Companhia de Gás de São Paulo
Autora:Tatiana Helena Marques
Orientadora: Profa. Ms. Ana Maria Santiago Jorge de Mello
Mestre em Administração de Empresas
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Introdução:
A Comgás, considerada a melhor empresa de distribuição de gás canalizado do
Brasil vêm crescendo constantemente, aumentando o número de clientes e principalmente a
extensão da rede de distribuição, que já chega a diversas cidades antes não atingidas.
Entretanto, todo esse desenvolvimento é acompanhado por um problema, este que prejudica o
fluxo de caixa da empresa. Como resolver este problema, que está relacionado com os
clientes, que afeta negativamente o fluxo de caixa ? Caso da Comgás – Companhia de Gás
de São Paulo.
A Empresa:
A história da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) começou oficialmente
em 28 de agosto de 1872, quando a companhia inglesa San Paulo Gas Company recebeu a
autorização do Império por meio do decreto nº 5071. O documento permitiu o início do
funcionamento da empresa, que tinha como objetivo explorar a concessão dos serviços
públicos de iluminação de São Paulo.
A primeira mudança no controle da empresa aconteceu em 1912, quando a canadense
Light assumiu o controle acionário da San Paulo Gas Co. Ltda. Em 1959 a empresa foi
nacionalizada, passando a se chamar Companhia Paulista de Serviços de Gás.
Em 1968 o controle da empresa passou a ser do município e recebeu finalmente o
nome de Comgás. Por meio da lei municipal nº 7199 foi constituída a sociedade anônima
Companhia Municipal de Gás (Comgás). Em 1974 ocorreu uma nova mudança do nome para
Companhia de Gás de São Paulo.
Dez anos depois, 1984, a Companhia Energética de São Paulo (CESP), entidade de
administração indireta do Estado de São Paulo, assumiu o controle acionário da Companhia
de Gás de São Paulo – Comgás. Posteriormente a empresa assinou um contrato com a
Petrobrás para a distribuição de 3 milhões m³/dia de gás natural proveniente da Bacia de
Campos.
Em 1991 o Ministério da Infra-Estrutura autorizou a utilização de gás natural para fins
automotivos - GNV, restrito às frotas de ônibus urbanos e interurbanos, às frotas cativas de
serviços públicos e aos veículos de transporte de cargas,o que aumentou o horizontede
trabalho da empresa.
Em 14 de abril de 1999 a Comgás foi privatizada por R$ 1,65 bilhão, representando
um ágio de 119,23%, e passou a ser regulada pela Comissão de Serviços Públicos de EnergiaCSPE, órgão do Governo Estadual paulista. A Companhia tem como principais acionistas o
Grupo BG (British Gás), que detém 73% de seu capital votante, e o Grupo Shell, com 23%.
As ações da Comgás – ordinárias e preferenciais – são negociadas na Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa).
A Comgás iniciou uma nova fase da sua história em 31 de maio de 1999, quando foi
assinado, no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, o contrato de concessão para
distribuição de gás natural na região metropolitana de São Paulo, Vale do Paraíba, Baixada
Santista e Campinas (nesta área há 177 municípios que, juntos, concentram 38% do Produto
Interno Bruto do país). As novas controladoras da Comgás - a BG International (mais
conhecida como British Gas) e a Shell -, terão contrato válido até 2029.
Hoje, maior distribuidora de gás natural canalizado do país, conta com 4 mil
quilômetros de rede espalhados por 50 municípios do Estado. Atingindo mais de 460 mil
consumidores divididos nos segmentos residencial, comercial e industrial, a empresa
apresentou faturamento de R$ 2,6 bilhões em 2004.
Nos primeiros cinco anos de privatização (de 1999 a 2004), os novos controladores, o
Grupo BG e a Shell, investiram cerca de R$ 1 bilhão para ampliação e modernização das
redes de distribuição. A rede foi ampliada em 1.400 km no período, passando de 2.400 km de
rede para 3.800km. O volume de vendas da companhia mais que triplicou nos últimos 5 anos,
passando de 3,2 milhões de m3 e para 11,5 milhões de m3/dia. O número de cidades atendidas
pelo gás natural, na área de concessão da Comgás, passou de 17 para 50.
