“Por que eu sempre estrago tudo?”
Entre a impulsividade e a culpa amparadas pela Atenção
Psicológica
Evelyn Francine Dutra Pereira
Universidade Sagrado Coração, Bauru/Sp
e-mail: [email protected]
Regina Célia Paganini Lourenço Furigo
Universidade Sagrado Coração, Bauru/Sp
e-mail: [email protected]
Eixo – Psicologia e educação
Comunicação Oral
Relato de Experiência
Resumo Expandido
De acordo com Furigo (2006), compreende-se por Plantão Psicológico uma
modalidade de serviço que visa trabalhar as demandas urgentes e imediatas
levantadas pelo cliente no momento de tomada de consciência de seu sofrimento
psíquico, objetivando deste modo, conforme afirma Tassinari (2010), receber
qualquer pessoa no momento exato (ou quase exato) de sua necessidade, para
ajudá-la a compreender melhor sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a
outros serviços. O presente trabalho busca descrever as práticas de intervenções
utilizadas durante o acompanhamento de um caso atendido no estágio de Plantão
Psicológico, desenvolvido no primeiro e segundo semestre do ano de dois mil e
quatorze. Para tanto, foram realizados dois atendimentos na Clínica-Escola de
Psicologia Aplicada da Universidade do Sagrado Coração (USC), localizada na
cidade de Bauru, estado de São Paulo, sendo que, no primeiro, foi elaborado o
contrato terapêutico e aliança terapêutica entre paciente e estagiária, contenção da
crise do sujeito, estabelecimento do foco das quais foram realizadas as práticas
interventivas e a efetivação da intervenção. Deste modo, o sujeito em questão
relatou para a estagiária o motivo pelo qual buscou por atendimento psicológico,
descrevendo suas queixas e as crenças que possuía em relação aos fatos
significativos vivenciados ao longo de sua história de vida, determinando este último,
segundo suas convicções, o modo como atualmente lida com as pessoas e sua
1
realidade. Nesse sentido, como práticas interventivas foi oferecida primeiramente, a
Atenção Psicológica, que de acordo com Palmiere e Cury (2007), se assemelha a
atenção centrada na pessoa, postulada pelo teórico Carl Rogers (1902-1987), isto é,
através do acolhimento e escuta empática, o profissional proporciona a pessoa que
busca por atendimento psicológico, um espaço para ela, muito mais do que para
seus problemas, promovendo assim, a consciência de si e da realidade, levando o
indivíduo a discriminar os recursos disponíveis que há para o enfrentamento da sua
crise. Técnicas de relaxamento, com o intuito de proporcionar ao sujeito um maior
estado de tranquilidade, e a confrontação, que visa mostrar aspectos dissociados do
material trazido pelo paciente, sendo a pessoa do terapeuta, aquele que aponta para
questões que passam despercebidas, ambíguas ou que são incoerentes,
aumentando no sujeito a compreensão sobre seus processos mentais. Já no
segundo e último atendimento, a estagiária teceu interpretações psicológicas a
respeito da avaliação realizada pelo indivíduo sobre sua evolução e a de seu quadro
clínico durante o período de intervalo entre os atendimentos, embasadas nas
próprias avaliações da pessoa do paciente sobre a comparação do seu estado
emocional no inicio e fim do primeiro atendimento. Diante de tal fato, foi realizado o
encaminhamento do sujeito para terapia de longa duração, devido a necessidade
apresentada de buscar por autoconhecimento e crescimento pessoal, sendo a
psicoterapia de longa duração, um espaço propulsor de tais processos, pois,
conforme nos aponta Scarpato (2010), a psicoterapia de longa duração é um valioso
método, que proporciona ao indivíduo, um lugar, tempo e modo privilegiado de criar
intimidade consigo mesmo, proporcionando um espaço favorável para acontecer o
crescimento e amadurecimento,
transformar padrões estereotipados de
funcionamento, e restabelecer o processo formativo e criativo de cada um. Como
resultados do trabalho desenvolvido, verificamos que o modo como o sujeito em
questão se descreveu não se encontra em desarranjo com a etapa de
desenvolvimento na qual está inserido. Vale ressaltar, que os traços de
personalidade que nos identificam, isto é, que formam nossa identidade, são fatores
que também interagem com a variável desenvolvimento. Quando analisada a
história de vida, constatamos os sentidos e significados atribuídos as vivências
importantes ao longo de sua história, demostrando o modo como o sujeito se
apresenta e lida com sua realidade. Dessa maneira, observa-se que a partir do
