ESCOLA: ESPAÇO DO TRABALHO DOS PEDAGOGOS¹
MANCKEL, Maria Cecília Martins²; ALVES, Bruna Pereira3; FOLLMANN, Natiele4;
RIBEIRO, Eliziane Tainá Lunardi5; SIQUEIRA, Gabriely Muniz6; FERREIRA, Liliana
Soares7
¹ Trabalho de Pesquisa _UFSM financiado por PROLICEN/UFSM.
² Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista PROLICEN
3
Acadêmica da Pós Graduação e m Educação-Mestranda em Educação da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista CAPES
4
Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista FIPE/UFSM
5
Acadêmica do Curso de Educação Especial Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista PIBIC/CNPq
6
Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista PROBIC/FAPERGS
7
Professora do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.
E-mail:[email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]
RESUMO
Este estudo é parte do Projeto “O Trabalho dos Pedagogos na escola: desafios e perspectivas”,
financiado pelo PROLICEN/UFSM, desenvolvido pelo Grupo Kairós – Grupo de Estudos e Pesquisas
em Trabalho, Políticas Públicas e Educação. Através desta pesquisa, busca-se desenvolver,
baseando-se nos discursos de pedagogos, o sentido que estes atribuem ao seu trabalho e à
Pedagogia como a Ciência da Educação. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas, grupos de interlocução, tendo por objetivo discutir o
entendimento das categorias Trabalho, Pedagogia e Ciência da Educação. Como abordagem utilizase a pesquisa de cunho qualitativo e como procedimento um Estudo de Caso. Para a análise dos
dados, trabalha-se com a Análise de Conteúdo. Durante todo o trabalho, os pesquisadores,
juntamente com os pedagogos, estão realizando um aprofundamento sobre a temática e a
problematização da pesquisa através de um blog, entendido como ferramenta de socialização e
discussão à distância. Desse modo, pensa-se estar contribuindo para o entendimento e a reflexão
sobre o trabalho dos pedagogos na escola.
Palavras-chave: Escola; Pedagogia; Pedagogo; Trabalho.
INTRODUÇÃO
O Projeto de Pesquisa “O Trabalho dos Pedagogos na escola: Desafios e
Perspectivas” permite continuar projetos anteriores, nos quais se procedeu à leitura do
trabalho dos professores nos contextos escolares. Trata-se de um movimento de
recomposição da cientificidade da Pedagogia, procurando dialeticamente estabelecer as
condições/relações de trabalho no contexto contemporâneo, especialmente as relativas ao
seu cotidiano na escola. Os pedagogos sabem que seu trabalho não se restringe à aula,
mas também de participar efetivamente nas mudanças e movimentos que ocorrem nas
comunidades onde atuam.
Pensa-se estar, de alguma forma, procurando elementos para reconstituir a imagem
social dos pedagogos, desgastada pelas constantes mudanças que englobam a educação.
No entanto, entende-se que o pedagogo seria o sujeito fundamental na busca de
alternativas para a retomada de um processo educacional em acordo com as demandas
contemporâneas. Nessa perspectiva, a pesquisa visa a entender como os pedagogos, em
seus discursos, revelam os sentidos que atribuem ao seu trabalho e a si mesmos como
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cientistas da educação e quais possibilidades e desafios apresentam no sentido de
contribuir para uma efetiva práxis pedagógica na escola.
Em acordo com o projeto, já foram realizadas diversas atividades previstas. Foi
priorizado o discurso dos professores no seu ambiente de trabalho, em grupos de
interlocução para reflexão sobre os discursos, aumentando assim o vínculo com os sujeitos
da pesquisa e ampliando a compreensão sobre os assuntos debatidos. Partindo desta
metodologia destacaram-se como categorias prévias: Trabalho, Pedagogia, Pedagogia
como Ciência, que se potencializaram durante as análises e nas discussões no grupo.
Durante os meses de março a junho de 2010 o grupo de pesquisa direcionou o estudo
para melhor compreensão das categorias selecionadas a partir de algumas literaturas. De
julho a setembro de 2010 aconteceram grupos de interlocução e também o blog.
No decorrer deste trabalho apresenta-se como a pesquisa foi desenvolvida, qual a
base teórica na qual o grupo se baseia, quais os resultados obtidos e algumas
considerações.
METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa fundamenta-se em pressupostos científicos, tendo como
abordagem a pesquisa de cunho qualitativo e como procedimento um Estudo de Caso. As
técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevistas, grupos de interlocução e criação de
um blog, com intuito de relacionar informações obtidas baseadas nos pressupostos teóricos
da pesquisa. Esse tratamento de dados e de reflexões visa a provocar maiores discussões
sobre o que é “ser” pedagogo, “estar” trabalhando como pedagogo, e a Pedagogia como a
Ciência da Educação.
