COMPACTA NUTRIÇÃO Vol. V - nº 1 - xxxxx/2004 Nutrição e Alimentação nos Dois Primeiros Anos de Vida EDITORES Dirce Maria Sigulem José Augusto de Aguiar Carrazedo Taddei Endereço para correspondência: Macarena Urrestarazu Devincenzi 1 Pós-Graduação em Nutrição UNIFESP-EPM. CONSELHO EDITORIAL Luciana Cisoto Ribeiro 1 Fábio Ancona Lopez Simone Paula Modesto 2 Rua Marselhesa, 630 - Vila Clementino Lilian Cuppari Karine Araújo Campos 3 São Paulo - SP - CEP 04020-060 Luciana Cisoto Ribeiro Macarena Urrestarazu Devincenzi Tania Beninga de Morais Dirce Maria Sigulem 4 Fone: (11) 5579-6284 Fax: (11) 5579-0370 e-mail: [email protected] Site: www.pnut.epm.br Nutricionista, Mestre em Nutrição pela UNIFESP/EPM. Nutricionista, mestranda em Nutrição pela UNIFESP/EPM. 3 Nutricionista, Especialista em Saúde, Nutrição e Alimentação Infantil pela UNIFESP/EPM. 4 Professora Doutora, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UNIFESP/EPM. 1 2 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA Índice Editorial........................................................................................................................ 5 Nutrição e Alimentação nos Dois Primeiros Anos de Vida ...................... 7 Introdução ................................................................................................................... 7 Alimentação Infantil .................................................................................................. 8 Aleitamento Materno................................................................................................. 8 Alimentação Complementar...................................................................................11 Alimentação no Segundo Ano de Vida ................................................................14 Recomendações Nutricionais .................................................................................15 Considerações Finais ...............................................................................................20 Referências Bibliográficas .......................................................................................20 3 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA EDITORIAL Entre os fatores que influenciam o crescimento e a saúde da criança, a alimentação se destaca como um dos mais importantes para garantir o adequado crescimento e prevenir carências nutricionais. O período de alimentação complementar é de grande vulnerabilidade para a criança, uma vez que normalmente se substitui o leite materno - estéril, por outro leite, e os alimentos semi-sólidos são introduzidos, muitas vezes em quantidade e qualidade inadequadas, podendo comprometer seu estado nutricional. Neste número realizamos uma revisão atualizada sobre alimentação nos dois primeiros anos de vida, abordando a importância do aleitamento materno, da introdução da alimentação complementar e recomendações nutricionais para este grupo etário. Planejamento Editorial: EPM - Editora de Projetos Médicos Rua Leandro Dupret, 204 - cj. 91 - Vila Clementino - São Paulo Fones/Fax: (011) 5084-3576 / 5575-3450 - E-mail: [email protected] 5 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA Nutrição e Alimentação nos Dois Primeiros Anos de Vida Macarena Urrestarazu Devincenzi* Luciana Cisoto Ribeiro* Simone Paula Modesto** Karine Araújo Campos*** Dirce Maria Sigulem**** *Nutricionista, Mestre em Nutrição pela UNIFESP/EPM. **Nutricionista, mestranda em Nutrição pela UNIFESP/EPM. ***Nutricionista, Especialista em Saúde, Nutrição e Alimentação Infantil pela UNIFESP/EPM. ****Professora Doutora, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UNIFESP/EPM. Todos os aspectos que envolvem a nutrição e saúde infantil são diretamente influenciados pelo ambiente que a criança encontra na gestação e ao longo de sua vida, assim como pelas fases de seu desenvolvimento fisiológico. No período intrauterino o feto é nutrido através da circulação placentária. A glicose é a principal fonte de energia, sendo dependente da glicemia materna e do glicogênio armazenado na placenta e no fígado fetal. Já em relação às proteínas, o feto as sintetiza e há transferência, ainda que mínima, pela placenta. As gorduras são acumuladas no organismo fetal, especialmente nos últimos três meses de gestação, não sendo utilizadas como fonte de energia (Marcondes, 1988; Akré, 1994). Ao nascimento o mesencéfalo, medula, neurônios e glias, já estão praticamente desenvolvidos, sendo que o córtex é a porção menos desenvolvida (responsável pela percepção, movimento, pensamento e linguagem). A continuação do desenvolvimento nervoso após o INTRODUÇÃO Os primeiros dois anos de vida constituem uma fase de especial importância devido à elevada taxa de crescimento somático e desenvolvimento apresentados pela criança. O lactente duplica seu peso por volta dos 4-6 meses, triplica ao fim do primeiro ano e quadruplica aos dois anos de idade. Em relação ao comprimento, há aumento de 50% ao final do primeiro ano e a criança duplica seu tamanho até os quatro anos de idade (Martel et al, 1981; Marcondes, 1986; Hendricks e Badruddin, 1992). O crescimento somático tem sua aceleração entre 0 e 2 anos e posteriormente na puberdade, e o crescimento neural também apresenta intensa velocidade nos primeiros dois anos de vida - o perímetro cefálico aumenta 50% nos primeiros seis meses e 75% até os 2 anos (Marcondes, 1970). Neste contexto a nutrição adequada assume papel imprescindível para garantir um crescimento satisfatório. 