modo como o indivíduo compreende a si mesmo, gera em si temores sobre os
2
desdobramentos em relação as consequências de ser quem é e o modo como tal
processo interfere na sua forma de se relacionar com as pessoas, principalmente
com a pessoa da qual possui uma relação afetiva amorosa, pois assim planeja seu
futuro com essa, tecendo suas expectativas e elaborando seus projetos de vida mais
genuínos. Diante da possibilidade, da qual acredita que seus principais traços
caracteriais pode ocasionar a frustação e a interrupção do seu projeto de vida
verdadeiro, o sujeito em questão entra em crise, em decorrência da dúvida em
continuar ou mudar seu curso existencial, e assumir todas as responsabilidades que
tais decisões implicam. Assim, encontra no serviço de Plantão Psicológico o espaço
ideal para retomada e contenção dos níveis de angústia, através da Atenção
Psicológica oferecida, e reestruturação de sua cognição, através das técnicas de
relaxamento utilizadas e confrontação, já que apresentou boa capacidade para
estabelecer aliança terapêutica e obter insights. Deste modo, conclui-se que a
Atenção Psicológica dirigida ao sujeito, no momento em que este toma consciência
de seu sofrimento psíquico é eficaz na contenção de crises caracterizados em
demandas de urgências e emergências, como são propostos nos serviços na
modalidade de Plantão Psicológico. Notamos que as intervenções realizadas em
atendimentos com essas características, como no caso apresentado, são efetivas na
redução dos níveis de angústia ocasionados pelo momento da crise que o sujeito
está imerso, auxiliando a reestruturação cognitiva, a fim de proporcionar ao indivíduo
maior compreensão de sua situação e utilizar seus recursos psíquicos disponíveis
para o enfrentamento desta. No entanto, salientamos que, o Plantão Psicológico é
uma modalidade de atendimento, entre as diversas existentes dentro da ciência
psicológica,
que
possui
objetivos
singulares,
cabendo,
portanto,
efetuar
encaminhamentos pertinentes á situação apresentada pelo sujeito quando verificase que há necessidades do indivíduo, para além dos objetivos propostos, como
efetuado no caso apresentado. A oferta de tal serviço dentro de clínicas-escolas de
psicologia vem de encontro com a situação econômica, social, política e cultural
atual da realidade brasileira, uma vez que esses serviços estão acessíveis aos
sujeitos, que muitas vezes, não possuem recursos ou acessos a atendimentos nos
consultórios particulares e necessitam de intervenções no momento da crise,
ampliando, desse modo, a abrangência da ciência psicológica a todos os níveis de
classe social. Por fim, o momento do estágio, além de funcionar como um lugar
propulsor de maior aprofundamento teórico da ciência ao qual o estagiário está a
3
serviço, possibilita-o adquirir experiência no manuseio das técnicas de intervenções
a serem utilizadas, nesse caso, especificamente em atendimentos de urgências e
emergências, enquanto o desenvolve em relação a postura profissional que este
deve assumir. O estágio de Plantão Psicológico possui como aspecto singular, o fato
de colocar o estudante em contato com variedades de demandas, assim como as
várias etapas de desenvolvimento dos sujeitos que vêm buscar por esse tipo de
atendimento, já que é um serviço que não possui contraindicação em relação a faixa
etária, além de possuir o aspecto comum a todas as partes práticas que o
graduando passa no decorrer de sua formação, ou seja, desenvolver o estudante de
psicologia quanto a interação entre a parte teórica e prática de sua profissão.
PALAVRAS – CHAVE: Plantão Psicológico; Atenção Psicológica; Crise; Demandas
Urgentes e Emergentes.
REFERÊNCIAS
FURIGO, R. C. P. L. Plantão Psicologico: Um Vôo Panorâmico. In Plantão
Psicológico: uma contribuição da clínica junguiana para a Atenção Psicológica na
área da saúde. Pontíficia Universidade Católica (PUC), Campinas, 2006.
PALMIERI, T. H.; CURY, V. E. Plantão Psicológico em Hospital Geral: um estudo
fenomenológico. Revista Psicologia Reflexão e Crítica, mar. 2007, vol.20, n.3, pp.
472-479.
SCARPATO, A. Uma Introdução à Psicoterapia, Scielo. br, out. 2010. Disponível
em: <www.psicoterapia.psc.br/scarpato/psicoter.html> Acesso em: 15 ago. 2014.
TASSINARI, M. A. Praticando a Abordagem Centrada na Pessoa: Dúvidas e
Perguntas mais Freqüentes. São Paulo: Carrenho Editorial, 2010, p. 95-105.
4
Download

“Por que eu sempre estrago tudo?” Entre a impulsividade e a