XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL ESPÉCIES DE PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DE MAMANGUAPE, PB: RECURSO DE DOMÍNIO MATA ATLÂNTICA X TRADIÇÃO, USO E COMERCIALIZAÇÃO. Márcia Virginia da Silva Gomes- Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rio Tinto, PB. [email protected] Mayara de Sousa Dantas- Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rio Tinto, PB. Nadjacleia Vilar Almeida- Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rio Tinto, PB. Milena Dutra da Silva- Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rio Tinto, PB. PPPGAU/UFPB. INTRODUÇÃO Etnobotânica refere-se ao entendimento e a relação da população humana com as plantas. Essa relação data de tempos antigos e vem perpetuando até hoje devido às interações evolutivas, simbólicas e culturais das plantas, tendo elas sua utilização no meio tradicional e para fins conservacionistas (Krvel & Peixoto, 2004 apud Pereira et al., 2011). São consideradas plantas medicinais aquelas que apresentam em sua característica fisiológica a produção e/ou armazenamento de metabólitos secundários que desencadeiam uma melhora nas funções biológicas dos seres humanos, exercendo ação farmacológica. As plantas podem ser utilizadas diretamente no tratamento do paciente, como fonte de matéria-prima para extração de substâncias medicinais, para a manipulação de medicamentos, efetuadas, também, em escala industrial, para obtenção dos princípios ativos com fins de tratamento de diversas doenças. Como apontado em diversos estudos, apesar da evolução e de novos métodos na medicina tradicional para cura de doenças, boa parte da população, devido sua situação, financeira dependem da utilização das plantas medicinais para seus tratamentos. A aquisição dessas plantas pode-se dá por extração/coleta em remanescentes vegetais, plantio em quintais e jardins. No Brasil, as plantas medicinais são comercializadas livremente em comércios populares como “mercados e feiras livres”, mas também podem ser encontradas em farmácias (Nascimento, 2005). OBJETIVO O presente trabalho tem como objetivo analisar a diversidade de plantas medicinais comercializadas no mercado público do Município de Mamanguape-Pb. METODOLOGIA Foi selecionada como área de estudo a feira livre da cidade de Mamanguape- PB, na região Litoral Norte da Paraíba, a 62 km da capital João Pessoa. Mamanguape possui área equivalente a 349 km2 e 42.537 habitantes. A vegetação predominante no município corresponde à mata atlântica. Com fins de conhecer a diversidade de plantas comercializadas na feira livre, foi realizada observação in situ e adquiridas amostras para confirmação/identificação taxonômica. Foram selecionados os boxes que apresentaram maior diversidade de espécies de plantas comercializadas, quando comparados aos demais. Posteriormente, foram levantadas informações referentes às espécies mais utilizadas (compradas e/ou procuradas) pela população frequentadora da feira, a saber: Qual a procedência dessas plantas (endemismo)? E, qual a logística para que elas cheguem até o momento de comercialização? RESULTADOS Entre as plantas medicinais mais comercializadas na feira livre do município de Mamanguape–PB destacam-se treze espécies: boldo-do-chile (Peumus boldus), erva-doce (Pimpinella anisum), erva-cidreira ( Melissa officinalis), alecrim (Rosmarinus officinalis), camomila (Matriaria recutita), cravo-da-índia (Syzygium aromaticum), cebola 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL branca (allium cepa), Anis Estrelado (Illicum verum) , Oiticica (Licania rigida – endêmica da caatinga) , cajueiro roxo (Anacardium occidentale), Gengibre (Zingiber officinale) , romã (Punica granatum) e Girassol (Helianthus annuus). Ressaltamos que a maioria dessas espécies não é endêmica do domínio mata atlântica. Essas plantas disponibilizadas através de fornecedores que as repassam para os comerciantes/raizeiros. DISCUSSÃO As espécies medicinais aqui citadas são, também, apontadas em outros estudos como as mais comercializadas em outras localidades. Freitas et al. (2012), aponta a erva-doce, a camomila e o cravo-da-índia entre as variedades de espécies medicinais mais vendidas em São Miguel-RN (município de porte semelhante a Mamanguape). O baixo endemismo entre as espécies medicinais comercializadas também é um aspecto diagnosticado por outros autores, como Azevedo (2006). A explicação para esse resultado reside na grande influência europeia exercida na utilização das plantas medicinais pela população brasileira. CONCLUSÃO A lista das plantas medicinais mais comercializadas na feira livre do município de Mamanguape-PB sugere a continuidade de práticas de uso de plantas medicinais que dá preferência às plantas exóticas em detrimento das espécies endêmicas da mata atlântica. Constitui-se, dessa forma, uma grande barreira cultural para o (re)conhecimento das potencialidades medicinais de plantas endêmicas do tipo de vegetação no qual o município está inserido, a mata atlântica. Ressaltamos que a pouca identidade cultural e o não reconhecimento das potencialidades de um remanescente vegetal fragilizam as ações de preservação e uso sustentável. O comerciante/raizeiro atuante apenas na venda da planta e alheio a sua aquisição (endemismo/extração/coleta), configura em um cenário preocupante que retrata uma ação focada apenas no princípio ativo das plantas, aparentemente despreocupado com as significâncias ambientais, ecológicas e sustentáveis implícitas nas suas indicações de que planta utilizar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, J. A. et al.: Estudo Etnobotânico de Espécies Medicinais em Gaspar Alto Central, SC. NASCIMENTO, J. E. et al. (2004): Produtos à Base de Plantas Medicinais Comercializadas em Pernambuco Nordeste do Brasil, Recife- PE. AZEVEDO,V. M. et al. ( 2006) : Plantas medicinais e ritualísticas vendidas em feiras livres no Município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Estudo de caso nas zonas Norte e Sul. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. FREITAS A, V, L et al (2012) Os raizeiros e a comercialização de plantas medicinais em São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Jun. 2012. 2