7 COMPACTA NUTRIÇÃO digestão do amido, pois embora se encontre amilase na saliva de bebês, não há digestão de amido na boca ou esôfago nos primeiros meses. A amilase pancreática não é secretada nos 3 primeiros meses de vida e até os 6 meses seus níveis são muito baixos ou ausentes. A digestão de amido antes dos três meses se deve provavelmente pela ação da glicoamilase secretada pela mucosa intestinal (Akré, 1994). A digestão das proteínas é bem desenvolvida no recém-nascido, pois a secreção gástrica de pepsina e ácido clorídrico é satisfatória, assim como a atividade proteolítica que ocorre no intestino delgado (Akré, 1994). Em relação às gorduras, a digestão é dependente da lipase específica do leite humano quando as crianças são amamentadas, e da lipase lingual, uma vez que as funções hepática e pancreática não estão totalmente desenvolvidas no recém-nascido de termo. As lipases linguais são secretadas pelas papilas da parte posterior da língua e atuam no estômago (Akré, 1994). A capacidade gástrica do bebê aumenta mais de dez vezes entre o nascimento e a segunda semana de vida (Hendricks e Badruddin, 1992), sendo que as principais funções limitantes digestivas e absortivas são a deficiência de secreção de amilase pancreática e sais biliares e a baixa capacidade de digestão de amido e gorduras, valendo destacar que com a introdução precoce de alimentos o bebê consegue se adaptar e aumentar sua capacidade digestiva, exceto para lactose, cujo processo de digestão é satisfatório desde o nascimento (Schmitz, 2000). nascimento abrange principalmente a formação de sinapses (Bee, 1996). Por volta dos 4 anos de idade o cérebro alcança mais de 80% do cérebro adulto (Guedes e Guedes, 2000). A mielinização inicia-se por volta do 4º mês fetal (Marcondes, 1988), e completa-se quase que totalmente aos 2 anos de idade, continuando ainda alguma mielinização mínima até a adolescência (Bee, 1996). Quanto ao desenvolvimento fisiológico, o recémnascido não possui maturidade de seus sistemas excretor, digestivo e neuromuscular, sendo assim os alimentos oferecidos aos bebês não devem exceder a capacidade funcional destes sistemas. Nas últimas semanas de gestação o bebê ingere líquido amniótico, sem valor nutricional, mas importante para o desenvolvimento anatômico e funcional do sistema gastrintestinal fetal. A função renal estabelece-se ainda no feto e a produção de urina começa no 4º mês gestacional, porém a regularização do meio interno é feita pela placenta (Marcondes,1988). Em relação ao desenvolvimento neuromuscular, nos primeiros meses de vida o bebê tem capacidade funcional de receber alimentos líquidos pelos reflexos de sucção e deglutição. Por volta dos 4–6 meses, o reflexo de extrusão tende a desaparecer, podendo então ser iniciada a alimentação semi-sólida; aos 7-9 meses, com o nascimento dos dentes, inicia-se a mastigação, que inicialmente apresenta-se pela lateralização dos alimentos na cavidade bucal, podendo-se assim, aumentar a consistência dos alimentos oferecidos (Akré, 1994; WHO, 1998; Euclydes, 2000). Quanto à digestão dos alimentos, verifica-se que a imaturidade do sistema digestivo se dá principalmente pela limitada síntese de algumas enzimas. As dissacaridases estão presentes ao nascer na mesma proporção que em crianças mais velhas, e justamente por isso é que a digestão da lactose ocorre normalmente nesta idade. A dificuldade se encontra na ALIMENTAÇÃO INFANTIL Aleitamento Materno O primeiro componente da alimentação infantil é o leite materno, que até os seis meses de vida deve ser o único alimento recebido pela criança 8 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA progressivamente, resulta no leite de transição, produzido entre o sétimo e o 14º dia, e no leite maduro, após a segunda semana de lactação (Lamounier et al, s.d.). O leite humano maduro e o colostro atendem às necessidades nutricionais do recém-nascido com composição que propicia a perfeita adaptação da criança na vida pós-natal (Akré, 1994) e adequado crescimento (Yamamoto et al, 1995). O aleitamento materno, além de ser de extrema importância para a comunicação psico-social entre mãe e filho (Tedeschi, 1982), proporciona interação física e psicológica entre os dois, gerando grande satisfação emocional para ambos e fortalecendo o vínculo mãe-filho. Sua duração está associada com desenvolvimento neurológico, quociente de inteligência (Lucas et al, 1992) e desenvolvimento cognitivo (Anderson et al, 1999). O desenvolvimento mais rápido da função neurológica pode ser devido ao perfil lipídico do leite humano, que contém ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa: docosahexanóico e araquidônico (Crawford, 1993; Makrides et al, 1995; Anderson et al, 1999). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as práticas de amamentação são assim definidas: amamentação exclusiva, na qual as crianças recebem somente leite materno; amamentação predominante que inclui crianças que recebem leite materno e outros líquidos não lácteos (água, chás, sucos de frutas, dentre outros); amamentação completa que inclui crianças em aleitamento exclusivo e predominante; e amamentação, na qual as crianças recebem leite materno e outros alimentos (sólidos ou líquidos) e leite artificial (WHO, 1991). A composição do leite materno é diferente de uma mulher para outra. Na mesma mãe varia entre mamas, em horários de mamadas diferentes e até no decurso da mesma mamada (Akré, 1994). Seu conteúdo (ESPGAN, 1982; Ministério da Saúde, 2002). O aleitamento materno possui inúmeras vantagens para o bebê, incluindo: proteção contra morbidades como diarréias, infecções respiratórias e alergias alimentares, proteção contra mortalidade infantil, prevenção de doenças crônicas como diabetes, doença celíaca, doença de Crohn, promoção de melhor crescimento, melhora do vínculo mãe-filho, ausência de sobrecarga renal de solutos, melhor biodisponibilidade de nutrientes e digestibilidade, melhora da aceitação de novos alimentos no desmame (pela exposição a odores e sabores diferentes) e custo menor quando comparado com alimentação artificial (Akré, 1994; Giugliani, 1994; WHO, 1998; Marcondes et al, 1999; Ramos e Stein, 2000). Diversos pesquisadores têm apontado as vantagens antiinfecciosas, nutricionais e psicológicas do aleitamento materno para a criança. Crianças exclusivamente amamentadas até quatro meses têm metade dos episódios de otite média que as não amamentadas (Duncan et al, 1993). Estudo