METODOLOGIA PARA DEFINIÇÃO DE UM SISTEMA CICLOVIÁRIO Pablo de Barros Cardoso Vânia Barcellos Gouvêa Campos Programa de Engenharia de Transportes – PGT Instituto Militar de Engenharia - IME RESUMO A dissertação tem como objetivo desenvolver uma metodologia para identificação e definição de rotas que possam integrar um sistema cicloviário visando promover a melhoria da mobilidade urbana nas cidades, incentivando o uso de bicicletas como meio de transporte nos deslocamentos efetuados entre residência x trabalho e residência x instituição de ensino. Para definição da metodologia estão sendo revisados métodos de avaliação de rotas cicláveis e desenvolvida uma pesquisa sobre as rotas e os hábitos dos ciclistas que utilizam a bicicleta com motivo trabalho ou estudo, identificando os critérios utilizados pelo usuário regular deste transporte na escolha da sua rota. 1. INTRODUÇÃO Nas grandes cidades no Brasil há sempre uma questão a ser respondida: como melhorar a qualidade dos deslocamentos diários da população, reduzindo o tempo total gasto e os impactos destes deslocamentos? Alguns estudos veem sendo elaborados com o objetivo de aperfeiçoar estes deslocamentos visando a mobilidade urbana sustentável. Diante desta perspectiva, é valioso estabelecer políticas, planos e diretrizes priorizando a circulação de pessoas por meios não motorizados e, quando as distâncias forem incompatíveis com a utilização de meios não motorizados, fomentar o uso dos transportes coletivos. Considera-se que o sucesso da mobilidade urbana sustentável está atrelada a políticas de incentivo a utilização de bicicletas, incluindo a implantação de facilidades para o ciclista. Dentro deste aspecto mais amplo, é importante identificar rotas mais eficientes, principalmente nas viagens casa-trabalho-casa, levando-se em conta alguns critérios qualitativos e o perfil de usuários de uma determinada região. Deve-se ainda destacar a integração entre as rotas cicláveis e os transportes coletivos, visando uma maior utilização do primeiro, sendo um fator de geração de melhoria na mobilidade urbana de forma sustentável. Para isto, faz-se necessário analisar estudos desenvolvidos para avaliação de sistemas cicloviários, identificando os fatores qualitativos e de infraestrutura que podem beneficiar o aumento da utilização deste meio de transporte. Também é importante observar, através de uma pesquisa de campo como os usuários regulares de bicicletas escolhem suas rotas. 2. OBJETIVO E MOTIVAÇÃO O objetivo principal deste trabalho é desenvolver uma metodologia para definição de um sistema cicloviário para grandes e médias cidades, através da identificação das principais características de rotas cicláveis associadas à infraestrutura, conforto, segurança e sinalização, levando em consideração o perfil dos usuários ciclistas, principalmente, em viagens pendulares. Entende-se como rotas cicláveis aquelas constituídas por segmentos viários que incluam, ciclovias, ciclofaixas ou vias compartilhadas com pedestres e/ou veículos. Considera-se que para definir estes sistemas, deve-se partir da identificação dos critérios que podem ser levados em consideração pelo usuário no momento de decidir qual rota ele irá percorrer para chegar ao seu destino, e assim, criar sistemas mais atrativos para utilização deste modo de transportes. Acredita-se que a cultura de utilização de bicicletas nas viagens ao trabalho, pode ser mudada, principalmente nas grandes cidades, se a cada dia mais pessoas se sentirem incentivadas a utilizar este modo de transporte, mas para isto é necessário que se implantem sistemas que sejam mais adequados aos ciclistas. 3. METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA Para atingir o objetivo proposto neste trabalho, a pesquisa será desenvolvida conforme descrito nas etapas a seguir: • • • • Etapa 1 – Revisão bibliográfica dos estudos, manuais e métodos de análises de rotas cicláveis; Etapa 2 – Revisão e estudos sobre elementos de infraestrutura em vias cicláveis compartilhadas e exclusivas, relacionados a pavimentação, sinalização, conforto e segurança;; Etapa 3 – Pesquisa de campo com usuários de rotas cicláveis, identificando os hábitos apresentados pelos participantes; Etapa 4 – Estruturação de uma metodologia para definição de um sistema cicloviário (rotas , ciclovias, ciclofaixas e vias cicláveis). 