1 CONDIÇÃO NUTRICIONAL DOS IDOSOS DAS REGIÕES SUL E SUDESTE BRASILEIRAS E SUA RELAÇÃO COM AS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS. Elisiane Belloli* RESUMO O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, normal a todas as pessoas. No Brasil, vem se notando nas últimas décadas o crescente aumento da população idosa e expectativa de vida dos brasileiros. Houve no decorrer dos anos, transição demográfica, epidemiológica e nutricional, acarretando mudanças no perfil populacional (mais idosos) no perfil patológico (aumento das doenças crônicas não transmissíveis) e no perfil nutricional (queda da desnutrição e aumento de sobrepeso e obesidade). Os idosos apresentam pelo menos uma doença crônica não transmissível, sendo o problema de saúde de maior importância por causar incapacidades, maior demanda aos serviços de saúde e maiores gastos do setor de saúde. O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes mellitus, hipertensão arterial, câncer, entre outras. A presente revisão bibliográfica tem como objetivo identificar o perfil nutricional dos idosos e a sua relação com as doenças crônicas não transmissíveis. Palavras-chave: idosos e doenças crônicas não transmissíveis; perfil nutricional dos idosos. 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento é normal a todas as pessoas. É um processo dinâmico e progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que vão alterando progressivamente o organismo, tornando-o mais susceptível as agressões intrínsecas e extrínsecas (PAPALÉO NETO, 2007). A Organização Pan-Americana de Saúde define envelhecimento como: * Discente do Curso de Nutrição do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, email: [email protected] sob orientação da Profª. M.a. Sandra Maria Pazzini Muttoni. E-mail: [email protected]. Data de entrega: nov. 2012. 2 [...] um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. (BRASIL, 2006a) Segundo o Estatuto do Idoso, idosos são todos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL, 2003). A população brasileira com idade igual ou maior de 80 anos, - os mais idosos, ou muito idosos ou ainda idosos em velhice avançada – vem crescendo de forma acelerada (BRASIL, 2006b). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Tábua Completa de Mortalidade, mostram que a expectativa de vida dos brasileiros aumentou para 73,5 anos. Entre mulheres e homens, a esperança de vida é de 77,3 e de 69,7 anos respectivamente (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012). No Brasil, vem-se notando nas últimas quatro décadas, um crescente aumento da população idosa, devido ao processo de aumento da longevidade, combinado com a redução do nível geral de fecundidade, transformando o Brasil em um país mais idoso. Estima-se que no ano de 2030 haja 35,8 milhões de idosos, representando 18,7 % da população total (IBGE, 2010), deixando o Brasil na sexta posição na classificação dos países mais envelhecidos do mundo. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são o problema de saúde de maior importância, atingindo as camadas pobres da população e grupos vulneráveis, entre eles, os idosos (BRASIL, 2011a). Os idosos apresentam pelo menos uma doença crônica não transmissível, por isso considerada a principal causa de incapacidades e o maior motivo para a procura por serviços de saúde, além de responderem por grande parte dos gastos do setor de saúde (PEREIRA et al., 2009). As doenças crônicas não transmissíveis que surgem a partir da obesidade, que é fator de risco para o seu surgimento, são: diabetes mellitus tipo dois, dislipidemias, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, e ainda, outras patologias como esteatose hepática, cálculos de vesícula biliar, osteoartrite e alguns tipos de câncer (MELO PONTIERI, TINOCO DE CASTRO, ALVES DE RESENDE, 2011). Nesta revisão será dada maior ênfase à diabetes mellitus e hipertensão arterial, que são apontadas como os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, que por sua vez representam a principal causa de morbimortalidade na população brasileira (HENRIQUE et al.,2008) e o câncer, pois essa patologia vem crescendo consideravelmente ao longo das últimas décadas com maior ocorrência entre os adultos e idosos (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011). 