de Victora et al (1987) realizado na região sul do Brasil demonstrou risco 14 vezes maior de morte por diarréia e 3,6 vezes maior de morte por infecção respiratória aguda em crianças menores de um ano desmamadas, sendo o risco de morte por diarréia maior nos dois primeiros meses de vida. Este efeito protetor do aleitamento materno em relação à diarréia é maior entre crianças que vivem em regiões com condições de saneamento básico precárias (VanDerslice et al, 1994; Ahiadeke, 2000). O colostro, primeiro produto de secreção láctica da nutriz, permite a boa adaptação fisiológica do recém-nascido à vida extra-uterina. É secretado desde o último trimestre da gestação e na primeira semana pós-parto. É uma secreção líquida de cor amarelada, perfeito como primeiro alimento da criança. A amamentação, sendo estabelecida 9 COMPACTA NUTRIÇÃO por dia - isto vale se a criança estiver em aleitamento materno exclusivo (Vasconcellos, s.d.). Um aspecto a ser analisado em relação à amamentação exclusiva é o fornecimento ou não de água ao bebê, especialmente em locais de clima quente. Almroth (1978), estudando a relação entre o peso da criança, a quantidade de água necessária e a proporção de água no leite materno, entre outras variáveis, concluiu que crianças em aleitamento materno exclusivo, mesmo em locais de clima quente, não precisam receber água adicional, e que seu fornecimento tem associação com aumento da incidência de diarréias. A água deve ser oferecida apenas para crianças com diarréia, vômito ou febre, pois a excreção urinária diminui e o sistema renal tem sua capacidade prejudicada (ESPGAN, 1982). Algumas práticas devem ser observadas para que a amamentação seja bem sucedida, com vantagens para a mãe e para a criança. É importante que a mãe esteja calma, para que a fisiologia da lactação se estabeleça. O reflexo de ejeção do leite é influenciado pelo estado emocional e depende da liberação de ocitocina pela hipófise (Marcondes et al, 1999). Nos primeiros dias de vida da criança as mamadas devem ser freqüentes para que se permita o desenvolvimento da lactação. Não devem ser estabelecidos horários para as mamadas; o choro do bebê e o despertar do sono devem regular os horários das mamadas. Com o tempo, a freqüência das mamadas passa a ser regida pela relação entre o volume de leite e a demanda da criança, que leva ao estabelecimento de horários “voluntários”. É importante destacar que nos primeiros meses a criança necessitará das mamadas noturnas (Marcondes et al, 1999). A atuação adequada das equipes de saúde pode ser considerada decisiva para o sucesso da amamentação e requer não apenas conhecimentos sobre aleitamento materno, mas também fornece uma nutrição completa para o bebê, exceto em casos de mães muito desnutridas em que o teor de gorduras, vitaminas A e do complexo B podem ficar prejudicados (Euclydes, 2000). O valor nutricional do leite humano varia durante a mamada e verifica-se diferença de valor nutricional entre o leite anterior e o leite posterior, sendo que este último contém três vezes mais lipídios e teor maior de proteínas (Marcondes et al, 1999). Sendo assim, é extremamente importante que o bebê receba o leite do fim da mamada, que lhe proporcionará o adequado aporte energético. Como conduta, é fundamental que não sejam estabelecidos limites de tempo de mamada, para que o ritmo de sucção de cada lactente seja respeitado e ele consiga esvaziar a mama, ingerindo o leite posterior (Ministério da Saúde, 1995). É fundamental sempre oferecer na próxima mamada a última mama oferecida na anterior (Marcondes et al, 1999). Dewey e Lonnerdal (1986), ao investigarem a ingestão quantitativa de leite materno por cada criança, concluíram que o volume de leite ingerido está positivamente associado ao estado nutricional da criança e varia conforme a demanda, e não pela oferta materna. Somente em casos de grande privação é que o estado nutricional da mãe pode ter efeito adverso sobre o volume de leite produzido (Akré, 1994). A grande maioria das mulheres apresenta quantidade de leite suficiente para amamentar seus filhos, e o lactente recebe todos os nutrientes que precisa, embora a mãe possa pensar que não produz leite em quantidade adequada. Há duas maneiras práticas para se avaliar a ingestão de leite. A primeira é através do ganho ponderal que deve ser de aproximadamente 18 a 30g por dia, dependendo da idade da criança; a outra é através da eliminação de urina, que deve ser clara, transparente e no mínimo de seis a oito micções 10 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA nutricionais e fisiológicas da criança, este alimento é definido como alimento de transição. Quando os alimentos complementares oferecidos à criança são os mesmos consumidos pelos outros membros da família são chamados alimentos da família. Ainda que não exista consenso científico quanto à idade apropriada para introdução de alimentos complementares (Laningan et al, 2001), a OMS recomenda que o aleitamento materno exclusivo seja mantido até seis meses de idade. Aos seis meses deve ser iniciada a introdução de alimentos complementares apropriados, seguros e nutricionalmente adequados, associados ao aleitamento materno que deve ser mantido até dois anos ou mais (WHO, 2001). No Brasil, o Ministério da Saúde endossa a recomendação da OMS quanto à idade de introdução de alimentos complementares (Ministério da Saúde, 2002). Para determinação da idade exata de introdução de novos alimentos deve-se levar em conta que se os alimentos complementares forem introduzidos tardiamente, uma vez que o leite materno não supre mais as necessidades do bebê, pode ocorrer prejuízo no estado nutricional e deficiência da função imune (WHO/UNICEF, 2000). O tempo ótimo de amamentação exclusiva é abordado em revisão da OMS em que Kramer e Kakuma (2002), discutem se a duração do aleitamento exclusivo está associada ao estado nutricional e saúde da criança. A revisão conclui que não há motivo para se iniciar a introdução