I N S T I T U T O
P Ó L I S
e sociedade
governo
IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL
N o 188
2001
TRABALHANDO COM HOMENS JOVENS
Ações voltadas especificamente para os meninos ajudam a superar práticas de violência e permitem a
eles estabelecer novas formas de relacionamento consigo mesmos, com seus filhos e com as meninas.
E
m nossa sociedade as desigualdades entre homens e mulheres são fortemente
atribuídas às distinções de sexo. Todos nascemos com algumas características biológicas que
são específicas para homens e para mulheres,
um exemplo é a capacidade das mulheres de
procriar e amamentar.
Estas diferenças provocaram divisão de trabalho baseada em padrões masculinos e femininos, apresentando uma tendência praticamente
universal de separação da vida social entre esfera pública, associada ao homem, à política e ao
mercado de trabalho, e esfera doméstica, privada, associada à mulher e vinculada à reprodução
e ao cuidado das crianças. Ou seja, a diferença
entre gênero masculino e feminino levou a situações de desigualdade de poder, quase sempre
favorecendo os homens.
Para reverter esta desigualdade, as ações voltaram-se basicamente para as mulheres, priorizando seu acesso a saúde, educação, crédito, iniciativas de geração de emprego e renda, bens e
serviços públicos. No entanto, em muitos aspectos notou-se que esta ação voltada para as
mulheres não era suficiente para alterar as relações entre os gêneros. Eram necessárias ações
que alterassem a maneira de os homens encararem as mulheres e as atividades socialmente delegadas às mulheres.
Os anos 90 foram marcados por uma tentativa
de uma nova construção social da masculinidade. Hoje, constata-se que a compreensão das
práticas masculinas são fundamentais, por exemplo, para melhorar os resultados sobre a saúde
de mulheres e de crianças, sobre a prevenção de
doenças sexualmente transmissíveis e no planejamento familiar, no controle da violência de
gênero. Tanto assim, que o principal objetivo
das políticas de saúde sexual e reprodutiva tem
sido o de aumentar a responsabilidade masculina em todas as áreas relativas à formação da
família, à reprodução humana e à sexualidade.
Essa empreitada não é simples, pois para se obter uma maior participação dos homens é preciso superar as diversas barreiras culturais e ideológicas, que se somam às desigualdades sociais
e econômicas.
Uma das estratégias que a prefeitura pode adotar é favorecer a criação de programas que trabalhem especificamente com os homens jovens,
na perspectiva do relacionamento com as mulheres, e elaborar políticas públicas que considerem suas demandas.
NECESSIDADES
ESPECÍFICAS
P
or muito tempo, assumiu-se que os homens adolescentes tinham menos necessidades do que as mulheres adolescentes em termos de saúde. Outras vezes, pensava-se que
trabalhar com jovens era difícil, que eles eram
agressivos e não se preocupavam com nada. Freqüentemente, eram vistos como violentos – contra outros jovens, contra si mesmos e contra as
meninas.
Nos últimos anos, houve um aumento considerável no reconhecimento dos custos de alguns
aspectos tradicionais da masculinidade tanto para
homens adultos quanto para os rapazes – o pouco envolvimento com o cuidado com as crianças; maiores taxas de morte por acidentes de
tráfego, suicídio e violência do que as meninas,
assim como o consumo de álcool e drogas. Pesquisas recentes e novas perspectivas chamam a
atenção para um entendimento mais apurado de
como os rapazes são socializados, do que eles
necessitam em termos de um desenvolvimento
saudável e o que os educadores de saúde e outros profissionais podem fazer para atendê-los
de forma mais apropriada.
A Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento (CIPD, 1994) e a IV Conferência Mundial sobre Mulheres em Beijing (1995)
enfatizaram a importância de se incluir os homens nos esforços de melhorar a situação de
mulheres e meninas. O Programa de Ação do
CIPD, por exemplo, procura “promover a equidade de gênero em todas as esferas da vida, incluindo família e comunidade, levando os homens a
assumir sua parcela de responsabilidade por seu
comportamento nas esferas sexual e reprodutiva,
bem como por seus papéis social e familiar”.
Em 1998, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) decidiu prestar mais atenção às necessidades dos homens adolescentes, reconhecendo
que muitas vezes não houve um olhar muito
cuidadoso por parte dos programas de saúde
sobre às questões específicas dos rapazes. A
UNAIDS dedicou a campanha de AIDS 20002001 aos homens, incluindo os homens jovens
e reconhecendo que o comportamento deles constitui um fator que os coloca em situações de
risco, bem como às suas parceiras. É necessário
engajá-los de forma positiva tanto na prevenção
do HIV/AIDS quanto do suporte para aqueles
que vivem com AIDS.
As origens de muitos dos comportamentos dos
homens e rapazes – a negociação ou não do uso
de preservativo, o cuidado ou não dos filhos, a
utilização ou não da violência para solução de
conflitos com sua parceira – muitas vezes são
encontradas na forma como os meninos foram
socializados. Por vezes, assume-se que determinados comportamentos são da “natureza do
homem” ou que “homem é assim mesmo”
Aplicar a perspectiva de gênero no trabalho com
homens jovens significa engajar os homens na
discussão e reflexão sobre hierarquia nas relações entre homens e mulheres; significa olhar
para as necessidades específicas dos jovens em
termos de saúde e desenvolvimento decorrente
de seu processo de socialização, ajudando-os a
entender por que se sentem pressionados a se
comportar desta ou daquela maneira.
