ESTUDO SOBRE A GESTÃO, ORGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS DESENVOLVIDOS NOS CREAS FICHA TÉCNICA Instituição executora: Fundação Euclides da Cunha – FEC –, por meio do Núcleo de Pesquisas, Informações e Políticas Públicas da Universidade Federal Fluminense - DataUFF. Equipe Responsável: Salete da Dalt (coordenadora), Marco Aurélio Alcântara, Cristina Gladys Mingarelli Nogueira e Mariângela Ribeiro de Almeida. Equipe SAGI: Alba Lucy Giraldo Figueroa, Cecília Ishikawa Lariú, Elizabete Ana Bonavigo, Júnia Valéria Quiroga da Cunha, Juliana França Varella, Marco Antônio Carvalho Natalino, Marta Battaglia Custódio, Renata Mirandola Bichir e Ricardo Rodrigues Dutra. Fonte de Recursos: execução direta de recursos do Tesouro. Contrato Administrativo nº 07/2013. Período de realização: julho de 2013 a junho de 2014. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA Objetivos da pesquisa Descrever e analisar a gestão, organização e execução de três serviços executados nos CREAS, a saber, Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) e Serviço de Proteção a Jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (MSE) - nas modalidades Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviço à Comunidade (PSC). Específicos Proceder à investigação dos seguintes elementos: Estrutura administrativa municipal; Organização e gestão dos serviços dos CREAS; 122 Cadernos de Estudos - Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS 2011 - 2014 Relações entre os serviços ofertados e com o órgão gestor municipal da política de assistência social; Provisões (estrutura física, recursos materiais e socioeducativos); Recursos Humanos disponíveis para os serviços; Metodologias utilizadas nos atendimentos e acompanhamentos realizados (PAEFI, Abordagem Social e MSE); Perfil das famílias e indivíduos atendidos e acompanhados; Principais dificuldades e potencialidades relacionadas à implementação dos serviços; Percepção sobre serviços e aquisições dos usuários; Relação dos CREAS com outros atores; Cotejamento entre a implantação efetiva dos serviços ofertados nos CREAS e as normatizações existentes. Procedimentos metodológicos A metodologia utilizada para o estudo é de matriz qualitativa, a partir da realização de entrevistas em profundidade com profissionais dos CREAS e com jovens em cumprimento de MSE e Grupos Focais formados por usuários do PAEFI e da Abordagem Social. A seleção dos 10 municípios para o estudo foi realizada com base nos seguintes critérios: região, porte populacional, média de casos (indivíduos e famílias) atendidos no PAEFI por CREAS em 2010, tempo de implantação do CREAS, e oferta dos Serviços de Abordagem Social e de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas. Complementarmente, foram realizadas 40 horas de análise de ambiência em cada um dos equipamentos que compõem a amostra. Por meio desta técnica foram elaborados diários de campo com as impressões obtidas por meio de conversa ou observações sobre o dia-a-dia da execução dos serviços. A coleta de dados foi realizada do mês de agosto ao mês de outubro de 2013 por duas duplas de pesquisadores (coordenador e assistente), sendo que uma delas foi responsável pelo trabalho de campo nas regiões Nordeste e Centro Oeste e a outra, pelas regiões Norte e Sul. O Sudeste foi realizado em conjunto. Para garantir maior objetividade, as entrevistas obedeceram a roteiros pré-definidos, a seleção dos jovens foi delimitada por idade e tipo de medida e os grupos focais foram formados por usuários escolhidos aleatoriamente a partir dos registros de atendimentos e acompanhamentos dos últimos seis meses anteriores à pesquisa, considerando especialmente aqueles cujo atendimento tenha durado pelo menos três meses. Cadernos de Estudos - Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS 2011 - 2014 123 A interpretação dos dados foi realizada de forma triangulada, isto é, a partir do cruzamento das diferentes informações disponíveis (conteúdo das entrevistas e Grupos Focais compilados e categorizados, frequências obtidas pelo SPSS e, também, análise de conteúdo dos Grupos Focais com o apoio do programa Atlas.ti). Ressalta-se que o tratamento estatístico foi pensado apenas como forma de organização, comparação de frequência e segmentação de casos, sem ter o intuito de construir interpretações probabilísticas extrapoláveis. Principais resultados Os 10 CREAS analisados estão vinculados a Secretarias de Assistência Social que, embora estejam em consonância com os requisito básicos do SUAS, ainda não avançaram em direção ao cumprimento pleno das normativas mais recentes. Por exemplo, em nenhum dos casos se discute a criação de um Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) conforme indicado na NOB-RH-SUAS/2006. Tampouco se constatou avanços significativos na gestão da informação exigida pela NOB-SUAS/2012, e, em especial, na operacionalização (ou mesmo compreensão) da Vigilância Socioassistencial. Por outro lado, esta análise também constatou que o processo de implementação dos CREAS pesquisados apresenta resultados positivos no que se refere, sobretudo, aos elementos básicos para sua constituição, tais como: A composição de RH dos equipamentos está adequada às exigências da NOB-SUAS-RH e há poucos casos de acúmulo de função; Grande parte dos equipamentos funciona com uma estrutura consideravelmente adequada ao atendimento da população e em 90% dos casos se conta com ao menos um carro próprio para a execução dos trabalhos desenvolvidos; Estes equipamentos estão posicionados como atores reconhecidos e atuantes na Rede de Proteção Socioassistencial de seus territórios. Além disso, as avaliações dos usuários participantes nos Grupos Focais apontam para altos níveis de satisfação que se baseiam na comparação entre a qualidade do tratamento e atendimento encontrado no CREAS e nos demais serviços públicos. Segundo estes usuários, os CREAS se caracterizam pelo tratamento humanizado e atendimento fundamentado na empatia, na escuta e no diálogo; já outros serviços, como os da Saúde e Educação, seriam marcados pela indiferença no tratamento e dificuldade em atender com celeridade e humanização as demandas. Assim, vale ressalvar que a avaliação positiva dos usuários não pode ser tomada sem ressalvas como fator que comprova o sucesso e a qualidade dos serviços prestados pelos CREAS, haja vista que esta avaliação está fundamentada na comparação de experiências tidas como ruins com outras políticas públicas. 