de alimentos complementares antes dos 6 meses, pois não foi encontrado aumento na prevalência de desnutrição em crianças amamentadas exclusivamente até esta idade e nenhum outro benefício foi demonstrado para introdução de alimentação complementar entre 4 e 6 meses de idade. Verifica também que a manutenção do aleitamento materno exclusivo até 6 meses reduz a morbidade por infecções habilidades clínicas e de aconselhamento. O serviço de saúde, através de seus profissionais, deve atuar durante o pré-natal, preparando as mulheres para a lactação (Giugliani e Victora, 2000) durante o parto e puerpério imediato, através de rotinas nas maternidades que promovam a amamentação e no período pós-parto, apoiando a nutriz no sentido de proteger o aleitamento materno (Ministério da Saúde, 1995). Alimentação Complementar A idade de introdução de novos alimentos na dieta do bebê vem sendo estudada há muitas décadas. Em 1923 estudos mostraram que a criança necessitava de outros alimentos (além do leite materno) para um crescimento adequado; já em 1937, recomendou-se a introdução de vegetais e frutas por volta dos 4-6 meses; e em 1943 estudos indicavam a necessidade de introdução de sardinha, atum e camarão na quarta semana de vida; e finalmente em 1958 a Academia Americana de Pediatria recomendou a não introdução de sólidos antes dos 4-6 meses de vida (ESPGAN, 1982). A introdução de alimentos diferentes do leite materno era denominada “desmame” e hoje se prefere utilizar o termo “alimentação complementar”, pois desmame pode ser interpretado como a interrupção imediata do aleitamento materno, substituindo-o pelos “alimentos de desmame”, que pelo mesmo motivo hoje são chamados alimentos complementares (Euclydes, 2000). Segundo a OMS (WHO, 1998), o período de alimentação complementar é aquele durante o qual outros alimentos ou líquidos são oferecidos à criança junto com o leite materno. Qualquer alimento ou líquido que contenha nutrientes, oferecido à criança neste período, é chamado de alimento complementar. Quando um alimento complementar é especificamente preparado para atender as necessidades 11 COMPACTA NUTRIÇÃO meses após o nascimento e atinge um pico dos 3 aos 8 meses; após esta idade eles tendem a diminuir. Advêm disto as preocupações com a densidade energética dos alimentos complementares. Quanto aos micronutrientes, a adequação nutricional depende da quantidade em que estão presentes nos alimentos e da sua biodisponibilidade. Os alimentos de origem animal são mais ricos em nutrientes como retinol, vitaminas D e E, riboflavina, vitamina B12, cálcio, zinco e ferro. Por outro lado, a densidade de tiamina, vitamina B6, ácido fólico e vitamina C é maior em alimentos de origem vegetal (WHO, 1998). Práticas de alimentação infantil adequadas são aquelas que: fornecem uma quantidade suficiente de alimentos de qualidade adequada para satisfazer as necessidades nutricionais; protegem as vias respiratórias contra aspiração de pequenas porções de alimentos e não excedem a capacidade funcional do trato gastrintestinal e rins. Os alimentos complementares devem ser ricos em energia e nutrientes (particularmente ferro, cálcio, zinco, vitaminas A e C e ácido fólico) e livres de contaminação (microbiológica ou química). Devem ser apresentados em quantidade e consistência próprias para a idade da criança e sem excessos de sal e condimentos (WHO, 1998). A quantidade de energia que deve provir do alimento complementar depende da idade da criança e da quantidade de leite materno consumido. A freqüência com que as refeições devem ser oferecidas à criança depende da densidade energética dos alimentos e viceversa. Crianças amamentadas entre 6 e 8 meses de idade devem receber além do leite materno 2 ou 3 refeições diárias, e crianças maiores de 8 meses devem receber pelo menos 3 refeições (WHO, 1998). O uso de cereais, raízes e tubérculos preparados como papas, sopas ou mingaus diluídos resultam em preparações com baixo conteúdo e densidade gastrintestinais, promove adequado crescimento e favorece amenorréia materna. Já em crianças desmamadas precocemente o único benefício encontrado foi em relação ao estado nutricional de ferro, mas que não justifica a introdução precoce de alimentação complementar, uma vez que pode ser corrigido com suplementação medicamentosa. A introdução de alimentos de transição antes dos quatro meses de idade pode interferir no estabelecimento de hábitos alimentares que podem contribuir para superalimentação, pois antes desta idade, a criança não consegue expressar reações que indicam saciedade e recusa ao alimento - como fechar a boca e inclinar a cabeça para trás (Fomon, 2001). O processo de introdução de alimentos sólidos é lento, e quanto mais jovem é a criança mais demorada é a aceitação de alimentos diferentes do leite. Em estudo com 506 crianças em aleitamento materno na Suécia, verificouse que crianças menores de quatro meses demoravam 42 dias para se acostumar aos alimentos sólidos, enquanto que crianças de 4 a 6 meses e maiores de 6 meses demoravam 25 e 12 dias, respectivamente (Hörnel et al, 2001). Considerando casos individuais, a introdução de alimentos complementares pode estar indicada caso a criança não esteja crescendo satisfatoriamente. Porém, deve-se ter cautela na utilização de curvas de crescimento e preconizar sempre uma avaliação crítica da evolução ponderal e desenvolvimento da criança (Giugliani e Victora, 2000). Os alimentos complementares são necessários uma vez que as necessidades nutricionais da criança aumentam com a idade, principalmente necessidades de energia e alguns nutrientes (como o ferro, por exemplo), e o leite materno não têm mais condições de suprir estas necessidades (WHO, 2000). Em geral, o consumo de leite materno e a ingestão de energia através do leite aumentam durante os primeiros 12 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA energética. Além disso, estes alimentos contêm ácido fítico, polifenóis e/ou fibra dietética, componentes