Prevenção de Infecção de Corrente Sanguínea Associada à Cateter Maria AparecidaTeixeira Instituto de Cardiologia do DF www.paulomargotto.com.br Introdução • Infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) – 7% a 24% dos pacientes admitidos em UTI neonatal; – Tempo de permanência; – Custo hospitalar; – Risco de dano neurológico; – Mortalidade. Clin Perinatol 36, 2009. 1-13 Introdução • Infecção de corrente sanguínea – 55% – Cateter venoso central • Cocos gram positivos 70% - 80% • Bacilos gram negativos 18% • Fungos 15% • Pneumonia – Ventilação mecânica – 30% J Hosp Infect 2008;68(4):293-300 Introdução • Publicações e diretrizes – Foco nos dispositivos e infecções relacionadas ao seu uso – Prevenção é possível Am J Infect Control 2007;35(5):290-301 Infecção de corrente sanguínea associada à cateter • CVC – Fator de risco dos mais importantes; – NHSN: 4.4 a 6.4 por 1000 dias de CVC < 1000g Pediatrics 2002;110(2 Pt 1):285-91 Am J Infect Control 2007;35(3):177-82 Am J Infect Control 2007;35(5):290-301 Infecção de corrente sanguínea associada à cateter • Definição (CDC) – Hemocultura positiva para patógeno reconhecido ou – Hemoculturas, pelo menos 2, positivas para patógeno contaminante de pele; – Um ou mais sinais clínicos de infecção; – Presença de cateter intravascular quando do diagnóstico de ICS; – Nenhum outro sítio primário de infecção documentado. Infecção de corrente sanguínea associada à cateter • Taxa superestimada pela definição • Ferramenta prática e eficaz para monitorar a incidência das ICS em UTI • Infecção associada x relacionada – Envio de ponta ou hub para cultura; – Colonização com mesmo microrganismo recuperado no sangue. Patogênese • Extraluminal – ICS em adultos com CVC de curta permanência – Momento da inserção – Primeira semana de manutenção (mobilidade) – Microrganismos da pele avançam por capilaridade – Liberação dos patógenos a partir do biofilme Patogênese http://www.hemosonic.com/products/pressurecvc/assets/images/5SourcesCRBSI.jpg Patogênese • Intraluminal – Colonização e posterior manipulação do hub – Permanência prolongada do dispositivo (UTI neonatal > 7 dias) – Contaminação do líquido a infundido Patogênese http://www.hemosonic.com/products/pressurecvc/assets/images/5SourcesCRBSI.jpg Prevenção • Abordagem multifacetada pela origem variável da infecção • Guidelines (CDC 2002) • Bundles (IHI) • Vigilância constante • Educação continuada • Time de inserção e cuidado de cateter treinado • Estratégias para prevenir contaminação extra e intraluminal Prevenção • Vigilância – CDC e Joint Comission: monitorização contínua da incidência de ICS associada à cateter (1000 CVC dia) – Detecção precoce de mudanças nos indicadores – Programa de qualidade + vigilância = melhores resultados – Comparação de indicadores com dados nacionais Prevenção • Contaminação extraluminal – Higienização das mãos • Cocos gram positivos – Inserção do cateter de forma asséptica • Máxima proteção de barreira • Clorexidina 0.5% > 2 meses – Curativo adequadamente aplicado e trocado a intervalos regulares Prevenção • Contaminação intraluminal – Manejo criterioso do hub – Entrada diária de medicação pelo hub deve ser limitada – Sistema fechado de administração de medicação – Desinfecção do injetor lateral por 10 segundos antes de administrar medicações – Via exclusiva para emulsões lipídicas e nutrição parenteral – Remoção do dispositivo Prevenção • Lock com antimicrobiano – Eficácia tem sido demonstrada em população pediátrica – Vancomicina (25µg/mL)-heparina 2x/dia por 10 ou 20 minutos – Estudo com 191 neonatos e 288 controles históricos • Grupo da vancomicina teve menos ICS por coco gram + • 7% x 13%, (odds ratio = 0.61, IC: 0.33-1.1) Pediatr Res 2004;55:392A Prevenção • Lock com antimicrobiano – Ácido fusídico (4mg/mL)-heparina mostrou eficácia na prevenção de ICS (6.6 x 24.9 ICS por 1000 cateter-dia; P<0.01) – Mais dados são necessários antes de tornar rotina – CDC desencoraja pelo risco de MDR – ICS: índices altos a despeito de adesão às recomendações - considerar Campanha das 5 milhões de vidas Prevenção de Infecção Relacionada a Cateterismo Vascular Central Institute for Healthcare Improvement www.ihi.org Em primeiro lugar: NÃO CAUSE DANOS! • Objetivo – Prevenir infecções de corrente sanguínea relacionadas a cateter central através da implantação de 5 componentes chamados “BUNDLES DE CATETER CENTRAL”. • Definindo o problema I – Infecções de corrente sanguínea primárias relacionadas ao uso de cateter são aquelas nas quais o sítio específico ou é confirmado laboratorialmente através de hemocultura,ou clinicamente pelo reconhecimento de sepse. • Definindo o problema II – Linha ou cateter central é aquele cuja ponta termina num grande vaso. (NHSN Manual: Patient Safety Component Protocols). – Grandes vasos: aorta, artéria pulmonar, veia cava superior, veias braquiocefálicas, veias jugulares internas, veias subclávias, veias ilíacas internas e veias femorais comuns, artéria e veia umbilicais. • Por que prevenir as infecções primárias de corrente sanguínea I – Linhas centrais rompem a integridade da pele, tornando possíveis infecções bacterianas e fúngicas; – Pode haver disseminação hematogênica da infecção, levando a disfunção orgânica e morte; – Aproximadamente 90% das ICS ocorrem com linhas centrais. Mermel La. Ann Intern Med. 2000; 132(5):391-402. • Por que prevenir as infecções primárias de corrente sanguínea II – 48% dos pacientes de UTI têm linhas centrais, resultando 15 milhões de CVC-dia ao ano; – Aproximadamente 5.3 ICS-C ocorrem a cada 1,000 dias de uso de cateter em UTIs; – A letalidade atribuída a estas ICS-C é aproximadamente 18%, ou 28,000 mortes/ano. JAMA. 1994;271:1598-1601. AHRQ evidence report, 43, julho 20, 2001. Crit Care Med. 2004;32:2014-2020. • Por que prevenir as infecções primárias de corrente sanguínea III – ICS-C prolongam hospitalização em uma média de 7 dias; – Custo atribuído é estimado entre $3,700 e $29,000. Infect Control Hosp Epidemiol. 1999;20(6):396-401. • O “BUNDLE” de cateter central – É um grupo de intervenções baseadas em evidência para pacientes com cateter central que, quando adotadas JUNTAS, resultam em melhores resultados que quando adotadas INDIVIDUALMENTE; – A ciência que embasa cada uma das medidas é suficientemente estabelecida para se considerada PADRÃO DE ASSISTÊNCIA. • Os componentes CHAVE do “BUNDLE” de cateter central: http://www.stanford.edu/class/humbio103/ParaSites2004/Dientamoeba/hand%20washing.jpg • Os componentes CHAVE do “BUNDLE” de cateter central: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20tour/hipertextos/up1/Imagens_2/higpessoal_paramentacao.jpg http://www.embolution.com.br/img/tratamento/fi_vertebro-05.jpg • Os componentes CHAVE do “BUNDLE” de cateter central: http://www.dkimages.com/discover/previews/854/5008230.JPG • Os componentes CHAVE do “BUNDLE” de cateter central: http://www.medcenter.com/Medscape/uploadedImages/Content/Article/01.gif • Os componentes CHAVE do “BUNDLE” de cateter central: http://www.gte.org.br/images/foto_medico_uti.jpg • Importante! – Os “BUNDLES” não pretendem esgotar todos os elementos de cuidados para com as linhas centrais; – É UM TRABALHO EM EQUIPE; – Os testes iniciais com o “BUNDLE” partem de UTIs, mas podem e devem ser disseminados para todas as áreas onde cateteres são inseridos. • Após adoção das medidas, CHECAGEM! – A adesão às medidas do “BUNDLE” pode ser medidas através de simples verificação de cada item. CHECK LIST DE PROCEDIMENTO DE ACESSO VENOSO OU ARTERIAL Indicação: Documentar todas as práticas de procedimentos técnicos de inserção de linha arterial e venosa na unidade em questão, referente aos cateteres: cateter venoso central, cateter de diálise, cateter arterial, cateter central de inserção periférica (PICC). Tipo de cateter Cateter arterial Acesso venoso central mono-lúmem Acesso venoso central duplo-lúmem Cateter de Diálise PICC Acesso para monitorização hemodinâmica invasiva Balão intra-aórtico Local Localização: ______________________ Localização: ______________________ Localização: ______________________ Localização: ______________________ Localização: ______________________ Localização: ______________________ Localização: ______________________ É um novo acesso venoso/arterial: SIM NÃO Este é um procedimento: Eletivo Urgente Troca de cateter na mesma posição Troca de cateter em outra posição Re-posicionamento de um mesmo cateter Checklist de Procedimento Prática de Segurança SIM SIM (APÓS LEMBRANÇA) NÃO Antes do procedimento, o realizador: Anuncie ao paciente qual procedimento será realizado e quando Escolha o local de acesso Posicione o paciente de forma correta Selecione o material e verifique se tudo está no local Guarde os documentos e formulários do material para cobrança Lavagem das mãos com escovação?