Inicialmente, foi apresentada a proposta para uma escola estadual de ensino
fundamental da cidade de Santa Maria - RS. Após o aceite da escola, a partir do mês de
junho de 2009, ocorreram entrevistas semi-estruturadas, gravadas e transcritas, com os
sujeitos da pesquisa. Paralelamente a esse processo foram feitas pesquisas bibliográficas
que possibilitaram a compreensão e organização das próximas etapas do projeto. A
presente pesquisa na primeira etapa (encontros para realização das entrevistas) teve a
participação de 07 (sete) professoras, porém, durante a realização dos encontros seguintes
o grupo contou com a participação de mais 02 (duas) professoras.
A técnica de análise de dados utilizada foi análise de conteúdo. Tal técnica tem por
finalidade efetuar deduções lógicas e justificadas referentes à origem das mensagens
(BARDIN, 2006). Sendo assim, entende-se que o que está implícito no discurso permite aos
pedagogos perceber a relação que seu trabalho tem com o seu cotidiano, possibilitando aos
participantes se considerar passo de um processo e, não, meros fornecedores de dados.
Ainda, com o intuito de manter uma maior interação com os sujeitos da investigação,
houve a criação de um blog. Esta ferramenta interativa possibilitou, através de textos
postados sobre esse assunto, discussões sobre a Pedagogia como ciência da educação e
sobre o trabalho do pedagogo.
As discussões nos grupos de interlocução e nos comentários postados no blog
possibilitaram identificar, nos discursos das pedagogas, convergências com a literatura
estudada em relação às categorias Pedagogia como Ciência, Pedagogia, Pedagogo e
Trabalho.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os pedagogos, a partir do momento em que optam por este fazer profissional, em sua
maioria, passam a conviver em um ambiente comum: a escola, nas suas mais diferentes
configurações. A forma como se apresenta a escola, este local de trabalho com a educação,
é resultado de diversas transformações sociais e culturais.
A categoria trabalho é determinante na análise de quem é o pedagogo nesta
sociedade e de seu lugar como trabalhador. Para tanto, precisa-se ter em mente que a mera
preocupação com a freqüência a cursos, simpósios, oficinas e congressos não garantem a
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efetiva ação profissional. Concluir uma licenciatura em Pedagogia, obtendo o título de
pedagoga ou pedagogo, não quer dizer se constituir trabalhador(a) da educação. Tornar-se
pedagoga ou pedagogo inclui mais que conhecimentos apenas, inclui a integração em um
grupo de trabalhadores cuja característica comum é a produção do conhecimento. É estar
integrado em um sistema organizado do qual participam outros trabalhadores da educação,
que buscam refletir e agir em prol de sua própria condição de trabalhador. Implica,
sobretudo, reflexão-ação sobre e a partir do trabalho pedagógico.
Enguita (1989) reforça essa afirmação sobre trabalho. Para o autor:
O trabalho [...] passa assim a constituir, sobretudo, e contrariamente a
qualquer idéia platônica a respeito, em ensinar crianças e jovens a
comportar-se de forma que corresponde ao coletivo ou categoria em que
foram incluídos, exigindo e premiando a conduta correspondente e
rejeitando e mesmo penalizando tudo o que possa derivar de suas outras
características como indivíduos ou, ao menos, tudo o que delas possa
manifestar-se na escola ou chegar a afetar a relação pedagógica.
(ENGUITA, 1989, p. 168)
O trabalho dos pedagogos configura-se em uma ação humana em relação à natureza
humana, ao desejo humano de aprender, de descobrir, de interferir no meio em que vive. Os
pedagogos são os incentivadores desta interferência, promovendo espaços e oportunidades
para que os estudantes possam produzir conhecimentos com base no uso da linguagem. É
um trabalho cuja centralidade, a produção de conhecimentos, o distingue dos demais
trabalhos, pois lhe atribui uma subjetividade maior.
Para Antunes (2005), o fato de buscar a produção e reprodução da sua vida societal
por meio do trabalho e luta por sua existência, o ser social cria e renova as próprias
condições de reprodução através do trabalho, uma posição teleológica é realizada no
interior do ser material, como nascimento de uma nova objetividade.
Esses são apenas alguns pontos importantes a serem pensados sobre o trabalho dos
pedagogos. Além disso, para compreender o que move o trabalho deste profissional, é
preciso discutir a Pedagogia, indo além da compreensão de que esta é apenas um Curso,
uma Licenciatura. Utiliza-se o termo Pedagogia, entendendo-o como ciência da educação,
cujo objeto é a educação em seus aspectos amplos, em sua totalidade.