que inibem a absorção de determinados micronutrientes (Gibson e Hotz, 2000). Em estudo que avaliou a alimentação no desmame em áreas periurbanas de quatro capitais brasileiras (São Luís, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo), foi demonstrado que predominam nas dietas de desmame os mingaus feitos com leite artificial, amido e açúcar, sendo que os alimentos da família são pouco utilizados nas dietas de transição. Verificouse também deficiências quantitativas e qualitativas nas dietas oferecidas a partir do sexto mês, sendo que no segundo ano de vida a deficiência quantitativa associou-se ao reduzido número de refeições e à baixa densidade energética dos mingaus e papas (Tudisco et al, 1998). As mães devem ser bem orientadas quanto à densidade energética do alimento complementar. Normalmente adiciona-se água a preparações pastosas como mingaus, papas, sopas e purês, com o intuito de se obter uma preparação menos viscosa, pois assim a deglutição dos alimentos pela criança é mais fácil e, conseqüentemente o tempo gasto para alimentá-la é menor. Em contrapartida, mesmo que a quantidade consumida de uma preparação mais viscosa (com menos água) seja menor, a ingestão energética é maior, principalmente se houver adição de uma fonte de gordura nesta preparação (Stephenson et al, 1994). Quando crianças são alimentadas com alimentos de baixa densidade energética elas tendem a aumentar o consumo para satisfazer suas necessidades nutricionais. Sendo assim, a capacidade gástrica infantil pode limitar a adequação da dieta em energia (Sanchez-Griñan et al, 1992). O Ministério da Saúde define 10 passos da alimentação saudável para crianças brasileiras menores de 2 anos. Com relação à alimentação complementar, a recomendação é de que ela deve ser iniciada aos seis meses, sendo o aleitamento materno exclusivo mantido até esta idade. Os alimentos complementares devem ser oferecidos 3 vezes ao dia para crianças que estão em aleitamento materno e 5 vezes para crianças desmamadas, porém sem rigidez de horários. As sopas e preparações muito diluídas devem ser evitadas desde o início, assim como o uso da mamadeira. As frutas, verduras e legumes devem ser consumidos diariamente e a alimentação deve ser variada. Devem ser evitados: açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos, guloseimas, sal em excesso e alimentos muito condimentados. Cuidados de higiene durante o preparo, manipulação e conservação dos alimentos são necessários, e mesmo doente a criança deve ser estimulada a comer (Ministério da Saúde, 2002). Não há necessidade de seguir uma ordem exata de introdução de alimentos (com exceção dos potencialmente alergênicos), mas deve-se priorizar os alimentos com alto valor energético, ricos em ferro, zinco e vitamina A. Sendo assim, a refeição de sal deve ser introduzida inicialmente, e é fundamental que os alimentos administrados complementem o valor nutricional do leite materno. A refeição de sal ou papa salgada deve conter um cereal (arroz, milho, trigo) ou tubérculo (batata, inhame, mandioca), uma fonte protéica, que pode ser carne ou leguminosa (feijão, ervilha, lentilha), e ainda, uma ou duas hortaliças (verduras e legumes). A gordura (óleos vegetais) utilizada no preparo da papa colabora com a complementação do valor energético do leite materno, e as frutas oferecidas em refeições intermediárias complementam algumas vitaminas e minerais (Euclydes, 2000). Os alimentos complementares devem ser criteriosamente selecionados. Além de excluir da 13 COMPACTA NUTRIÇÃO distúrbios hidroeletrolíticos e sobrecarga renal de solutos, devido ao elevado teor de eletrólitos e proteínas. Outro risco seria o surgimento de doenças alérgicas, já que os lactentes alimentados com leite de vaca estão expostos a proteínas heterólogas. Por apresentar quantidades inadequadas de algumas vitaminas e ácidos graxos essenciais, o consumo de leite de vaca pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento do lactente. E, finalmente, seu uso leva a uma maior predisposição futura para obesidade, aterosclerose, dor abdominal recorrente e catarata. A partir de tais evidências, não se recomenda a utilização do leite de vaca integral, líquido ou em pó, nem mesmo em suas preparações diluídas, na alimentação da criança durante o primeiro ano de vida (SBP, 2003). alimentação aqueles citados na recomendação do Ministério da Saúde, deve-se evitar no primeiro ano de vida os alimentos que contêm nitratos (espinafre, beterraba e embutidos), agrotóxicos (tomate, morango) e os que oferecem maior risco de contaminação (enlatados, embutidos e mel). Devem ser evitados também os alimentos potencialmente alergênicos: leite de vaca, clara de ovo, tomate, amendoim, chocolate (Euclydes, 2000). Deve-se enfatizar que o uso de leite de vaca integral no primeiro ano de vida, mesmo que diluído, é um dos mais sérios erros alimentares nesta idade. Isto porque o consumo de tal alimento constitui um fator de risco para anemia ferropriva, tanto por conter pouca quantidade e baixa biodisponibilidade de ferro, como também por ocasionar perda de sangue pelas fezes (Elian et al, 1966; Anyon et al, 1969; Wilson et al, 1974). Esses trabalhos avaliaram crianças antes dos 6 meses de idade e na sua grande maioria encontraram perdas sanguíneas pelas fezes em cerca de 40% daquelas alimentadas com leite de vaca pasteurizado. Fomon et al (1981) mostraram que entre crianças saudáveis a presença de sangue nas fezes ocorria em 9% das que recebiam fórmulas, contra 39% das que recebiam leite de vaca pasteurizado. Estudo mais recente de Ziegler et al (1999), mostrou a relação entre consumo de leite de vaca e perda de sangue pelo trato gastrintestinal de crianças saudáveis com idades entre 7 e 12 meses. O objetivo era saber até quando essas perdas seriam significantes. Os autores concluíram que ao completar um ano de idade a perda de sangue desaparece, indicando que o trato gastrintestinal de crianças saudáveis gradualmente perde sua