerações de gestores internacionais? Em congruência com essas questões, os objetivos foram assim definidos: 1. Caracterizar e categorizar as capacitações necessárias aos gestores que atuam em outros países, evidenciando-se as regularidades (competências comuns) e singularidades (competências específicas). 2. Desenvolver conhecimento sobre o tema, de relevância estratégica em tempo de internacionalização. 3. Contribuir para o desenho de programas de formação de gestores interculturais, preparando futuras gerações. Cabe observar que a pesquisa ora discutida foi desenvolvida em duas fases articuladas e intercomplementares. Na primeira fase, de natureza qualitativa, foram realizadas entrevistas em profundidade junto a gestores que atuaram no exterior, de modo a conhecer a trajetória profissional e os desafios gerenciais enfrentados por esses indivíduos levando em conta a diversidade cultural de cada país. Na segunda fase, na qual este artigo se concentra, por meio de uma abordagem quantitativa, foram colhidas as opiniões de 274 executivos da organização por meio de questionário. O referido instrumento foi constituído por sete tópicos de questões, distribuídas entre perguntas fechadas (como idade, sexo, grau de formação etc) e abertas, referentes a temas como a participação no processo de internacionalização; integração internacional e; preparação para a gestão intercultural. Objetivou-se, por meio deste instrumento, obter um mapeamento das competências necessárias à gestão intercultural, segundo os respondentes. O perfil da amostra foi composto por executivos que tenham de alguma forma vivenciado a experiência internacional e/ou de executivos que estabeleceram vínculos interculturais que, não necessariamente, por meio da vivência fora de seu país de origem. Isto em razão do foco da pesquisa não se concentrar no processo de expatriação estritamente, mas nas diversas formas de vivência intercultural propiciadas pela estratégia de expansão dos negócios da organização em estudo. Basicamente, o perfil dos respondentes caracterizou-se por homens, faixa etária entre 35 e 55 anos, com formação em nível superior e/ou algum tipo de especialização, os quais já haviam sido expatriados ou trabalhado junto a colegas procedentes de diferentes localidades, logo, todos já haviam vivenciado em seu cotidiano a experiência intercultural. Para tanto, foram caracterizados três domínios de capacitações, os quais, em conjunto, constituem a competência intercultural. Logo, tem-se: as capacitações gerais (saber ser); as capacitações gerenciais (saber gerir); e as capacitações relacionais (saber interagir). Assim, procurou-se caracterizar e categorizar as capacitações necessárias aos gestores que atuam em outros países, evidenciando os domínios de competência requeridos para a gestão internacional. Estes domínios assemelham-se à concepção da escola francesa, muito influente no tratamento da questão das competências no meio empresarial. Para esta escola, representada por autores como Le Boterf e Zarifian, a classificação das competências 8 sustenta-se em três elementos fundamentais: saber (representado pelos conhecimentos); saberfazer (representado pelas habilidades) e saber-ser (ou seja, ter atitudes). É importante ressaltar que, em paralelo à pesquisa supracitada, foi feito um mapeamento entre instituições de ensino e organizações privadas de desenvolvimento em gestão, no Brasil e no exterior, com o propósito de se obter um panorama sobre programas de formação ou capacitação com foco em gestão intercultural, de modo a identificar qual a ênfase dada em relação ao desenvolvimento de competências pessoais, gerenciais e de relacionamento nestes cursos. Outro item de atenção referiu-se à abordagem de cada um desses programas: discursiva, laboratorial e prática. Cabe salientar que as informações sobre cada programa foram obtidas pela consulta a materiais publicitários e sites informativos das respectivas instituições. Verificou-se que a metodologia destas instituições prevê a ênfase na compreensão da dinâmica dos mercados globais, bem como habilidades necessárias para o trabalho que envolva diversas culturas e sociedades. Como módulos básicos do programa, tem-se, em geral: contabilidade, finanças, marketing, gestão e estudos internacionais, a partir de uma perspectiva global. Um período do curso enfatiza os aspectos-chave da liderança, equipe, motivação, ética e comunicação multicultural. Ao se fazer este mapeamento buscou-se, ainda, evidenciar a abordagem de ensino contida em cada programa, considerando, a princípio, três possibilidades de abordagem: informativa/cognitiva, laboratorial/simulada e vivencial/prática. Dentre os programas pesquisados, em geral, se concentram na dimensão informativa/cognitiva, disseminando, portanto, conteúdos relacionados à gestão (aspectos de liderança, trabalho em equipe, motivação; gestão de conflitos, criatividade etc). Em menor número, observaram-se cursos que oferecem atividades simuladas sobre temas relacionados ao cotidiano gerencial. Por fim, não foram encontradas nestes programas as existências de atividades totalmente práticas, ou seja, vivências reais como experiências de coaching, tutoria ou estágios voltados ao contexto da gestão intercultural. Feitas tais observações, a seguir, são apresentadas os três domínios de capacitação e seus respectivos conhecimentos, habilidades e atitudes entendidos como mais importantes pelos respondentes à pesquisa, ou seja, pelos gestores interculturais. Capacitações Gerais (saber ser): As capacitações gerais estão diretamente vinculadas à pessoa do gestor, por isso a nomenclatura “saber ser”. No quadro abaixo estão representadas oito características consideradas de grande relevância pelos gestores. Capacitações Gerais (saber ser) Média (escala de 1 a 5) Relacionamento interpessoal 4,48 Flexibilidade em situações pessoais/profissionais 4,41 Experiência gerencial 4,17 Domínio da língua do país de destino 3,91 Conhecimento técnico 3,66 Conhecimento das especificidades culturais do país de destino 3,50 Conhecimento do país de destino 3,21 Rede de contatos 3,03 Quadro 1 - Capacitações Gerais. Valores da escala: variavam de 1 (menos importante) a 5 (mais importante) Fonte: relatório de pesquisa (2008). Desvio Padrão 0,65 0,71 0,81 0,83 0,97 1,02 0,94 1,01 A habilidade de saber construir e manter um bom relacionamento interpessoal, com uma média de 4,48 em uma escala de 1 a 5 e o menor desvio padrão (0,71), é a característica mais importante para um gestor em um ambiente diversificado culturalmente. A segunda característica mais importante é também outra habilidade: a flexibilidade em situações 9 pessoais e profissionais, ou seja, ser flexível diante das diferenças é uma característica valiosa para o gestor enquanto pessoa. Observa-se que o bom relacionamento e a habilidade de ser flexível aparecem à frente da experiência gerencial, considerado o terceiro item mais importante dentre as capacitações gerais. Além da experiência gerencial, outros conhecimentos destacam-se dentre as capacitações gerais, são eles: o domínio da língua do país de destino; o conhecimento técnico; o conhecimento das especificidades culturais do país de destino; e o conhecimento acerca do próprio país de destino. Por fim, a habilidade de formar redes de contatos, com uma média de 3,03 em uma escala de 1 a 5, é o oitavo item mais importante vinculado à pessoa do gestor. Capacitações Gerenciais (saber gerir): As capacitações gerenciais compreendem os conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas ao negócio e à estratégia de desenvolvimento como empresa internacional. Constituem, portanto, as características que formam o “saber gerir” e as onze características mais importantes estão listadas no quadro a seguir. Capacitações em Gestão (saber gerir) Média (escala de 1 a 5) Visão estratégica de empresa 4,57 Processos decisórios 3,84 Negociação internacional 3,69 Gestão de processos 3,68 Responsabilidade social e ambiental 3,64 Hábitos de trabalho locais 3,58 Desenvolvimento em negócios 3,56 Legislação local 3,45 Gestão de custos 3,43 Orientações para o Mercado 3,40 Inovação e tecnologia 3,06 Quadro 2 – Capacitações Gerenciais. Valores da escala: variavam de 1(menos importante) a 5 (mais importante) Fonte: relatório de pesquisa (2008). Desvio Padrão 0,71 0,91 1,10 1,04 1,08 1,03 1,04 1,02 1,03 1,01 0,92 A visão estratégica da empresa é o conhecimento mais importante dentre as