A natureza empírica da composição visual
alicerçada pela teoria da Gestalt.
The Empirical nature of visual communication to build up foundations
of Gestalt theory.
Camargo, Andréa; Ms; Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
Rocha, Nara; Ms; Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
Valfídria, Tércia; Ms; Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
Resumo
O objetivo deste artigo é demonstrar diferentes metodologias utilizadas em duas instituições
de ensino superior, do curso de Design, em Pernambuco, com o intuito de estabelecer a
conexão entre o experimento e a teoria na criação de uma composição visual. Este trabalho
busca demonstrar como o experimento alicerçado à teoria pode contribuir para aperfeiçoar o
resultado dos trabalhos e diminuir o tempo de estudo; itens que propiciam a eficácia de uma
composição visual.
Palavras-chave: composição visual; experimento; Gestalt.
Abstract
The objective of this paper is to show different methods using at Design course, in two
colleges, in Pernambuco, whose function is establish the connection between the experiment
and theory of visual composition creation. This paper aims to demonstrate how the
experiment grounded on theory can contribute to improve the outcome of the work and
decrease time to study, items that promote the effectiveness of a composition.
Key-words: visual composition; experiment; Gestalt.
A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt.
Introdução
O termo “comunicação visual” foi por muito tempo designação do curso de Design
Gráfico, em universidades do país. Dentre elas destacamos a UFPE, por se tratar do local de
nossa formação. Nesse período, em meados da década de 1980, havia disciplinas que
continham em suas ementas a ênfase na criação, através de recortes e pinturas de figuras
geométricas, visando compor espaços definidos. Essa investida era realizada, prevalecendo o
conceito instintivo do criador, tendo o respaldo do professor que, com sua formação,
geralmente em arquitetura ou artes plásticas, traduzia para o design seu conhecimento acerca
de como compor um espaço, para nós concebido a partir de uma folha de papel em branco.
A busca pela harmonia, equilíbrio, qualidade estética era uma constante. O trabalho
era prazeroso, porém o respaldo teórico era escasso. Bruno Munari (2001) foi um autor
presente nas interferências criativas dos alunos daquele período. Em seu livro “Design e
Comunicação Visual”, sintetiza novos métodos de ensino sobre design e comunicação visual
que não se vinculam apenas a conceitos estéticos da beleza e da fealdade.
A Estética, enquanto disciplina filosófica, surgiu na antiga Grécia como uma reflexão
sobre o belo natural e o belo artístico. É fato que a Estética e a interminável noção do que é
belo, tão discutida por Platão e Aristóteles, influenciou de forma enfática as consciências
artísticas ocidentais. E nós, participantes desse grupo e sob o intermédio do mestre Ariano
Suassuna, então professor da UFPE, pudemos extrair preceitos que nos impulsionaram a
entender a relação da beleza em nosso objeto de estudo – o design.
Um breve histórico da Estética, temos que, o filósofo alemão Alexander Baumgarten,
cunhou o termo “estética” no século XIX, a partir da palavra grega aisthetikos, que significa
“perceptivo, principalmente através dos sentimentos” (SCHMITT B.; SCHMITT A., 2000,
pág. 33). A partir dessa afirmação, percebemos, então, que a estética está vinculada a busca
do conhecimento sensorial em contraste com a lógica que inspira a verdade. Segundo Schmitt
B.; Schmitt A. (2000) as características estruturais que atraem as pessoas, de acordo com os
filósofos, pertencem àquelas vinculadas a unidade formal, a boa Gestalt, ou outras qualidades.
É quando nos deparamos com a teoria da Gestalt, norteadora de nossa pesquisa, que aproxima
a teoria do conhecimento empírico sobre a organização de formas visuais.
Segundo Ribeiro (2008), a contextualização de um projeto, como suas conotações e
embasamentos culturais contribuem para que o designer transite por outras áreas. Esse
caminho realizado pelo profissional, que adquire diferentes conhecimentos, já permite um
novo acesso aos materiais e recursos para construir seu objeto. A criatividade se viabiliza por
esta abertura a outros campos. O autor ainda completa que para conseguir interagir e se
deslocar por várias disciplinas é necessário uma metodologia, onde o designer deve traçar e
criar uma estratégia, uma tática de como melhor utilizar todo o conhecimento adquirido,
permitindo o compartilhamento de conteúdos.