sensibilidade à proteína do leite de vaca. Além de estar relacionado ao aparecimento da anemia ferropriva, o leite de vaca pode propiciar Alimentação no Segundo Ano de Vida No segundo ano de vida a criança torna-se mais independente, tem mais condições de se comunicar, além de já possuir diversos dentes e apresentar sistemas metabólicos e digestivos funcionando com capacidade igual ou semelhante ao adulto (Gaglianone, 2003). Se a introdução da alimentação complementar foi feita na época certa e da maneira correta, nesta fase a criança estará apta para receber alimentação bem semelhante à da família (Euclydes, 2000). É momento então de estimular a criança a se alimentar sozinha, fazendo suas refeições em local adequado e sempre que possível junto aos demais familiares (Gaglianone, 2003). O segundo ano de vida da criança também é período decisivo em termos de formação de hábitos alimentares, que tendem a se solidificar na vida adulta. Por isso é importante estimular o consumo de uma alimentação saudável o mais precocemente possível (Gaglianone, 2003). 14 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA Vale ressaltar que as orientações citadas anteriormente em relação à densidade energética, concentração de nutrientes específicos na dieta (particularmente ferro, cálcio, zinco, vitaminas A e C e ácido fólico) são válidas também neste período, até porque, se a criança estiver sendo amamentada, o segundo ano de vida ainda é definido como período de alimentação complementar, uma vez que a função da dieta é complementar o leite materno. A alimentação é importante não somente para satisfazer as necessidades nutricionais da criança, mas deve ser vista também como um fator educacional na promoção da mastigação, da deglutição e do contato com novos sabores (ESPGAN, 1982). As formas de aprendizagem da criança na alimentação se dão por exposição repetida (12 a 15 vezes), associação de alimentos desconhecidos a outros que sejam adocicados - isso pela preferência nata pelo doce (Ramos e Stein, 2000). Algumas práticas podem facilitar a aceitação de novos alimentos pela criança, como a interação da mesma no momento da alimentação, em contraste com uma apresentação passiva do alimento; seleção de alimentos que sejam apropriados à capacidade motora da criança; garantia de um ambiente tranqüilo e sem distrações no momento da refeição; e intervalos entre as refeições para que a criança sinta fome (Pelto, 2000). A aceitabilidade de novos alimentos é influenciada por vários fatores, entre eles o número de vezes a que a criança foi exposta ao alimento, tipo de aleitamento - sendo que o leite materno facilita a aceitação, uma vez que a variação da dieta materna provoca mudanças sensoriais no leite (Sullivan e Birch, 1994). É importante que a criança acostume-se a comer alimentos variados, evitando a monotonia da dieta. Os alimentos não devem ser apresentados misturados uns aos outros, pois é fundamental que a criança identifique o sabor, a cor e a textura de cada um deles (Ministério da Saúde, 2002). É comum a aceitação de certos alimentos após rejeição nas primeiras tentativas, é o processo natural da criança em conhecer novos sabores e texturas, e da própria evolução da maturação dos reflexos da criança (Ministério da Saúde, 2002), que é gradativa e depende de aprendizagem (Euclydes, 2000). RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS As recomendações nutricionais para crianças nos primeiros anos de vida levam em conta sua taxa de crescimento e desenvolvimento aumentados, e portanto apresentam quantidades de nutrientes e energia proporcionalmente maiores que para o adulto, além da particularidade referente à composição corporal diferenciada (Euclydes, 2000). As recomendações da RDA de 1989 constituem “o nível de ingestão essencial de nutrientes que, pelo conhecimento científico, é julgado pelo Food and Nutrition Board como sendo adequado em encontrar os nutrientes conhecidos como necessários para praticamente todas as pessoas saudáveis”. As recomendações para crianças da RDA 1989 consideram um nível de ingestão que mantenha uma taxa satisfatória de crescimento e desenvolvimento. Em relação à energia, visa-se um balanço do gasto energético, acrescido de energia para deposição de tecidos, já que nesse grupo o metabolismo dos órgãos está aumentado. As recomendações de energia para crianças até 10 anos, que é feita sem distinção de sexo, é estimada a partir de um consumo alimentar de população de países desenvolvidos que promova 15 COMPACTA NUTRIÇÃO estado nutricional adequado (Food and Nutrition Board, 1989). As recomendações nutricionais foram atualizadas pelo “Food and Nutrition Board” do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, revisando as RDA e criando o conceito de DRI - Dietary Reference Intake. As recomendações para crianças de 0 a 2 anos estão no Quadro 1. As RDA 89 foram atualizadas e vale destacar a introdução do conceito de UL (limite superior tolerável de ingestão) que é o valor máximo de ingestão de um nutriente que não represente prejuízos à saúde; e as modificações nas classificações dos estágios de vida: em lactentes para 0 a 6 meses - quando o aleitamento materno está presente e 7 a 12 meses - idade de introdução de alimentos complementares (Sachs, 2001). Quadro 1 - Recomendações Nutricionais para crianças de 0 a 3 anos Faixa Etária Nutriente 0 a 6 meses 7 a 12 meses 1 a 3 anos Energia (kcal/kg/dia) 108 98 95 Proteína (g/dia) 13 14 16 Cálcio (mg) 210 270 500 Fósforo (mg) 100 275 460 Magnésio(mg) 30 75 80 Vitamina D (µg) 5 5 5 Flúor (mg) 0.01 0.50 0.70 Tiamina (mg) 0.20 0.30 0.50 Riboflavina (mg) 0.30 0.40 0.50 2 4 6 0.10 0.30 0.50 65 80 150 Vitamina B12 (mcg) 0.40 0.50 0.90 Ac. Pantotênico (mg) 1.70 1.80 2 Biotina (µg) 5 6 8 Colina (mg) 125 150 200 Vitamina C (mg) 40 50 15 Vitamina E (mg) 4 6 6 Selênio (µg) 15 20 20 Vitamina A (µg RE) 400 500 300 2 2.50 30 Ferro (mg) 0.27 11 7 Iodo (µg) 110 130 90 2 3 3 Niacina (mg) Vitamina B6 (mg) Folato (mcg) Vitamina