COMENTÁRIOS DE OBRAS LITERÁRIAS – PROFESSORA ROSSANA SILVA Tudo que acontece em nossa vida é resultado das escolhas que fazemos. Educação de qualidade tem que ser nossa escolha permanente, afinal ninguém quer comprometer seu futuro. Seja Feliz! Colégio Nossa Senhora das Graças, 100 ANOS Educando gerações a serviço da vida Manuel Bandeira Nome: Manuel Bandeira “O São João Batista do Modernismo” Nascimento: 19/04/1886 "...o sol tão claro lá fora, o sol tão claro, Esmeralda, e em minhalma — anoitecendo." Natural: Recife - PE Morte: 13/10/1968 Manuel Bandeira (Manuel Carneiro de Souza Bandeira, Recife, 1886-Rio de Janeiro, 1968). Considerado como um dos maiores poetas brasileiros, foi também autor de ensaios, crônicas e memórias, tradutor e organizador de antologias. • 1903 - Parte para São Paulo e se matricula na Escola Politécnica. 1908 - Prepara-se para ser arquiteto, profissão a que tomou gosto por influência do pai. Emprega-se nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana e toma aulas de desenho de ornato, à noite, no Liceu de Artes e Ofícios. Adoece do pulmão no fim do ano letivo (1904) e abandona os estudos. - Volta ao Rio e inicia uma longa peregrinação em busca de climas serranos: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim. • Modernismo: 1ª fase (1922 - 1930) • Além dos documentos depositados na Casa de Rui Barbosa, foi preservada a sua biblioteca, com cerca de 2.500 volumes, doada à Academia Brasileira de Letras, que guarda ainda documentos sobre suas atividades, em especial como acadêmico. • Obras principais: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963) • A poesia de Manuel Bandeira - eliminados os resíduos simbolistas e parnasianos de Cinza das horas e Carnaval - enquadrando-se na vertente mais clássica do espírito modernista, aquela em que se processa uma fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana. Em Bandeira predomina com algumas insistência o lirismo do EU, mas o cotidiano jamais desaparece dos textos, numa síntese feliz entre subjetividade e objetividade. Isto se dá porque uma relação dialética estabelece-se entre ambos. • 1917 - Publica o seu primeiro livro A Cinza das Horas - impresso nas oficinas do Jornal do Comércio. Edição de 200 exemplares, custeada pelo autor (300 mil-réis). • 1919 - Publicação do Carnaval (edição do autor). Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM Teatro Municipal de São Paulo: palco da Semana de Arte Moderna Participou da Semana da Arte Moderna através do poema os sapos que foi declamado por Ronald de Carvalho Os sapos • • • • Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - "Meu pai foi à guerra!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - "Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. • • O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. • Vai por cinquüenta anos Que lhes dei a norma: • Reduzi sem danos A fôrmas a forma. • • • Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas, - "Sei!" - "Não sabe!" "Sabe!". Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita Veste a sombra imensa; Clame a saparia Em críticas céticas: • Lá, fugido ao mundo, Não há mais poesia, Mas há artes poéticas..." Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Urra o sapo-boi: - "Meu pai foi rei!"- "Foi!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não • Que soluças tu, foi!". Transido de frio, Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: - A grande arte é como Lavor de joalheiro. Sapo-cururu Da beira do rio... CARACTERÍSTICAS • Tornou-se um clássico entre os modernistas, explorou a riqueza expressiva da linguagem antiacadêmica e as possibilidades rítmicas do verso livre à perfeição. • Um profundo lirismo em relação aos fatos da vida cotidiana. • A poesia brota da solidão e oscila sistematicamente entre a aceitação da perda e o estímulo do desejo. • Capacidade de exprimir conteúdos humanos profundos por meio de uma linguagem simples, despojada, muitas vezes coloquial. TEMAS: • A infância, a morte, a doença, o desejo erótico, a ternura das coisas simples e menos intencionais, a humanidade dos humildes e dos marginais, social, notícia de jornal. ESTRELA DA MANHÃ (1936) • Autor: Manuel Bandeira • 1936: Edição de 47 exemplares • Estrutura: 28 textos em versos e prosa poética TEMAS: • O desejo insatisfeito, o tom confidencial, referência autobiográficas (a doença, os lugares onde morou, a família, suas origens), social, morte, o cotidiano, beco, temas da infância... POESIAS: • Estrela da Manhã • Poema do Beco • Trem de Ferro • Tragédia Brasileira • Manuel Bandeira • Eu quero a estrela da manhã Onde está a estrela da manhã? Meus amigos meus inimigos Procurem a estrela da manhã Ela desapareceu ia nua Desapareceu com quem? Procurem por toda a parte Digam que sou um homem sem orgulho Um homem que aceita tudo Que me importa? Eu quero a estrela da manhã Três dias e três noite Fui assassino e suicida Ladrão, pulha, falsário Virgem mal-sexuada Atribuladora dos aflitos Girafa de duas cabeças Pecai por todos pecai com todos Pecai com os malandros Pecai com os sargentos Pecai com os fuzileiros navais Pecai de todas as maneiras Com os gregos e com os troianos Com o padre e com o sacristão Com o leproso de Pouso Alto Depois comigo Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples Que tu desfalecerás Procurem por toda a parte Pura ou degradada até a última baixeza Eu quero a estrela da manhã. TRAGÉDIA BRASILEIRA • • • • • • • • Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. Poema do Beco • Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? — O que eu vejo é o beco • Trem de ferro Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isso maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força (trem de ferro, trem de ferro) Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho Da ingazeira Debruçada No riacho Vou depressa Que vontade Vou correndo De cantar! Vou na toda Oô... Que só levo (café com pão é muito Pouca gente bom) Pouca gente Pouca gente... (trem de ferro, trem de ferro)