A pluralidade é a essência do design gráfico pós-moderno, a mistura de tendências, de
estilos e, porque não, de disciplinas e de áreas diversas. Atualmente, há sempre o
investimento na inovação, no resultado e nas soluções primorosas que esclareçam para a
sociedade o papel do profissional de design. Isto demonstra a importância da flexibilidade, da
abertura para novos entendimentos e conhecimentos. Uma área de conhecimento dita como
nova, agrega novas ideias e atitudes, interagindo com outras, formando um conhecimento rico
em referências e dinamismo.
Dondis (2003, p. 52) explana que “parte do que sabemos sobre a interação e o efeito
da percepção humana sobre o significado visual provém das pesquisas e dos experimentos da
psicologia da Gestalt”. Adepto desse argumento figura o psicólogo alemão Rudolf Arnheim
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt
(1997) que discorre que seu próprio desenvolvimento está vinculado aos trabalhos teóricos e
práticos desta escola.
O design é dito por diversos autores como uma área de estudo interdisciplinar. Talvez
porque o design sempre se apropriou de outras disciplinas para construir seu conhecimento.
Quem sabe, talvez porque a valorização dos estudos nesta área no Brasil ainda seja recente, ou
ainda, porque, sendo um campo relacionado tão diretamente com as mudanças da sociedade,
necessite estar em constante aprimoramento e renovação das fontes teóricas para seu
entendimento. Expondo o conceito de interdisciplinaridade temos por Everling, et al (2006):
“(...) a interdisciplinaridade é entendida como prática de ensino-aprendizagem que objetiva a
ampliação de saberes por meio da inter-relação dos conhecimentos de diferentes áreas, sem,
porém, negar as especialidades”.
Metodologia
As reflexões encontradas neste artigo demonstram a aplicação da teoria da Gestalt em
experimentos utilizados na disciplina Design de Superfície, ministrada na Faculdade Boa
Viagem (FBV), em Recife, Pernambuco, nos anos de 2005 a 2008 e, na Universidade Federal
de Pernambuco – Campus do Agreste (UFPE-CAA), no ano de 2009.
A metodologia, ora utilizada, baseou-se na observação participativa com análise da
criação de composições visuais de alunos, diante de duas abordagens metodológicas
diferentes, porém complementares, aplicadas nas duas instituições de ensino citadas. Na FBV,
houve a prevalência do trabalho empírico dos alunos, similarmente ao que era vivenciado por
nós na década de 80, com a diferença de que nesta faculdade houve a menção da teoria
posteriormente à criação. Na UFPE-CAA, a teoria antecedeu a criação dos alunos.
Os resultados encontrados através da metodologia criada, visando facilitar e aprimorar
o entendimento dos alunos na construção de imagens e organização da configuração visual de
superfícies, foram também norteados pela contribuição de entrevista não estruturada da aluna
Cíntia Ferreira, da UFPE-CAA.
A Estética e a Gestalt: teorias do sensório
Apercebemos o viés sensitivo incorporado à essência da estética, o sensório passa a ser
o parâmetro de inclusão de determinado objeto na arte. Em outras palavras, seria a
experiência estética de cada indivíduo, baseada em seus sentidos que o levaria a experimentar
o prazer visual, sendo esse prazer associado à beleza. Há séculos que os filósofos
permanecem intrigados com tal prazer e satisfação visual, que vinculam a estética ao belo, ao
prazeroso. Kant e Hegel, por outro lado, contribuíram no sentido de superar a concepção
meramente empírica da estética, concebendo-a não apenas vinculada ao belo, ao aprazível, ao
agradável (1989, p. 147 apud DUARTE. In: CERÓN; REIS, 1999, p. 99). Ainda, no que
concerne à estética do belo, segundo Dondis (2003, p. 52), a satisfação perante a beleza
“depende, de alguma forma, das qualidades e da organização de uma obra de arte com seus
significados incluídos, e não apenas dos significados considerados isoladamente”. Seria dizer
que a arte na Estética do belo, assim como na Gestalt se baseia no todo, na totalidade da obra
como parâmetro para sua significação.