características gerenciais e aparece em primeiro lugar no quadro com a maior das médias (4,57) em uma escala de 1 a 5 e o menor desvio padrão (0,71). Em segundo lugar, destaca-se a atitude de saber gerir os processos decisórios. A habilidade em negociação internacional, o conhecimento em gestão de processos e a atitude de responsabilidade social e ambiental correspondem, respectivamente, ao terceiro, quarto e quinto item do quadro. Assim, é possível perceber o quão importante é ter um conhecimento global do negócio e da estratégia da empresa internacionalmente. Em seguida, surgem as características relacionadas à atuação local, são elas: hábitos de trabalho locais; desenvolvimento em negócios e legislação local. A gestão de custos, orientações para o mercado e inovação e tecnologia aparecem como os três últimos itens do quadro. Esta observação permite supor que características mais técnicas de trabalho mostram-se com menor importância dentre as capacitações gerenciais. Capacitações Relacionais (saber interagir): As capacitações relacionais referem-se às relações com diferentes públicos de interesse nos âmbitos intra e intercultural. Tais capacitações compreendem o relacionamento com diversos atores da empresa e, assim, constituem o “saber interagir” da competência 10 cultural. Os sete tipos de relacionamentos mais importantes das capacitações relacionais estão descritos a seguir. Capacitações Relacionais (saber interagir) Relacionamento com a força de trabalho local Relacionamento com a comunidade empresarial Relacionamento com o governo Relacionamento com a comunidade local Relacionamento com a sociedade local Relacionamento com sindicatos Relacionamento com a mídia Média (escala de 1 a 5) 4,49 3,93 3,80 3,78 3,58 3,35 3,24 Desvio Padrão 0,68 0,87 1,06 0,89 0,94 1,10 1,01 Quadro 3 - Capacitações relacionais Valores da escala: variavam de 1(menos importante) a 5 (mais importante) Fonte: relatório de pesquisa, 2008. O relacionamento com a força de trabalho local destaca-se com uma média de 4,49 em uma escala de 1 a 5 e também por possuir o menor desvio padrão (0,68). Logo, saber relacionar-se com os trabalhadores locais é o item mais importante tanto entre os gestores expatriados quanto entre os gestores não expatriados. O relacionamento com a comunidade empresarial como um todo aparece em seguida. Em terceiro lugar está o relacionamento com o governo. No quarto e quinto lugares retomam-se questões claramente relacionadas ao território local, são elas: o relacionamento com a comunidade local e o relacionamento com a sociedade local. O relacionamento com os sindicatos e o relacionamento com a mídia aparecem como as últimas características dentre as mais importantes para as capacitações relacionais Além de questões que procuraram identificar os principais fatores - dentre gerais, gerenciais e relacionais - que caracterizam a competência cultural, foram propostas também algumas questões relativas à experiência de gestão internacional dos participantes. Tais questões tiveram como objetivo obter informações sobre as principais vantagens e desvantagens de se trabalhar com equipes multiculturais. Em relação às vantagens, observouse que a diversidade das equipes favorece o aprendizado de outros idiomas, amplia a capacidade de resolver problemas, a troca de experiências e a tolerância para com as diferenças culturais. Os contatos com diversificados modelos mentais também contribuem para desenvolver a criatividade grupal, desenvolver as competências de negociação e promove o desenvolvimento pessoal. Segue quadro ilustrativo: Principal vantagem de ter colaboradores de culturas distintas É fundamental para a empresa que quer se inserir no cenário internacional Facilita o aprendizado de outros idiomas e amplia a cultura da equipe A diversidade cultural da equipe amplia a capacidade de resolver problemas (múltiplas soluções para um mesmo problema) Amplia a troca de experiências Aumenta a empatia e a tolerância para com as diferenças Aumenta a competência (antecipa dificuldades) para atuar no contexto local com flexibilidade Torna rotineiro processo de mudança, aumentando a capacidade de lidar com desafios (mudança de atitude frente aos problemas) Diminui a visão etnocêntrica