3 Diante do exposto, nota-se um grande desafio para a saúde pública no Brasil: o crescente ritmo de envelhecimento da população brasileira, aliado a um aumento da expectativa de vida e a uma elevação considerável na ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis, teremos aumentada a demanda pelos serviços de saúde, tornando-se necessário o preparo adequado para atender essa camada da população, com programas e serviços especializados, bem como profissionais de saúde capacitados para acolher, entender e atender essa população. Sendo a nutrição uma das áreas da saúde que está diretamente envolvida na prevenção e tratamento de tais enfermidades, bem como na assistência aos indivíduos nos diferentes ciclos da vida, a presente pesquisa bibliográfica tem como principal objetivo identificar o perfil nutricional dos idosos brasileiros e a sua relação com as doenças crônicas não transmissíveis. 2 MÉTODOS Esta revisão bibliográfica foi realizada a partir da pesquisa em bancos de dados – Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scielo e Pubmed – livros técnicos de Nutrição, Geriatria e Gerontologia e também sites da internet para a busca de documentos do Ministério da Saúde do Brasil (MS), Vigitel, banco de dados do Instituto Nacional do Câncer, bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o levantamento da expectativa de vida, identificação da condição nutricional e informações sobre a composição orçamentária doméstica, bem como as condições de vida da população brasileira. Para a pesquisa nos bancos de dados, foram utilizados os seguintes descritores: idosos e dcnt, perfil nutricional de idosos e seus equivalentes em inglês. Foram selecionados estudos feitos no Brasil, originais e artigos de revisão publicados entre 2000 e 2012. 3 ALTERAÇÕES FUNCIONAIS E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Nessa fase da vida, os indivíduos perdem por década aproximadamente, de 2 a 3% de massa corporal magra, o tecido mais ativo metabolicamente. Juntamente com essa perda de massa magra, ocorre o aumento de gordura corporal - acumulando-se principalmente na região do tronco - e diminuição proporcional da taxa metabólica. Essas alterações podem reduzir a necessidade de energia, diminuir a capacidade de independência e aumentar o surgimento de doenças crônicas associadas à obesidade (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005). 4 No envelhecimento, a composição corpórea se altera e a água que correspondia a 70% do organismo quando criança passa a corresponder a 60% no adulto jovem e a 52% no idoso. Quanto à estatura, percebe-se uma redução em torno de um centímetro por década (PAPALÉO NETO, 2007). A diminuição das papilas gustativas, redução do olfato e visão, diminuição da secreção salivar e gástrica, dificuldade na mastigação e deglutição, redução da motilidade intestinal e diminuição da sensibilidade à sede, podem levar a uma ingestão menor de alimentos e consequentemente, a uma menor oferta na quantidade de nutrientes, prejudicando o estado nutricional dos idosos (SEGALLA; SPINELLI, 2012). O processo de envelhecimento envolve alterações no organismo humano, que podem estar relacionadas à idade e serem provenientes de fatores genéticos somados ao estilo de vida, como alimentação inadequada, sedentarismo, abuso de álcool e tabagismo que são adquiridos ao longo dos anos (GOTTLIEB, 2011), assim como o excesso de peso e o baixo consumo de frutas e vegetais são outros fatores de risco que contribuem e estão associados ao aparecimento de doenças (MOURA et al., 2009). O envelhecimento também promove alterações importantes na massa muscular e na distribuição de gordura corporal, fazendo com que os idosos de maior idade tenham mais chances de apresentar baixo peso quando atingem o platô que ocorre quando a idade vai avançando e consequentemente o peso diminuindo. Nota-se isso em homens de 65 anos e nas mulheres foi observado 10 anos mais