A Gestalt é uma Escola de Psicologia Experimental, criada nos fins do século XIX
pelo filósofo vienense Von Ehrenfels. O movimento gestaltista atuou, principalmente, no
campo da teoria da forma e vem sugerir, em especial, porque determinada forma agrada em
detrimento de outra. Seu princípio se fundamenta no princípio da pregnância da forma, ou
seja, “na formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual constituem
para o ser humano uma necessidade e, por isso, consideramos indispensáveis” (GOMES,
2004, p. 17). Diante dessa citação poderíamos questionar como se daria a relação de
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equilíbrio, clareza e harmonia visual de uma forma em uma composição visual? E mais, qual
seria a regra para conseguirmos gerar uma composição com tais características? É justamente
para responder tais questionamentos que recorremos à psicologia da Gestalt, também
designada de psicologia da forma.
Foi através de uma rigorosa experimentação e numerosos estudos e pesquisas que
emergiu a abordagem gestaltista, “para a qual a percepção do mundo é um processo de
organização, de ordenamento de dados sensoriais para torná-los conformes com certa
quantidade de grandes categorias e de ‘leis’ inatas que são as de nosso cérebro” (AMOUNT,
1993, p. 93). Estas leis veem se opor ao subjetivismo, pois segundo Gomes (2004, p. 18), “a
psicologia da forma se apóia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura explicar a
relação sujeito-objeto no campo da percepção”. Então, o nosso sistema nervoso central tem o
poder de organização e unificação das formas externas a nós. Dito de outra maneira, as
organizações provenientes da estrutura cerebral são espontâneas e independem de nossa
vontade ou aprendizado.
Diante do exposto, retornamos à década de 1980, quando nos deparávamos com
criações de composições visuais sem o profundo embasamento teórico, no intuito de
confrontarmos a realidade passada à contemporânea. Observamos, pois, que em pleno século
XXI, as criações continuam a mercê da nossa estrutura cerebral, devido a sua função autoreguladora que, “à procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos
coerentes unificados” (GOMES, 2004, p. 18). Essa afirmação é pertinente, porém não exclui a
importância da teoria na criação de composições visualmente estruturadas e diferenciadas,
como vamos ver através dos exemplos que se seguem.
Organização visual da forma
Nas diversas manifestações visuais, a organização visual da forma é uma das grandes
preocupações dos designers, pois estabelecer harmonia e uma boa organização não é tarefa
fácil. É relevante que a prática contínua de formatação e construção de meios visuais,
aprimore a percepção do designer, assim como a transmissão das mensagens visuais. VillasBoas (2000) esclarece que os projetos e artefatos de design serão considerados produtos do
design gráfico se estes tiverem por fim a comunicação; seja esta realizada no intuito de
persuadir o receptor da mensagem, difundir e expor novos produtos, ou de dirigir o olhar do
espectador para as informações necessárias.
Através dos passos traçados em sala de aula, o aluno busca empiricamente construir
uma configuração visual que se torne agradável aos olhos. O ganho de sensibilidade
perceptiva no desenvolvimento de uma composição pode ser ampliado, também, pelo arsenal
de carga imagética vivenciada e armazenada no cérebro durante o cotidiano.
Figura 1
Figura 2
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A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt
Figura 4
Figura 3
Os exemplos acima (Figuras 1, 2, 3 e 4) são parte de um trabalho das alunas Carmela
Bezerra e Emeline do Nascimento, respectivamente, do curso de Design de Moda, da FBV.
As pranchas feitas manualmente, sem a interferência digital, eram geradas seguindo tentativas
de erro e acerto, sempre com nosso auxílio. Ao longo do trabalho, foi possível perceber que as
composições apresentavam boa forma, ou seja, boa gestalt.
No que concerne ao respaldo teórico explanado em sala de aula, eram evidenciadas
algumas questões relevantes, como por exemplo, a preferência do observador ocidental e
destro, pelo ângulo inferior esquerdo. Segundo Dondis (2003, p. 39), diante de uma
representação diagramática, “existe um padrão primário de varredura do campo que reage aos
referentes verticais-horizontais, e um padrão secundário de varredura que reage ao impulso
perceptivo inferior-esquerdo”. Há várias explicações sobre a preferência do padrão secundário
de varredura e, ao contrário do que acontece com as preferências primárias, não é fácil darlhes uma explicação conclusiva. “O favorecimento da parte esquerda do campo visual talvez
seja influenciado pelo modo ocidental de imprimir, e pelo (...) fato de aprendermos a ler da
esquerda para direita” (DONDIS, 2003, p. 39).
