8 -OS BOXEADORES BAILARINOS Era por volta do ano 1998 ou 1999, já nem sei bem. Só sei que o Edson Jr Pezão era projeto do maior cancão de todos os tempos. É certo que o Edson ainda não jogava na AP. Era do Estrela, e o Roma o ajudava com material esportivo, taxas do Estrela, essas coisas. Era campeonato individual e haveria o cruzamento MAURO MACEDO X EDSON JR..Duas escolas absolutamente opostas. Aquele com seu implacável jogo de espera, com defesas impossíveis, capaz de matar qualquer um no cansaço ou no desespero; e este com um estilo a la européia, classista estiloso de agressividade absoluta, drives e machadadas o tempo todo! Lembro-me que sentei quase ao lado do Roma, que fazia às vezes de treinador/técnico/torcedor do Edson (naquele tempo valia tudo). Talvez tenha sido o último ano de sets de 21 pontos (também não tenho certeza). Mas o certo é que a partida já começara nervosa antes mesmo do juiz “trilar” seu apito, uma vez que o “técnico” do Edson advertiu o árbitro de possíveis saques irregulares do Mauro. E olha que reclamou antes do início do primeiro set. Após dois sets muito equilibrados, a ‘negra’ estava em 18 a 16 pro Mauro, que realizaria o seu último saque, numa época em que sacávamos em múltiplos de 5. Então pensei: “quem fizer esse ponto, ganha!”. Mas não fui só eu que pensei isso. O Roma também..E o Mauro mais ainda! Pensem vocês num atleta cascudo, passado e repassado na casca do alho, da cebola e até da urtiga! Um cara que tropeça em medalhas quando chega em casa: eis o Mauro Macedo, que em 1 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 1997 havia sido campeão invicto tendo jogado 1 torneio a menos que toda a galera. Mesmo antes de o Mauro sacar, meu lado traumatizado cochichou: “rapá, lá vem aquele saque tinhoso, que eu nunca pego, e que ele dá só uma ou duas vezes por partida, quando nem o próprio Cristo, se árbitro fosse, teria coragem de tirar o ponto dele. Afinal, o árbitro ainda não advertiu ele nenhuma vez...e nos pontos finais os árbitros preferem ‘lavar a mão’ e deixar a coisa correr”. O Roma deve ter pensado coisa pior, porque alguns segundos antes de o Mauro lançar a bola da palma da mão, o ‘pavoloso’ deu aquela puxada característica com a boca. Lembram-se do cacoete? Alguem aí leu “lançar a bola?”. Kkkkkkkkkkkkkkk. Então foi assim: o Maurinho, mais concentrado que xarope de groselha dos anos 80, arremessou a bola da palma da mão em direção ao alto, na vertical, como manda a regra, só que a uma “vistosa” altura de aproximados 16 milímetros. O saque saiu tão rápido que pareceu que a bola foi atirada com a própria mão esquerda. Se o cara não estivesse preparado para aquele saque piscineiro, mas de altíssimo nível, devolvia a bola no teto. Mas o Edson era um cara de nível quase internacional..por isso sua recepção foi..foi..no teto mesmo! Igual a tantas que eu também devolvi em momentos semelhantes de campeonatos já perdidos no tempo. Pronto: 19 a 16! A fatura tava quase liquidada. O árbitro achou tudo normal. Afinal, “quem tem, tem medo”. Mas o Roma não se conformou. 2 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS -“Ladrão! O cara é só um menino. Isso é trapaça!” Seu isso, seu aquilo, etc, etc..” O Maurinho apenas deu um sorriso vencedor, pois seu oponente parecia nocauteado com aquele saque proveniente sabe-se lá de onde..e o clube Estrela, que tinha uns trezentos lá dentro torcendo pelo menino, tava uma gritaria só. Até rojão quase atiram em direção à mesa de jogo (acho que exagerei agora!). O Edson tentou reagir mas não teve jeito. Perdeu.. O Roma e o Maurinho se cruzaram e o Rominha falou algo feio para ele. E o Maurinho retrucou : “ ah, é? então vem! Ficou o tempo todo de peru no jogo..vem então!”