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Alguns estudos apresentam metodologias para cálculo do nível de serviço de rotas cicláveis. Nestes trabalhos são identificados diversos itens que devem fazer parte dos critérios de avaliação destas rotas. De acordo com Carter et al.(2006), as metodologias que são utilizadas para a avaliação do nível de serviços se dividem em duas categorias: as que utilizam os critérios de segurança para os ciclistas, destacando os níveis de riscos a que os ciclistas estão expostos nas vias urbanas e as que destacam as características das vias urbanas utilizadas pelos ciclistas, bem como as interseções, e que podem ser objetos de atratividade e compatibilidade para os usuários. De acordo com Epperson & Davis (1994), as condições das vias são itens essenciais na escolha das rotas cicláveis por parte dos ciclistas. Os autores levam em consideração os seguintes elementos na avaliação: volume médio diário de tráfego, número de faixas de tráfego , limites de velocidade de tráfego na via, largura de faixa, pavimento e fator de localização. Os fatores de pavimento considerados pelos autores são: rachaduras, remendos, desgaste pelo uso, buracos, acostamento irregular, cruzamento de ferrovia e grelhas de drenagem (bueiros). Para Dixon (1996), a atração das vias para utilização de bicicletas está associada a um grupo de itens que tornam viável a sua utilização pelos ciclistas. Os itens determinados por Dixon foram: existência de instalações de apoio para bicicletas, presença de barreiras que possam afetar o trânsito dos ciclistas na via, inexistência de estacionamento na lateral da via, existência de canteiros centrais, melhorias nas condições das interseções, diferença entre as velocidades médias dos usuários de bicicletas e dos usuários de veículos automotores, nível de serviço da via para veículos motorizados e existência de programas para melhorar o transporte por bicicletas. No estudo publicado por Landis et al. (1997), foram utilizados dados de uma pesquisa realizada com ciclistas do estado da Flórida, Estados Unidos para classificar as vias utilizadas. A classificação levava em consideração dois aspectos fundamentais: segurança e conforto. Os autores estabeleceram uma pontuação que variava de A (mais segura e confortável) até F (insegura e desconfortável). Para averiguar o grau de segurança e conforto, levavam em consideração alguns fatores importantes na avaliação dos dois quesitos: volume de tráfego em uma direção da via no período de 15 minutos, número total de faixas de rolamento em uma direção, limites de velocidades das vias para veículos automotores, percentual de veículos pesados definidos pelo HCM (Highway Capacity Manual), número de acesso não controlados de veículos automotores por milha, avaliação da condição de pavimentação da via, de acordo com o HPMS (sistema de monitoramento de desempenho de rodovia) e medição da largura média da faixa externa. Os estudos realizados por Shafer et al. (1999) partem para a descrição do nível geral de satisfação do usuário ciclista com a infraestrutura disponibilizada para utilização das bicicletas. Os autores consideram que existem três tipos diferentes de critérios de aptidão para o uso da bicicleta: nível de estresse para o usuário de bicicleta, um índice de condição ⁄ adequação de uma via baseado no nível de serviço e capacidade baseada em nível de serviço, adaptado das análises de capacidades comuns no HCM (High Capacity Manual) de 1994. Um dos estudos mais utilizados é o Highway Capacity Manual (TRB, 2000), pois este se tornou base para aqueles que estudam engenharia de tráfego. Este manual considera a interação entre pedestres e ciclistas, ou seja, as interseções onde ambos se encontrem e nas partes das vias em que haja ultrapassagem entre ciclistas, e a sinalização de trânsito disponível ao longo do percurso. Para análise destes dados são consideradas as vias utilizadas por bicicletas em todas as alternativas possíveis, exclusiva ou não. Para Vandenbulcke et al (2009), um dos grandes impedimentos para a utilização de bicicletas está no grau de urbanização das cidades, principalmente quando as bicicletas são usadas para cobrir distâncias pendulares. As condições de infraestrutura neste tipo de utilização (tais como estacionamentos para bicicletas vigiados , melhor sinalização e pavimentação nas vias) são fundamentais para o aumento do número de usuários ciclistas nas vias. De acordo com este autor e alguns outros, somente as pessoas que vivem perto dos seus locais de trabalho, em distâncias inferiores a 10 km, consideram usar a bicicleta como meio de transporte. Nas pesquisas realizadas por Vandenbulcke et al (2009), os usuários que tinha que enfrentar rotas com inclinação elevada ou com velocidade do vento muito acentuada preferiam apenas pedalar pequenas distâncias ou consideravam não utilizar a bicicleta para fazer o percurso. De acordo com Ehgott et al.