Além disso, significa também reconhecer os
direitos de cada um, independentemente de gênero, classe, raça, origem étnica, crença religiosa, deficiência física ou mental, idade ou orientação sexual.
PRINCÍPIOS
Algumas experiências bem sucedidas - e que
podem nortear ações da prefeitura neste campo têm partido do princípio de que estes jovens devem ser vistos como aliados – atuais ou em potencial – e não como obstáculos. Os rapazes,
ainda aqueles que por vezes tenham sido violentos ou que não tenham demonstrado respeito
por suas parceiras, têm potencial para serem respeitosos e cuidadosos com elas, para negociar
em suas relações com diálogo, para assumir responsabilidades por seus filhos, e para interagir
e viver de forma harmoniosa ao invés de uma
forma violenta.
Tanto pesquisas como a experiência de vários
grupos têm demonstrado que os rapazes respondem segundo as expectativas que se tem deles.
Se esperamos rapazes violentos, se esperamos
que eles não se envolvam com o cuidado com
seus filhos e que não participem de temas ligados à saúde sexual e reprodutiva de uma forma
respeitosa e comprometida, cria-se uma espécie
de profecia auto-cumpridora.
É preciso começar a perceber o que os homens
jovens fazem de positivo e humano e acreditar
no potencial de outros homens jovens de fazerem o mesmo. Se os espaços de troca de idéias e
experiências com os homens jovens conseguirem abordar efetivamente os temas de equidade
de gênero, sexualidade, prevenção de violência,
saúde mental e prevenção da AIDS, pode-se
mudar a forma como estes jovens passam a se
relacionar consigo mesmos, com outros homens
e, principalmente, com as mulheres.
Pode-se, por exemplo, estimular algumas atitudes e comportamentos que levem os jovens a
acreditar no diálogo e na negociação em vez de
violência para solucionar conflitos nas relações
interpessoais; a respeitar as pessoas de diferentes contextos e estilos de vida; a respeitar seus
parceiros em suas relações íntimas e que estas
sejam baseadas na equidade e no respeito mútuo; a conversar com seu parceiro ou parceiros
sobre a prática do sexo seguro; a entender que
cuidar de outros seres humanos é também atributo de homens; a acreditar que os homens também podem expressar outras emoções além de
raiva, e que também podem buscar ajuda – seja
de amigos, seja de profissionais – quando for
necessário para questões emocionais, de saúde
em geral e também de saúde mental; saibam cuidar de seus próprios corpos e da própria saúde.
PROJETOS EM AÇÃO
No Brasil, há vários grupos trabalhando com o
tema da Masculinidade.
Um desses projetos, é a
série Trabalhando com
Homens Jovens, uma iniciativa do Instituto Promundo (RJ) em parceria
com a ECOS (SP), PAPAI
(PE) e Salud y Gênero,
uma organização não-governamental mexicana.
A proposta contempla um
material específico para
se trabalhar com homens
jovens (cadernos e vídeo)
e a elaboração de oficinas
a partir de cinco temas:
Sexualidade e Saúde Reprodutiva; Da Violência
para a Convivência; Paternidade e Cuidado; Razões
e Emoções; Prevenindo e
Vivendo com HIV/Aids.
Seja em escolas ou em grupos na comunidade, estas
oficinas são desenvolvidas
por educadores capacitados para discutir e refle-
tir com os jovens sobre a
necessidade de mudar certas atitudes e valores associados à masculinidade
e gênero que os tornam
mais vulneráveis em relação às doenças sexualmente transmissíveis e à
Aids, à violência e ao uso
de drogas, dentre outros.
Uma metodologia participativa possibilita uma
atuação efetiva dos jovens no processo educativo e permite também
que eles se sintam valorizados na medida em
que não são colocados na
condição de “receptores”
de conhecimentos e expe-
riências, mas agentes ativos, envolvidos na discussão, identificação e busca de soluções para seus
problemas.
É importante se ter claro
que simplesmente trabalhar com homens jovens
em grupo não basta. Mudar o comportamento de
alguns homens jovens requer mais do que uma
participação por um período de tempo determinado em algumas técnicas
de grupo. Além disso,
toda proposta de ação
deve estar comprometida
com a reflexão.
Neste sentido, desde 1995
Mais informações:
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]
OMUNDO/P
AP
AI/Salud y
Elaboração de texto: ECOS/Instituto PR
PROMUNDO/P
OMUNDO/PAP
APAI/Salud
thur
MacArthur
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Género. Apoio: Fundação MacAr
Instituto Pólis- Rua Cônego Eugênio Leite, 433 - São Paulo - SP - Brasil
CEP 05414-010 - Telefone: (011) 3085-6877 - Fax: (011) 3063-1098 http://www.polis.org.br - e-mail: [email protected]
a ECOS investe em estudos, seminários, pesquisas e intervenções sobre
gênero e masculinidade,
para criar novas concepções e repertórios em torno de práticas sexuais e
reprodutivas dos homens,
jovens e adultos, pois
considera que pequenas
mudanças no cotidiano
podem contribuir para a
construção de relações
humanas mais solidárias
e prazerosas, promovendo o bem estar individual e coletivo. Em particular, ECOS mantém um espaço de reflexão denominado GESMAP – Grupo
de Estudos sobre Sexualidade Masculina e Paternidade, no qual temas
e metodologias inovadoras são exploradas. Atualmente o grupo está se
dedicando ao tema da
violência e vulnerabilidade da juventude.
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- Instituto Pólis