. E não é que o Roma ‘foi’ mesmo? E os dois começaram a se cercar. Punhos levantados, guarda alta! Giraram em torno um do outro, a estudar o estilo de luta do oponente. Saltitos pra cá, saltitos pra lá..tava prometendo ser a mais sensacional briga já vista no tênis de mesa. Nessa altura do evento o Ricardo, que era uma praga, já cercara os lutadores com os aparadores, formando um ringue. O Mantega gritou: pago 2 pra 1 no fulano. Lá de trás alguém gritou: aceito e cubro a aposta. Aposto no sicrano! E a bolsa de apostas começou a rolar, “em tempo real”. Só cancelaríamos as apostas se houvesse dedo no olho ou chute no culhão. Se tivesse dado tempo o Bidu tinha jogado seu canhão de luz sobre eles e tocado a música tema do filme “Rock, o lutador”. É que o cachorro tem 5.000 discos de vinil e qualquer música pra 3 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS qualquer evento. Ele toca até em velório! Quanto mais em ringue de boxe... Claro que os 300 que antes tavam torcendo pro Edson agora torciam pro Roma. E a gritaria foi tamanha que a Dona Dina quase teve um infarto, razão pela qual ameaçou jogar na moçada o que tava dentro do penico embaixo da sua cama. E o jogo profissional de pernas dos frangotes não parava..pareciam a Ana Botafogo e o “Coisinha” de Jesus dançando, tal a maestria. E haja estudos! Os caras se estudaram tanto que tiraram Pós Doutorado. Acho que um dos bailarinos boxeadores gritava: “ num me larga, ou arrebento a cara!”. Já o outro respondia: “fica que eu num vou!”. E continuaram aquele balé dos boxeadores profissionais norteamericanos nos primeiros segundos de um primeiro round: só balé e estudos! O tempo foi passando e “nenhuma” tapa..nem mesmo uma cuspidinha! Somente saltitos e requebrados. Soco que é bom, nada! Era um tal de “vem”, “me solta”, “me segura”, “vais ver” sempre seguidos daqueles intermináveis saltitos, um cercando o outro. Às vezes pareciam gazelas, noutras horas cabritos montanheses. Pulo pra cá, ginga pra lá, desvia daqui e dali..já começava a parecer jogo de capoeira! Mas nada de 1(um) soquinho ao menos. Que papelão! Pior que isso, só mesmo o “chulé indefensível” do Chardinho! 4 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Aí o Bianor apartou o Roma prum lado, veio a turma da AP e levou o Mauro pro outro. E antes que eles pensassem que era apenas uma parada pro próximo round café-com-leite, encerraram-se as apostas e a luta foi cancelada por falta de combatividade! Que vexame! O Ricardinho olhou pro Mantega e falou: “num joguei hoje mas esse ‘embate’ já valeu minha noite”. E, depois do susto, os mesatenistas mais ‘próximos’ dos boxeadores bailarinos não se aguentavam de tanto rir.. Após, tudo acalmado, a turma se reuniu e foi pro Dedão, lá pertinho, tomar umas cervas e comer umas patas de caranguejo. E ainda deu tempo do Adilsom zoar com o Fabrizio, quando disse na mesa do bar, em voz alta: “O drive do mantega é igual drive de tiranossauro rex!!” O Mantega ficou todo prosa, se achando!..mas sabendo que não tem um drive forte, questionou o cocôzinho: “Pô, Adilsom. Meu drive é de Tiranossauro Rex? Achas mesmo meu drive tão potente assim? Por que isso?” E o Adilson, que até hoje é mais sonso que o Chaves, respondeu: “Não é por causa da potência deles, não!. É por causa dos teus bracinhos, sempre colados no peito no momento do drive!” Risada geral... Antes que novo porradal começasse, o Mantega se rendeu à risada da galera..baixou a cabeça, quase concordando, segurou 5 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS o próprio riso e pediu mais uma cerveja. Afinal, melhor ouvir aquilo que ser surdo! 6 Tênis de Mesa-2013-Santa Maria de Belém do Grão Pará/Brasil “Causos da Bolinha Branca,de 1987/2012, por Fabrizio Imbelloni (Bodas de Prata do Mantega) – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS