Pró-Reitoria de Graduação Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: (IN)COMPREENSÃO DA DINÂMICA FAMILIAR Autora: Vera Lúcia de Araújo do Nascimento Orientadora: Msc. Luciana Santos Brasília – DF 2013 2 VERA LÚCIA DE ARAÚJO DO NASCIMENTO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: (IN) COMPREENSÃO DA DINÂMICA FAMILIAR Trabalho apresentado ao curso de graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de Psicólogo. Orientadora: Msc. Luciana Santos Brasília 2013 3 Monografia de autoria de Vera Lúcia de Araújo do Nascimento, intitulada “VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: (IN)COMPREENSÃO DA DINÂMICA FAMILIAR”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em 03 de novembro de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ______________________________________________ Profa. Msc. Luciana Santos Orientadora Psicologia - Universidade Católica de Brasília _______________________________________________ Prof. Msc. Maria Alexina Ribeiro Psicologia - Universidade Católica de Brasília Brasília 2013 4 Dedico este trabalho a (ao) minha (meu) filha (o) que Deus me deu a graça de conceber este ano. 5 AGRADECIMENTO A Deus, que nunca desiste dos seus filhos. À Ana Maria de Araújo do Nascimento, minha mãe que sempre acreditou em mim e esperou por este dia tão especial. À minha família, pai, meu irmão, Cleiton André, minha irmã, minha cunhada Luciana, meus tios e primos, em especial, ao meu tio João Kerginaldo e minha tia, Verônica do Nascimento pelo incentivo e carinho. As/aos meus amigos que me incentivaram e apoiaram durante toda minha trajetória no campus. Não vou tentar citar todos, pois posso esquecer-me de alguém. No entanto quero agradecer, em especial, a Ana Márcia Guilhermina, Jussara, Dineiri, Ana Paula, Celso Alberici e Luiz Henrique. À professora Luciana Santos pelas contribuições determinantes na realização deste trabalho e, principalmente, por ter me orientado durante esse período. À professora Maria Alexina Ribeiro que tive a oportunidade de conhecer durante o semestre que cursei o Estágio Supervisionado I Por fim, aos professores que tive a oportunidade de conhecer durante os anos em que estive na Universidade, que de alguma forma contribuíram em minha formação. 6 “Apenas vou chorar recuar mais uma vez diante a tua embriaguês nada posso recusar tudo tenho que aceitar calada sou agredida e por ser tão dependente vivo casada e carente escrava da própria vida” (Guibson Medeiros) 7 RESUMO . NASCIMENTO, Vera Lúcia de Araújo do. Violência doméstica: (in)compreensão da dinâmica familiar. 2013.42p. Trabalho de Conclusão de Curso Psicologia – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. Este trabalho trata sobre a violência doméstica e a (in)compreensão da dinâmica familiar, considerando que a família é um espaço íntimo cercado de significados afetivos e que, nesta configuração, também está sujeita a situações que desestabilizam a estrutura familiar, dentre elas se encontra a violência doméstica. Frente a essa demanda este trabalho tem como objetivo geral: compreender a dinâmica familiar em um contexto de violência; e, como objetivos específicos: identificar as situações de violência familiar existentes na relação conjugal, reconhecer como as pessoas envolvidas num contexto de violência conseguem identificar o que é ou não compreendido como violento numa relação conjugal, e analisar as consequências da violência nos membros envolvidos com este fenômeno. Esta pesquisa, de caráter exploratório, segue o método qualitativo através da estratégia de estudo de caso, com a participação de uma família em contexto de violência. O conteúdo das falas dos participantes foi organizado em categorias, posteriormente analisadas. Os resultados apontaram que a família identifica as situações de violência familiar, porém fica explicíto a questão de gênero onde o esposo não se reconhece como agressor colocando a esposa como a principal responsável pelos momentos de violência. A família compreende as concepções de violência caracterizando a violência física e psicológica com mais predominância na dinâmica familiar e sobre as consequências que este fenômeno causa aos membros o fator psicológico foi o mais preocupante. Portanto, foi possível concluir que uma dinâmica familiar se configura através da violência que perpassa papéis onde ou se evidenciam na relação conjugal e/ou na relação parental, e que um ambiente conflituoso reflete em aspectos negativos para os seus membros, tais como insegurança, medo, dificuldades em relacionamentos e na aprendizagem. Palavras-chave: Violência doméstica, dinâmica familiar, gênero. 8 ABSTRACT NASCIMENTO, Vera Lúcia de Araújo do. Domestic Violence: (in) understanding of family dynamics. 2013.42p. Trabalho de Conclusão de Curso Psicologia – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. This work deals with the domestic Violence: (in) understanding of family dynamics, considering that the family is an intimate space surrounded by affective meanings and that , in this configuration , is also subject to conditions that destabilize the family structure, among which is the domestic violence. Meet this demand this work aims General: understand the family dynamics in a context of violence, and as specific objectives: identify situations of family violence existing in the marital relationship, recognize how the people involved in a context of violence can identify what is or is not understood as a violent marital relationship, and analyze the consequences of violence in the members involved in this phenomenon. This research, exploratory, qualitative method follows the strategy through a case study, involving a family violence context. The content of participants' speech was organized into categories , then analyzed, the results indicated that the family identifies the situations of family violence, but is explicit gender issues where the spouse is not recognized as the aggressor putting his wife as the main responsible for moments of violence. The family understands the concepts of violence characterizing the physical and psychological violence predominately in family dynamics and the consequences that this phenomenon because the members the psychological factor was the most worrisome. Therefore, it was concluded that a family dynamic is configured through violence that permeates roles which are evident in the relationship or marital or parental relationship and an environment that reflects conflicted on negative aspects to its members, such as fear, insecurity, difficulties in relationships and learning. Keywords: Domestic violence, family dynamics, gender. 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...............................................................................................12 2. 1 FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.........................12 2.2 DINÂMICA DE VIOLÊNCIA: CONSEQUÊNCIAS "NATURAIS" PARA A FAMÍLIA...... ...17 3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 20 3.1 PARTICIPANTE ............................................................................................................. 21 3.2 COLETA DE DADOS........................................................................................................21 3.3 PROCEDIMENTOS ...................................................................................................... 21 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................................................23 4.1 CONCEPÇÕES DE VIOLÊNCIA......................................................................................23 4.2 MANIFESTAÇÕES ..........................................................................................................26 4.3 CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA................................................................................29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 33 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................35 7. ANEXOS.......................................................................................................................... 