ESTADOS CONSCIENCIAIS INDUZIDOS POR ENTEÓGENOS
Sabe-se que estados incomuns de consciência podem ser induzidos por substâncias que
alteram a cognição e a percepção sensorial. Segundo Strassman (2001, p.21), o uso dessas
substâncias na forma de plantas e cogumelos é mais antigo que a história escrita, e provavelmente
anterior ao aparecimento da espécie do homem moderno.
Ronald Siegel e Terence McKenna sugerem que nossos ancestrais imitavam os animais,
ingerindo substância que lhes causavam alteração de comportamento, e que estas substâncias
formaram a base de uma percepção primitiva da experiência religiosa.
Na Europa havia pouco interesse e acesso a esse tipo de substância até o século XIX. Alguns
autores, citados por Strassman, descrevem suas próprias experiências com substâncias como o ópio
e o haxixe, mas as quantidades necessárias para um efeito psicodélico eram altas e perigosas, muitas
vezes causando intoxicação e morte. Com a descoberta da mescalina, por volta de 1890, uma
substância presente no peiote, um cacto originário das Américas, o cenário começou a mudar, e
abriram-se novas portas para o uso e a investigação dos estados alterados de consciência com o
emprego dos psicoativos.
Os pajés e xamãs das diversas religiões sempre usaram algum tipo de planta de poder em
seus rituais para entrarem em estado alterado de consciência. Algumas dessas bebidas sacramentais
- como o soma e o haoma -, foram usadas respectivamente no subcontinente indiano no período de
composição dos Vedas, e no vale da mesopotâmia pelos zoroastristas, por volta de dois milênios
antes da era moderna. Segundo Wasson (Wasson, apud, Shanon, 2002), o sacramento denominado
soma seria uma infusão do cogumelo 'Amanita Muscaria', enquanto o haoma seria uma infusão de
uma planta denominada 'Peganum Harmala'. Mas Flattery e Schwartz (1989) sugerem que a bebida
Soma também possa conter uma infusão de Peganum Harmala e não somente do cogumelo Amanita
Muscaria. De fato, pouco se sabe sobre a composição destas bebidas, por que seu preparo nunca foi
descrito com exatidão, e resíduos nunca foram encontrados para análise química.
A Amanita muscaria foi o enteógeno do mundo antigo. As citações sobre o Soma
no Rig Veda são consistentes com esta leitura, e algumas se encaixam na Amarita
muscaria como uma luva (Wasson et all., 1986, p. 33).
Shanon (2008) sugere que os enteógenos também foram usados no período bíblico. Na
região árida da península do Sinai, ao sul de Israel, crescem duas plantas enteógenas; uma é a já
mencionada Peganum Harmala, e a outra é a Mimosa Hostilis, que no Brasil é conhecida como
Jurema Preta, e usada por índios nas cerimônias de pajelança. Esta hipótese é baseada em uma
revisão de textos do antigo testamento ligados a vida de Moisés.1
LSD 25 2
3
Fig. 3.2
No século XX, o uso de substâncias psicoativas foi amplamente divulgado nos livros de
Aldous Huxley e Carlos Castaneda. Huxley no livro “As Portas da Percepção”, escrito em 1954,
descreve suas experiências com a mescalina, e Castaneda em 1968 publica a “Erva do Diabo”4, um
livro no qual descreve suas experiências com Dom Juan Marcus, um xamã da tribo Yaqui, do
deserto de Sonora no México, que o introduziu nos rituais xamãnicos com o uso do peyote. Na
mesma época Albert Hofmann, um químico do Laboratório Sandoz, na Suiça, pesquisava várias
substâncias psicoativas, como a psilocibina - o princípio ativo de alguns cogumelos -, o Salvinorin
A (Fig. 3.2) - o princípio ativo da planta Salvia Divinorum -, e o isolamento do ácido lisérgico que
culminou com a síntese da dietilamida do ácido lisérgico (1938), popularizado como LSD-25 (Fig.
