MATÉRIA TÉCNICA APTTA BRASIL – DEZEMBRO DE 2011 DIAGNÓSTICO DE UMA CAIXA AUTOMÁTICA UTILIZANDO MEDIÇÕES DE PRESSÃO – USO DO MANÔMETRO Há não muito tempo atrás, antes que os computadores fossem introduzidos nos automóveis, o manômetro era a principal ferramenta de diagnóstico do técnico reparador de transmissões automáticas. O manômetro pode testar a capacidade da bomba, aumento de pressão de linha, a válvula reguladora de pressão, a operação da válvula de reforço de linha, pressões de linha máxima e mínima. Através dele podemos até perceber uma trinca no pescoço do filtro sem remover o cárter! Você sabia que com a ajuda do manômetro podemos ter uma boa idéia se os discos que estão instalados em algum conjunto interno da transmissão são originais ou não, causando mudanças duras? Por que aconteceu então, que o manômetro foi enterrado no fundo da caixa de ferramentas do técnico? Parte do motivo é que o escâner se tornou a principal ferramenta de diagnóstico e a primeira que o técnico busca, quando começa a realizar um reparo. Alguns escâners mostram um valor de pressão em sua lista de dados, que muitas vezes não correspondem à realidade, sendo originados de um transdutor no interior da transmissão. Algumas transmissões Chrysler, por exemplo, como a 45RFE, 545RFE e a série 42RE/48RE e a AL4 francesa, possuem um transdutor que informa a pressão interna. Muitas outras transmissões não informam um sinal de pressão ao módulo de controle da caixa. O que realmente vemos na lista de dados são os sinais de comando do módulo de controle ao solenóide de controle de pressão. Este comando deveria representar o valor real de pressão indicado pelo manômetro, caso ele estivesse instalado. Se o valor de pressão corresponder aos sinais enviados pelo módulo do solenóide de controle de pressão, então o solenóide de controle de pressão, as válvulas de controle de pressão e a bomba estão todas trabalhando corretamente. Lembre-se que só porque enxergamos um valor de pressão comandada no escâner, não significa que a pressão real da transmissão será a mesma. Algumas transmissões não possuem nenhuma tomada de pressão, tais como a ZF 5HP-19, Mercedes 722.6, etc. muitos fabricantes por outro lado produzem transmissões para cada circuito hidráulico. Esta é a melhor situação possível para o técnico. Podemos isolar o circuito de uma embreagem individual e compará-lo com o valor de pressão de linha para saber se existem vazamentos nele. Eis aqui algumas regras básicas de teste de pressão: • Sempre utilize um manômetro cuja capacidade seja maior do que a máxima pressão que esperamos medir. • Sempre que possível, as pressões deverão ser tomadas durante um teste de estrada, não no elevador. Não existe maneira de se aplicar uma carga adequada à transmissão no elevador, e sim durante o teste de rodagem real. • Evite trazer o manômetro para dentro do veículo. Fixe o manômetro com uma fita adesiva ou peça o auxílio de um ajudante para segurá-lo fora do veículo durante o teste de estrada. (É mais fácil lavar a parte externa do veículo, em caso de ruptura do manômetro, do que a parte interna). • Certifique-se de direcionar a mangueira do manômetro para longe de áreas que liberam calor (como por exemplo tubos de escapamento e coletores), e partes móveis tais como semi-eixos, pás de ventilador e hastes de acionamento. • Quando for necessário manter o capuz do motor aberto durante um teste de estrada, sempre tenha certeza que a trava de segurança esteja funcionando adequadamente. Como precaução, utilize um pedaço de tecido ou plástico para garantir o travamento do capuz de maneira que ele não abra e danifique o veículo ou cause um acidente. Carregue um estilete ou uma tesoura com você no teste drive caso seja necessário abrir o capuz do veículo rapidamente. Quando devemos utilizar um manômetro? • Quando percebermos uma patinação ou flutuação em um engate, mudança ou na saída. • Quando percebemos engates muito demorados. • Quando sentimos engates ou mudanças duras (com trancos). • Algumas transmissões possuem tomadas de pressão para a alimentação e liberação do TCC do conversor de torque. Estas pressões, quando medidas, podem ser de grande ajuda em diagnosticar problemas de patinação da embreagem do conversor. • Em uma transmissão que funciona perfeitamente, para encontrar os valores corretos de pressão de trabalho da mesma. É difícil saber como o manômetro deveria reagir durante as mudanças ou acelerações a menos que saibamos como ele reage em uma transmissão que funciona perfeitamente. • Em modelos mais antigos que possuem governador, se tivermos reclamação relativa ao tempo das mudanças. Vamos falar um pouquinho de onde a pressão vem e o volume de fluido em uma tomada de pressão. Muitas tomadas de pressão de linha não possuem nenhuma restrição e o fluido vem diretamente do lado de alta pressão da bomba ou da válvula reguladora de pressão. Quando não há nenhuma restrição antes da tomada, podemos ter uma boa idéia de como está a pressão de linha mesmo se um servo de cinta ou uma embreagem apresentar um vazamento. Muitas tomadas de pressão de circuitos de cinta ou embreagens estão localizadas entre o orifício que alimenta o circuito e o componente que está sendo alimentado. Isto significa que você possui uma quantidade limitada de óleo que poderá vazar do circuito. Os diagramas de circuito hidráulico da transmissão que está sob teste indicará a localização das tomadas de pressão e as eventuais restrições ou orifícios no circuito que está sendo verificado. Como exemplo, digamos que haja um orifício de 1,6 mm alimentando uma embreagem e o lábio do pistão