tarde (CAMPOS et al., 2006; NASCIMENTO, 2011; ANDRADE et al., 2012). Em consequência da transição demográfica e epidemiológica da população brasileira, que geraram mudanças no perfil populacional e no perfil patológico, com predomínio das doenças crônicas não transmissíveis, de modo semelhante ocorreram as transições nutricionais, com redução da desnutrição e aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade (GERALDO; ALFENAS, 2008). Definida como o grau de armazenamento de gordura no organismo associado à riscos para a saúde devido sua relação com várias complicações metabólicas, a obesidade pode ser compreendida como um agravo de caráter multifatorial que envolve questões biológicas, históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas. (BRASIL, 2006a), considerada um sério problema de saúde pública que atinge os países em desenvolvimento inclusive o Brasil. Nos idosos a obesidade pode afetar a qualidade de vida, onde os agravos variam de risco aumentado de morte prematura a doenças não letais, porém, muito debilitantes e que se 5 prolongam por anos (QUEIROZ; MUNARO, 2008). 4 DOENÇAS ASSOCIADAS À OBESIDADE Com o sobrepeso e a obesidade surgem riscos elevados de doenças associadas como: diabetes, doenças cardiovasculares (DCV) e certos tipos de câncer. Doenças como a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e diabetes são potencializadas pela obesidade, e essas doenças assumem papel importante, pois em função da idade avançada, os idosos apresentam maior frequência (FOLETTO, 2009). Na presença de hipertensão, verifica-se que os indivíduos apresentam um maior grau de resistência à insulina e o uso de medicamentos anti-hipertensivos agrava essa situação, tornando os idosos mais propensos a desenvolver diabetes (FRANCISCO et al., 2010). A Diabetes Mellitus é uma doença que pode resultar de uma variedade de condições genéticas, metabólicas e adquiridas ocasionando em hiperglicemia (SHILS, 2003). Pode causar cegueira, amputações de membros, nefropatias, complicações encefálicas, e consequentemente, prejuízos a autonomia, capacidade funcional e qualidade de vida dos indivíduos (FRANCISCO et al., 2010). Como consequência da associação dessas duas doenças específicas (hipertensão e diabetes) nota-se um aumento importante no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, que são as principais responsáveis pelas mortes no Brasil e que têm elevado as internações hospitalares e incapacitações físicas (MARIATH et al., 2007). Da mesma maneira o câncer, juntamente com as outras doenças crônicas não transmissíveis, está se tornando cada vez mais comum no nosso meio. Trata-se de uma doença de evolução progressiva e demorada, com longo período de latência, fase assintomática prolongada, e normalmente está associado a fatores de risco (CARVALHO; CARVALHO; ALVES, 2009). Os principais fatores de risco para o surgimento de câncer são: uso de tabaco, alimentação inadequada, inatividade física, obesidade, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, agentes infecciosos, idade, hereditariedade, entre outros (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011). O risco da maioria dos cânceres aumenta com a idade, sendo por esse motivo, os cânceres ocorrerem mais frequentemente em indivíduos com idade mais avançada (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011). Segundo Mendes et al. (2011), o excesso de peso e a obesidade caracterizam-se por um estado de hiperinsulinemia e resistência à insulina constante, alterando as secreções 6 hormonais, acarretando mudanças no ambiente celular, favorecendo o desenvolvimento tumoral e aumentando a incidência e a variedade de diversos tipos de câncer. A obesidade também pode ser definida por um estado de inflamação crônica que envolve a produção de citocinas inflamatórias que possuem um papel muito importante na patogênese de diversas doenças metabólicas incluindo o câncer. Assim, a obesidade induz a um microambiente inflamatório, e esta inflamação está inclusa entre outras características responsáveis pela manutenção das funções biológicas do câncer (MENDES et al., 2011) As estimativas para o ano de 2012 que poderão ser utilizadas para o ano de 2013, pois serão válidas, sugerem a ocorrência de 518.510 novos casos de câncer em todo o Brasil. Os tipos mais incidentes para os homens serão os cânceres de próstata, pulmão, cólon e reto, e para as mulheres os cânceres de mama, colo do útero, cólon e reto e glândula tireoide (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA, 2012). 