Dondis (2003) ainda ressalta que diante de uma área retangular horizontal, o material
visual disposto na base horizontal desse campo, com o predomínio da área esquerda do campo
sobre a direita e da metade inferior do campo visual sobre a superior, gera uma composição
com um mínimo de tensão, o que vem a ser uma composição nivelada. Em outras palavras, é
pertinente inserir elementos visuais com maior peso visual nas áreas referidas, para evitar as
áreas de tensão em uma composição, áreas essas concentradas na parte superior direita de uma
composição. Observem na prática:
Figura 5: Predominância da área
superior direita. Composição
desnivelada/desequilibrada
Figura 6: Predominância da área
inferior esquerda. Composição
nivelada/equilibrada
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A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt.
Dicas como a que nos reportamos foram abordadas em sala de aula. Mas, o trabalho
dos alunos foi marcado pela natureza empírica, na qual a experiência foi capaz de comprovar
a teoria antes mesmo deles a conhecerem. A teoria da Gestalt foi posteriormente explanada
para os alunos que passaram a observar os ensinamentos, corroborando suas criações, pois, a
partir da teoria, eles passaram a ter o respaldo científico, sendo esse imprescindível, quando
da apresentação de um trabalho a um leigo.
O uso de conceitos e da teoria da Gestalt agrega maior valor aos trabalhos realizados,
pois gera segurança. O designer afirma sua criação e suas decisões acerca da composição
visual partilhando do embasamento teórico. Estes conceitos e teorias, com abordagens
sistêmicas e coerentes, usados com direcionamento, transformam uma manifestação de
organização visual em algo agradável, que venha a atingir de forma aprazível quem está
visualizando.
Podemos alegar, então, que para garantir o bom desenvolvimento dos trabalhos é
necessário que os designers busquem referências teóricas e tenham como suportes, pesquisas
e conhecimentos técnicos importantes, de nível científico abrangente. Nos dias atuais, há a
eminência de formatações realizadas em tempo hábil e que contenham um nível de harmonia
que seja agradável à maioria das pessoas. De acordo com Sólio (2006), a composição gráfica
deve ser bem trabalhada, pois sua solução, seu resultado pode afastar ou atrair os
espectadores. Uma comunicação visual produzida com excelência, produz significação,
transmite informações e, através das associações, penetra no inconsciente humano. Assim, é
necessária a aplicação de estudos, de teorias e de técnicas que possam dar suporte, além de
otimizar a dinamização de bons trabalhos visuais.
Sobre a Gestalt, podemos citar suas leis – unidade, segregação, unificação,
fechamento, continuidade, proximidade, semelhança, pregnância da forma – que contribuem
para esse aparato teórico. Utilizando como fundamentação científica os estudos e pesquisas
realizadas pela Escola da Gestalt, no campo da Psicologia Perceptual da Forma, Gomes
(2004, p. 27) discorre sobre sua obra: “a partir destas leis, foi criado o suporte sensível e
racional, espécie de abc da leitura visual, que vai permitir e favorecer toda e qualquer
articulação analítica e interpretativa da forma do objeto”.
Seguindo o posicionamento de aplicar a teoria para o melhor aperfeiçoamento das
técnicas no desenvolvimento de projetos e tendo como demanda a criação de composições
visuais durante a disciplina de Design de Superfície (curso de Design da UFPE – CAA),
iremos expor o trabalho das alunas do 5º período, Myrella Bezerra e Cíntia Ferreira, através
do depoimento da última. Sua vivência foi narrada a partir da aplicação da teoria durante a
criação, diferentemente da metodologia aplicada aos alunos da FBV, que foram apresentados
à Gestalt após a criação de suas composições.
Ferreira cita que inicialmente as teorias explicadas em sala de aula, sua relevância e
funções de suporte, fizeram-na entender a necessidade de criação mais direcionada, aplicada e
de forma coerente, agregando valores para despertar a atenção dos possíveis consumidores.
Ao dar início ao seu trabalho prático, foram corroborados os conhecimentos e a identificação
de como as leis estudadas e as técnicas aplicadas, revelavam as inúmeras possibilidades de
organização, tendo por base as formas simples e sintetizadas.
Alcançar a construção de uma composição, como já dissemos, é uma tarefa árdua e
que implica paciência, pois reúne inúmeras possibilidades. Mas, apesar da demanda, é
importante saber distinguir quais dessas possibilidades são harmônicas e podem vir a compor
um delineamento para uma boa composição. O importante, segundo Ferreira, é perceber
aquela que apresenta soluções estéticas e funcionais adequadas a diferentes materiais e
métodos, a fim de garantir o uso dessas composições nos mais diversos tipos de superfícies.