3.2), o fruto de seu trabalho com o ergot, um fungo conhecido como esporão-do-centeio.
A questão da denominação atribuída às substâncias psicoativas é complexa e, algumas vezes
carregada de preconceito. Uma denominação comum é o termo alucinógeno, numa indicação de que
estas substâncias causariam alucinações. Entretanto, na opinião deste autor, esta é uma
denominação inadequada, pois segundo o dicionário, o termo alucinação é definido como: “uma
perturbação mental que se caracteriza pelo aparecimento de perturbações visuais, auditivas, etc.,
atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem” (Dicionário Houaiss). Não seria uma
ingenuidade pensar que a ingestão de uma substância teria a capacidade de criar no cérebro imagens
de templos, seres míticos, regiões do astral e figuras geométricas como yantras e mandalas, a partir
do nada? Isto não parece ser possível, mesmo quando ainda não saibamos como o cérebro cria as
imagens ‘normais’, que vemos no estado de vigília, e que chegam ao centro do córtex visual através
do impulso elétrico transportado pelo nervo ótico. Contemporaneamente, os cientistas têm sido mais
cautelosos, e dado preferência a designações como: molécula, composto, agente, substância,
medicina e sacramento.
Entretanto, os investigadores e usuários de psicoativos para fins cerimoniais preferem a
1
Shanon, Benny. Journal of Consciousness Studies, 9, No. 4, 2002 pp. 85-94.
Retirado de: http://www.biopsychiatry.com/lsd/index.html, em 07/06/2010.
3
Retirado de: http://totallysynthetic.com/blog/?p=692, em 07/06/2010.
4
Publicado em inglês com o título “A Yaqui Way of Knowledge”.
2
designação de enteógeno, palavra que tem o significado de substância que desperta o Deus interior. 5
A palavra ‘droga’ tem sido evitada por ser uma terminologia vaga, e pela confusão que causa com
outras substâncias modificadoras do comportamento, que são de uso abusivo e causam dependência
química. O enteógeno não é uma droga, neste sentido, porque não existe evidência de que os
enteógenos causem dependência química ou adicção. “Drogas psicodélicas não causam
dependência química. Mesmo proponentes entusiásticos dos psicodélicos os usam com pouca
frequência, devido à intensidade e a natureza das viagens” (Lyvers, 2003, p. 2).
Serotonina6
Dimetiltriptamina7
Fig. 3.3 – Moléculas da Serotonina e Dimetiltriptamina
Outra questão é como os enteógenos produzem os estados alterados de consciência,
independentemente do efeito psicodélico. Uma primeira hipótese pode ser a similaridade molecular
entre algumas destas substâncias e à serotonina, que é um mediador químico do cérebro. Este é o
caso da DMT (N, N-dimetiltriptamina) (Fig. 3.3), e a serotonina (5-hidroxitriptamina). Devido a
esta similaridade, sugere-se que a maioria das drogas psicodélicas atua competindo nos receptores
(5-HT2) da serotonina (Fig. 3.3).
A pesquisa da ação dos enteógenos sobre o cérebro tem uma importante implicação na
teoria dos estados conscienciais durante o transe místico. Meditadores experientes, que tiveram
experiências espirituais devido à ingestão de enteógenos, relatam que estas não são diferentes dos
transes místicos naturais, ou seja, sem o uso de ativadores exógenos. Eles relatam basicamente as
mesmas vivências de unidade entre todos os seres vivos, união com Deus e o Universo, e a
percepção da ilusória natureza da existência humana. (Pahnke & Richards, apud Lyvers, p. 1-3).