5 PANORAMA NUTRICIONAL DOS IDOSOS A partir da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizada em 1989, cujo objetivo foi analisar as condições nutricionais dos adultos e idosos, através da coleta de dados antropométricos, constatou-se uma mudança no quadro nutricional brasileiro, com crescente prevalência de sobrepeso e obesidade em adultos e idosos, enquanto houve redução na prevalência de baixo peso e diminuição de indivíduos antropometricamente normais (LOPES et al, 2010). Segundo o estudo, verificou-se que entre as regiões do Brasil, a região sul, foi a que apresentou a situação mais crítica, com os maiores índices de excesso de peso: 34% para os homens e 43% para as mulheres, seguida pelas regiões sudeste, norte, centro-oeste e nordeste, com 36% 34%, 31% e 24% respectivamente (COITINHO, 1991). Porém, em termos absolutos a região sudeste, por apresentar um número maior de habitantes, concentrava o problema. A maior prevalência de obesidade, embora estando distribuída em todas as regiões brasileiras, é proporcionalmente mais elevado entre as famílias de baixa renda, desfavorecendo a região nordeste por apresentar precária infraestrutura de serviços públicos e um grande contingente populacional. Sendo as mulheres as mais acometidas pelas prevalências de excesso de peso e obesidade, os autores sugeriram, que o acúmulo de gordura interligada a fatores de reprodução, somado com elevado consumo calórico sem gasto de energia suficiente, pudessem explicar essa situação (COITINHO, 1991). Do total de adultos, 15,9% apresentou baixo peso, sendo a região nordeste a região 7 que apresentou a maior prevalência (20%) seguida pela região sul, com a menor prevalência (10%). Na zona rural é comum a prevalência de baixo peso, possivelmente pelo nível maior de atividade física (COITINHO, 1991). Em outra pesquisa, realizada pelo Sistema de Monitoramento de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas Não Transmissíveis por Inquérito Telefônico realizada no decorrer do ano de 2011 entrevistando a população adulta, com idade igual ou maior de 18 anos, residentes em domicílios com telefone fixo, nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, obteve-se resultados onde a prevalência de excesso de peso afetou 52% de homens enquanto que nas mulheres o percentual chegou a 44,7%. Para a obesidade a prevalência chegou a 15,6% para os homens e 16% para mulheres (BRASIL, 2011b). Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, a prevalência de déficit de peso em adultos foi totalizada em 2,7% (1,8% e 3,6% em homens e mulheres respectivamente), distante do limite crítico de 5% que caracteriza a presença de desnutrição na população. A prevalência de déficit de peso oscilou entre 2% a 3% em homens e mulheres em todas as regiões sem apresentar variações entre os domicílios urbano e rural. Apenas em domicílios rurais da região nordeste e em mulheres, a prevalência de déficit de peso ultrapassou o limite crítico (5,5%) (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Excesso de peso foi diagnosticado em cerca da metade dos homens (49%) e metade das mulheres (50,1%). O diagnóstico da obesidade foi encontrado em 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres. O excesso de peso e a obesidade tiveram aumento da frequência com a idade até a faixa etária de 45 a 54 anos para os homens, e da faixa etária de 55 a 64 anos para as mulheres, diminuindo nas idades subsequentes. Em homens, nas regiões sudeste, sul e centro-oeste, o excesso de peso e obesidade foi mais frequente que nas regiões norte e nordeste e internamente às regiões, ocorreram maior frequência em domicílios urbanos do que em domicílios rurais. Em mulheres, a prevalência