38 10 1 – INTRODUÇÃO Estudos sobre o fenômeno da violência doméstica têm se tornado necessário por se tratar de um grave problema social que ganha cada vez mais visibilidade em todos os âmbitos, sociais e acadêmicos, principalmente após as novas leituras no âmbito jurídico, entre elas a Lei n° 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha. Com a sanção desta Lei o Brasil atendeu a recomendação da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará) e da Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) das quais o Brasil é signatário. E além destes, respondeu a uma determinação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), criando uma lei específica (Lei n° 11.340) que procura criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O tema violência é um assunto complexo e que atinge um grande número de famílias, independente da classe social, raça, etnia, nível escolar, etc. E, no mais, ainda é um fenômeno que possui muitas formas de se manifestar, das mais sutis (manipulações, provocações, humilhações) às mais explícitas (socos, esganaduras, tentativas de homicídio). Assim sendo, a referida Lei estabelece alguns tipos de violência no âmbito doméstico: física, psíquica, moral, sexual e patrimonial. Fato é que, independente da manifestação que a violência ocorre, sabe-se que esse fenômeno se dá na conjuntura de uma relação de poder, onde os papéis estão determinados numa hierarquia de gênero, colocando as mulheres em uma situação de subordinação onde “as formas que a socialização de gênero adquire em cada cultura são aprendizagens e condicionamentos das condutas permitidas e proibidas para homens e para mulheres” (RAVAZZOLA, 2007, p.15). Dessa forma, as relações assimétricas de poder estabelecidas entre homens e mulheres estariam inerentes nas relações conjugais/familiares, podendo favorecer um ambiente propiciador da violência. Ao se pensar no fenômeno violência doméstica e se imaginar o contexto relacional em que ela se desenvolve muitas são as inquietações para a realização deste trabalho, a principal é compreender como as pessoas envolvidas num contexto de violência conseguem identificar tal fenômeno. Questiona-se também se haveria e como seria a naturalização da violência no contexto familiar, o que seria ou não 11 considerado violência numa relação conjugal e como os entes envolvidos nessas relações significariam tais experiências. Frente a essas demandas o presente trabalho teve como objetivo geral compreender a dinâmica familiar em um contexto de violência. E como objetivos específicos: ● Reconhecer como as pessoas envolvidas num contexto de violência conseguem identificar o que é ou não compreendido como violento numa relação conjugal; ● Identificar as situações de violência familiar existentes na relação conjugal; ● Analisar as consequências da violência nos membros envolvidos com este fenômeno. 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Família e violência doméstica: algumas considerações Sabe-se que família é a unidade básica da sociedade. De acordo com Minuchin (2008) família é “um grupo de pessoas, conectadas por emoção e/ou sangue, que viveu junto o tempo suficiente para ter desenvolvido padrões de interação e histórias que justificam e explicam padrões de interação” (p.52). Ainda nas palavras de Minuchin (1999), família seria um sistema, por possuir padrões, estruturas e propriedades próprias para se organizarem nas estabilidades e nas mudanças, onde seus subsistemas comporiam suas partes que influenciam umas às outras. Dessa forma, as estruturas familiares redigiriam tanto as formas de organizações quantos as de dinâmica das relações, sendo constantemente influenciadas por esses subsistemas. Essas definições apontam para a possibilidade da família afetar e ser afetada pelas contínuas mudanças sociais. Verifica-se, por exemplo, que a família nuclear ainda postulada nos dias atuais não foi nem é um modelo unívoco. Na verdade, a história aponta que ela tornou-se comum a partir da urbanização e do processo de industrialização ocorrido com a revolução científica (MINUCHIN et. al., 2008). No entanto, com as mudanças de conjunturas sociais os paradigmas familiares tendem a ser também reeditados. Logo, observa-se que os padrões constituídos ao longo da história vão redefinir os modelos de família e de dinâmicas familiares.Dessa forma, historicamente falando, pode-se dizer que a família transformou-se ao longo do tempo, possuindo diversos modelos e que os seus membros possuíram diferentes papéis relacionados ao modo de produção, às demandas econômicas, às diferenças sexuais e de gênero, ao desenvolvimento sócio-histórico da humanidade, e da propriedade privada (SANTOS, 2008). No entanto, também é necessário “compreender que as famílias são diferentes em diferentes contextos” (MINUCHIN et. al., 2008, p. 37). Assim, as mudanças culturais e socioeconômicas continuam influenciando direta ou indiretamente a família e para isso é necessário pensar em famílias, na pluralidade de estruturas e dinâmicas. E, de tal forma, ampliar as conceituações de família avaliando suas especificidades e nuances que haveria na família como um grupo constituído de pais e filhos (as) ou em um casal sem filhos (as), nas famílias mistas 13 com a junção de pais que se casaram novamente e que trazem para este núcleo meios-irmãos(as), entre outros – onde todos(as) precisam se organizar e se adaptar para proporcionar aos seus membros educação e segurança, criando um ambiente de bem estar. Assim sendo, imagina-se que o modelo de família, idealmente constituído no escopo tradicional burguês formado por genitores e filhos(as) separando os locais públicos e privados, deveria ser um espaço onde existem proteção e cuidado. Porém, mesmo “a par da família-abrigo, lugar de intimidade, afetividade, autenticidade, privacidade e solidariedade, surgem imagens da família como espaço de opressão, egoísmo, obrigação e violência”. (COSTA, 2007, p.74). Umas das indagações que fomenta a feitura deste trabalho são as dinâmicas familiares onde ocorrem episódios de violência e, principalmente, a compreensão de em que medida se vivencia a violência como uma dinâmica “natural” da estrutura familiar, tendo em vista que para o “senso comum, a percepção da violência ainda é distorcida, sendo declarada como tal apenas a agressão física.” (VIEIRA et. al., 2008, p. 117), embora a literatura traga, conforme Schraiber (2007), que a violência física vem acompanhada da violência psicológica e em alguns casos também da violência sexual. Ainda assim, é preciso se aprofundar nos estudos referentes à ocorrência do fenômeno da violência num contexto familiar, onde se percebe família como sendo um local que deveria proporcionar segurança; neste sentido é necessário analisar como surgem os episódios de violência no ambiente doméstico e como as manifestações dos atos de violência surgem neste grupo de pessoas, mesmo, como já foi dito, que seja contraditório se pensar em violência num ambiente assim. Ampliando o que já foi falado anteriormente, família seria um sistema composto por vários subsistemas onde o subsistema conjugal é um deles, formado por dois adultos, que tem por objetivo a formação de uma família, com funções específicas e necessárias para o bom funcionamento desta, porém entre os casais podem existir padrões negativos como os padrões transacionais dependentesprotetores quando um dos membros procura aperfeiçoar o outro ou desqualificá-lo de alguma forma. È pertinente ao analisar o contexto familiar de violência, quando em decorrência desses fatores uma grande maioria de mulheres passa a viver em situações de isolamento “com poucas possibilidades de buscar recursos na própria 14 família e na comunidade ou em instituições, o que as leva a se apresentarem inseguras e incapazes de romper o ciclo da violência em que vivem”. (AUDI et. al., 2009, p.591). Pensando em como esses padrões disfuncionais estão presentes na dinâmica familiar a pesquisa realizada por Deeke, Boing, Oliveira e Coelho (2009) traz que os motivos mais apontados na dinâmica familiar que levaram as agressões “foram o ciúme, o homem ser contrariado, ingestão de álcool e a suspeita de traição.” (p.248). Fatores semelhantes com os relatados pela pesquisa realizada por Vieira (2008), em que acrescentou o desemprego, a falta de afeto e de diálogo, dentre outros como fatores de risco, que desencadeiam violência contra a mulher. Outro fator de risco que aparece na literatura diz respeito às experiências de violência familiar vivenciadas na infância, quando mulheres vítimas de violência no núcleo familiar afirmam já terem presenciado agressões contra suas mães, ou mesmo quando “mulheres que reportam terem sido