Mas, independentemente da designação, permanece a questão: as substâncias psicoativas
causam alucinação ou somente facilitam o trânsito da consciência por regiões obscuras do
inconsciente coletivo, ou mesmo de espaços dimensionais ocultos aos sentidos, no estado de
vigília? Por enquanto é impossível responder. Alguns enteógenos induzem a estados alterados de
consciência que estão além de nossa compreensão. Para se ter uma ideia do que seja uma sessão
conduzida sob a indução de um enteógeno, como por exemplo, a ayahuasca, - cujo principal
princípio ativo é a dimetiltriptamina, é necessário passar pela experiência muitas vezes, e mesmo
5
Ruck, C.A.P., Entheogens, Journal of Psychedelic Drugs. 11 (1-2) pp. 145-146.
Retirada de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Serotonin-skeletal.png, em 07/06/2010.
7
Retirada de: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:DMT.png, em 07/06/2010.
6
assim, ter o entendimento de que a complexidade do transe vivenciado dificulta a sua compreensão.
As visões são mais reais e nítidas, que as que temos no estado comum de vigília. As entidades vistas
são claras, luminosas, e têm uma luz e um colorido que não existem no mundo físico. Muitas
imagens sugerem seres míticos e lendários, como elfos, gnomos, fadas e anjos. A
tridimensionalidade das imagens é perfeita, e a maioria delas quase nunca são estáticas, como um
quadro, elas são vivas, com movimentos reais, e algumas vezes se comunicam com a pessoa durante
o transe.
Então se questiona: como a ingestão do extrato de uma planta pode criar algo assim?
Ninguém explica. Pesquisadores sérios, com experiência de mais de vinte anos usando este
sacramento, não ousam tentar uma explicação, porque sabem que o fenômeno desafia todos os
nossos pressupostos científicos baseados na ortodoxia neurobiológica. Alguns têm explicações
baseadas nas suas crenças e na fé em seres espirituais.
Ayahuasca: – esta já mencionada bebida é de uso exclusivo em rituais religiosos dentro de
uma linha cristã, ligada aos povos da floresta. Seu uso é muito antigo e pode ter sua origem na
civilização Inca, há mais de quatro mil anos.8
A história da bebida não é conhecida com precisão, mas sua descoberta pelos índios é um
mistério. A ayahuasca é uma cocção de duas plantas: a chacrona ou rainha (Psychotria viridis) e o
cipó mariri (Banisteriopsis caapi), sendo que o efeito da bebida somente ocorre porque os alcalóides
componentes da Banisteriopsis caapi são inibidores da enzima MAO, que se não inativada, impede
a absorção da dimetiltriptamina. Então, o mistério é saber como em meio a centenas de milhares de
plantas da diversidade amazônica, eles pegaram exatamente as duas que se complementam para uso
ritualístico. Os pajés dizem que são os espíritos da floresta quem os orientam na busca das plantas
usadas para as curas e rituais! Esta informação foi obtida pelo autor diretamente do pajé Sapaim, da
tribo Kamayurá.
No Brasil, existem grupos ‘ayuhasqueiros’, derivados do Santo Daime, um movimento
iniciado pelo Mestre Raimundo Irineu Serra, e da UDV – União do Vegetal, outro movimento
iniciado por Mestre José Gabriel da Costa. Estes dois ramos deram origem a muitos outros núcleos,
como a ABLUSA - Associação Beneficente Luz de Salomão, um grupo independente que segue o
ritual da UDV, e a Fraternidade do Coração, um grupo que segue a linha do Daime e outros ritos
ligados a tradições da Índia.
O princípio ativo da chacrona é a molécula de DMT (dimetiltriptamina), e os princípios
ativos do cipó mariri são alcalóides da família da harmala, e das beta-carbolinas, que inibem a
enzima MAO (monoaminoxidase), permitindo assim a absorção da DMT. A ingestão da ayahuasca
proporciona uma importante expansão consciencial. O uso simultâneo da bebida com a audição de
8
Naranjo, 1986. “El Ayahuasca in La arqueología ecuatoriana. América Indígena 46: 117-128”.
sons musicais, cantos ou chamadas - que são frases utilizadas como um mantra -, têm a finalidade
de guiar a consciência durante o transe, proporcionando a penetração em dimensões de conteúdos
espirituais, onde visões de seres míticos e templos aparecem com uma viva nitidez.