que obstaculiza o entendimento mais amplo da realidade social Trabalhar com pessoas de formação distintas que enriquecem a troca de aprendizagem Crescimento pessoal e profissional 11 Aumenta a capacidade criativa e de inovação da equipe Não há o predomínio de uma cultura sobre outra, o que aumenta a tolerância A formação de um corpo gerencial multicultural que amplia as chances de a empresa adquirir competência em gestão Amplia a capacidade de negociação (aprendizado variadas formas de agir e pensar) Aumenta do domínio de habilidades e competências para agir nos processos Quadro 4 - Vantagens no trabalho em equipes multiculturais Fonte: relatório de pesquisa (2008). Quanto às principais dificuldades de se ter colaboradores de culturas diversas, a rigor, alguns motivos que foram mencionados como vantagens de se trabalhar em equipes multiculturais também aparecem como uma desvantagem. Os diversificados modelos mentais dificultariam o consenso, principalmente quando é possível antever várias formas de resolver os problemas sem que se possa decidir por um critério objetivo qual seria a melhor solução. O desconhecimento da cultura e a ausência de domínio do idioma local dificultariam a comunicação e a interação entre as pessoas, pois impedem a compreensão das formas simbólicas de comunicação. Ou seja, não se é capaz de apropriar-se dos significados e simbologias próprios de um dado país ou cultura. A atitude de aceitação da diferença e a não discriminação também são fundamentais, mas nem sempre fáceis de colocar em prática, visto que algumas culturas se sentem superiores às outras. Principais dificuldades de ter colaboradores de culturas distintas Distintas formas de pensar – modelos mentais Desconhecimento da cultura local, principalmente dificultando em caso de aquisições A diversidade às vezes dificulta a integração da equipe Aceitar as diferenças Adaptar-se a formas diferentes de pensar e agir Encontrar uma base de entendimento comum na diversidade Dificuldades de comunicação por terem modelos mentais e hábitos distintos Ausência de domínio do idioma (visão de mundo – expressões idiomáticas) Interpretações equivocadas do comportamento dos atores uns pelos outros Diferenças de ritmos e forma de realizar o trabalho (brasileiros são mais flexíveis sobre o cumprimento de prazos que americanos) Multiplicidade de soluções de problema sem saber qual é a melhor Vencer a rejeição inicial pelo estrangeiro Diferenças de identificação com a empresa (os brasileiros são mais identificados) Encontrar metas comuns e compartilhadas Discriminação de umas culturas em relação a outras por achá-las menos desenvolvidas Obter confiança mútua Maior tempo gasto para a tomada de decisão (gestão se torna menos ágil) Polarização de posições Respeitar a cultura local quando se tenta implementar valores e comportamentos organizacionais Restrições de crenças e práticas religiosas Obter uniformidade de pensamento e sentimento de pertencimento Quadro 5 - Dificuldades no trabalho em equipes multiculturais Fonte: relatório de pesquisa (2008). Quanto aos motivos de adesão pessoal à internacionalização, os gestores referem que o desenvolvimento profissional e aprendizagem, a capacidade de superar desafios, a experiência 12 pessoal, a busca de valorização da empresa, experiência gerencial e vontade de mudar de país, área e função são motivos principais que justificam a opção pela expatriação, conforme a tabela abaixo: Motivos de Aceitação da Atuação Internacional Média (escala de 1 a 5) Desvio Padrão Aprendizagem e desenvolvimento profissional 4,76 Capacidade de superar desafios 4,56 Experiência pessoal 4,19 Busca de valorização e reconhecimento na empresa 3,40 Experiência familiar 3,17 Vontade de mudar de país, área ou função 3,13 Cumprimento de política de internacionalização 2,89 Formação dos filhos 2,84 Empregabilidade 2,28 Ascensão social 1,99 Dificuldade/ impossibilidade de recusar a oferta 1,93 Quadro 6 - Motivos de adesão pessoal à internacionalização Valores da escala: variavam de 1 (menos importante) a 5 (mais importante) Fonte: relatório de pesquisa (2008). 