VITÓRIA, ES, TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2015 ATRIBUNA Economia FALE COM A EDITORA 23 ISABELA LAMEGO E-MAIL: [email protected] Crise fecha oito empresas por dia Redução de pontos comerciais ativos é motivada pela queda no consumo e pelos altos custos para se manter empresas Pollyanna Dias freio no consumo, motivado pela alta nos juros, inflação e inadimplência, aliado à disparada dos custos para o empresariado manter a atividade em meio à crise econômica, fez com que empresas de vários setores encerrassem as atividades no Estado. Segundo dados da Junta Comercial do Espírito Santo (Jucees), nos dois primeiros meses deste ano, 522 empresas fecharam as portas no Estado, o equivalente a oito fir- O Os empresários pedem redução do valor da locação, que custa, em média, R$ 100 a R$ 120 m2 “ Ademar Izoton, proprietário da Ademar Izoton Imóveis ” mas por dia. Apenas em janeiro, 276 delas foram extintas, enquanto 246 encerraram as atividades em fevereiro. No acumulado do ano passado, 3.656 fecharam. O presidente da Federação do Comércio do Estado (FecomércioES), José Lino Sepulcri, explicou que a maior parte dos estabelecimentos extintos são pequenas e micro empresas, principalmente lojas de eletroeletrônicos, vestuário e presentes. “O cenário é preocupante, mas o índice de fechamento ainda está dentro da expectativa para crescimento do setor em 2% neste ano”, disse. O diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cariacica e da Serra, Samuel Valle, apontou que na Serra o maior número de empresas fechadas estão em Laranjeiras, Jardim Limoeiro e Jacaraípe. Já em Cariacica, o cenário de lojas fechadas está presente em Jardim América e Itacibá. “Nesses pontos, a situação é mais visível porque são regiões mais dinâmicas”, contou. O presidente da Findes, Marcos Guerra, informou que indústrias que fecham antes de completar dois anos, normalmente, nascem sem planejamento, desconhecem o negócio ou não têm capital de giro. THIAGO COUTINHO/AT LOJA PARA alugar na avenida Expedito Garcia, em Campo Grande: em janeiro, 276 pontos fecharam no Estado ALUGUEL Com o fechamento de empresas, o retrato de áreas comerciais são lojas e salas com placas de “alugase”. O proprietário da Ademar Izoton Imóveis, Ademar Izoton, — que tem lojas para alugar na aveni- da Expedito Garcia, no bairro Campo Grande, em Cariacica — afirmou que a rotatividade do aluguel está alta. “Os empresários pedem redução do valor da locação, que custa, em média, R$ 100 a R$ 120 o metro quadrado”, disse. O vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Estado (Ademi), Celso Siqueira Júnior, disse que 25% das lojas construídas nos últimos dois anos ainda não foram vendidas ou revendidas, devido à crise. FERNANDO RIBEIRO - 30/07/2014 ENTENDA ANÁLISE Lojas e indústrias são afetadas Fechamento de empresas > SEGUNDO dados da Junta Comer- cial do Espírito Santo (Jucees), do dia 1º de janeiro até o dia 28 de fevereiro deste ano, 522 empresas fecharam no Estado. > NO ACUMULADO de todo o ano passado, o número de empresas extintas no Estado chegou a 3.656. > O COMÉRCIO é um dos setores da economia que vem puxando o fechamento de empresas. > COMÉRCIO de itens não essenciais é um dos que mais fecham em momentos de crise econômica. Entre eles estão pequenas e micro empresas, principalmente lojas de eletroeletrônicos, vestuário e presentes. > JÁ AS INDÚSTRIAS do vestuário, alimentos, metalmecânica, indústria de serviços, de construção civil e de obras públicas estão entre as mais impactadas pela crise, e, consequentemente, mais propícias a encerrar as atividades. mica, a expectativa do setor industrial do Estado é de que o aumento no nível de desemprego chegue a 5% no Espírito Santo, 5% a menos que no País, que deve amargar 10% de crescimento no índice de desempregados. Em época de crise, só ficam os bons Comércio > O SETOR COMERCIAL no Espírito Santo espera crescimento de 2% a 3% neste ano. Embora aconteça encerramento de empresas do setor, os números ainda estão na quantidade esperada, frente as 100 mil empresas que existem hoje, segundo a Fecomércio-ES. ARQUIVO/AT Abertura de empresas > A QUEDA no número de empresas abertas no Estado nos dois primeiros meses do ano também preocupam. > ENQUANTO EM janeiro e fevereiro, 1.317 empresas iniciaram as atividades no Estado em 2014, no mesmo período deste ano, a queda chegou a 1.239, ou seja, foram constituídas 78 empresas a menos. Indústria > COM OS REFLEXOS da crise econô- Bruno Funchal, professor de Economia e Finanças da Fucape JUNTA COMERCIAL: negócios MARCOS GUERRA diz que empresários temem rumo da economia Queda de novos negócios Não é apenas o número de empresas fechadas que preocupa. O número de aberturas de novos negócios caiu nos primeiros meses deste ano. Enquanto em janeiro e fevereiro, 1.317 empresas iniciaram as atividades no Estado em 2014, no mesmo período deste ano, a abertura foi de 1.239, ou seja, foram constituídas 78 empresas a menos. De acordo com o diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cariacica e da Serra, Samuel Valle, esse é o quadro mais preocupante. “Há ciclos naturais de fechamentos de empresas. O grande problema é quando empresas deixam de abrir sedes ou novas unidades”, disse. Redes de lojas e supermercados, segundo ele, desistiram de abrir lojas que estavam previstas para este ano. “O plano de expansão de muitas empresas minguaram”, contou. O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Marcos Guerra, explicou que a redução nas aberturas de empresas do setor industrial decorre da desconfiança dos empresários quanto aos rumos da economia no País. “O índice de confiança do empreendedor industrial está muito baixo. Em fevereiro, o índice de confiança fechou em 42,2% no País. No Estado, ficou em 36,9%, porque os industriais não acreditam em melhorias, mas temem que a inadimplência vai aumentar. O ponto positivo é que o Estado será um dos que menos vai desempregar, devido aos novos investimentos”, disse. O efeito de crise econômica e o fraco crescimento da atividade econômica impacta a demanda por produtos e serviços, que sofrem redução. Em geral, todas as empresas enfrentam forte impacto da retração econômica, embora alguns setores mais que os outros. Setores de bens não necessários são os primeiros abalados em tempos difíceis, porque o consumidor deixa de consumir aquilo que pode cortar do orçamento. Por isso, empresas que fornecem alimentos básicos e educação são menos afetados do que itens como vestuário e produtos sofisticados. Por outro lado, há empresas preparadas e com as contas enxutas, propícias a aguentarem e ultrapassarem a crise. Já aquelas que eram lucrativas, mas com gestões ruins, são propensas a encerrar as atividades. É algo natural da economia, em épocas de crise, restam apenas as boas empresas. O resultado da mortalidade das empresas é o desemprego em alta, uma vez que diminui ainda mais o ritmo da atividade econômica.