ASPECTOS PECULIARES DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM OVINOS Bicudo, S.D.*; Azevedo, H.C.; Silva Maia, M.S.; Sousa, D.B.; Rodello, L. DRARV - FMVZ – UNESP Botucatu - *[email protected] Características reprodutivas da espécie ovina A espécie ovina é caracterizada por apresentar um intervalo entre gerações muito curto. A puberdade pode ser desencadeada em algumas raças no quatro mês de idade. A gestação é de apenas cinco meses e o puerpério se completa entre 35 e 60 dias. Nas raças com aptidão para a produção de carne a terminação dos cordeiros destinados ao abate pode ser alcançada entre 60 e 90 dias de idade. Alem disso o ciclo estral se caracteriza por um intervalo interestro de 16 dias. O estro, com duração aproximada de 30 horas apresenta como característica a ocorrência da ovulação em seu terço final. A estacionalidade reprodutiva típica da espécie é mais marcante em raças produtoras de lã e menos em raças lanadas especializadas em produção de carne e praticamente inexistente em raças deslanadas. Independente da especialização ou raça, no hemisfério Sul a época mais favorável a reprodução da espécie ocorre nos meses de outono de março a maio. O sêmen do carneiro O ejaculado do ovino é caracterizado por volume em torno de um a dois mililitros e total de espermatozóides ejaculados variando entre dois e seis bilhões. Não raramente constata-se no carneiro saudável alta motilidade com 80% ou mais de células com movimento retilíneo progressivo. As características de cinética e morfologia espermáticas são semelhantes a dos demais ruminantes. Para aplicações biotecnológicas o sêmen ovino é facilmente obtido por meio de vagina artificial, não requerendo condicionamento prévio dos reprodutores. Modalidades de inseminação A adoção e viabilização da técnica de I.A. exigem um módulo mínimo do rebanho para que haja retorno econômico adequado. Em todos os casos deve-se questionar se a monta natural, não é a opção que melhor atende aos interesses econômicos e do programa de melhoramento genético a ser implementado. Deve-se levar em conta que a I.A. exige requisitos mínimos de intensificação de manejo reprodutivo e condições mínimas devem ser atendidas. A escolha da modalidade de inseminação depende fundamentalmente da sua adequação ao nível tecnológico do rebanho. A utilização de sêmen a fresco ou refrigerado, apresenta como característica requerer um maior volume de trabalho quando comparada à monta natural, representada pela detecção do estro das ovelhas a serem inseminadas, a colheita, avaliação e manipulação do sêmen e o ato com contenção indidualizadas das ovelhas. A refrigeração permite a utilização do sêmen por até 24 horas após sua colheita, com excelente resultado de fertilidade, com isso torna possível seu transporte, desde que se utilizem dispositivos isotérmicos adequados a este fim. Meios diluidores são indispensáveis à criopreservação por refrigeração, sendo a proporção de diluição desejável de 1:1 a 1:2 (v:v). Diluições acima desse patamar geralmente resultam em baixa densidade final da mistura, o que implica em maior risco de refluxo nas inseminações cervicais superficiais. A dose inseminante deve conter entre 150 e 200 milhões de espermatozóides viáveis o que resulta na possibilidade de inseminação de 15 a 30 ovelhas com um único ejaculado. A principal exigência diferencial entre a utilização do sêmen a fresco ou refrigerado, refere-se ao maior conhecimento e rigor técnico quando da refrigeração do sêmen. As I.A. com sêmen fresco ou refrigerado ao serem comparadas a com sêmen congelado, apresentam maiores chances de popularização, por requererem técnicas menos sofisticadas de deposição do sêmen no genital feminino, requerem equipamentos menos onerosos e menor rigor na cronologia do momento de inseminação. Deve-se levar em conta que a utilização de sêmen congelado possibilita uma maior pressão de seleção permitindo obter-se maior impacto sobre os programas de melhoramento genético e na dependência do estádio tecnológico do rebanho esta vantagem supera em muito as restrições técnicas impostas à sua utilização. A criopreservação do sêmen ovino Os princípios e técnicas a serem utilizadas na criopresevação do sêmen ovino se equivalem as dos demais ruminantes domésticos. Cada espécie possui composição seminal distinta, havendo ainda peculiaridades quanto a composição e sensibilidade das membranas espermáticas ao processo de criopreservação. Algumas modificações se fazem necessárias visando-se atender a estas particularidades. Foram constatados alguns efeitos mais contundentes impostos pela congelação sobre os espermatozóides ovinos caracterizados por modificação da atividade respiratória, criocapacitação