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A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt
O conhecimento teórico e a aplicação das leis da Gestalt foram essenciais para
proporcionar mais segurança na defesa do projeto exposto, garante Ferreira. Essa reconhece,
em suas formatações, o emprego dos conhecimentos teóricos de forma prática e observa que,
com o uso desses atributos, passa a encontrar uma possibilidade tangível de garantir uma boa
percepção visual por parte do público. Cauduro (2000) acrescenta que as mixagens de
tendências acabam por tornar a compreensão das imagens, pelo receptor, complicada, pois
para se fazer entender, transmitir a mensagem que se deseja, seria necessário um total
conhecimento do que o espectador é capaz de perceber. Caso a mensagem não consiga
transferir significado, pode ser desperdiçada e o trabalho perdido pela falta de leitura. Por
isso, o entendimento maior do contexto vivenciado e o aprofundamento de outras formas de
comunicação, auxiliam o profissional na construção de suas composições e soluções para
transmitir de forma criativa e segura os discursos de seus clientes em seus projetos.
Ferreira salienta ainda que quando se trata de um trabalho feito através de tentativas e,
por isso, de certa forma ser um processo empírico, o conhecimento da Gestalt garante maior
confiança na escolha da composição final, por partir de bases, a princípio, comprovadas.
Discorrendo sobre o projeto, Ferreira inicia abordando como procedeu o desenvolvimento das
composições. Segundo ela, iniciou-se a partir da disposição dos elementos baseados em
experimentos, mas sempre atrelado ao conhecimento das leis da Gestalt, que lhe propiciou
uma direção na produção, com melhores resultados e em tempo hábil.
A primeira etapa foi agregar a lei de fechamento nas composições (Figuras 7 e 8),
pois, “o fator de fechamento é importante para a formatação de unidades. As forças de
organização da forma dirigem-se espontaneamente para uma ordem espacial que tende para a
formação de unidades em todos fechados.” (GOMES, 2004, p. 32). Nas composições, o
posicionamento direcionado dos elementos (formas estilizadas que são as unidades das
composições) leva a visualização de formas geométricas básicas, como círculos, triângulos,
quadrados. Esse fato ocorre em função do fechamento visual ser baseado por meio de
agrupamento de elementos, de maneira a constituir uma figura total mais fechada.
Figura 7
Figura 8
Em seguida, Ferreira reconhece as possibilidades de harmonia na organização da
composição, onde percebe a necessidade de garantir o nivelamento da mesma, a partir de
certo alinhamento, observando a proporção na disposição dos elementos. Dentre as harmonias
citadas por Gomes – harmonia por ordem e por regularidade – ela destaca a harmonia por
regularidade (Figura 8) e por ordem (Figura 9) que,
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A natureza empírica da composição visual alicerçada pela teoria da Gestalt.
consiste basicamente em favorecer a uniformidade de elementos no
desenvolvimento de uma ordem tal em que não se permitam irregularidades, desvios
ou desalinhamentos e, na qual, o objeto ou composição alcance um estado
absolutamente nivelado em termos de equilíbrio visual. (GOMES, 2004, p. 53).
Figura 9
Figura 10
Desse modo, as harmonias descritas puderam contribuir com o viés de regularidade
que foi traçado nas pranchas, justamente pelo desejo em criar uma disposição simétrica
(Figura 9) e com dinamismo organizado (Figura 8).
Tendo em vista o uso do elemento (óculos) estilizado possuir características estáticas,
foi necessário a junção de vários destes elementos para gerar uma composição dinâmica, além
da geração de formas diferenciadas, como o formato de uma flor (Figuras 8 e 9). Houve o
emprego do dinamismo associado a um bom equilíbrio, onde o peso, tal qual a forma,
colocam-se em direcionamento a centros. Sendo assim, Ferreira salienta que a figura 9 é
caracterizada pelo equilíbrio por peso e direção, pois “a direção da forma pode ser equilibrada
pelo movimento em direção a um centro de atração.” (GOMES, 2004, p. 58).
Numa forma de empregar ritmo a composição, vinculado ao elemento “óculos”,
Ferreira caracterizou o contraste como alternativa. No que concerne ao contraste, Gomes
(2004, p. 62) salienta que “é a forma que torna visível as estratégias de composição visual.”