0,47 0,66 0,80 1,20 1,31 1,29 1,38 1,27 1,23 1,10 1,04 Ressalta-se que os motivos dos gestores como indivíduos predominam sobre o cumprimento da política de internacionalização da empresa, o que implica na necessidade de investir na capacitação estratégica e na definição de trajetórias de capacitação. Estes resultados podem significar a liberdade e autonomia que o gestor vivencia nas escolhas profissionais vis-a-vis as políticas da empresa. Desta forma implica, decisivamente, nas diretrizes que devem orientar o modelo de capacitação para gestão internacional/ intercultural. Em relação aos fatores que contribuíram para o êxito na expatriação, na percepção dos gestores, em primeiro lugar aparece a qualificação gerencial do expatriado seguido pela adaptação deste ao ambiente. A adequação do “pacote” de remuneração e benefícios também aparece como um fator significante para o êxito na expatriação. Além da qualificação, da adaptação e da remuneração do expatriado, destaca-se a importância de uma seleção adequada do candidato à expatriação. Fatores relacionados ao Sucesso do Processo de Expatriação Qualificação gerencial do(a) expatriado(a) Adaptação do(a) expatriado(a) ao novo ambiente Adequação do "pacote" de remuneração e benefícios Seleção do profissional a ser expatriado(a) Aceitação do(a) expatriado(a) pelo corpo gerencial no novo local Legitimação do(a) expatriado(a) pelos funcionários do novo local Qualificação técnica do(a) expatriado(a) Adaptação do(a) parceiro (a) do(a) expatriado(a) ao novo ambiente N 192 197 194 191 197 196 188 198 Domínio pelo(a) expatriado(a) do idioma no novo local 195 Adaptação dos filhos do(a) expatriado(a) ao novo ambiente 194 Relacionamento do(a) expatriado(a) com clientes 194 Relacionamento do(a) expatriado(a) com o governo local 192 Quadro 7 - Fatores de êxito na expatriação Valores da escala: variavam de 1 (menos importante) a 5 (mais importante) Fonte: relatório de pesquisa (2008). Média Escala de 1 a 5 3,50 3,48 3,46 3,45 3,43 3,12 3,09 2,99 Desvio Padrão 1,764 1,599 1,648 1,685 1,678 1,699 1,660 1,692 2,75 2,63 2,55 1,87 1,493 1,738 1,616 1,489 13 5 Considerações Finais: requisitos de um modelo de capacitação O presente texto buscou refletir sobre os desafios relacionados à gestão intercultural em organizações multinacionais, tendo como premissa as aprendizagens necessárias ao desenvolvimento da competência intercultural como base do processo de formação de executivos para a atuação internacional. As análises deram-se a partir de uma pesquisa em uma organização transnacional de origem brasileira atuante em diversos contextos culturais. No intuito de contribuir para o desenho de um programa criativo de formação de gestores interculturais, com ênfase no desenvolvimento da competência cultural, bem como colaborar com o conhecimento sobre o tema, o estudo aqui resumido entendeu que as informações obtidas junto a gestores com ampla experiência internacional seria uma estratégia defensável para apreender o universo simbólico e inferir modos de pensar e de agir que orientam a gestão. Em relação ao contexto de pesquisa, a organização em questão, além de enfrentar a competição interna no país, identificou a necessidade de expansão e conquista de uma posição de destaque no mercado internacional. Passados alguns anos desse exercício de expansão territorial, foi necessário refletir criticamente sobre esse aprendizado para corrigir rumos e orientar políticas de gestão harmonizadas a contextos diferenciados culturalmente. Um dos grandes desafios para a empresa, sem dúvida alguma, é o de lidar com a diversidade cultural, o que será especificado nas considerações abaixo: Primeira consideração: a discussão sobre um modelo inovador de gestão internacional com ênfase na competência intercultural dos gestores deveria levar em conta que os gestores desejam qualificar-se para se desenvolver profissionalmente, especialmente, no que se refere às relações com o outro, ou seja, desenvolver capacitações de relacionamento interpessoal com a força de trabalho, sindicatos, governos e mídia nos locais em que a empresa atua. Segunda consideração: a construção de um modelo de capacitação em gestão intercultural deve estar integrada a um programa de capacitação estruturante da ação gerencial em todos os espaços e territórios em que a empresa atua. Terceira