(Perguntar se não tiver certeza) Preparação do local de procedimento com solução a base de clorixidine? *30 sec para locais seco e limpos; **2 min para locais contaminados e umidos (exp. acesso femoral) Use grande campo estéril para cobrir ao máximo o paciente Faça uma pausa antes do procedimento e veja: Identifique o paciente 2x • Higienização das mãos: momentos apropriados I – Antes e depois de palpar o sítio de inserção; – Antes e após inserção, reposicionamento, manipulação, reparo, ou troca de curativo; – Quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou sob suspeita de contaminação. • Higienização das mãos: momentos apropriados II – Antes e após procedimentos invasivos; – Entre pacientes; – Antes de calçar e após remover luvas; – Após usar toalete. • Recursos para melhoria da higienização das mãos I – Estimular e dar autonomia à enfermeira para aplicar lista de checagem para o procedimento relacionado ao cateter central; – Incluir a higienização das mãos como item na lista de checagem da passagem de cateter; – Manter sabão e preparado alcoólico disponíveis. • Recursos para melhoria da higienização das mãos II – Instalar memorandos nas entradas e saídas dos leitos; – Iniciar campanha usando pôsteres incluindo fotos de funcionários do hospital higienizando as mãos; – Criar ambiente onde relembrar a higienização das mãos seja encorajado. • Precaução máxima de barreira – Mudança chave para a redução na probabilidade de infecções relacionadas a CVC; – Engloba: total adesão do realizador e assistente à higiene das mãos e paramentação completa e rigorosa e para o paciente campo ampliado. • Recursos para a adesão às precauções máximas – Dar autonomia a enfermeira para o uso da lista de checagem; – Incluir barreira máxima como ponto da lista de checagem; – Manter material necessário à mão; – Se campo grande não for disponível, utilizar dois campos para cobrir o paciente. • Sucesso das intervenções – Mudança de pensamento + regularidade na adoção das medidas Autor/Data Desenho Cateter OR p/ infecção c/s BM Mermel 1991 Prospectivo Seccional Swan Ganz 2.2 (p<0.03) Raad 1994 Prospectivo Randomizado Central 6.3 (p<0.03) Am J Med. 1991;91(3B):197S-205S Infect Control Hosp Epidemiol. 1994;15. • Antissepsia da pele com clorexidina – Clorexidina provou ser superior a outros componentes, como o iodo; Lancet. 1991 Ago 10;338(8763):339-343. – A técnica: • Preparar a pele com clorexidina antisséptica/degermante 2% e remover; • Friccionar a solução alcoólica por, pelo menos, 30 segundos e deixar secar espontaneamente e completamente antes de puncionar (+/- 2 min). • Recursos para a adesão a antissepsia correta – Dar autonomia a enfermeira para o uso da lista de checagem; – Incluir antissepsia com clorexidina como ponto da lista de checagem; – Assegurar que a solução seque espontanea e completamente antes da punção. • Adequada seleção do local de passagem do cateter, evitando veia femoral nos adultos – Em situações onde o controle da passagem e manutenção das linhas centrais é cuidadosa, a escolha do local parece menos importante; – Nos ambientes menos controlados, entretanto, o sítio de inserção é fator de risco para infecção; – O ponto central na seleção é pesar RISCO X BENEFÍCIO sobre qual veia é melhor. • Recursos para melhorar o resultado – Dar autonomia a enfermeira para o uso da lista de checagem; – Incluir seleção do local como parte da lista de checagem com local próprio para anotar contra-indicações apropriadas, ex: risco de sangramento. • Revisão diária da necessidade de manutenção do cateter com pronta remoção das linhas desnecessárias – Demoras desnecessárias ocorrem por esquecimento ou comodidade; – O risco aumenta com o tempo de permanência; – Troca de cateter de rotina não se justifica para dispositivos bem funcionantes e sem evidência de complicações locais ou sistêmicas. • Mudanças para melhoria dos resultados – Incluir a revisão diária da necessidade do cateter como parte da visita multidisciplinar; – Apontar o dia de cateter durante a visita para relembrar a todos há quanto tempo o cateter está ali: “hoje é o dia 6.” – Inclua avaliação para remoção do cateter como parte da sua lista de tarefas. • Formando o time I – Abordagem multidisciplinar do paciente em UTI; – Times de melhoria: heterogêneos no “como fazer”, mas homogêneos na mentalidade; – Enfermeiros e médicos; – Definir prazos para resolução dos problemas; – Utilizar os bons exemplos da Instituição; – Trabalhar com quem interessados. • Formando o time II – O time necessita encorajamento e comprometimento de uma autoridade da UTI; – Revisitar os processos quando necessário; • Mensuração – Única forma de saber o quanto uma mudança representa melhoria. – Mensurações de interesse para infecção de corrente sanguínea relacionada a CVC: • ICS-CVC por 1000 dias de CVC; – Total de ICS-CVC X 1000 Total de dias de CVC • Adesão ao BUNDLE de CVC – Total de itens em conformidade Total de CVC no dia da avaliação (%) • Barreiras a serem enfrentadas – Medo da mudança • Toda mudança é difícil, mas o antídoto do medo é o conhecimento das deficiências do presente e otimismo com relação aos novos processos; – Falha de comunicação • Informação dos formadores de opinião sobre a importância do cuidado com o dispositivo; • Multiplicação da informação. Obrigada!