Assim, com o contraste por ritmo, a aluna afirma ter gerado alternativas como o
interligamento de mais de um elemento e/ou a repetição do mesmo (Figura 8, 9 e 10). Houve,
também, o emprego do contraste por proporção em seu projeto (Figura 9), a fim de permitir
que os elementos – unidades – sejam partes integrantes do todo. Na figura 10, podemos
observar o contraste por dinamismo que “reflete de maneira intensa, mobilidade e ação”
(GOMES, 2004, p.68). Esta composição se diferencia das demais, justamente por possuir um
movimento construído de modo espontâneo, sem necessariamente seguir um centro
propagador.
Por fim, como técnica visual aplicada, Ferreira reconhece a sequencialidade, onde
Gomes (2004, p. 99) explana que “essa técnica se refere à ordenação de unidades ou de
elementos organizados de modo contínuo e lógico, em qualquer tipo de disposição visual”.
Por meio dessa técnica, as peças expostas evidenciam seus elementos de forma lógica e
contínua, seja seguindo formas ou seguindo direções, agregando um melhor nível de arranjo
para as composições.
Através da experiência de uso dos conhecimentos da Gestalt em uma composição
visual, Ferreira salienta que uma vez conhecidas, as leis e técnicas da Gestalt aparecem
espontaneamente na construção de organizações visuais e na projeção de tantas outras formas
de percepção. Estas leis e técnicas, além dos ensinamentos ditados por Dondis (1997), no que
concerne ao peso e tensão de uma forma em uma superfície plana, são claramente expressivas
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e tornam a sensibilidade do autor mais aguçada e direcionada, proporcionando ao designer a
concretização das suas idéias de forma harmônica e estruturada. Associado ao dito, a aluna
constata que o discernimento adquirido torna-se suficiente para embasar e defender seus
projetos, ao acreditar que obtêm grandes chances de serem reconhecidos positivamente pelos
possíveis clientes.
Nossa atividade profissional é uma intervenção cotidiana na vida das pessoas. Ter
consciência da origem dos problemas, para os quais somos chamados a apresentar soluções, é
um ponto de partida necessário e fundamental. Melo (2003, p. 91) salienta que o designer
gráfico deve sempre compreender a estrutura das mensagens visuais que cria para poder
expressar sua metodologia, edificando com o conhecimento teórico a importância e respaldo
da profissão.
O conhecimento teórico alavanca o diferencial do designer. A utilização da técnica por
si só é bastante acessível atualmente. O entendimento da utilização de cada parte e processo
da composição visual é que expressa a importância de uma formação acadêmica no mundo
profissional. A metodologia do design visa à construção de produtos e peças que comuniquem
e supram a necessidade vigente com maior eficácia.
Conclusão
O homem possui uma fonte inesgotável de inspirações que o impulsiona a criar. O ato
criador é um momento de experimento, no qual o artista e/ou designer se entrega a seus mais
íntimos impulsos perceptivos. Por vezes, seu sistema nervoso central indica o caminho para a
completude de sua obra, fazendo-o externar sua natureza fecunda, próprio dos seres racionais.
O entendimento sobre nosso cérebro ante a expressão visual ainda é rudimentar. Por
isso, a busca de conhecimento que nos norteiem a entender o ato criador é de grande valor.
Através de experimentos, os psicólogos da Gestalt puderam explicar alguns
fenômenos da percepção, que foram capazes de embasar, também, os experimentos dos
indivíduos aqui conectados à leitura visual. Se, por um lado, iniciamos a criação através de
experimentações, somos capazes de perceber que a cada descoberta foram discorridos
experimentos, donde constatamos que, na busca pelo entendimento de nosso universo
imagético, a experimentação antecede a teoria, mas é através da teoria que podemos explanar
nossa criação.
A busca de uma pedagogia eficaz na área do design gráfico levou ao entendimento da
aplicação da teoria junto com a prática, para aprimorar os ensinamentos dados em sala de
aula. A necessidade de construir novas aplicações dos ensinamentos teóricos nas atividades
subjetivas eleva o nível de atuação do docente de design como pedagogo. E, com isso, expõe
a importância de criar uma metodologia de ensino eficaz que corrobore a formação de um
profissional completo, tanto na atuação prática, quanto acadêmica.
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