de excesso de peso e obesidade foi maior na região sul em relação às demais regiões (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). A desnutrição proteico-calórica, um dos distúrbios nutricionais mais usuais entre os idosos, por se tratar de um problema multinutricional secundário a deficiência de um ou mais nutrientes essenciais, não tem sido devidamente evidenciada nas estatísticas (REZENDE et al., 2010). Direta ou indiretamente o analfabetismo, a pobreza, a solidão, as doenças crônicas não transmissíveis e o uso de diversos medicamentos, podem alterar a quantidade e a qualidade 8 dos alimentos consumidos, comprometendo a saúde dos idosos (LOPES et al., 2010). No que diz respeito à renda familiar, a maioria dos idosos são dependentes da aposentadoria. Muitas vezes por ser uma renda insuficiente o idoso, que também tem gastos com diversos medicamentos, opta por comprar alimentos de baixo custo, baixa qualidade nutricional e com maior aporte calórico (KUMPEL et al., 2011). Notavelmente, a industrialização e as mudanças nos padrões de vida e de trabalho são os fatores que contribuem para que haja transformação no padrão das doenças crônicas não transmissíveis, principalmente com maior impacto nos países em desenvolvimento ((KUMPEL et al., 2011). Quanto mais acesso a serviços que utilizam baixo gasto energético, mais a população está ficando sedentária (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004), onde a utilização de recursos tecnológicos, bem como modificações nas atividades de lazer é apontada como responsável pela redução do gasto energético. Outro ponto a ser observado é a inclusão da figura feminina no mercado de trabalho, mudando a qualidade da alimentação, pois enquanto era “dona do lar” a família alimenta-se com mais qualidade, em dias atuais, sem muito tempo para a preparação, a opção é alimentos industrializados e até mesmo fora do lar, ricos em gordura saturada, açúcar e gordura trans (SOUZA, 2010). Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares houve um crescimento de 7% das despesas para aquisição de alimentos para consumo fora do domicílio (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). O consumo energético médio da população brasileira varia em torno de 1490 Kcal a 2289 Kcal. Entre os idosos, as médias situaram-se entre 1490 Kcal/dia para o sexo feminino e 1796 kcal/dia para o sexo masculino. Tal consumo é constituído de alimentos de alto teor energético e apresenta baixo teor de nutrientes, configurando uma dieta de risco para déficits em vários nutrientes, obesidade e para muitas doenças crônicas não transmissíveis (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Ainda em relação ao consumo alimentar, nota-se que enquanto que a população urbana consome alimentos como refrigerantes, pães, cervejas, pizzas e biscoitos recheados, a população rural tem um consumo maior de alguns componentes de uma dieta saudável como arroz, feijão, peixe fresco, batata doce, farinha de mandioca, manga, entre outros (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). 9 6 ESTADO NUTRICIONAL E SUA RELAÇÃO COM DCNT EM ESTUDOS BRASILEIROS Para Cavalcanti et al., se de um lado existe o baixo peso que aumenta os riscos de infecções e mortalidade, e de outro lado, o sobrepeso e obesidade que aumentam o risco de doenças crônicas não transmissíveis, a manutenção do estado nutricional torna-se importante para qualquer indivíduo. A partir dessa afirmativa, estudos que investiguem os comportamentos relacionados à saúde e o estado nutricional dos idosos são importantes para que se conheça e se possa intervir na prevenção e na melhoria da qualidade de vida dos mesmos (CAVALCANTI et al., 2009). Em Minas Gerais, em estudo feito com os idosos frequentadores da UNATI (Universidade Aberta à Terceira Idade), também foi verificado o predomínio feminino no estudo, 90,2% da amostra. Isso se dá pelo aumento da expectativa de vida das mesmas. Nesse estudo, a prevalência de sobrepeso (52,4%) foi maior em relação à eutrofia (28%) e baixo peso (19,5%). Os resultados da classificação da relação cintura quadril e o percentual de