históricas. Para isso, uma linha cronológica com as informações disponíveis acerca da vida do
Divino Mestre e os acontecimentos históricos trabalhados deve ser elaborada pelos alunos.
3 - A última frase do texto aponta para o caráter de resistência que os Versos Negros do ABC
deixam para a posteridade. Segundo o autor, aí é contestada, de forma explícita, a dominação
branca no Brasil. Os trechos do manifesto (box pág. 25) devem ser lidos pela turma. Dando
prosseguimento ao exercício, propõe-se que os alunos, em duplas, conversem e anotem
quais versos podem ser considerados uma contestação à dominação. A palavra morena
pode ser entendida como um elogio da miscigenação? “A linda Nobre cor morena / Dá
liberdade aos morenos / E temei uma nuvem escura / Lá do centro do Sertão / virá a nossa
liberdade / (...).” A elite de Recife, representada pelos desembargadores do Tribunal da Relação,
pode ter se sentido ameaçada com esses versos?
4 - A leitura do texto recupera as vivências de negros escravos e livres e as resistências
possíveis. A trajetória do Divino Mestre nesse sentido é singular em virtude do seu
“currículo revolucionário”. Depois de os alunos trabalharem o contexto e trechos do
manifesto, é fundamental que seja recuperada, da trajetória individual de Agostinho José
Pereira, a continuidade da resistência negra, livre ou escrava, no período. Um diálogo entre
Agostinho José Pereira e um dos desembargadores do Tribunal da Relação, ocasião em que
o caráter de resistência negra apresenta-se de forma valorizada, deve ser elaborado. Como
sugestão, os diálogos podem ser lidos ou teatralizados pelas duplas de alunos. Professor(a),
fique atento à correção dos anacronismos que os alunos irão cometer ao elaborarem um
texto de época. Apresenta-se aí mais uma oportunidade de aprendizado para a turma!
SAIBA MAIS NA RHBN
No artigo “Revolução à europeia com toque tropical” [RHBN nº 10, de julho de 2006],
Marcus J. M. de Carvalho oferece uma análise sobre os muitos nomes da Insurreição Praieira em
Pernambuco no ano de 1848. (www.revistadehistoria.com.br/revolucaoaeuropeia)
Este encarte pode ser impresso no site ( w w w. r ev i s t a d e h i s t o r i a . c o m . b r )
c o o r d e n a d o r d o p ro j e to
Caro(a) professor(a),
A Revista de História da Biblioteca Nacional criou, no Portal do
Professor do MEC, um Fórum de História do Brasil para debater a
aplicação deste encarte. Comente sua experiência pedagógica, tire
dúvidas, sugira novas ideias e discuta conosco os caminhos para
uma educação de qualidade que começa na sala de aula.
Esperamos sua valiosa contribuição no Portal do Professor.
Acesse: www.rhbn.com.br/portaldomec
Você também pode acessar o site da RHBN (www.
revistadehistoria.com.br) ou o Twitter (www.twitter.com/RHBN).
e e d i to r a ç ã o
Luciano Figueiredo
(Universidade Federal Fluminense)
p ro d u ç ã o e x e c u t i va
Cristiane Nascimento
Enc arte Do
Professor
ano 5 | nº 54 | Março 2010
Este material foi elaborado com a finalidade de oferecer sugestões de trabalho na sala de aula. As
atividades apresentadas têm como características o aspecto lúdico e o estímulo à criatividade e à
curiosidade, à formação dos valores da vida social e à construção de identidades que busquem a
igualdade no acesso aos bens culturais e sociais.
História do Brasil e escravidão
N
as palavras de Alberto da Costa e Silva “por muito tempo, não se deu atenção ao que,
hoje, nos parece evidente: o papel do negro como civilizador”.Tal afirmativa sinaliza uma
mudança de perspectiva na abordagem sobre a escravidão no Brasil, que começou a se
delinear no final da década de 1970. Essa nova interpretação distanciava-se da visão do
sistema escravista como rigidamente dividido entre opressores (senhores) e oprimidos (escravos),
destacando os aspectos social e cultural do escravo e do liberto na História. Se, por um lado, os
escravos sofreram forte opressão senhorial no cotidiano do cativeiro, por outro, tal condição não os
destituíram da capacidade de produzir valores e signos próprios, sendo hábeis em construir espaços
de autonomia dentro desse sistema escravista: constituíram famílias e laços de solidariedade, tiveram
“roças” próprias, realizaram suas festas e crenças, agiram pela conquista de sua liberdade. As relações
de poder na sociedade escravista mostram-se muito mais complexas, envolvendo negociações entre
senhores e escravos, como também ligações de domínio entre os próprios integrantes da comunidade
negra, a exemplo da história de Rita Maria da Conceição, africana liberta que possuía escravos [RHBN
nº 54]. Incorporar essas novas temáticas em nossas aulas, assim como as contribuições dos estudos
acerca da história da cultura afro-brasileira e africana, é uma oportunidade para valorizar a história da
cultura dos africanos e seus descendentes. Além disso, é possível refletir sobre as discriminações que
atingiram, e ainda atingem, a população negra, afro-brasileira ou afrodescendente, tornando-se, assim,
um modelo a chamar a atenção para a diversidade da experiência negra na história, conforme nos
evidencia a trajetória do negro livre Agostinho José Pereira [RHBN nº 54].