vítimas de violência durante a infância são mais susceptíveis de vivenciar agressões por parte de seus parceiros atuais” (SILVA, et. al., 2009, p.124). Episódios relacionados a estas situações de violência podem levar a uma reflexão onde esse tipo de “experiência pode diminuir a capacidade das mulheres de se protegerem no futuro, estando associada a pouco apoio familiar na vida adulta, além de reiterar a ideia de que a violência é natural”. (D´OLIVEIRA et. al. 2008, p.308). Neste tocante falar sobre violência familiar é sempre um tema muito complexo. Silva (2009) reforça essa afirmação quando relata, em suas pesquisas, que acontecimentos violentos vividos na infância podem influenciar na vida adulta de maneira tal que as pessoas envolvidas nesse contexto violento continuam a aceitar o modelo de violência vivido quando crianças, sendo que, nesses casos, as vítimas de violência repetem comportamentos violentos quando agem de forma violenta em seus relacionamentos atuais ou mesmo quando são complacentes com seus agressores e admitem serem vitimas de agressões. Nesse sentido é necessário que a violência doméstica seja analisada a partir da categoria de gênero, “haja vista que a violência conjugal entendida como questão de gênero toma por base questões culturais, educacionais, dominação econômica, tornando-se assim uma transgressão considerada legal” (MONTEIRO et. al., 2007, p.27), uma vez, como já foi dito, que existem papéis que já foram pré-definidos pela 15 sociedade para homem e mulher e como tais são “perpetradores de relações hierárquicas desiguais”. (GOMES et. al. 2007 p. 506). Também é observado que a violência intrafamiliar está associada ao uso do poder e identificar o papel que cada membro assume na família contribui na compreensão da manifestação da violência. Portanto, “pensar a violência doméstica é necessariamente, pensar as relações de homem e mulher, relações assimétricas, hierarquizadas, porém, é necessário pensar que concepção de família estão subjacentes a essa relação.” (DINIZ et. al., 2007, p.4). Relação esta que entre “homens e mulheres tem mostrado caráter de dominação, sendo designada para a mulher a condição de submissão, retratada em obediência, reprodução, cuidadora do lar e da educação dos filhos” (MONTEIRO et. al., 2007, p.27). Por tempos a intenção deste discurso foi o de naturalizar os atributos femininos, caracterizando-os como sendo relativos ao sexo e/ou mesmo como um modelo culturalmente aceito demarcando os aspectos gênero-culturais. Esta afirmação vai de encontro ao que acontece quando de alguma forma “a família moderna reproduz a desigualdade social existente no que se refere às expectativas geradas sobre o comportamento de homens e mulheres” (GOMES et. al., 2007, p.505), quando os papéis de gênero são repassados a homens e mulheres como sendo inerentes a suas condições biológicas, e com base nestes argumentos “as relações familiares são permeadas por relações de poder, nas quais as mulheres como também as crianças, obedecem ao homem, tido como autoridade máxima no núcleo familiar.” (GOMES et. al. 2007, p.506), sendo este também um papel que a sociedade designou ao homem, onde segundo as mesmas autoras o poder do homem é legitimado tanto no papel de esposo em relação à mulher como no papel de pai diante dos filhos. Também se configurando como violência de gênero, a relação entre parceiros marcada por uma relação de subordinação e dominação, onde expressa uma dinâmica de afeto e poder. Tendo em vista que “essa dinâmica relacional pode ser propiciada na medida em que a divisão interna de papéis admite uma distribuição desigual de privilégios, direitos e deveres dentro do ambiente doméstico” (DEEKE et. al. 2009, p.249). Em sua pesquisa Cruz (2002) vem trazer uma crítica à invisibilidade em relação à questão da violência doméstica que não ganha o seu devido reconhecimento e não é vista como um problema de saúde, pois, segundo a autora: 16 são as mulheres feministas que pressionam pelas ações para as mulheres e, em particular para as mulheres em situação de violência. As demandas por essas ações aparecem ainda como questão do movimento feminista e não como referente a uma questão da saúde pública e, consequentemente, da sociedade. (p.97). Fato é que independente de ainda ser um termo que possui certa “invisibilidade”, seja por trazer ou não uma demanda do movimento feminista, a violência doméstica existe como desdobramento de uma interação onde as pessoas agem de formas diretas ou indiretas, maciças ou esparsas, provocando um dano a outrem em sua integridade física ou moral (MICHAUD, 1989) e conforme já aqui pautado também pode se manifestar com nuances psicológicas, sexuais ou patrimoniais, conforme a Lei 10.340/2006 (Lei Maria da Penha). Nesse ínterim, é necessário apontar alguns dados que chamam atenção para a necessidade de se discutir o tema nos âmbitos políticos, acadêmicos e sociais. No tocante à realidade da violência doméstica no Brasil dados da Central de Atendimento à mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, verifica-se que entre os meses de janeiro a junho de 2013 foram registrados 306.201 atendimentos, uma média de 1.691 ligações por dia, uma média mensal superior a 51 mil registros, sendo que 37.582 do total das ligações registraram relatos de violência. A violência física totalizou 20.760 registros, ou cerca de 55,2% das ligações. A violência psicológica registrou 11.073 ligações ou 29,5%, a violência moral chegou a 3.840 (10,2%) dos registros informados, 646 (1,7%) das ligações foram sobre violência sexual, a violência patrimonial foram 696 registros ou 1,9% e ainda foram registrados 304 casos de cárcere privado e 263 de tráfico de pessoas. Esses números revelam a problemática da violência intrafamiliar no Brasil, no tocante em que, além da mulher não estar imune à violência praticada nos espaços públicos, ela está permanentemente exposta à violência doméstica (SAFFIOTTI, 1995, apud TAVARES, 2000). Em se tratando da relação que a vítima tem com o agressor os dados que a SMP/PR obteve demonstram que o agressor é o próprio companheiro, o cônjuge, namorado ou “ex” em 37.582 dos casos registros de violência doméstica contra a mulher, ou seja, em 83, 8% dos casos registrados a mulher vítima de violência 17 mantém ou manteve alguma relação íntima de envolvimento afetivo e sexual com o agressor. Esses dados levam a refletir sobre os danos terríveis e duradouros que um ambiente violento pode causar em uma família. Para isso, segundo Penfold (2006) é preciso se aprofundar na compreensão do que os membros de uma família, principalmente as crianças pequenas, precisam suportar. 2.2. Dinâmica de violência: Consequências “naturais” para a família Em posse dos dados da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, é preciso pensar nas conseqüências da violência envolvendo tanto as mulheres/mães quanto as crianças/filhos, pois ampliando o grupo das vítimas, amplia-se também o campo das conseqüências. Sendo assim “os maus tratos infligidos a mulher repercutem em perdas significativas na saúde física, sexual, psicológica e nos componentes sociais, este último como rede de apoio para a qualidade de vida” (MONTEIRO et. al., 2007, p.27). Ainda falando sobre a relação das consequências da violência conjugal os “agravos na vida da mulher são marcadas pela baixa autoestima, pelo medo, pelo isolamento social e até pela incorporação do sentimento de culpa” (MONTEIRO et. al., 2007, p.27). Pesquisa recente aponta que, via de regra, a mulher não rompe com essa realidade por vergonha de que os outros saibam que ela sofre violência, por medo de serem assassinadas ao romper a relação, por pensar nos(as) filhos(as), por depender economicamente do marido, por acreditar que ele não fará mais quando o algoz se desculpa, por acreditar que vai mudá-lo, entre outros (INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO, 2013) Neste contexto de violência é importante compreender o que leva a mulher a “ser condescendente e compreensiva, buscando encontrar justificativas para as agressões, atribuindo-as ao alcoolismo, falta de trabalho, situação de dependência dentro da família, falta de recursos financeiros, nervosismo do companheiro”. (AUDI et. al. 2009, p.591). Para estes autores as mulheres usam essas “justificativas” de forma a minimizar a carga de responsabilidade do agressor, no caso o companheiro íntimo, dificultando ou até mesmo retardando