O som musical e rítmico por si já induz a estados alterados de consciência.
Segundo Mello (MELLO 2003, Relações Cognitivas entre Localizações Cerebrais em Música e
Linguagem. Marcelo Mello, Unicamp.)9:
Embora relações clínicas (médicas, terapêuticas) entre o cérebro e a psique formem
atualmente o conjunto do que é conhecido como neuropsicologia, uma abordagem
constitutiva dos processos humanos a partir de processos materiais ou biológicos
poderá ser mais adequadamente enquadrada dentro da epistemologia como uma
abordagem cognitiva, ou cognitivista. No terreno musical, as relações entre música
e a cognição humana têm suscitado uma miríade de trabalhos nos mais diversos
assuntos correlatos, que podem ser reunidos sob o termo genérico de cognição
musical, ou outros de igual valor.
Durante as sessões com ayahuasca, algumas músicas e sons levam a estados espirituais
elevados, e outros a estados sombrios que podem resultar em sofrimento físico, tais como tremores,
frio, vômito, etc. Entretanto, o uso ritualístico da ayahuasca, conduzido dentro de uma proposta
espiritualista, desperta à maioria dos participantes para a vida espiritual, com transformações
pessoais importantes.
DMT – A Molécula do Espírito: Strassman no livro “The Spirit Molecule” relata os
estudos que efetuou na Universidade do Texas, em 1990, onde administrou cerca de 400 doses de
DMT a um grupo de sessenta voluntários acadêmicos. O protocolo do estudo foi aprovado pelo
DEA – “Drug Enforcement Administration” e pelo FDA, depois de um longo processo, inicialmente
junto ao comitê de ética da universidade, depois junto aos centros de pesquisa de química aplicada
para conseguir as autorizações necessárias para o estudo, que envolveu a síntese de 5g de DMT,
99,5% de pureza, com classificação de “para uso humano”, e a rigorosa seleção dos participantes.
O estudo foi efetuado de acordo com o protocolo ‘duplo cego’, onde os participantes
envolvidos não eram informados sobre certas particularidades e efeitos da substância, evitando-se
assim que fossem inconscientemente influenciados. A DMT foi administrada através de injeção
intravenosa em doses iniciais de 0,05 mg / Kg peso, com aumento posterior para 0,2 mg/Kg, até a
dose máxima de 0,8 mg/Kg, para alguns voluntários.
O protocolo estabeleceu a metodologia para dosagem da DMT no sangue dos voluntários
em várias fases do experimento.
No capítulo 3 ‘A Pineal: Encontrando a Glândula do Espírito’, e no capítulo 4 ‘A Pineal
Psicodélica’, Strassman descreve os estudos que o levaram à investigação dos efeitos da DMT no
ser humano.
9
Disponível em: http://www.marcelomelloweb.kinghost.net/mmconferencialinguisticacognicao2003.htm
Segundo Strassman (2001, p. 56):
Uma das minhas mais profundas motivações por detrás da pesquisa com a DMT foi
à busca da base biológica da experiência espiritual. De tudo que eu tinha aprendido
durante todos estes anos, nada me tornou mais surpreso que a possibilidade da
glândula pineal produzir DMT durante os estados místicos, e durante outros
estados naturais e semelhantes a estados psicodélicos.
A pineal, ou epífise (Fig. 6), é uma pequena glândula (5-8 mm e 0,15g de peso) localizada
entre os dois hemisférios cerebrais, sob o corpo caloso, e considerada parte do epitálamo. Há
algumas décadas, acreditava-se que a pineal fosse um órgão vestigial, e sem função, pois a glândula
é maior durante a infância, reduzindo seu tamanho na puberdade, quando então se pensava que ela
não tivesse mais função.