A expansão da Comgás acontece tanto na área residencial e comercial, quanto no setor
industrial. Além de aumentar o acesso ao gás natural entre os consumidores residenciais, a
empresa incentiva seu uso para outros fins além do fogão. Por exemplo, no aquecimento de
água. Na área industrial, a Comgás pretende difundir o uso do gás natural como uma opção
energética mais barata e ambientalmente mais atrativa do que outros combustíveis como o
óleo diesel e o GLP (gás de botijão).
Na sua longa trajetória, a companhia usou os mais diversos tipos de combinações para
produzir combustíveis, de azeite a gás de hidrogênio carbonado, carvão, nafta, uma mistura
envolvendo água e hulha, até chegar ao gás natural, o combustível ecológico do século 21. A
implantação do gás natural, último ciclo de uma programação iniciada no final da década de
1980, foi considerada a fase mais importante de toda a história da Comgás, que esteve
presente na vida de São Paulo desde a extinção dos lampiões a azeite de baleia.
A meta da nova administração é expandir a companhia e torná-la a maior distribuidora
de gás natural da América Latina, tendo como base à qualidade, a segurança e o respeito pelo
meio ambiente.
Desde a privatização, vem disseminando a cultura do uso do gás natural como um
recurso
energético
seguro
e ambientalmente correto,
em indústrias,
residências,
estabelecimentos comerciais e postos de combustível. O setor industrial responde por cerca de
79% do volume negociado e o GNV tem participação em torno de 9%.
Cerca de 34% do mercado potencial da Comgás é hoje atendido por outros derivados
de petróleo. A troca pelo gás natural, no caso de indústrias que utilizam predominantemente
óleos combustíveis, está fundamentada em razões de ordem técnica, econômica e ambiental.
O volume de gás canalizado distribuído pela Comgás teve crescimento anual médio de 26,8%
de 2000 a 2003.
Situação Problema:
Como demonstrado acima, a empresa vem crescendo constantemente nos
últimos anos e, com isso, tem acrescentado muitos clientes a sua carteira. Do ano de 2000
para 2004, o segmento Industrial expandiu cerca de 100%, tendo uma grande contribuição das
cidades localizadas no interior de São Paulo.
As Demonstrações Financeiras apresentaram de 2003 para 2004, um aumento de
134% do Lucro Líquido do Exercício, o que confirma o seu desenvolvimento. Entretanto, o
valor das Contas a Receber é representativo e de acordo com o Balanço Patrimonial
2003/2004 o valor cresceu cerca de 18%. Isto se deve, principalmente ao aumento do número
de clientes devedores. Apesar da Comgás apresentar melhoras contínuas em seus resultados
nos últimos anos, o crescimento das Contas a Receber segue sendo um assunto a ser
observado com cautela, já que pode ser prejudicial para a Comgás.
A situação de inadimplência afeta negativamente o caixa e os resultados da empresa,
principalmente pelo fato de o número de clientes devedores ser grande e o volume em moeda,
maior ainda, em torno de milhões. Os devedores surgem de todos os setores da companhia –
industrial, comercial e gnv – que apresentam separadamente, problemas que dificultam a
diminuição do valor devido e de soluções a serem tomadas.
A regulação imposta a Comgás pela Comissão de Serviços Públicos de Energia
(CSPE), em relação às normas, regras e obrigações que a empresa precisa seguir, é um dos
fatores que contribuem para a dificuldade da diminuição do número de consumidores
devedores. Dentre todas estas normas impostas, a que “atrapalha” os negócios, seria aquela
em que Comgás não pode negar gás natural a ninguém, nenhuma indústria, residência ou
ponto comercial, mesmo que se comprovado (relatório Serasa) que esse possível cliente é
inadimplente no mercado e que não conseguirá arcar com as suas obrigações como
clientes/consumidores.