que uma decisão seja tomada de forma que possibilite o rompimento do ciclo da violência familiar. Pensando-se sobre os diversos danos que a violência pode causar para as vidas das mulheres vítimas de violência encontram-se em maior escala os de ordem 18 física. Entretanto, é preciso verificar como a violência doméstica também está associada aos danos na saúde mental. Um estudo realizado por Aldeato (2005), no estado do Ceará, demonstra que depois de serem vítimas de violência doméstica as mulheres passam a fazer uso de ansiolíticos ou anti-hipertensivos, sendo que o uso de ansiolíticos aumenta nos casos em que as mulheres sofreram abusos sexuais. Os autores trouxeram estudos realizados em outros estados onde os dados corroboram com resultados encontrados que apontam a presença de sentimentos de solidão, tristeza crônica, desamparo, irritação e descrença. Contudo, os dados mais agravantes dizem respeito a relatos das vítimas sobre pensamentos suicidas. Dado confirmado por números oficiais do Ligue 180 que recebeu 117 registros com risco de suicídio de mulheres violentadas, só no primeiro semestre de 2013. Ou seja, ao menos um caso de risco de suicídio a cada dois dias. Os números do Ligue 180 também apontam que em 83% dos casos relatados filhos e filhas também são afetados pela violência. Em 64,0% dos casos eles(as) presenciaram as agressões cometidas contra as suas mães e em 19% também são vítimas da violência. Essa exposição das crianças à violência e as respectivas consequências também é um tema de extrema pertinência. É necessário analisar que “a exposição da criança pode ser direta, ao presenciar a violência, como também indireta, por meio dos agravos que esse evento traz a saúde física e mental de sua mãe”. (DURAND et. al., 2011, p.356). Com isso pesquisas realizadas que analisaram as consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente vêm corroborar o fato de que “apesar de a possibilidade da violência familiar vitimizar diretamente apenas um integrante da família, indiretamente, seus efeitos são observados em todos os membros do núcleo familiar” (REIHENHEIM et. al., 1999, p. 116). Portanto, a literatura vem trazer que as consequências da exposição de crianças à violência conjugal podem se refletir em problemas de comportamentos, dificuldades de aprendizagem, ansiedade, comportamentos bizarros, dependência e asmas (PENFOLD, 1982, apud BRANCALHONE et. al., 2004). Em consonância com a afirmação acima, Silva (2009), revisando a literatura, também relata que os filhos de mulheres vítimas de violência conjugal estão sujeitos às consequências da violência e que presenciar a violência entre o casal aumenta a probabilidade de a criança vir a desenvolver depressão, ansiedade, transtorno de conduta e atrasos no desenvolvimento cognitivo, além dos riscos já expostos acima. 19 Com isso acredita-se que “a violência presenciada ou sofrida na infância ou adolescência tem uma importância fundamental na estruturação do psiquismo humano” (SILVA et. al. 2009, p.125). No entanto, embora se possa evidenciar uma repercussão em relação entre vivenciar a violência direta ou indiretamente na saúde de crianças “há controvérsias sobre a extensão dessa repercussão” (DURAND et. al. 2011, p.356). Segundo os mesmos autores a literatura vem agregar que os estudos já realizados não conseguiram encontrar uma associação entre a exposição à violência e sintomas depressivos ou ansiosos, nem mesmo com o desempenho escolar. Acrescentam ainda que “as pesquisas no Brasil voltam-se principalmente a violência perpetrada contra criança e o adolescente, sem dar atenção à exposição indireta da violência por parceiro íntimo” (DURAND et. al. 2011, 356). Sendo que se torna pertinente a exploração de temas que busquem investigar como a repercussão da exposição à violência por parceiro íntimo pode influenciar o comportamento dos(as) filhos(as). Em suma, foram essas as problemáticas que geraram inquietações e motivaram o interesse em realizar uma pesquisa voltada para a violência presente nas relações familiares. Portanto, esta pesquisa justificou-se pela necessidade em estudar a dinâmica familiar compreendendo o que a família identifica como violência, sabendo que “a violência é um fenômeno familiar que está relacionado com uma dinâmica disfuncional e, por isso, deve ser estudada e compreendida no âmbito familiar em uma visão integral e não como um problema de pessoas isoladas” (ALOÍSIO, 2002, p. 18). 20 3 METODOLOGIA Como essa pesquisa buscou compreender a dinâmica familiar num contexto de violência e de forma específica procurou identificar as situações de violência familiar existentes na relação conjugal, tal como reconhecer num contexto de violência como as pessoas envolvidas identificam e compreendem o que é ou não violento, analisando assim as consequências para estes membros, utilizou-se na realização deste trabalho o uso do método qualitativo de pesquisa. Pelo caráter complexo em identificar um contexto de violência e pelos fatores que envolvem a dinâmica familiar elegeu-se o método qualitativo por compreender este como o mais adequado para atingirem-se os objetivos almejados, tendo em vista que o “o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio significados visíveis e latentes” (CHIZZOTTI, 2001, p.28). A presente pesquisa foi feita por meio da estratégia de estudo de caso explanatório, que se refere ao estudo descritivo de uma unidade, que neste caso foi a descrição de uma família em um contexto de violência. Para Yin (2005) a estratégia estudo de caso é usada em algumas situações, para acrescentar aos fenômenos individuais tanto os organizacionais, sociais, políticos ou mesmo de grupos mais conhecimento ao pesquisador. Com isso “o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real” (YIN, 2005, p.20). Portanto, o estudo de caso segundo Chizzotti (2010) é uma metodologia que explora um caso singular, contemporâneo, delimitado e contextualizado considerando tanto o tempo e quanto o lugar para que seja realizada uma busca de informações a respeito de um caso específico. Com isso é possível considerar que o estudo de caso é “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real” (YIN, 2005, p.32) apropriado para o contexto de violência intrafamiliar que esse estudo se propôs pensando, principalmente, que os limites expostos do fenômeno violência não estão claramente definidos pelos membros da família em situação de violência. 21 3.1 Participantes Este trabalho buscou compreender a dinâmica familiar num contexto de violência. Para isso, foi escolhida para participar da pesquisa uma família com histórico de violência familiar e constituída por pai, mãe e filho(a). A família participante é composta pelos genitores, pai (45 anos) e mãe (42 anos), três filhos, sendo, um jovem de 21 anos, uma adolescente de 17 anos e uma menina de 07 anos. Os membros com idades inferiores não foram inseridos em nenhuma fase desta pesquisa. De acordo com um questionário sociodemográfico o pai trabalha em um clube realizando serviços de manutenção, a mãe trabalha em uma creche, juntos possuem uma renda familiar de aproximadamente dois mil reais. Quanto à escolaridade, os genitores não concluíram o ensino fundamental, Pablo também não terminou os estudos, parando no 9º ano do Ensino Fundamental, ficando alguns anos sem estudar, retornando a escola este ano na Educação de Jovens e Adultos- EJA, o adolescente trabalha em uma padaria como atendente, recebendo um salário de R$678,00. A família mora de aluguel em uma região administrativa do Distrito Federal. De modo a preservar a identidade dos participantes usaremos os nomes fictícios de João e Maria para os pais, e Pablo, Jéssica e Giovanna para os (as) filhos(as), recordando que apenas o maior de 18 anos (Pablo) participou das entrevistas. 3.2 Coleta de dados Buscando alcançar o objetivo proposto foi realizada a coleta de dados através da técnica de entrevistas semi-estruturas realizadas pela autora deste, já que “a entrevista informal é recomendada nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador” (GIL, 1999, p.119). Segundo o mesmo autor com essa técnica é possível obter tanto uma visão geral do problema o qual está sendo pesquisado, como também identificar os aspectos da personalidade dos membros da família envolvidos em situações de violência. 