Entretanto, o cientista Aaron Lerner, da Universidade de Yale, ao estudar a despigmentação
da pele pela doença vitiligo, investigou a pineal e descobriu que a melatonina (N-acetil-5-metoxitriptamina), um hormônio derivado do aminoácido triptofano, cujo mecanismo de produção envolve
os neurostransmissores adrenalina e noradrenalina, está presente em grandes concentrações nessa
glândula, representada na figura, acima do cerebelo e sob o corpo caloso (Fig. 3.4).
Fig. 3.4 Corte do Córtex Cerebral10
Segundo Strassman, a pineal torna-se visível após sete semanas, ou seja, no quadragésimo
nono dia do desenvolvimento fetal, exatamente quando ocorre a diferenciação sexual. Sob o aspecto
histológico, ela não faz parte dos tecidos cerebrais, e desenvolve-se a partir de tecidos do palato
fetal, migrando posteriormente para o centro do cérebro, sob o sistema límbico. A fisiologia da
pineal está relacionada com o sono e com a atividade sexual. Estimulada por pouca luminosidade,
ou seja, no escuro, ela bloqueia a função reprodutiva e atrofia os órgãos sexuais, produzindo
melatonina. Quando a Pineal é estimulada pela luminosidade, há uma redução na produção de
melatonina (Fig. 3.5), e uma estimulação das funções sexuais, com um papel importante no ciclo
circadiano (Strassman, 2001, p. 56).
10
Retirado de: http://www.sbneurociencia.com.br/draclaudia/artigo_claudia.htm, em 05/05/2010.
Fig.3.5 – Molécula da Melatonina (N-acetil-5-metoxi-triptamina)11
O papel da pineal no estudo místico, deve-se a René Descartes, que afirmou ser a pienal a
sede da alma. Nas tradições da Índia, a pineal é associada ao terceiro olho, o Chakra Ajña. Na busca
de uma molécula que intermediasse na psique as experiências espirituais, Strassman considerou que
esta deveria no mínimo ter uma ação psicodélica. A primeira suspeita caiu sobre a DMT, uma
molécula muito semelhante à melatonina, ambas com um anel derivado do triptofano. Na primeira
etapa, na biosíntese da DMT, o triptofano sofre uma descarboxilação (1), dando origem ao
triptofano descarboxilado (2), que em seguida sofre uma dimetilação nucleofílica pela S-dimetil
metionina (3). (Fig. 3.6)
Fig. 3.6 - Biosíntese do DMT12
Em decorrência de sua pesquisa, Strassman elaborou um conjunto de hipóteses não
provadas, mas baseadas em dados científicos válidos, e combinados com observações religiosas e
espirituais, principalmente das tradições orientais. Como ele afirma: “Muitas dessas ideias são
testáveis com uso de ferramentas científicas e métodos válidos. As implicações dessas teorias são
profundas e perturbadoras, mas também criam um contexto de esperança e promessa” (Strassman,
2001, p. 68).
Segundo Strassman (2001, p. 68):
A glândula pineal produz quantidades psicodélicas de DMT, em tempos notáveis de
nossas vidas. A produção de DMT na pineal é a representação física de um
processo imaterial ou energético. Ela nos fornece o veículo para experienciarmos
conscientemente o movimento de nossa força vital em sua mais extrema
manifestação, ou seja, quando nossa força vital individualizada penetra no nosso
corpo fetal, ela passa através da pineal e dispara a primeira e primordial onda de
DMT, e posteriormente, no momento do parto, a pineal libera mais DMT. Em
alguns de nós, a DMT da pineal media as principais experiências de meditação
profunda, psicoses, e experiências de quase morte. No momento da morte, a força
11
12
Retirado de: http://www.anagen.net/mela.htm, em 05/05/2010.
Retirado de: http://acetoeteno.blogspot.com/2010/03/dmt-spiriit-molecule.html, em 08/05/2010.
vital abandona o corpo através da glândula pineal, liberando outra onda dessa
psicodélica molécula espiritual.