concepção e realização
Silvana Bandoli Vargas e
Roberta Martinelli (Colégio
Pedro II)
p ro j e to g r á f i c o
Isabela da Silveira
c o n s u lto r i a p e dag ó g i c a
Oldimar Cardoso (USP/
Universität Augsburg)
c o p i d e s qu e
Ana Lucia Normando
EncarteMarco_54.indd 1
Revista de
História da
Biblioteca
Nacional
Atividade 1
O artigo “Senhora de si”, de Juliana Barreto Farias, é a base da atividade pensada para
o 8º ano do Ensino Fundamental quando for trabalhado o conteúdo da escravidão e o
tráfico negreiro no Brasil imperial na conjuntura da primeira metade do século XIX.
8º
ano
E n s
Fundami n o
ental
1- Professor(a), em sala de aula, leia o texto em voz alta junto com os alunos. Deverá
História
constar desta atividade: a) a explicação sobre o significado de alguns termos, tais
como escoburto, tumbeiros, valongo, jornal; b) o desenvolvimento da ideia de que
os africanos trazidos para o Brasil como escravos construíram, em meio à experiência do
cativeiro, novas identidades e formas culturais, como também (re)significaram suas visões de
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mundo e tradições de origem. A presença de práticas mágico-religiosas africanas e elementos
do catolicismo entre as comunidades negras, sobretudo no meio dos escravos de origem
banto vindos do centro-oeste africano, os quais já haviam tido contato com o catolicismo, são
exemplos. Ou, ainda, entre os africanos provenientes do antigo reino do Mali, na região da Alta
Guiné, que, no Brasil, colocavam escritos árabes com poderes de proteção ao lado de orações
católicas em suas “bolsas de mandinga” (pequenos sacos de pano ou de couro usados junto
ao corpo para lhes dar proteção).Também utilizadas entre os africanos jejes e nagôs, que, em
seus cultos aos voduns e orixás, incorporavam santos e rezas católicas. A religião foi, então, um
dos espaços nos quais os africanos escravizados puderam construir laços de solidariedade entre
si e criar novas comunidades, procurando ressaltar a identidade africana que os unia, e não as
diferenças que existiam em suas regiões de origem, embora certas inimizades entre grupos na
África pudessem ganhar continuidade no Brasil.
Na seguinte passagem do texto “Ao cruzarem o atlântico [...] começavam a formar novos laços”
(pág. 18), observa-se que se iniciavam novos laços na travessia do Atlântico, ocasião em
que foram estabelecidos vínculos entre si de modo a suportar a dura viagem, chamandose uns aos outros de malungos. Esse foi o caso da jovem africana que, ao chegar à cidade
do Rio de Janeiro, foi batizada e recebeu o nome de Rita Maria da Conceição. A vivência
de Rita na sociedade da Corte, como escrava e liberta, lhe possibilitou construir uma nova
identidade: ela era mulher de origem africana, ex-escrava (liberta), quitandeira, mãe, casada
e, mais tarde, divorciada. É importante considerar que, nos mercados (Kitanda) da região da
África Central Ocidental, as quitandeiras tiveram presença marcante, além de terem figurado
no cenário urbano do Brasil desde os tempos coloniais. Eram negras livres, vendedoras de
legumes e frutas e possuíam prestígio social dentro da hierarquizada comunidade negra
no meio urbano. Entre os escravos urbanos existiam ofícios mais valorizados: as ocupações
especializadas de sapateiro, carpinteiro, pedreiro e a de carregador no porto. De modo
contrário, os escravos carregadores de água e dejetos exerciam um serviço desqualificado.
Portanto, Rita desfrutou de uma situação privilegiada no interior da comunidade negra,
possuindo bens, inclusive escravos, e exercendo uma atividade valorizada.
2- Professor(a), ainda como proposta de exercício, distribua para a turma um mapa dos continentes
americano e africano. Após reler o texto, solicite que os alunos tracem o caminho da viagem da
africana Rita Maria no mapa. De qual região da África ela saiu? De que porto? Em qual cidade do
Brasil ela chegou? Os alunos devem elaborar uma legenda e localizar no mapa: a região africana
(centro-oeste africano), o porto africano (Cabinda, na costa de Angola) e a cidade brasileira (Rio
de Janeiro). É importante informar aos alunos que o continente africano abrigava uma diversidade
de povos, culturas e tradições. Grande parte dos escravizados que chegou ao porto do Rio de
Janeiro, entre 1690-1850, veio da região do centro-oeste africano. De modo diverso, na cidade
de Salvador, aportavam os provenientes da costa da Mina – região que corresponde, mais ou
menos, aos atuais Gana,Togo, Benin e Nigéria. No século XIX, a chegada, na Bahia, das etnias
hauçás e iorubás de Oió, ambas islamizadas, explica a forte presença do islã entre a população
negra de Salvador. Nos quadros da sociedade escravista, os africanos e seus descendentes
conseguiram recriar uma identidade, instituir formas de solidariedade, bem como promoveram
festividades, sobretudo no espaço das chamadas irmandades. Releia junto com a turma o terceiro
parágrafo da página 19. Como sugestão a ser trabalhada pelos alunos, explore a informação de
que Rita teria sido devota da irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
3 - No segundo parágrafo do texto, são apresentadas as diferenças existentes entre a escravidão
urbana e a escravidão rural e o que eram os “negros de ganho”. Informe que o “ganho”
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possibilitava que os(as) escravos(as) juntassem dinheiro com a intenção de comprar sua
alforria, tal como é revelado na história de Rita e Manoel.
4 - Professor(a), divida a turma em grupos de quatro alunos. Imaginando que eles sejam Rita Maria
da Conceição, peça que escrevam as suas memórias. Esse caderno de memórias deverá conter
o registro de sua experiência na travessia do Atlântico, sua chegada ao Rio de Janeiro, sua
experiência como escrava e, depois, como liberta. Nesse tipo de atividade, torna-se relevante
corrigir os anacronismos que, por ventura, os alunos venham a cometer ao redigirem suas
memórias. Oriente-os para que escrevam uma narrativa do ponto de vista de uma alforriada
que viveu no século XIX, cuidando para não inserirem, no texto, uma mentalidade típica
do século XXI. Com o objetivo de introduzir esse tipo de reflexão, apresente aos alunos as
seguintes indagações: naquela época, uma alforriada tinha a possibilidade de escrever um livro
de memórias? Que diferenças teriam suas memórias em relação às nossas?
SAIBA MAIS NA RHBN
No artigo “Adversários e Cúmplices” [RHBN nº 12, de setembro de 2006], Lígia Bellini escreve
a respeito de como os escravos souberam criar oportunidades para conquistar a liberdade. (www.
revistadehistoria.com.br/adversariosecumplices)
Atividade 2
O artigo “Versos Negros”, de Marcus J. M. de Carvalho, é o ponto de partida do
exercício proposto para o 2º ano do Ensino Médio. Esta atividade é sugerida no contexto
de estudos da primeira metade do século XIX, quando as resistências à escravidão
formam o pano de fundo para a afirmação do Estado Nacional, e, em especial, se fazem
presentes as dificuldades de estabelecimento do governo centralizado no Centro-Sul e as
demandas de outras regiões do Império.
2º
ano
E n s
i n o
M é
d i o
multi
disci
plinar
1- Com a turma dividida em duplas, solicite que leiam o texto escolhido. Trata-se da narrativa
da trajetória de Agostinho José Pereira, negro livre do Recife, preso em 1846. A interpretação
do texto deve ser realizada de forma oral pelo professor(a). Por que Agostinho foi preso?
O que era o ABC? Qual a importância desse manifesto para a resistência negra? Qual era a
preocupação do Tribunal da Relação com esse episódio? O que era o Tribunal da Relação? Por
meio de qual mecanismo se deu a liderança de Agostinho José Pereira? (A alfabetização dos
negros escravos e libertos). O que significava ser um “cismático”? Quais eram as características
do cristianismo professado pelo grupo liderado por Agostinho? Deve ser estimulado pelo
professor(a) a leitura do texto e o diálogo para a elaboração das questões.
2 - Em seguida, apresente aos alunos a proposta de pesquisarem, no livro didático utilizado
pela turma ou na biblioteca, as informações acerca dos eventos históricos citados no
texto: Insurreição Praieira (1848); o movimento de independência do Haiti (1791-1804);
Confederação do Equador (1824) e Sabinada (1837-1838). Os dados a respeito dos eventos
devem ser catalogados pelos alunos. Então, com o objetivo de manter as informações
relevantes dispostas, a turma deve construir um quadro. Professor(a), a tarefa dos alunos
consiste em pesquisar os eventos históricos, catalogá-los e compará-los. As variáveis da
comparação devem ser discutidas em sala de aula. Datas, locais, características sociais dos
participantes, disputas políticas, propostas apresentadas e contexto histórico são variáveis de
comparação possíveis que podem ser sugeridas aos alunos. É importante que a trajetória de
Agostinho José Pereira seja percebida como elemento de conexão entre essas experiências
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Professor - Revista de História