em larga escala, modificação da interação com as células do oviduto e suspeita-se que pode haver pequeno incremento nas taxas de mortalidade de embriões obtidos com espermatozóides criopreservados. Todos estes efeitos resultam na necessidade de se depositar os espermatozóides criopreservados intra-uterinamente e em um momento adequado em relação à ovulação. Esses pontos críticos têm merecido a atenção de inúmeros grupos de pesquisa em todo mundo, para o incremento nos resultados da I.A, que já atingiram patamares de excelência e flexibilização das técnicas de deposição do sêmen no genital da ovelha, como alternativa a realização das laparoscopias. As técnicas de Inseminação A ovelha apresenta excelente competência no fechamento do canal cervical, decorrente do maior pregamento cervical interno determinando a formação de quatro a seis constrições (anéis) com intenso desalinhamento entre eles dificultando a transposição cervical por aplicadores de sêmen mesmo durante a vigência do estro. Há marcante diferença entre as raças ovinas quanto à possibilidade de transposição trans-cervical. Diversas técnicas de têm sido propostas, porém a eficiência das manobras tem sido inconstante e principalmente as taxas de prenhez empregando sêmen congelado apresentam-se inferiores aos da inseminação por laparoscopia. As inseminações envolvendo sêmen fresco ou resfriado são feitas pela técnica cervical superficial, empregando-se um especulo com fonte de luz que permita visualização e reconhecimento da abertura vaginal da cérvix e deposição no início do canal cervical de 100 a 150 microlitros de sêmen in natura ou diluído conforme discutido anteriormente. A colonização e longevidade espermáticas no genital da ovelha são suficientemente eficientes para permitirem a flexibilização do momento da inseminação,tanto que é possível empregar-se rufiação noturna com um turno de inseminações pela manhã. O emprego do sêmen congelado requer inseminação intra-uterina e mundialmente a técnica de eleição é a laparoscópica, por apresentar maior repetibilidade de resultados. Diversas técnicas de transposição cervical possibilitam a deposição do sêmen no interior do útero, porém os resultados nem sempre comparáveis aos da laparoscopia permitem inferir-se hipóteses de que a manipulação cervical pode induzir efeitos ainda não conhecidos sobre a eficiência das inseminações. Especula-se ainda a existência de fatores de interação entre a inseminação por via trans-cervical e os padrões qualitativos da dose inseminante. O relaxamento cervical pelo emprego de fármacos como a prostaglandina do grupo E ou mesmo ocitocina, embora com eficiência demonstrada na literatura científica, ainda não é adotado em trabalhos rotineiros. Como biotécnica associada indissociável a inseminação artificial empregando sêmen congelado está a indução/ sincronização do estro. Dos métodos disponíveis para este fim encontram-se o efeito macho e o flushing alimentar, mas o mais eficiente é aquele que emprega fármacos, pois permite controle eficaz do momento ovulatório. O uso de dispositivos vaginais impregnados com progesterona natural ou sintética por 12 a 14 dias, associados a aplicação de gonadotrofina coriônica eqüina (eCG) entre 250 a 500UI no momento da retirada do dispositivo, permite grande eficiência na ocorrência do estro e agrupamento do momento ovulatório das ovelhas. As inseminações por laparoscopia são realizadas de maneira sistemáticas entre 55 e 60 horas após a retirada dos dispositivos vaginais e aplicação do eCG, de maneira a constituir-se num sistema de inseminação artificial em tempo pré-estabelecido (IATF) com uso consagrado na espécie ovina a décadas. Considerações finais A aplicação de biotecnologia da reprodução na espécie ovina, principalmente aquelas relacionadas a I.A., permitem aliar a intensificação do manejo à precocidade potencial da espécie além de maximizar a utilização de reprodutores de alto mérito genético promovendo adequação ao seu valor econômico. Bibliografia Bicudo, S.D., Sousa, D.B., Takada, L., Possibilidades e limitações da inseminação com sêmen ovino refrigerado. Rev.Bras.deReprod.Anim. v.27, p.120-7, 2003. Gillan, L.; Maxwell, W.M.C.; Evans, G. Current state in semen preservation. Reprod Fert Dev 16(4):447-54, 2004 Moraes, J.C.F., Souza, C.J.H., Gonçalves, P.B.D. Controle do estro e da ovulação em bovinos e ovinos. IN: Gonçalves, P.B.D., Figueiredo, J.R., Freitas, V.J.F. Biotécnicas aplicadas à rerodução animal. Varela, São Paulo, 2002, p.25-55. Salamon, S., Maxwell, W.M.C. Storage of ram semen. Anim.Reprod.Sci, v.62. p. 77-111, 2000. Wulster-Rradcliffe, M.C.; Lewis, G.S. Transcervical artificial insemination in sheep. Theriogenology, 62: 990–1002, 2004