124 Cadernos de Estudos - Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS 2011 - 2014 Com respeito à gestão e organização das unidades CREAS, constatou-se esforços das equipes em manter momentos de estudos de casos e trabalho integrado, apesar das dificuldades oriundas da lógica de urgências inerente ao CREAS (segundo a qual o emergencial é rotina e impossibilita o estabelecimento de espaços sistemáticos de discussão e reflexão) e, também, da ausência de uma estrutura formal que facilite estes processos. Além disso, destacam-se também os esforços destas unidades em manter a execução dos três serviços previstos (PAEFI, MSE e SEAS) mesmo nos casos em que o número de profissionais é insuficiente para tal execução se realizar adequadamente. Apesar de tais esforços, constatou-se que os municípios com recursos humanos limitados não têm desenvolvido o SEAS da forma continuada e sistemática, como preconizado pela Tipificação Nacional dos Serviços. Também se percebeu que o Serviço de MSE, recentemente incorporado na maior parte dos CREAS pesquisados, tem guardado relações mais próximas com os órgãos do poder judiciário que com o órgão gestor da assistência. Consequentemente, quando questionadas sobre a quem recorre em caso de dúvidas, a maior parte deste grupo de profissionais afirmou que consulta ao judiciário. De fato, profissionais atuantes nos diversos serviços ofertados pelos CREAS sentem que as demandas oriundas dos órgãos de justiça, que muitas vezes nem seriam de competência da assistência social, têm tomado grande tempo e energia das equipes, o que acaba por comprometer as atividades que não estão ligadas às obrigatoriedades judiciais. Portanto, é fundamental que os órgãos federais de Assistência, MDS e CNAS, estabeleçam um debate com as instâncias do Poder Judiciário, em especial com o Conselho Nacional de Justiça, com vistas a pactuar fluxos de trabalho entre os órgãos de justiça e os CREAS. Por fim, os resultados indicam que o PAEFI é executado regularmente nos 10 casos investigados como serviço de acompanhamento a casos de violação que tratam, sobretudo, de negligência, abandono e violência patrimonial contra idosos e negligência e ou violência contra crianças. Apesar de relativamente adequado aos padrões da Tipificação (recorte no atendimento a famílias com direitos violados, acompanhamento individual e familiar garantido, visita domiciliar como estratégia), foram identificados elementos que devem ser assunto de reflexão e revisão: a própria definição do acompanhamento familiar, o desenho de atendimentos coletivos para que sejam ajustados aos objetivos do serviço, o papel da busca ativa na execução deste serviço, a debilitação e ou ampliação dos públicos prioritários. Sobre este último ponto, as situações encontradas sugerem que o PAEFI nos municípios da amostra não tem demanda e oferta de ações para muitos dos públicos indicados na Tipificação, estando resumido ao atendimento de dois grupos: idosos e crianças e suas famílias. Cadernos de Estudos - Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS 2011 - 2014 125 Ao longo da análise foi possível identificar alguns desafios que devem ser enfrentados para o alcance de maior qualidade dos serviços e, consequentemente, melhores atendimentos aos usuários. Recomendações No âmbito da gestão: Nível municipal: criar e ou aprimorar os instrumentos e espaços de planejamento, monitoramento e avaliação dos serviços com a participação de toda equipe. Considerando as limitações de recurso, é importante observar que uma lógica de planejamento, monitoramento e avaliação pode ser pensada e executada de diferentes maneiras. O mais importante é a determinação para criá-la e o apoio técnico para colocá-la em marcha; Todos os níveis: capacitação em temas de gestão para os profissionais envolvidos com esta área; Nível federal: apoio técnico aos municípios para a compreensão e estruturação da área de Vigilância Socioassistencial. Constatou-se que parte considerável dos profissionais não tem apropriação do tema; Nível federal: disseminar as orientações técnicas existentes para elaboração de diagnósticos socioterritoriais no âmbito da política de assistência, a exemplo do Caderno de Informações produzido pela SAGI: “Diagnóstico para Gestão Municipal”; Nível municipal e CREAS: aprimorar a integração das MSE ao CREAS, apoiando institucionalmente as equipes no diálogo com o Poder Judiciário e assumindo o papel de protagonista na execução do serviço para que este não se torne um mero balcão de serviços do Poder Judiciário; 1tYHOHVWDGXDOHIHGHUDORIHUWDUGHIRUPDVLVWHPiWLFDHFRQWLQXDGDDo}HVGH educação permanente (capacitação) para os trabalhadores da política de assistência social nos termos previstos pela NOB-SUAS-RH, observando os níveis de necessidade (capacitação inicial, temas específicos, atualização avançada), substituindo as ações pontuais por atividades continuadas de capacitação nas diferentes modalidades existentes; 1tYHOPXQLFLSDO&5($6DFRUGDUFROHWLYDPHQWHFRPDVHTXLSHVGDVXQLGDGHV da PSB e da PSE o estabelecimento de fluxos que facilitem os encaminhamentos internos entre os serviços e no âmbito da referência e contra referência entre as unidades da pasta de assistência. 126 Cadernos de Estudos - Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS 2011 - 2014