3.3 Procedimentos Após selecionada a família, de acordo os critérios estabelecidos, foi realizado o contato inicial através de telefonema, onde foi explicado o tema e a importância da pesquisa para que houvesse o entendimento por parte dos(das) participantes, tanto 22 do trabalho quanto do valor de sua participação na mesma. Sendo acordada a participação dos membros pretendidos pela pesquisa foram marcados encontros individuais com os mesmos, na residência da família, pois se sentiram mais confortáveis. No entanto, as entrevistas foram realizadas individualmente, por acreditar que assim os participantes não se sentiriam constrangidos em falar sobre o tema na presença dos outros membros da família, com isso foram marcados momentos diferentes para a realização das entrevistas, em local discreto preservando o/a participante para que nenhum outro membro estivesse próximo no momento. Para cada participante foram realizados dois encontros. No primeiro encontro foram esclarecidos os objetivos da pesquisa, o método aplicado, os possíveis riscos e benefícios; foi pedida autorização para gravar para posteriores transcrições de modo a facilitar a análise da coleta de dados, e demais considerações no intuito de dirimir eventuais dúvidas. Além disso, foi feita a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (anexo I) no intuito de cumprir as exigências éticas para a realização da mesma. Na ocasião pretendeu-se estabelecer um rapport com os membros da família e levantar alguns dados iniciais quanto ao perfil sociodemográfico (anexoIII) da mesma. No segundo encontro, marcado em outro dia e horário, realizado no mesmo local, foi aplicada a entrevista com o pai, a mãe e o filho, individualmente, enquanto a entrevista era realizada no quarto da filha pequena, visando uma maior privacidade dos participantes, já que era o último quarto da casa, próximo ao quintal, portanto, mas afastado da garagem onde o restante da família aguardou o momento de ser entrevistado. A entrevista com o genitor, o senhor João, durou aproximadamente 30 minutos, ele respondeu as perguntas com calma, sentou-se à vontade na cadeira, tinha uma voz tranquila e firme, na entrevista realizada com a dona Maria o tempo previsto foi de aproximadamente 25 minutos e ocorreu de forma tranquila, no entanto ela se mostrou retraída, em algumas perguntas respondia rapidamente, em outras refletia bastante, enquanto que a entrevista com o filho, Pablo foi rápida, com uma duração de aproximadamente 10 minutos, o adolescente não se aprofundava no assunto, relatava de forma sucinta os momentos em que presenciou e/ou sofreu violência. 23 4- RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise dos dados foi realizada com o objetivo de “compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas” (CHIZZOTTI, 1998, p.98). Para tanto, acredita-se que a análise do discurso seja o método mais adequado para atingir os objetivos deste, por isso foi usado como base os trabalhos de Rocha-Coutinho (2004), para subsidiar os dados coletados desta pesquisa, já que com a análise do discurso o pesquisador pode utilizar de um conjunto de ideias expressas por meio da comunicação textual ou verbal com o uso de um texto ou ainda da fala do sujeito (CHIZZOTTI, 2001). Buscando a ampliar o olhar sobre a violência familiar é interessante tentar compreender a fala do homem, autor da violência, e, principalmente, do silêncio da mulher. Alguns questionamentos são inevitáveis: será que essa dinâmica é sintoma da relação familiar como um todo? Ou seja, na família quem tem a voz, a fala, e o poder é o pai/homem? No mais, também fica a possibilidade de que, mesmo as entrevistas sendo individuais, todos os membros sabiam que iriam ser entrevistados e sobre que tema. Logo, podem ter deliberado – em especial sob o ordenamento do Sr. João – que e como poderia ser falado. Maiores compreensões sobre as falas apreendidas nessa pesquisa, com as entrevistas semi-abertas serão por hora apresentadas utilizando-se da Análise do Discurso como método. Após a transcrição das entrevistas com os membros da família, por meio da análise do discurso, foram construídas as seguintes categorias: Manifestações da violência; Concepção de violência; e Consequências da violência, que serão apresentadas e problematizadas a seguir. 4.1. Concepção de Violência Nessa categoria compilaram-se as compreensões que os membros da família possuem a respeito da violência na dinâmica familiar. Verifica-se nas falas dos participantes a concepção de violência que eles possuem, a exemplo dos relatos de D. Maria quando diz que violência: 24 “Significa abandono, você ficar só, você perceber que você olha para todos os lados e não vê alguém da sua família com você [...] a gente se sente só” (Maria). Neste trecho com o relato da D. Maria foi possível perceber a concepção de violência psicológica que ela traz, caracterizando assim que o abandono é algo que ela compreende como violência familiar. Aqui é preciso destacar que neste primeiro momento ela simboliza o abandono como uma forma de violência, ficando assim, presente um sentimento de solidão. Dados semelhantes foram encontrados nos estudos de Deeke (2009) ao destacar que os aspectos emocionais dão significados e sentido ao contexto de um ambiente familiar que perpassa pela violência entre o casal. Na fala do marido também ficou marcado o que os integrantes compreendem de violência quando diz: “O homem normalmente apela para a violência física e a mulher muitas vezes agride verbalmente, muito mais a violência verbal, mas enfim nenhuma nem a outra devem ser aceitas ou consideradas normais, mas obviamente a violência física é mais chocante.” (João) No entanto, em relação ao que Dona Maria colocou anteriormente com mais destaque a violência psicológica, o senhor João aborda a violência física como sendo uma violência mais expressiva na relação familiar, porém nas falas destacadas do casal ficam evidentes duas concepções diferentes: na visão da mulher o que mais se evidencia é o sofrimento que a violência traz ao indivíduo, uma colocação mais subjetiva, enquanto que para o homem é a forma expressa de violência, ou seja, como a violência se dá no meio doméstico, neste caso são as violências físicas e verbais. A concepção que o Sr. João traz de violência tem relação com os dados encontrados na pesquisa realizada pelo Instituto Avon IPSOS (2011), onde 80% dos entrevistados reconhecem a violência física como uma violência doméstica ocorrida através de empurrões, tapas e socos, e 62% citam a violência psicológica por meio de xingamentos, humilhação e agressões verbais. Já o filho conseguiu identificar os dois tipos de violência: a física e a psicológica mesmo sem trazer fatos ocorridos no cotidiano familiar ao dizer que: 25 “É a violência dentro da nossa família mesmo, entre os familiares, daí elas se separam, se dividem entre os tipos violência verbal, agressão física.” (Pablo) Os participantes compreendem os momentos de violência, bem como os tipos de violência, mesmo expondo apenas a violência física e a violência psicológica. No entanto, na colocação abaixo, mais uma vez fica destacada a forma como o marido se refere aos episódios de violência. A violência familiar é sempre uma situação iniciada pelo casal, quando ele diz “aconteceu muito isso de ambas as partes”. “eu creio que na minha casa, por exemplo, aconteceu muito isso de ambas as partes a gente foi muito violento e agressivo com os termos, muitas vezes tendo essas reações na frente das crianças e eu nunca soube o meu o ponto de partida porque às vezes eu não percebia”. (João) A fala do marido a seguir ilustra uma situação de violência que ele caracteriza como a violência do entendimento, no caso se coloca como uma pessoa mal interpretada pela companheira sempre pontuando uma postura moderada diante dos fatos ocorridos, agindo de uma forma mais cautelosa , mais uma vez fica marcada uma postura minimizadora que, segundo Deeke,(2009), de uma forma geral, os homens relatam uma frequência menor de comportamento violentos, isso comparado com as mulheres, chegando inclusive a não admitir os atos de agressão. Mas ao colocar o termo violência do entendimento fica caracterizado que a família apresenta uma dificuldade com a comunicação, o que demonstra que a violência acontece quando o diálogo não funciona. “às vezes ela começa por uma coisa bem fútil, uma bobagem que você comenta [...] se você não controlar o que você vai falar às vezes a pessoa entende errado, aí já começa uma violência, a violência do