A glândula pineal tem todas as condições para produzir a DMT: ela possui os maiores níveis
de serotonina (hidroxi-triptamina) por grama de tecido, de todo o corpo. Ela também tem uma
quantidade apreciável da enzima metil-transferase, que converte as moléculas com núcleo
triptaminico em DMT (Fig. 3.6, etapa 3).
Por outro lado, Strassman afirma que a glândula pineal também produz quantidades
apreciáveis de Beta-carbolinas, um grupo de substâncias que impede a decomposição da molécula
DMT, pela enzima MAO – mono amina oxidase, um dos compostos também presentes na infusão
da bebida ayahuasca. Então, ele afirma que existem condições que fazem com que a glândula pineal
produza DMT, em vez de melatonina. Essas condições são a anulação de um ou mais dos fatores
restritores da produção de DMT (Strassman, 2001, p. 73), ou seja:
1. A malha bioquímica do sistema de segurança em volta da glândula pineal.
2. A presença de compostos que impedem a síntese da DMT na glândula pineal.
3. A baixa atividade da enzima metil-transferase.
4. A ação da enzima MAO [monoaminoxidase] na decomposição da DMT.
Assim, quando alguns, ou todos estes fatores, são anulados, a glândula pineal tem condições
de produzir a DMT (Strassman, 2001, p. 70). Estas suposições são originárias do princípio guia da
primeira pesquisa sobre a ação da DMT em humanos, que foi a relação entre esta molécula e a
esquizofrenia.
Segundo Strassman (2001, p. 70):
Minha ênfase na relação entre a DMT e a esquizofrenia, não é porque eu acredito
que esta seja a única função da DMT endógena, mas porque esta psicopatia é o
único estado alterado de consciência natural, sobre o qual temos dados reais e
significativos. Por outro lado, eu também acredito que outros estados psicodélicos
espontâneos, como as experiências espirituais de quase morte, dividem uma similar
relação com a presença endógena de DMT.
A ação da glândula pineal sobre os estados de consciência foram estudadas e Jace Callaway,
sugeriu que derivados das betas-carbolinas e do DMT podem ser mediadores responsáveis pelas
visões durante os sonhos. A produção de DMT pela pineal pode também estar atuando nos efeitos
da meditação profunda e dos vários tipos de experiências espirituais.
Concluindo seu estudo, ao analisar todos os relatos dos voluntários, Strassman questiona
sobre o que acontece quando a ‘molécula espiritual’ nos puxa e empurra para além do limite
consciencial físico e emocional, concluindo que nós entramos em regiões invisíveis que não
podemos sentir e sequer imaginar. E, para maior surpresa, estas regiões invisíveis parecem ser
habitadas. Nenhum dos voluntários teve dúvidas em afirmar que existe uma marcante diferença
entre suas experiências durante os contatos induzidos com DMT, e as visões de sonhos comuns.
Finalmente ele afirma (Strassman, 2001, p. 314):
O DMT permite que tenhamos um regular, repetitivo e seguro acesso a outros
canais de cognição. Estes outros planos de existência estão sempre ali. De fato, eles
estão exatamente aqui, transmitindo todo o tempo! Porém, nós não podemos
percebê-los porque não fomos projetados para fazê-lo. Nossa ‘máquina’ nos
mantêm sintonizados no canal normal. Mas, bastam somente um ou dois segundos
– e poucas batidas cardíacas para o DMT abrir o caminho -, mudar o canal e abrir
nossa mente para outros planos de existência.
“Os físicos teóricos propõem a existência de universos paralelos baseados sobre o fenômeno
de interferência [....] os universos paralelos interagem uns com os outros quando há alguma
interferência. O DMT pode permitir que nosso cérebro receptor sintonize estes multiversos”
(Strassman, 2001, p. 316).13
LSD - Stanislav Grof - em seus livros “LSD Psychotherapy” (Grof, 1979), “Além do
Cérebro” (Grof, 1988), e “The Holotropic Mind” (1993) -, relata cerca de 3500 experiências de
psicoterapia com LSD, conduzidas em pacientes e voluntários com o objetivo do estudo do
inconsciente transpessoal.