gordura corporal demonstraram-se elevados, significando risco muito alto para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sugerindo-se alta predisposição para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (BUENO et al., 2008). Sabe-se que tanto o baixo peso quanto o sobrepeso são fatores determinantes que comprometem a vida de qualquer pessoa, porém, se tratando de idosos, esses fatores tornam se mais grandiosos pelo fato de que eles ficam mais propensos ao surgimento precoce de doenças crônicas, com grande comprometimento das funções fisiológicas, da autonomia e da independência (CARVALHO et al., 2009). Ainda em Minas Gerais, em Viçosa, em estudo de coorte transversal composto por 621 idosos, 53,3% eram do sexo feminino. Do total de idosos, houve prevalência de excesso de peso (45%) e de baixo peso (13,6%), sendo que nos homens a prevalência de baixo peso (18,2%) foi maior quando comparado às mulheres (9%). Já a prevalência de excesso de peso foi maior nas mulheres (54,5%), quando comparada a dos homens (29,6%). Os resultados da análise associaram baixo peso à dislipidemia, e excesso de peso à diabetes, hipertensão, artrite e artrose (NASCIMENTO, 2011). Num estudo transversal, no município de Pelotas, foram avaliados 596 idosos acima de 60 anos, com predomínio feminino (59,4%) e entre 60 e 75 anos. Foi constatada a prevalência de obesidade, apresentando o percentual de 53,4% para mulheres e 40,1% para homens. O resultado foi preocupante pela associação da obesidade com as doenças crônicas 10 não transmissíveis, e aumento da morbimortalidade, impacto sobre o sistema de saúde e interferir na qualidade de vida dos idosos (SILVEIRA; KAC; BARBOSA, 2009). As mulheres podem apresentar maiores chances de sobrepeso e obesidade devido ao aumento do acúmulo de gordura visceral, diferentes quantidades na ingestão alimentar e maior expectativa de vida. A menopausa também pode interferir, por causar aumento de peso e adiposidade (CAMPOS et al., 2006). No projeto SABE (Saúde, Bem- Estar e Envelhecimento) realizado no estado de São Paulo, no ano de 2000, onde foram entrevistados 2.143 idosos, verificou-se que 58,6% da amostra eram do sexo feminino, evidenciando a feminização da velhice. Quanto ao estado nutricional, foi encontrado excesso de peso e obesidade no sexo feminino (40,5%) contra (21,7%) no sexo masculino (LEBRÃO; LAURENTI, 2005). Neste contexto, a feminização da população idosa é muito intensa no Brasil, onde as mulheres vivem em média oito anos a mais que os homens. Há uma alta mortalidade por fatores externos entre os homens idosos podendo explicar o número reduzido de homens quando comparado ao número de mulheres idosas (FOLLMANN, 2011), sendo as prováveis hipóteses que explicam por que as mulheres vivem mais que os homens as diferenças na exposição a riscos, diferença no consumo de bebidas alcoólicas e cigarro e diferença de atitude frente às doenças (CAMARGOS; NASCIMENTO, 2009). Em Vitória, Espírito Santo, em estudo transversal realizado com 833 idosos com 60 anos ou mais, foi verificado que a grande percentagem foi de mulheres (67,6%). O total da amostra apresentou 4,3% de hipertensão, 50,4% diabetes e 14,9% tinham ambas as doenças. A prevalência de sobrepeso e obesidade foi de 65,2 %, sendo nas mulheres a maior prevalência (ANDRADE et al., 2012). Os resultados do Projeto Bambuí em Minas Gerais, um estudo de coorte revelou que entre os 1443 idosos que participaram do estudo, a obesidade foi mais comum entre as mulheres e em populações urbanas. Os resultados demonstraram associação da obesidade com hipertensão e diabetes (BARRETO; PASSOS; LIMA-COSTA, 2003). Em idosos moradores da cidade de Volta Redonda no Rio de Janeiro, em pesquisa transversal realizada em 2006, com a participação de 1592 idosos voluntários de ambos os sexos, obteve como resultado que 62,37% eram do sexo feminino e 37,82% do sexo masculino. O índice para a Circunferência abdominal (52,97%) para as mulheres e para os homens (23,20%), também foi encontrado. A maioria dos idosos estava com sobrepeso (59,62%), enquanto que (2,01%) estavam com baixo peso e (38,37%) apresentavam