consideração: como competências individuais, distinguem-se três domínios: (a) Pessoal (saber ser); (b) Gerencial (saber gerir) e (c) Relacional (saber interagir), que devem ser integradas em estratégias que promovam aprendizagens significativas. Quarta consideração: a partir dos fatores relacionados ao sucesso do processo de expatriação, conforme apresentado no quadro 7, a qualificação gerencial, a adaptação ao ambiente e uma seleção criteriosa devem estar interligados nas políticas e estratégias da empresa. Quinta consideração: há um forte acento individual nos motivos de adesão pessoal à internacionalização. Os gestores referem que aprendizagem e o desenvolvimento profissional, a capacidade de superar desafios, a experiência pessoal, a busca de valorização da empresa, experiência gerencial e vontade de mudar de país, área e função são motivos principais que justificam a opção pela expatriação. Ressalta-se que os motivos dos gestores como indivíduos predominam sobre o cumprimento da política de internacionalização da empresa, o que implica na necessidade de investir na capacitação estratégica e na definição de trajetórias de capacitação. Implica, decisivamente, nas diretrizes que devem orientar o modelo de capacitação para gestão internacional/intercultural. Sexta consideração: um modelo de formação de gestores interculturais deve orientarse para a empresa em perspectiva estratégica desenvolvendo capacitações gerenciais de relacionamento intercultural. O desenvolvimento de capacitações que não implicam em conhecimento apenas, mas em habilidades de convívio com outras pessoas e realidades culturais diversas. 14 Sétima consideração: para aprender a se relacionar com diversos públicos é necessário que o modelo se oriente por princípios da aprendizagem reflexiva, isto é, que se valha de simulação de realidade e práticas nestas mesmas realidades, ao contrário da ênfase informativa/cognitiva dada aos cursos atualmente ofertados; a despeito da qualidade de conteúdo, oportunizam pouca reflexão sobre a prática, bem como oportunidades de simulação restritas e vivências não sistematizadas ou supervisionadas. Oitava consideração: na base conceitual do desenvolvimento da competência em gestão intercultural estão implícitos os princípios de integração, complementaridade, continuidade e recursividade. O que isto significa? Significa dizer que a excelência do gestor intercultural se concentra na integração entre domínios de capacitação (nível pessoal, gerencial e relacional), na complementaridade e continuidade entre estes domínios e na recursividade entre as ações e reflexões geradas pela dinâmica das soluções educacionais utilizadas pelo sistema de formação. Assim, tendo estes quatro princípios como balizadores entende-se porque um gestor, por melhor que esteja preparado na gestão do negócio, deve ser apoiado no desenvolvimento como pessoa e preparado para se relacionar com diferentes públicos. Finalmente, diante das informações obtidas, entende-se que um modelo de formação para gestores deva levar em consideração que, quaisquer que sejam as opções de formação, estas devem ser orientadas por uma diretriz que as mantenha direcionadas a uma mesma concepção. No presente caso, isto quer dizer, a despeito das inúmeras possibilidades que a organização possua em termos de contratação de programas de formação para gestores interculturais, há que considerá-los sob a diretriz do desenvolvimento de competência e de condições reais de se criar modelos e estratégias de ensino que promovam aprendizagens significativas. Referências BITTENCOURT, Claudia; BARBOSA, Alan Claudios Q. A gestão de competências. In: BITTENCOURT, C e cols. Gestão contemporânea de pessoas. Porto Alegre: Bookman, 2004, p.238-269. BUENO, Janaína Maria; DOMINGUES, Carlos Roberto; DEL CORSO Jansen Maia. The intercultural context and human resources management: a case of multinational companies in Curitiba. In: LAEMOS Colloquium, 2, 2008. Rio de Janeiro, Anais... [S.I.]: 2008. CANCLINI, Nestor G. A Globalização Imaginada. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Iluminuras, 2003. CARBONE, Pedro P.; BRANDÃO, Hugo P.; LEITE João B.D.; VILHENA, Rosa M.P. 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