Publicidade, Compromisso e Consumismo Hoje em dia, uma das palavras mais usadas e estimuladas pela mídia é “consumir”. O que podemos entender por consumir? Os primeiros significados que nos vem à mente é: comprar, satisfazer, ter, gastar sem pensar, esbanjar. E essa mensagem subliminar vem carregada de positividade, ou seja, você merece, você pode, vai se sentir a pessoa mais feliz do mundo, use seu cartão, não se preocupe, você irá ficar linda, foi feito para você. Pensando assim, as pessoas, frente a promoções tentadoras, esquecem seus problemas, seus compromissos porque o desejo de felicidade e liberdade é muito forte em nós e, se tenho essa oportunidade assim tão fácil ao meu alcance, porque não me jogar por inteiro? Essa atitude impensada tem levado pessoas e até famílias inteiras a situações de comprometimento sério do seu orçamento, pois o impulso leva a um prazer momentâneo só que, a fatura vai chegar e nessa hora é que se dará conta do que se fez, inclusive que, não raro, foi comprado um produto sem nenhuma necessidade e outras vezes, que nem se gostou muito quando chegou em casa e provou – algumas pessoas compram sem provar – e só então constataram que aquele “modelito” não é para seu tipo físico ou que aquele armário lindo, naquele espaço enorme da loja agora no seu quarto não dá nem par abrir a porta. São atitudes que são tomadas frente a vendedores habilidosos ou a outras pessoas que ficam por perto dizendo: “Nossa, ficou lindo!”, e que você, numa necessidade de autoestima e de satisfação resolve concordar e assim fecha o negócio. Agora imagine, essa mesma pessoa inda às compras com uma criança. Que leitura essa criança irá perceber sobre o comportamento de comprar considerando que, a criança não sabe o valor do dinheiro, não entende de faturas e está ao lado de alguém que a estimula a comprar tudo o que vê. Isso agrava ainda mais quando o ato de comprar vem estigmatizado pelo melhor, ou seja, é preciso ter marca, é preciso ser caro para ser bom, é preciso ter igual ao dos seus amiguinhos. O que dizer então, quando crianças são estimuladas a comer lanches e alimentos prontos, como sendo uma forma rápida de satisfazer a inquietude e a energia delas? Para que “fiquem quietos”, muitas mães disponibilizam uma quantidade enorme de doces e guloseimas postadas à frente de uma TV - nem sempre com programação adequada- garantido com um alto nível de ansiedade nessas crianças, que, cada vez mais, vão precisar de um doce novo para garantir a comodidade. Outras vezes, o consumismo infantil ocorre até por atenção demasiada, onde pais querem agradar de todas as formas e usam do consumo de presentinhos como forma de garantir a satisfação a seus filhos e, nessa hora, a Publicidade vem encantar os olhinhos dos pequenos e seduzir aos pais na hora da compra, sem contar também que o setor publicitário assedia as crianças para influenciar os adultos a comprarem produtos como: o carro da família, objetos de casa, eletroeletrônicos, viagens de férias, alimentos e até material escolar. Então, nesse momento percebemos que a palavra “consumir” também tem como significado “corroer”, “enfraquecer”, pois realmente corrói não só o orçamento mas também as relações que ficam fragilizadas na medida que só recebo um abraço quando levo algum produto ou brinquedo novo para casa, ficando evidente que, “se não trouxe nada não se lembrou de mim” ou ainda, “você só me ama se me der tudo o que eu quero”, e nesse sentido o estreitamento do significado do “cuidar” e “amar” se resume apenas a “ter” e “comprar”. Na esfera da formação de cidadãos responsáveis e comprometidos, esse consumismo infantil afetará o futuro das novas gerações não só quanto a desenvolver critérios, equilíbrio e valores, mas também nas políticas de segurança pública que, com o passar do tempo, essa criança se torna um adulto, o qual não mais irá se satisfazer com um doce mas irá querer valores maiores e para isso terá que garantir sua satisfação a qualquer preço, podendo assim ocorrer desvios de conduta – como sair e rouba e, em alguns casos, matar por um par de tênis ou em classes ricas, matar até mesmo toda a família para ficar com os bens. Em literatura infantil vemos que existem muitas maneiras de satisfazer uma criança que não seja só consumindo. Brincadeiras onde com utensílios de casa criamse personagens ou bichinhos, massinhas que criam fantasias, constroem-se castelos de areia, montam cidades inteiras com as mãozinhas no barro, juntando pedrinhas para fazer uma represa, plantando galhinhos como sendo árvores e tudo isso ainda incentivando – além da alegria em compartilhar do lúdico com a criança – o progresso, a inteligência, criatividade, cidadania e amor ao meio ambiente. Quanta coisa podemos inferir em nossas crianças. Acho melhor rever nossos conceitos, disponibilizar de tempo para com os pequenos e, certamente, estaremos formando pessoas felizes, conscientes e cidadãs. Luiza Gousen Texto disponível em : HTTP://www.recantodasletras.com.br/artigos/2656889