o peso normal. Nessa pesquisa, obteve-se uma alta incidência de sobrepeso, isto é, predisposição à 11 ocorrência de doenças degenerativas e também, ocorrência elevada à riscos cardiovasculares com o alto índice de circunferência abdominal encontrada (CARVALHO;CARVALHO; ALVES,2009). Quanto à desnutrição, verifica-se que na maioria das vezes tal condição é diagnosticada em idosos que permanecem por longos períodos institucionalizados, assim como encontrado em estudo na cidade de Erechim, Rio Grande do Sul, onde a prevalência de desnutrição atingiu de 25% a 60% dos idosos (SEGALLA; SPINELLI, 2012). A desnutrição pode ocorrer por todas as mudanças que envolvem o processo de envelhecimento e ainda por fatores emocionais, como depressão, perda do companheiro, isolamento social, entre outros, que podem contribuir para o surgimento desse distúrbio (MATIAS; FREIBERG, 2009). 7 CONCLUSÃO Na revisão bibliográfica proposta, encontrou-se igualmente o mesmo resultado em todos os artigos revisados: o principal problema nutricional é o excesso de peso e não a desnutrição. O perfil nutricional da população idosa brasileira é de elevada prevalência de sobrepeso e obesidade, decorrentes da transição nutricional, com risco aumentado para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes mellitus, câncer e outros. Estudos de investigação nutricional são importantes para que se possam comparar dados, assim como os que foram feitos em 1989 e os mais atuais. Porém, programas de monitoramento e prevenção, juntamente com ações educativas, são fundamentais para que a população fique sabendo de como prevenir-se quanto às doenças crônicas não transmissíveis, uma vez que estas se relacionam diretamente com o hábito alimentar e estilo de vida. Desta forma, tais ações educativas deveriam ser aplicadas desde a infância com continuação no decorrer da fase adulta, pois como demonstram as estimativas, daqui a alguns anos seremos um país mais envelhecido e a prevenção de doenças deve ser inserida o quanto antes nesse contexto, para que os adultos de hoje tenham consciência das suas escolhas alimentares e hábitos de vida, visando um estado nutricional e de saúde mais adequado no futuro. Finalmente, verificou-se que o estado nutricional adequado aumenta ao máximo o ciclo de vida dos idosos. Ter uma alimentação saudável, manter o peso adequado, praticar atividade física, estar bem psicologicamente, abandonar vícios como tabagismo e alcoolismo, auxiliam no combate e atuam positivamente na prevenção das doenças crônicas não 12 transmissíveis, sendo fatores que contribuem para a melhora da qualidade de vida desta população. ABSTRACT Aging is a dynamic and progressive process, normal to everyone. In Brazil, has been noting in recent decades the increasing elderly population and increasing life expectancy of Brazilians. There has been over the years, demographic and epidemiological transitions and nutrition, leading to changes in the population profile (older) in pathological profile (increase in chronic diseases) and nutritional profile (decrease in malnutrition and increase in overweight and obesity). The elderly have at least one chronic non-communicable disease, and the health problem of major importance for causing disabilities, increased demand for health services and higher spending in the health sector. Overweight and obesity are risk factors for the onset of chronic diseases such as diabetes mellitus, hypertension, cancer, among others. This literature review aims to identify the nutritional profile of the elderly and their relationship to chronic diseases. Keywords: Elderly. Chronic non-communicable disease. Nutritional profile of the elderly. REFERÊNCIAS ANDRADE, Fabíola Bof de et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade em idosos da cidade de Vitória-ES, Brasil. Ciência Saúde Coletiva, v. 17, n.3, p. 749-756, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232012000300022&script=sci_abstract&tlng= pt> Acesso em: 7 set. 2012. BARRETO, Sandhi M.; PASSOS, Valéria M. A.; LIMA-COSTA, Maria Fernanda F. 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