K (µg) Zinco (mg) Institute of Medicine, 1999, 2000a, 2000b, 2002a, 2002b 16 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA Na alimentação complementar é importante fornecer proteínas de alto valor biológico para garantir melhor absorção das mesmas, e em concentrações adequadas, que para crianças de 6-24 meses deve ser de 0,7g/100kcal (Giugliani e Victora, 2000). O aminoácido taurina vem sendo considerado essencial para bebês, já que eles não são capazes de produzi-lo. Ele é necessário para conjugação de sais biliares, neurotransmissores e neuromoduladores do desenvolvimento do sistema nervoso central. O leite humano contém grandes quantidades deste aminoácido (Akré, 1994). Em relação às vitaminas, vale destacar as vitaminas A e D. Vitamina A é um termo genérico para todos os retinóis, nome este que se deve à sua importância na visão (retina). Essa vitamina é fundamental no crescimento e manutenção do tecido epitelial, para o desenvolvimento dos ossos e manutenção da acuidade visual. Além disso, a carência desta vitamina, no início da vida está associada com condições desfavoráveis para o desenvolvimento infantil (Dolinsky e Ramalho, 2003). Dentre os grupos populacionais mais atingidos pela carência de vitamina A destacam-se as gestantes, puérperas, recém-nascidos, lactentes e pré-escolares. A ingestão deficiente deste nutriente pela mãe pode determinar baixa reserva no recém-nascido. A única fonte de vitamina A para o feto é a transferência placentária; sendo assim, cabe supor que a deficiência materna pode ter graves conseqüências sobre o concepto, dado seu papel em processos metabólicos, como embriogênese ou organogênese fetal, em períodos de intenso crescimento proliferativo e desenvolvimento tecidual, que ocorrem na gestação (Dolinsky e Ramalho, 2003). Poucas ações visando o tratamento e prevenção da hipovitaminose A têm sido direcionadas ao Grande parte da energia metabolizada pela criança destina-se a manter os processos vitais do organismo, ou seja, o gasto energético basal. A DRI 2001 manteve as recomendações de energia da RDA 1989 (Quadro 1). A necessidade energética do lactente varia em função de sua faixa etária. Nos 3 a 4 meses de idade diminui a necessidade energética pois sua taxa de crescimento diminui, já aos 6 meses aumenta ligeiramente pois iniciam-se as atividades motoras e após o 9º mês tem-se um aumento significativo na energia necessária pois a taxa de crescimento volta a subir (Akré, 1994). A WHO/UNICEF (2000) recomenda que a energia fornecida pela alimentação complementar seja de 250 kcal por dia para crianças de 6 a 8 meses de idade, 450 kcal por dia para crianças de 9 a 11 meses e de 750 kcal por dia para crianças de 12 a 24 meses de idade. E além da energia total consumida, é importante estar atento à densidade energética da refeição, já que a capacidade gástrica (30-40 ml/kg de peso) de crianças de 6 a 24 meses limita sua ingestão; sendo que a densidade energética muitas vezes está associada à consistência da preparação e deve aumentar proporcionalmente com a idade (Giugliani e Victora, 2000). A proteína é um macronutriente importante para o adequado crescimento do bebê, já que fornece aminoácidos essenciais e nitrogênio para a síntese de enzimas, hormônios, neurotransmissores, proteínas corporais e também para a manutenção de tecidos (Euclydes, 2000). As recomendações de proteína são baseadas em consumo alimentar, e levam em consideração que no primeiro ano de vida a quantidade de proteína corporal passa de 11 a 15%. As recomendações de proteína não foram alteradas pela DRI, mantendose os valores da RDA de 1989. 17 COMPACTA NUTRIÇÃO deste nutriente pelos grupos de risco seja deficiente. Para crianças de 6 a 11 meses de idade, a recomendação é de 100.000 UI em dose única a cada 4 - 6 meses, e crianças de 12 a 59 meses, 200.000 UI em dose única a cada 4-6 meses. Vale destacar que a UL de vitamina A, segundo a DRI 2001, é de 600 µg para crianças até 3 anos, e um dos suplementos da vitamina mais consumidos nessa faixa etária contém em sua dose prescrita 3000 µg (Prado et al, 1999). Quanto à vitamina D, ela tem papel fundamental na imunidade, reprodução, secreção de insulina e diferenciação de queratócitos, absorção de cálcio pelo estímulo, primeira síntese de proteínas carreadoras e também no transporte de fósforo. A DRI para a vitamina é de 5 µg para crianças, sendo que a recomendação visa garantir um crescimento ótimo através da adequada formação do esqueleto (Mahan e Stump, 1996). A vitamina D disponível para a criança durante os 6 primeiros meses de vida depende dos depósitos maternos durante a gravidez e mais tarde da ingestão da vitamina D pela criança e de sua exposição solar. Embora a quantidade de vitamina D ingerida pela criança esteja relacionada com o seu conteúdo no leite humano, este último não está associado ao estado nutricional da criança para vitamina D, pois este depende muito mais da exposição solar do que da ingestão da vitamina (Institute of Medicine, 1999). A forma mais eficiente de obtenção desta vitamina é através da pele, que em presença de luz solar sintetiza grandes quantidades, e ao mesmo tempo impede absorção de quantidades tóxicas. Quanto ao período de exposição solar, são necessários 30 minutos por semana se a criança estiver apenas com fralda ou 2 horas por semana se vestida. O leite humano é relativamente pobre em vitamina D (12 a 60 UI/L), mas é importante período gestacional. Este fato pode estar relacionado inicialmente às precauções relativas à suplementação nesse momento biológico, dada a possibilidade de teratogenia associada ao uso de altas doses de vitamina A (Dolinsky e Ramalho, 2003). O recém-nascido constitui um grupo de risco para deficiência de vitamina A, pois pode passar pelos seguintes processos: desmame precoce, baixa concentração de vitamina A no leite materno e agravo materno especialmente no terceiro trimestre de gestação quando a reserva de vitamina A é formada (Dolinsky, 2002). Segundo