Segundo Crinspoon (1979, p. 202):
Muitas pessoas lembram vagamente que o LSD e outros agentes psicodélicos
foram usados experimentalmente em psiquiatria, porém poucos perceberam o
quanto, e por quanto tempo eles foram usados. Entre 1950 e 1960, foram
publicados milhares de artigos, discutindo mais que 40.000 casos de pacientes,
além de muitas dúzias de livros e seis conferências internacionais sobre terapia
com substâncias psicodélicas.
Embora o LSD seja uma substância psicoativa, ela não deve ser considerada um enteógeno,
mas somente um agente psicodélico. Apesar do LSD produzir estados alterados de consciência, esta
substância não é usada em ritual com a finalidade de abrir o portal da espiritualidade.
A razão pela qual Grof utilizou o LSD foi puramente casual. Na época em que ele estava
terminando sua graduação em medicina - na Charles University, em Praga -, a Farmacêutica Roche
estava distribuindo amostras de LSD-25 para vários centros de estudo de psiquiatria para avaliação
da droga e sua possível utilização como psicofármaco. “Minha primeira sessão com LSD mudou
radicalmente tanto a minha vida pessoal, como a profissional” (Grof, 1993, p. 15).
Segundo Grof (1993, p. 15):
Eu experienciei um extraordinário encontro com o meu inconsciente, e esta
experiência instantaneamente ofuscou todos os meus interesses prévios em
psicanálise freudiana. Eu fui submetido a uma fantástica exibição de visões
coloridas, algumas de cunho abstrato e geométrico, outras cheias de sentido
simbólico. Eu senti um conjunto de emoções de uma intensidade que jamais sonhei
ser possível. Durante esta fase do experimento, eu fui atingido por uma radiância
que se fez comparável à luz no epicentro de uma explosão atômica, ou
possivelmente a luz sobrenatural descrita nas escrituras orientais, como aquela que
aparece no momento da morte. Não havia dúvida em minha mente que o que eu
13
Ver capítulo 4, multiversos e branas.
havia experienciado estava muito perto da ‘experiência cósmica’ tal como eu li a
respeito nas grandes escrituras místicas do mundo.
Segundo Grof a pesquisa psicodélica esclareceu muitos dados históricos e antropológicos,
anteriormente enigmáticos, a respeito de xamanismo, cultos misteriosos, ritos de passagem,
cerimônias de cura e fenômenos paranormais que envolvem o uso de plantas sagradas (Grof, 1988,
p. 19).
Segundo Grof (1988, p. 20), a maioria dos pesquisadores que estuda os efeitos dos
psicodélicos chegou à conclusão de que essas drogas poderiam muito bem ser
encaradas como amplificadores do processo mental. “Parece que elas ativam
matrizes preexistentes ou potenciais da mente humana, em vez de induzirem a
estados específicos relacionados a elas próprias” (ibidem). A experiência com
enteógenos, como a já descrita ayahuasca, indica que, de fato, esta substância
psicoativa expande a consciência para além dos limites das restrições controladoras
da estrutura psíquica. Desta forma, parece que não há diferença entre o transe
induzido por esta classe de substâncias e a experiência mística natural, ou seja,
induzida pelos ritos meditativos. Por outro lado existe - como já mencionado -, a
suspeita de que os enteógenos desempenharam um papel importante no
afloramento da religiosidade, ao proporcionarem as primeiras experiências místicas
entre os povos antigos. Wasson menciona entre outros enteógenos, o Soma – na
cultura védica; a ergotamina – nos Mistérios de Elêusis; entre muitos outros povos
que fizeram uso de substâncias psicoativas de plantas e cogumelos. (Wasson, 1986,
p. 29-32).
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Estados conscienciais Induzidos por Enteógenos