de aplicação da embreagem foi cortado durante a montagem. Quando o circuito da embreagem é alimentado, não importa quanta pressão seja aplicada nele, a indicação de pressão no manômetro que está aplicado à embreagem será zero ou próxima de zero porque o vazamento é maior que a quantidade de fluido sendo alimentada no circuito. O manômetro que mede a pressão de linha, por outro lado, mostrará uma pequena queda na pressão de linha porque recebe um enorme volume de óleo comparado com o volume de óleo que passa pelo orifício de 1,6 mm e que alimenta o circuito daquela embreagem. Eis o porque as tomadas de pressão individuais são muito importantes. Saberemos que existe um vazamento no circuito da embreagem, se a diferença de pressão entre o circuito da embreagem e a pressão de linha for maior que dez por cento (10%). A razão pela qual existe uma pequena diferença de pressão ou um pequeno vazamento (menor que dez por cento) e que é normal, é porque os anéis de vedação dos pistões não vedam perfeitamente. Quando fazemos um teste de pressão com ar comprimido durante a montagem da transmissão, antes de instalar o corpo de válvulas, para ver se os conjuntos estão aplicando corretamente, não ouvimos um pequeno ruído de vazamento de ar escapando pelo pistão? Existe um valor entre zero e dez por cento de vazamento normal nos conjuntos. E se quisermos testar a capacidade da bomba? Primeiro, verifique a pressão mínima de linha, e então verifique a pressão máxima de linha em uma rotação de 1.500 RPM, por exemplo. Em transmissões controladas eletronicamente, desconecte o solenóide de controle de pressão. Se o aumento de pressão for controlado por cabo, movimente-o para a posição de máxima pressão. Talvez o aumento da pressão seja controlado por um modulador a vácuo. Se for assim, desconecte a linha de vácuo que atua nele para obter a pressão máxima. Não importa qual sistema estejamos testando, uma vez que você crie as condições para pressão máxima de linha, veremos a pressão máxima para aquela transmissão ao redor de 1.500 RPM. Flutuações do manômetro são usualmente causadas por um dos dois problemas: 1. Uma trinca no filtro de ar ou vazamento de ar no lado de sucção da bomba, resultando em uma flutuação muito forte do ponteiro do manômetro. Isto acontece porque o ar aceita compressão e o fluido não aceita. Assim sendo, quando o ar é comprimido pela bomba, a pressão cai. Quando a bomba aspira uma porção de ATF, a pressão sobe. Quando isto acontece rapidamente, o manômetro flutua. 2. Um anel retentor de palheta numa bomba de palhetas permitirá que as palhetas se afastem da área de contato quando são muito exigidas. Ambas situações são acompanhadas por um ruído tipo turbina. Utilizando o manômetro como ajuda no diagnóstico de trancos nas mudanças: Observe se o ponteiro do manômetro se movimenta para cima durante uma mudança com tranco. Se a pressão se mantiver normal até após a mudança ser comandada, existe um vazamento no componente que está sendo aplicado, ou discos de composite não originais (de qualidade duvidosa), ou mesmo o fluido incorreto (não recomendado) sendo utilizados. Nem todos os discos de composite possuem as mesmas características. Uma marca pode aplicar mais rapidamente do que outra. Sempre é melhor utilizar os discos de fricção originais e o fluido de tipo correto para aquela determinada transmissão. Muitos veículos mais novos utilizam o módulo de controle para monitorar o tempo em que as mudanças de marcha ocorrem, baseados na mudança de relação das marchas. Quando a relação de marcha não muda no tempo esperado, o módulo aumenta subitamente a pressão de linha para acelerar a aplicação da determinada embreagem ou cinta. Por outro lado, se a pressão estiver muito alta antes da mudança ser comandada, suspeite do sistema de controle ou um sinal de entrada errado para o módulo de controle, que esteja causando a elevação da pressão de linha. A chave aqui é observar os comandos do módulo de controle. Se a pressão de linha está sendo comandada muito elevada, olhe para fora da transmissão. Se o comando indicar pressão de aplicação normal, olhe para dentro da transmissão. Ao verificar a pressão do governador quando a reclamações de tempo de mudança, é melhor utilizar um manômetro de 0 a 100 psi. Manômetros de 0 a 300 ou 400 psi não são sensíveis o bastante para indicar pressões mínimas que estão no circuito do governador com precisão aceitável. Muitas transmissões exibirão aumento de pressão da ordem de 1 psi por 1,6 quilômetros por hora de velocidade. Existem exceções (Mercedes e muitos veículos a diesel). Verifique as especificações para o veículo que você estiver diagnosticando. Algumas transmissões necessitam de adaptadores especiais para a instalação do manômetro. A transmissão DODGE 45RFE e 545RFE necessitam de um adaptador para o manômetro e possuem um ponto para instalação do transdutor também, de maneira que o módulo de controle não jogue a transmissão em modo de segurança se não receber o sinal dele. Muitas transmissões importadas necessitam de um adaptador para ligação do manômetro também. Procure obter ou mandar fabricar um jogo de adaptadores que serão de grande ajuda no dia a dia da oficina. A utilização do manômetro pode ajudar a todos nós a diagnosticar problemas hidráulicos rapidamente, economizando tempo, dinheiro e paciência. Vamos desenterrar nosso manômetro de nossa caixa de ferramentas e pendurá-lo nas transmissões, tornando o teste de pressão parte de nossa rotina de diagnóstico! Redação: APTTA Brasil – Associação de Profissionais Técnicos em Transmissão Automática – www.apttabrasil.com