(2011) uma metodologia de identificação de rotas cicláveis deve considerar as razões que fazem os ciclistas escolherem suas rotas. Parte-se da premissa que os motivos que levam a escolha de rota por parte de um ciclista são diferentes da rota escolhida por um motorista em seus carros particulares. Enquanto, em geral, os motoristas de carros escolhem sua rota focalizando apenas um objetivo (redução de custo generalizada, ou seja, o menor caminho com aquela que apresenta o menor desgaste e consumo do veículo), os ciclistas incluem outros parâmetros no processo de escolha das rotas a serem utilizadas: segurança, volume de tráfego, velocidade de tráfego, presença de ciclovia e se o terreno é plano ou com inclinação, entre outros fatores. 5. RESULTADOS ESPERADOS Com o crescimento cada vez mais acelerado dos centros urbanos, a pesquisa sobre novos conceitos que aumentem a utilização de formas alternativas de transportes nas cidades é de extrema importância. Diante disto, a criação de uma metodologia que auxilie os planejadores de transportes urbanos e os gestores municipais na definição de um sistema cicloviário mais adequado a população de usuários, pode contribuir para um aumento dos usuários e a se criar uma cultura de utilização da bicicleta como meio de transporte em viagens pendulares. Desta forma, espera-se, como resultado desta pesquisa definir critérios para escolha de rotas cicláveis como suporte a definição de um sistema cicloviário adequado e que incentive o uso deste modo de transportes nas grandes e médias cidades com real aplicação do conceito de mobilidade urbana sustentável . Para isto está sendo realizada uma revisão de métodos de análise de vias compartilhadas, ciclovias e ciclofaixas conforme apresentado em parte no item anterior e, paralelamente, está sendo realizada uma pesquisa com pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte nos deslocamentos entre residência-escola e residência-trabalho, identificando os critérios de escolhas das rotas diárias, assim como o perfil destes usuários. REFERÊNCIAS CARTER, L.; HUNTER, W.; ZEGEER, V.; STEWARD, R.; HUANG, F. “Pedestrian and Bicyclist Intersection Safety Indices.” Report No. FHWA- HRT-06-125. Federal Highway Administration, Washington, DC, November. 2006. DIXON, L. B. “Bicycle and Pedestrian Level-of-Service Performance Measures and Standards for Congestion Management Systems.” Transportation Research Record n.1538, p. 1- 9, 1996. .EHRGOTT, M. et al (2011) “A bi-objective cyclist route choice model.” Transportation Research Record, No. 46 Part A (2012), Transportation Research Board, Washington, DC. EPPERSON, B. (1994) “Evaluating suitability of roadways for bicycle use: toward a cycling level of service standard.” Transportation Research Record 1438, 9-16. LANDIS, B. W.; VATTIKUTI, V. R.; BRANNICK, M. T. “Real-time human perceptions: toward a bicycle level of service.” Transportation Research Record 1578, 119-126. 1997 SHAFFER, H. B., R. N. Fisher, and C. Davidson. “The role of natural history collections in documenting species declines.” Trends in Ecology and Evolution 13:27–30. 1998. TRB “Highway Capacity Manual”, Transportation Research Board, National Research Council, Washington, D.C., EUA. 1985-2000 VANDENBULCKE, G.; THOMAS, I. GEUS, De B.; DEGRAEUWE, B.; TORFS, R.; MEEUSEN, R. e PANIS, L.I. “Mapping bicycle use and the risk of accidents for commuters who cycle to workin Belgium”. Transport Policy, No.16, 77-87, Washington, DC. 2009. ____________________________________________________________________________________ Pablo de Barros Cardoso ([email protected]) Vânia Barcellos Gouvêa Campos ([email protected]) Subdivisão de Pós-Graduação, Mestrado em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ, BrasilInstituto