Dolinsky (2002), “a baixa concentração de vitamina A sérica ao nascer deve-se à natural e necessária barreira imposta pela placenta. Entretanto, durante a gestação vários fatores podem afetar o estado nutricional materno de vitamina A e conseqüentemente a biodisponibilidade para o feto”. Após o nascimento, os estoques fetais tendem a aumentar rapidamente, dependendo da alimentação recebida pelo recém-nascido. A concentração de vitamina A no leite materno é suficiente para suprir as suas necessidades diárias. Em condições ideais de aleitamento, o leite materno é considerado a mais importante fonte de vitamina A para o recémnascido, já que normalmente 60 vezes mais vitamina A é transferida da mãe para o filho durante os 6 meses de amamentação comparada à acumulação feita pelo feto nos 9 meses de gestação (Dolinsky e Ramalho, 2003). Em relação à suplementação de vitamina A para lactentes, a mesma justifica-se apenas em regiões onde a prevalência da deficiência da vitamina é alta, caso contrário, a alimentação adequada supre as necessidades (Euclydes, 2000). A Pan American Health Organization (PAHO, 2001) sugere suplementação de vitamina A principalmente em localidades onde o consumo de alimentos fontes 18 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA salientar que o leite de vaca não é fonte da vitamina (Euclydes, 2000). A deficiência de vitamina D em crianças causa raquitismo e o excesso leva à hipercalcemia, que provoca calcificação excessiva de ossos e tecidos moles, podendo causar distúrbios gastrintestinais, fragilidade óssea, retardo do crescimento e desenvolvimento. Vale destacar que a UL de vitamina D, segundo a DRI 2001, é de 25 µg para crianças, e um dos suplementos da vitamina mais consumidos nessa faixa etária contém em sua dose prescrita 25 µg (Prado et al, 1999). Em relação aos minerais, vale destacar o ferro, uma vez que a carência deste mineral é a deficiência nutricional mais comum na infância. Sabe-se que seu conteúdo no leite humano é baixo, porém compensado pela alta biodisponibilidade, que pode ser comprometida mediante a presença de outros alimentos na alimentação da criança (Silva et al, 2002). A ingestão de ferro pela nutriz (através da dieta ou suplementação) não interfere na concentração de ferro do leite humano, porém, o estado nutricional materno deve ser monitorado, e se necessário a suplementação da mãe é indicada, a fim de evitar a depleção do nutriente (Silva et al, 2002). A biodisponibilidade de ferro varia de um alimento para outro (figura 1), sendo que no leite materno, 20 - 49% do ferro são absorvidos, enquanto que no leite de vaca apenas 10%. Nas fórmulas que contém de 1 a 3 mg de ferro por litro, a absorção é de apenas 4 - 7% (Saarinenum, 1979). Figura 1 - Absorção de ferro a partir dos alimentos Fonte: OMS, 1972 19 COMPACTA NUTRIÇÃO Os alimentos ricos em ferro são as carnes, feijões e vegetais folhosos verde-escuros, tendo-se como facilitadores da absorção desse mineral as carnes e alimentos ricos em vitamina C, e como inibidores alimentos ricos em cálcio, fitatos, taninos e cafeína (Osório, 2002). Vale destacar novamente que a introdução da alimentação complementar aos 4-6 meses de idade pode beneficiar o estado nutricional de ferro do lactente, porém sua introdução nesta faixa etária não se justifica, uma vez que os suplementos medicinais de ferro podem complementar o leite materno, e assim atender às recomendações (Kramer e Kakuma, 2002). Comparando-se as RDAs 1989 e as DRIs 2001, pode-se perceber que as recomendações de ferro por faixa etária alteraram-se: diminuindo até os seis meses, passando-se a considerar a quantidade no leite materno, e aumentando nos demais estágios de vida. Segundo a DRI (2001), a recomendação é de 0,27 mg para crianças até 6 meses, 11mg para faixa etária de 7 a 12 meses e 7 mg para 1 a 3 anos. Para crianças de 6 a 23 meses de idade, a OMS recomenda suplementação de 2 mg de ferro elementar por quilo de peso corporal quando a dieta não inclui alimentos fortificados com ferro ou quando a prevalência de anemia é maior que 40%. Para crianças nascidas com baixo peso, a dose recomendada é a mesma (2 mg de ferro elementar por quilo de peso corporal), porém dos 2 aos 23 meses de idade (WHO, 2001). Quando coexistem as carências de ferro e folato, a última é mascarada e só se evidencia quando tratada a primeira. As reservas de folato são reduzidas ao nascimento e rapidamente depletadas em função do crescimento acelerado nesta fase. A concentração de ácido fólico do leite materno depende do estado de folato da mulher e da duração da lactação (Ribeiro et al, 2002). Como a anemia ferropriva é a principal carência nutricional na primeira infância, recomendase que em regiões onde sua prevalência seja superior a 40%, todas as crianças recebam suplemento de 12,5 mg de ferro elementar mais 50 mg de ácido fólico diariamente dos seis aos dezoito meses de idade (UNICEF, 1998). CONSIDERAÇÕES FINAIS É fundamental considerar que a prática do aleitamento materno exclusivo até seis meses, a introdução da alimentação complementar de forma adequada e equilibrada, e a adoção de um hábito alimentar e estilo de vida saudáveis são importantes não só para garantir um crescimento e desenvolvimento ideais, na infância mas também para prevenção de doenças crônicodegenerativas na vida adulta (Oliveira e Escrivão, 2003). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ahiadeke C. Breast-feeding, diarrhoea and sanitation as components of infant and child health: a study of large scale survey data from Ghana and Nigeria. J Biosoc Sci 2000;32:47-61. Akré J, editor. Alimentação infantil: bases fisiológicas. Trad. Velochko A, Toma T. São Paulo: IBFAN Brasil; 1994. Almroth SG. Water requirements of breast-fed infants in a hot climate. Am J Clin Nutr 1978;31:1154-7. Anderson JW, Johnstone BM, Remley DT. Breastfeeding and cognitive development: a meta-analysis. Am J Clin Nutr 1999;70:525-35. 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