Como exemplo dessa situação, tem-se a empresa Beta I S/A, que entrou com um
processo contra a Comgás reivindicando a sua aceitação como cliente, já que a companhia
negava aceitá-la diante do seu histórico de grande inadimplência apresentado pelo relatório do
Serasa. Devido ao artigo da Portaria 160 da CSPE que dita a impossibilidade de negar gás
natural, após um longo período de processo a empresa venceu o caso. E assim que passou a
ser considerada como cliente, também apareceu no relatório de clientes devedores.
O grande comércio que compreende, hospitais, órgãos públicos em geral, shoppings
centers, hotéis e etc, é outro setor que colabora para a situação negativa das Contas a Receber,
já que alguns destes clientes apresentam uma inadimplência significativa.
Por último, tem-se o setor de gás natural veicular, onde muitos postos deixam de pagar
as suas contas no mês devido e apenas cumprem com suas responsabilidades para com a
empresa um, dois ou três meses depois do vencimento. O dinheiro que seria utilizado para a
conta de gás pelos postos, geralmente é utilizado em outras prestações que possuem juros
maiores que os da Comgás.
Ciente do impacto representado pelo aumento das Contas a Receber, a Comgás adota
práticas contábeis condizentes com a evolução desse problema, sempre buscando a máxima
transparência e o alinhamento com as melhores práticas de governança corporativa. Para
tanto, a provisão para devedores duvidosos existente no Balanço da empresa é constituída em
montante suficiente para cobrir perdas estimadas na realização de créditos a receber.
Existem também, maneiras para se cobrar às dívidas existentes. Na empresa duas
alternativas são consideradas: -colocar as cobranças na área jurídica para que os advogados
tomem as providências cabíveis ou; -fazer uma cobrança administrativa, ou seja, cobrar as
contas por meio de cobrança terceirizada. Então, se estas ações não forem suficientes para o
recebimento da conta de gás, a Comgás realiza o desligamento, desativação da empresa, até a
efetuação do pagamento.
Há uma exceção quanto a essa execução final em relação aos hospitais, em que o
desligamento não é feito, simplesmente por uma questão comercial e política da organização,
que precisa levar em consideração o impacto no atendimento, ou seja, o fato de trabalharem
com a “manutenção de vidas”.
Entretanto, o problema relacionado com os clientes devedores ainda não tem solução,
uma vez que mesmo diante das ações de cobrança e de desligamento, o recebimento é difícil.
E mesmo que o tópico das Contas a Receber do Balanço Patrimonial comece a partir de agora
a diminuir, os valores devidos anteriormente continuarão em aberto e a Comgás terá que se
responsabilizar absolutamente sozinha, pelas perdas ocorridas. Diante da situação, qual
estratégia deveria ser adotada pela Comgás para tentar reduzir o número de clientes
devedores, a inadimplência, e o seu impacto direto no fluxo de caixa?
Nota de Ensino
A matéria de Contabilidade enfoca as contas a receber e as contas a pagar da empresa
e com isso, possibilita a análise de seus impactos no Balanço Patrimonial e no demais
Demonstrativos.
O Planejamento e Controle Financeiro analisa as entradas e saídas de dinheiro da
empresa e o seu montante, entendendo-se que a relação ocorre diretamente com o fluxo de
caixa da organização.
A matéria de Direito relaciona-se com as cobranças de gás, realizadas pela área
jurídica, já que esta atividade envolve leis, normas e procedimentos a serem seguidos.
A disciplina do Comportamento do Consumidor, uma especialidade do marketing,
ajuda a empresa a estudar, entender e compreender as atitudes e comportamentos dos clientes
e com isso tentar prever situações, buscando melhorar o relacionamento entre as partes.
Questões
1. Como a empresa poderia diminuir o valor das Contas a Receber?
2. O departamento jurídico poderia atuar de maneira diferente para conseguir receber dos
clientes devedores?
3. A cobrança terceirizada seria uma alternativa eficiente?
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