Franco (2008) afirma que
A pedagogia, para poder dar conta de seu papel social, deverá definir-se e
exercer-se como uma ciência própria, que liberta dos grilhões de uma
ciência clássica e da submissão às diretrizes epistemológicas de suas
ciências auxiliares, a fim de que possa se assumir como uma ciência que
não apenas pensa e teoriza as questões educativas, mas que organiza
ações estruturais, que produzam novas condições de exercício pedagógico,
compreensíveis com a expectativa da emancipação da sociedade
(FRANCO, 2008, p. 73).
Sendo assim, defende-se a Pedagogia como ciência da Educação, ciência da e para a
práxis, que inicia e finda seu estudo na educação, não apenas passando por ela, mas tendo
a educação como objeto de estudo efetivamente.
RESULTADOS
As análises dos dados ainda estão em andamento. Em uma primeira análise dos
discursos das pedagogas foi organizado um quadro com as categorias previas mais
evidenciadas. Essas categorias foram elencadas em um quadro que possibilitou quantificar
os termos de maiores freqüência e os sentidos remetidos dentro do conteúdo estudado.
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Os momentos de reflexão e de socialização das questões referentes a temática
trabalho e pedagogia como ciência, possibilitaram observar que são poucos os momentos
em que o pedagogo que está na escola identifica o seu trabalho como sistematização do
conhecimento, sendo, assim, cientista da educação. Nesta perspectiva podemos destacar
como considerações:
a) Os pedagogos, participantes da pesquisa, não se consideram cientistas, pois
percebem a ciência como algo distante. Neste caso, para os entrevistados, um cientista é
aquele que exerce uma atividade para obter conhecimento, que tem tempo, recebe para
pesquisar e que está ligado à universidade.
b) Dificuldade para definir seu cotidiano. A rotina dos pedagogos entrevistados
compreende a sala de aula e os outros espaços da escola, outras possibilidades de trabalho
pouco aparecem em seus discursos. O pedagogo fica centrado na docência e, assim,
constitui seu pensar e agir.
c) Carência de um espaço-tempo para os professores dialogarem, refletirem sobre
suas práticas no grupo (escola) e de forma individual (sala de aula), se percebendo como
pesquisadores de sua própria práxis.
d) Percebe-se que a falta de entendimento ou a compreensão diferenciada sobre
Pedagogia como ciência e o Pedagogo como cientista, faz com que, muitas vezes, estes
pedagogos recebam o que lhes é dito (imposto) pela sociedade ou pelas outras áreas do
conhecimento como sendo o seu trabalho.
e) Observou-se que as entrevistadas não estabelecem muitas diferenças entre “ser” e
“estar” pedagogo, tendo dificuldades para expressar sua opinião sobre seu próprio trabalho,
ainda muito ligado à idéia de vocação, entrega. Ser pedagogo é caracterizado pelos
entrevistados por “fazer a graduação em Pedagogia”, “estudar a Pedagogia”.
Sendo assim, foi possível perceber que as pedagogas entrevistadas não encontram
um espaço-tempo para reflexão sobre seu trabalho, não se percebem como pesquisadoras,
muito menos, como cientistas da educação.
CONCLUSÕES
Concluiu-se que o tema pesquisado neste trabalho é de grande relevância, pois há
poucos estudos nessa área, o que ressalta a importância do dialogo e reflexão sobre o
trabalho dos pedagogos e sua práxis, possibilitando o questionando das realidades e
dificuldades vigentes. Por este motivo, percebeu-se a necessidade de maior produção de
materiais e pesquisas no que condiz a temática pedagogia como ciência da educação.
Percebeu-se a necessidade de um espaço-tempo para os/as pedagogos(as)
dialogarem, refletirem sobre suas práticas no grupo (escola) e individualmente (sala de
aula), ou seja, se perceberem como pesquisadores. Os/as pedagogos(as) precisam se
reconhecer, portanto, no campo da investigação e da atuação dentro da variedade de
atividades voltadas para o educacional e a para o educativo, entendendo o pedagogo como
o profissional que trabalha com fatos, estruturas, contextos, situações, referentes à prática
educativa em suas várias modalidades e manifestações (FERREIRA, 2008).
Acredita-se que se está produzindo um material relevante de reflexão sobre
Pedagogia como ciência, trabalho e profissão dos pedagogos, partindo de situações do diaa-dia do contexto escolar, contribuindo para uma significativa ponderação, dos pedagogos
que trabalham na escola, sobre eles próprios, seu trabalho e seu fazer pedagógico.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. O caracol e sua concha – ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São
Paulo: Boitempo, 2005.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Porto: Edições 70, 2006.
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ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto
Alegre: ARTMED, 1989.
FERREIRA, L. S. Gestão do pedagógico: de qual pedagógico se fala? In: Currículo sem
Fronteiras. v.8, n.2, p.176-189, Jul/Dez 2008
FRANCO, M. A. S. Pedagogia como ciência da educação. 2.ed. ver. Ampl. São Paulo:
Cortez, 2008.
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