entendimento que a pessoa não aceita ou não entende o que você está querendo falar”. (João) Agora neste ponto da entrevista a Sra. Maria consegue reconhecer que já vivenciou momentos de violência e traz um fator relevante que apareceu na pesquisa feita por Souto e Braga (2009), onde apresentaram sentimentos de desamparo, inferioridade e insegurança, onde algumas alegaram o medo de passarem por dificuldades em prover o sustento econômico da família sem o 26 cônjuge, o que fica evidente quando a Dona Maria fala sobre a violência psicológica que ela sofria ao dizer que era dependente financeiramente do marido, e os dados obtidos na pesquisa do Instituto Avon (2011), demonstram que dos fatores que mantêm a mulher vítima de violência a continuar com seu agressor é a falta de condições econômicas para se sustentar em 27% dos casos e a falta de condições para criar os filhos alcançou 20%. “Ah já, já sofri sim, de agressões verbalmente e o homem ser ignorante, ai isso aí acaba com a mulher, a violência psicológica porque eu era dependente financeiramente do meu cônjuge, e a física também”. (Maria) Com esses depoimentos pode-se perceber que os integrantes da família reconhecem as manifestações de violência. Eles conseguem expor os momentos em que foram sujeitos passivos ou ativos de agressões, ainda que a Sra. Maria compreenda a vivência da violência familiar através de marcas que não são facilmente identificadas quando diz que o homem, ser ignorante, acaba com a mulher. É para isso que o estudo de Monteiro e Souza (2007) vem complementar ao dizer que estas marcas estão na dimensão subjetiva e apenas são trazidas por quem as sente ao falarem de sofrimento, tristeza e medo. 4.2. Manifestações de violência Esta categoria procurou abranger as manifestações de violência no âmbito familiar, destacando o que os membros da família identificam como situações de violência, já que, de acordo com o que foi encontrado na literatura (Vieira et. al., 2008), as mulheres envolvidas num ciclo de violência doméstica não conseguem reconhecer que estão vivendo uma relação de violência, afirmando que consideram normal a existência de discussões no casamento. Esse mesmo discurso foi encontrado nesta pesquisa. Não só da parte das mulheres, mas de outros membros, que trazem para a relação conjugal um modo de interagir conflituoso, onde o resultado é um ato violento. De acordo com a fala do senhor João: 27 “às vezes você tem que ceder para não gerar outra violência, às vezes a violência que você acha que não está sendo violento para a outra pessoa você está sendo muito violento”. (João) Pode-se inferir que o senhor João retrata um fato vivido envolvendo uma situação de violência, como sendo um episódio que vai além da sua vontade, como se a violência tenha extrapolado qualquer entendimento pelas partes, o único meio de resolver é fazendo uso da violência. Neste caso o estudo realizado por Audi (2009) vem corroborar a fala do senhor João, ao relatarem que o nervosismo do companheiro é um dos fatores que justifica a violência, ou ainda quando a fala do senhor João a seguir caracteriza bem o que Rosa (2008) coloca ao dizer que o agressor racionaliza a ação agressiva e coloca a culpa da situação de violência como sendo da companheira: “em algumas discussões ela já quis me agredir, mas eu não revidei primeiro por que estava na frente dos filhos e outros membros da família” (João). Como já foi falado o que fica explícito aqui é a colocação do senhor João em procurar minimizar sua participação nos momentos de violência deixando a responsabilidade para a esposa, porém um ponto se torna preocupante, quando o senhor João diz que não revidou por estar na presença de outras pessoas, o que se pode inferir é que se estivesse sozinho não teria problema em agredir D. Maria, e para confirmar essa possibilidade a pesquisa realizada por Rabelo e Caldas Júnior (2007), traz que as chances da mulher ser vítima de violência são cinco vezes maiores em famílias constituídas por apenas duas pessoas. No entanto o que a senhora Maria relata, são momentos de violência ocorridas no passado, não expõe com clareza a violência como um episódio vivido por ela, mas retrata algo que ocorre em toda a sociedade, que a violência é uma situação vivida por todos de um modo geral. A dificuldade da D. Maria em falar sobre a violência também pode ser discutida através do lugar onde está mulher se encontra, ser mulher/esposa produz sentimentos de medo, de vergonha, e talvez de orgulho em relatar a vivência de episódios assim. 28 Vieira (2008) considera que a vergonha e o medo de falar claramente surgem do fato de co-habitarem com esta violência, produzindo na mulher um silêncio sobre a violência sofrida e praticada. “Agora é meio complicado, porque antigamente era mais quando algum membro da família bebia que chegava bêbado em casa, mas agora os tempos de hoje está tão mudado” (Maria) O relato do filho traz um aspecto importante a ser considerado, onde a vítima acredita que é responsável pelo motivo que ocasionou a violência. Neste caso o filho também foi vítima de episódio de violência no âmbito familiar, perpetrado pelo seu pai. No entanto, ele demonstra que o pai teve um motivo para ter-lhe quebrado um dedo, já que conversava muito na escola, ou ainda quando finaliza dizendo que no final tudo se resolveu. O mesmo foi encontrado na pesquisa de Monteiro e Souza (2007) onde a vítima de violência internaliza a culpa, se sentindo responsável e até merecedora desse tipo de ato violento que se justifica por meio do comportamento inadequado da própria vítima. Não esquecendo que fica marcado o lugar do pai dentro da família, como uma autoridade, destacando a distribuição de papéis e a valorização do homem no âmbito familiar. O que fica explícito nesta situação é o fato da violência não ficar restrita a relação conjugal, não é apenas a mulher que sofre com a violência dentro de casa, os outros membros também são atingidos diretamente pela violência. “Era em época de escola, eu conversava muito e aí meu pai surtou em casa quebrou meu dedo foi uma confusão, mas enfim tudo deu certo” (Pablo). No entanto o que foi possível averiguar é que a família participante identifica as manifestações de violência doméstica, ainda que na fala do homem se perceba um discurso machista característico da dominação que o Sr. João exerce sobre a esposa e o filho. Essa relação de poder é exemplificada no estudo de Souto e Braga (2009) ao esclarecer que nas relações desiguais de poder que existem na conjugalidade a mulher está mais suscetível ao domínio do homem e a legitimação da violência, ao afirmar que estão presentes as desigualdades de gênero na relação conjugal inclusive nos modelos mais tradicionais de família. O Sr. João em muitos momentos inclui a esposa como uma participante ativa de agressões na frente dos 29 filhos, e de outros membros da família, o que se pode inferir é que em alguns momentos ele pretende desqualificá-la diante dos outros, para isso Diniz (2003) vem corroborar com esta pesquisa ao evidenciar que, embora na relação conjugal o homem represente o masculino como agressor, ele aponta ao mesmo tempo a mulher também como agressora, em proporções semelhantes. No entanto frente a esta situação de violência que a D. Maria viveu é possível perceber uma fragilidade psicológica quando a mesma relata o que a violência psicológica causa na mulher ao dizer “isso aí acaba com a mulher”, ou mesmo quando diz “me sentia pequena, me sentia incapaz” emoções decorrentes da situação de aprisionamento que o relacionamento conjugal construído pelo domínio e posse que o esposo proporcionava a família, ou mesmo quando D. Maria expressa o fato de ser dependente financeiramente de seu cônjuge ser um causador de violência psicológica. Dados semelhantes foram encontrados pelas mesmas autoras já citadas acima, onde as mulheres expressam o significado da violência conjugal representado através de sentimentos de aprisionamento, dominação, apropriação sentenciada pelo outro. 4.3. Consequências da Violência Ao realizar esta pesquisa procurou-se analisar as consequências da violência para os membros envolvidos, destacando com isso os danos sofridos pela mulher e pelos filhos e filhas. As falas dos participantes, tanto do casal quanto do próprio filho, apontaram que o medo, a insegurança, a dificuldade em se relacionar com os outros são consequências dos episódios de violência. Dados encontrados nessa pesquisa reforçam os achados de estudos anteriores (BENETTI, 2006) que afirmam que dentre as várias situações ocorridas que afetam o âmbito familiar à ocorrência de conflito conjugal, juntamente com episódios de violência entre o casal, configuram-se como formas negativas de interação e expressão afetiva e com consequências graves que afetam o desenvolvimento infantil. Na perspectiva da mãe sentimentos de insegurança, incapacidade frente à vida e dificuldades de aprendizagem e de relacionamento é suscitada quando o(a) filho(a) presenciam situações de conflito entre o casal como apresentada no trecho abaixo: 30 “Com certeza, se torna um ser humano inseguro se torna um adulto inseguro um adulto que acha que não é capaz de nada que tudo é muito difícil tem medo de tudo tem medo mesmo da vida [...] na escola, não tem desenvolvimento, não consegue interagir com outras pessoas, sempre fica retraída”. (Maria) O pai consegue identificar os danos psicológicos que a violência familiar causa nos filhos e filhas, inclusive acrescenta a possibilidade de pessoas vítimas de violências enraizar comportamentos agressivos como sendo algo normal e com o passar do tempo vir a repetir futuramente esses mesmos comportamentos violentos em seus próprios relacionamentos afetivos. No entanto um ponto se torna preocupante, mesmo o pai sendo consciente dos danos que a violência traz para os filhos, ainda assim não o impede de ser violente. A preocupação que o Sr. João demonstra se torna pertinente ao constatar que o estudo realizado por Silva (2009) aponta que presenciar ou mesmo sofrer violência quando criança pode resultar sim, numa aceitação em sofrer violência ou ainda praticá-la como uma conduta comum e adequada na vida adulta, dados semelhantes ao da Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM trouxe no balanço semestral de 2013, que crianças e adolescentes ao presenciarem a violência de gênero passam por traumas, sofrimentos e, sobretudo se familiarizam com a agressividade existente nas relações interpessoais incluindo a opressão as mulheres, com isso o risco da violência se tornar uma referência de expressão e aumentando a possibilidade dessas violências serem reproduzidas posteriormente. “Acredito que eles sofram danos sim, e acabam tendo problemas psicológicos porque eles tomam aquilo como uma coisa comum [...] o filho vendo um casal brigar ele guarda até as palavras que estão sendo utilizadas na discussão, e aquilo ele vai tomar como uma forma dele agir depois, com a futura esposa ou com a namorada”. (João) Nos relatos do filho foram apresentados pontos bastante significativos referentes às consequências de exposição a episódios de violência na infância no ambiente familiar, Pablo, acredita que o desempenho na escola fica prejudicado, o convívio com outras pessoas também sofre alguma influência, mas um aspecto que chama a atenção é quando ele se coloca no meio de um conflito conjugal e se 31 mostra dividido em ter que se posicionar em relação ao apoio emocional que acredita achar necessário oferecer para um dos pais. Essa mesma colocação foi descrita no artigo de Santos e Costa (2004) ao realizarem um estudo com uma família envolvida com situações de violência e em posse do discurso de Ravazzola (1997) afirma que é comum uma criança se sentir confusa ao presenciar a violência de um dos pais sobre o outro justamente pelo fato de amar o agressor. “vai atrapalhar no psicológico da criança quando ela estiver crescendo e ela estiver neste ambiente conturbado de uma forma ou outra vai estar atrapalhando o desempenho dela na escola como o convívio entre as pessoas. [...] nós somos uma família, e se acontecer uma briga entre meu pai e minha mãe dependendo do assunto ou não eu vou ficar chateado com meu pai ou minha mãe, daí vai criar uma situação ruim tanto pra um quanto pro outro, por que a gente vai querer defender um ou outro.” (Pablo) Diante do que os participantes trouxeram é possível identificar os danos principalmente psicológicos que a exposição a atos violentos pode ocasionar nos membros, pois segundo Rosas e Cionek (2006) tanto a criança quanto o adolescente estão em fase de desenvolvimento e para que isso ocorra de modo equilibrado é necessário que o ambiente familiar proporcione condições saudáveis. Contudo, durante a realização das entrevistas percebeu-se que o senhor João tinha uma facilidade maior em falar sobre o assunto, mesmo em alguns momentos se sentindo constrangido ou mesmo quando se referia ao fenômeno violência como sendo algo a parte de sua realidade, ainda assim com um discurso machista, característico de uma tradição patriarcal, onde colocou por vezes a D. Maria como responsável pelos conflitos existentes na relação conjugal. No entanto, na fala de D. Maria foi possível perceber que ela não conseguia expor com clareza as formas de violência presentes na dinâmica familiar, relatando superficialmente, de modo a explicitar os fatos de violência como fatos ocorridos no passado, tentando demonstrar que não os vivenciava na atualidade. O que se pode inferir nesse comportamento de D. Maria é a possibilidade do esposo ter feito uso do poder a ele conferido através da construção de papéis que homem e mulher exercem na família, e o silêncio da vítima seja uma possibilidade de mascarar a realidade de agressões 32 e opressões vividas pela família contribuindo de forma negativa para o bem estar familiar. O filho conseguiu falar sobre os episódios de violência de um modo sucinto, não se prolongando muito nas respostas, além disso, foi percebido na fala do adolescente que ele não verbalizava por não querer se posicionar em relação aos pais, sem apontar um culpado e uma vítima, contudo trouxe pontos relevantes sobre as consequências que um ambiente familiar conflituoso pode causar nos membros da família. 33 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho que por hora se apresenta, buscou identificar as situações de violência familiar existentes na relação conjugal, bem como reconhecer como as pessoas envolvidas num contexto de violência conseguem identificar o que é ou não compreendido como violento numa relação conjugal e por fim analisar as consequências da violência nos membros envolvidos com este fenômeno. Pelas análises realizadas foi possível identificar que a compreensão de violência é mais verificada no seu aspecto físico, entretanto, as demais formas de violência doméstica estão presentes na dinâmica familiar dos participantes desta pesquisa e a que mais se destacou foi à violência psicológica, ainda que os integrantes da família caracterizassem a ocorrência de agressões verbais como outra modalidade de violência. Outro ponto de destaque é a manifestação da violência decorrente da dificuldade de diálogo que a família relata ao identificar que não ser compreendido é um fator desencadeante de atos violentos, possibilitando assim caracterizar falhas na comunicação e um modo natural de resolver os conflitos através da violência demonstrando assim que a violência esta naturalizada na dinâmica familiar, neste caso fica a possibilidade de ser pensar que agir assim por ter sido aprendido no decorrer do convívio mútuo entre eles ou ser um comportamento aprendido no seio da família de origem do casal. Como motivação para os episódios de violência que ocorreram no âmbito conjugal e familiar foi encontrada que o discurso normativo patriarcal/machista continua atrelado às vivências familiares, onde o homem sente-se possuidor da mulher e, por isso, geralmente dotado de ciúmes, acaba cometendo atos de extremo poder – a violência, caracterizando mais uma vez a hierarquia e a subordinação, cabendo aqui o domínio do homem sobre a mulher, assim como do pai sobre o filho. No tocante às consequências da violência para os membros da família houve poucos dados uma vez que os mesmos não fizeram referências diretas em seus discursos. Quase nada foi mencionado como consequência para a mulher, o comprometimento de sua auto-estima, autonomia ou demais sequelas físicas ou psicológicas, e assim ficou uma lacuna na compreensão dessa mulher/esposa que por hora sofre calada, silencia seu sofrimento por medo, vergonha ou mesmo orgulho porém em outros momentos tem coragem de expor na frente de pessoas 34 alheias ao convívio familiar por meio de gestos agressivos contra o esposo que existe um conflito familiar. As consequências apontadas por todos os membros entrevistados nesta pesquisa foram quanto aos possíveis danos que os filhos podem sofrer ao presenciarem episódios de violência entre os pais, ainda que o pai demonstrasse uma preocupação e uma conscientização em relação às consequências de se vivenciar violência na família não era um fator que impedisse com que seus atos violentos cessassem. Outra limitação encontrada na realização da pesquisa foi a dificuldade dos participantes em perceber a violência como natural, eles não conseguiram expor dados que levassem a identificar que na dinâmica familiar a violência era natural por terem aprendido isso na própria família ou nas suas famílias de origem no caso do casal. De posse das considerações possíveis através desse trabalho, foi possível compreender que as dinâmicas familiares se configuram através da violência que perpassa papéis onde se evidenciam ou na relação conjugal ou na relação parental e que um ambiente conflituoso reflete em aspectos negativos para os seus membros, tais como insegurança, medo, dificuldades em relacionamentos e na aprendizagem. Em pesquisas futuras sugere-se fazer um acompanhamento longitudinal com os membros da família ou, ainda, ter a possibilidade de mais encontros como os membros para aprofundar os itens questionados, estabelecer uma relação de confiança e poder compreender de forma não superficial os momentos de violência existentes na família ou mesmo sobre as consequências que a violência pode trazer aos membros. Dessa forma, provavelmente se possa fornecer uma melhor relação entre pesquisadora-membros da família e, a partir da confiança estabelecida, conseguir levantar mais elementos que possibilitem realizar uma análise mais aprofundada sobre o fenômeno. Por fim, acredita-se que o trabalho trouxe contribuições para a aprendizagem de sua autora, permitindo que a mesma conheça mais sobre o tema violência doméstica e sobre o impacto que esta realidade causa nas famílias, assim como problematizar a respeito da prática psi nesse contexto e nas possibilidades de atuação junto aos membros familiares e a toda a sociedade que necessita de espaços de reconstrução para as masculinidades e feminilidades, para o 35 aprendizado da resolução de conflitos de forma dialógica, e para a descontrução de modelos socialmente construídos que, de fato, impactam na constituição da subjetividade, da individualidade e do coletivo. 36 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALOÍSIO, Tânia Mara Freire. Violência intrafamiliar: estudo dos padrões intergeracionais de relacionamento: um estudo de caso. Brasília, DF, 2002. xi, 105 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Brasília, 2002 AUDI, Celene Aparecida Ferrari et al. 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Porto Alegre, RS: Bookman, 2005. 39 ANEXOS 40 ANEXO I: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O(a) senhor(a) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa intitulada: “Compreensão de família em contexto de violência: Um estudo de caso”, sob responsabilidade da Profa. Msc. Luciana da Silva Santos e da aluna Vera Lúcia de Araújo do Nascimento, ambas do curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília. O objetivo desta pesquisa é compreender a dinâmica familiar num contexto de violência. E tem como justificativa a necessidade de se verificar o contexto no qual a violência ocorre para subsidiar melhor entendimento deste fenômeno. O(a) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que seu nome e demais dados pessoas serão mantidos no mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo(a). Além disso, o(a) senhor (a) pode se recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para o(a) senhor(a). A sua participação será através de entrevistas individuais que serão gravadas e posteriormente transcritas. O tempo estimado para sua realização será de aproximadamente 40 minutos. Os resultados da pesquisa serão divulgados na Universidade Católica de Brasília UCB podendo ser publicados posteriormente em congressos e revistas científicas. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda da pesquisadora mencionada. Acredita-se que este projeto não possui riscos nem benefícios diretos aos participantes. Porém, caso isso venha a ocorrer serão disponibilizados os serviços do Centro de Formação de Psicologia Aplicada da Universidade Católica de Brasília – CEFPA de modo a minimizá-los. Se o(a) senhor(a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, telefone para: professora Luciana da Silva Santos, na instituição Universidade Católica de Brasília telefone: (61) 33569197, em horário comercial. Este projeto foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UCB, número do protocolo 228.751. As dúvidas com relação à assinatura deste Termo ou os direitos do sujeito da pesquisa podem ser obtidos também pelo telefone: (61) 3356-9784. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com a pesquisadora responsável e a outra com o(a) senhor(a), que de forma voluntária aceita participar do mesmo. Taguatinga, ___ de __________ de 2013. __________________________________ __________________________________ Nome do(a) participante da pesquisa Profa. Msc. Luciana da Silva Santos ii ANEXO II ENTREVISTA Os itens que compuseram a entrevista foram: - O que a família representa para você? - Para você qual o papel do homem no âmbito familiar? - Para você qual o papel da mulher no âmbito familiar? - Você consegue identificar quais os tipos de violência existentes em uma relação conjugal? - Você já sofreu algum tipo de violência? - Como foi essa situação de violência? - Para você em quais situações familiares ocorre algum tipo de violência? - O que significa para você violência familiar para você? - Como você percebe atualmente a violência contra a mulher? - Os seus filhos já presenciaram algum tipo de violência? De qual forma? - Você acredita que crianças expostas à violência familiar podem sofrer algum tipo de dano? Quais? - Como é o comportamento e/ou desempenho dos seus filhos na escola? - Você percebe se seus filhos apresentam alguma dificuldade em se relacionar com os outros? Quais? - Você acredita que a violência familiar possa causar consequências para os membros da família? E quais seriam elas? iii Anexo III QUESTIONÁRIO SÓCIO-DEMOGRÁFICO 1.Idade:______________ 2. Qual é raça que melhor lhe define? 1.( 2.( 3.( 4.( 5.( ) Branca ) Negra ) Parda/mulata ) Amarela (de origem oriental) ) Indígena 3.Qual o seu grau de escolaridade? 1.( ) Nenhuma escolaridade (não alfabetizada) 2.( ) Ensino fundamental completo 3.( ) Ensino fundamental incompleto 4.( ) Ensino médio completo 5.( ) Ensino médio incompleto 6.( ) Ensino superior completo 7.( ) Ensino superior incompleto 8.( ) Pós-graduação completa 9.( ) Pós-graduação incompleta 4.Possui religião? 1.( ) Não 2.( ) Sim 5.És praticante? 1.( ) Não 2.( ) Sim 5. Caso tenhas alguma religião, favor informar qual. 1.( ) Católica 2.( ) Evangélica 3.( ) Espírita 4.( ) Umbanda/Candomblé 5.( ) Judia 6.( ) Outra: ____________________ 6. Há quanto tempo é casada ou possui algum vínculo afetivo estável? _________ anos 7. Quantos filhos você tem? _______________ 8. Favor indicar a idade dos(as) filhos(as): ___________________________ 9. Possui alguma renda própria? 1.( ) Não 2.( ) Sim 10. Caso possuas renda própria, favor informar qual a renda média mensal: 1.( 2.( 3.( 4.( 5.( 6.( ) Até 1 salário mínimo (Até R$ 678,00). ) Mais de 1 a 2 salários mínimos (De R$ 679,00 a R$ 1.244,00). ) Mais de 2 salários até 4 salários mínimos (De R$ 1.245,00 a R$ 2.712,00) ) Mais de 4 salários até 6 salários mínimos (De R$ 2.713,00 a R$ 4.680,00) ) Mais de 6 salários até 10 salários mínimos (De R$ 4.681,00 a R$ 6.780,00) ) Mais de 10 salários mínimos (Mais de 6.781,00) 11. Atualmente quantas pessoas residem na mesma casa que você: ___________________ iv 12. Em média, qual a renda mensal da sua família? Leves em consideração a remuneração/salário de todos os membros que contribuem para o sustento familiar: 1.( 2.( 3.( 4.( 5.( 6.( 7.( ) Até 2 salários mínimos (até R$ 1.356,00) ) Mais de 2 até 5 salários mínimos (De R$ R$ 1.357,00 até R$ 3.390,00) ) Mais de 5 até 7 salários mínimos (De R$ 3.391,00 até R$ 5.523,00) ) Mais de 7 até 10 salários mínimos (De R$ 5.524,00 até R$ 6.780,00) ) Mais de 10 até 15 salários mínimos (De R$ 6.781,00 até R$ 10.170,00) ) Mais de 15 salários até 20 mínimos (De 10.171,00 até R$ 13.560,00) ) Mais de 20 salários mínimos (mais de R$ 13.561,00)