Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, 05 06 2009 mundo, na mídia diária ---------------------------------------------------------------------------------------------- Estado de S.Paulo 04 06 2009 ''Não vejo por que mudar a política'' Henrique Meirelles: presidente do Banco Central; Meirelles descarta a sugestão para a adoção de uma política que ora se voltaria para o controle da inflação, ora para o câmbio Beatriz Abreu, BRASÍLIA A uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, faz uma defesa enfática da política executada pela instituição, tanto em relação ao sistema de metas de inflação como a opção pelo câmbio flutuante. Essa política, segundo Meirelles, garante o equilíbrio da economia brasileira e está permitindo ao Brasil atravessar e sair da crise financeira mundial em condições mais favoráveis que outros países. "Não vejo, portanto, por que mudar uma política que está dando certo", disse Meirelles em entrevista à Agência Estado. Na entrevista - as respostas foram enviadas por e-mail -, Meirelles aborda a sugestão para a adoção de uma "política cambiante", ou seja, ora mirando o controle da inflação, ora a taxa de câmbio. Ele descarta essa opção. Para o presidente do Banco Central, esse tipo de regime "envolveria maior incerteza" e "mais risco", o que resultaria na tendência de taxas de juros de mercado mais elevadas. A seguir, principais trechos da entrevista. O sr. tem afirmado que os capitais que ingressam no País não estão direcionados às operações de arbitragem. Quais são os instrumentos disponíveis para que o banco tenha garantia de que, de fato, esses capitais estão direcionados a investimentos estrangeiros diretos ou ações, por exemplo? O Banco Central monitora diariamente o fluxo de capitais e tem total controle sobre as informações disponíveis. A sociedade também pode acompanhar esses dados, pois o BC os divulga periodicamente, com toda a transparência. O forte ingresso de capitais está motivando uma discussão na sociedade a propósito da relação entre a taxa de juros e a taxa de câmbio. O sr. considera que a redução mais forte da taxa Selic pode inibir a desvalorização do dólar? A política monetária tem apenas um instrumento, a taxa de juros de curto prazo, e, portanto, pode ter apenas um objetivo a cada momento. Pode, por exemplo, buscar o equilíbrio interno ou pode visar o equilíbrio externo. O sistema de metas de inflação visa a assegurar o equilíbrio macroeconômico doméstico através da política monetária, enquanto o equilíbrio externo é obtido por meio da flutuação da taxa de câmbio. Não existem alternativas? A alternativa seria usar a política monetária para atingir o equilíbrio externo, com uma taxa de câmbio arbitrariamente definida pelo governo.Vários países usaram esse sistema, concedendo soberania monetária ao país emissor da moeda âncora. Isso recorrentemente causou desequilíbrios no balanço de pagamentos. Uma segunda alternativa seria fixar uma taxa de câmbio móvel que assegurasse a rentabilidade de alguns setores exportadores, deixando em segundo plano o equilíbrio macroeconômico doméstico, em detrimento do bem-estar da maioria da população. Em recente pronunciamento, o senhor disse que alguns parecem defender um sistema cambiante. O que significa isso? Alguns parecem propor um tipo de sistema cambiante, onde a política monetária ora visaria o equilíbrio doméstico ora o externo, de forma discricionária e pouco transparente. Como tal regime envolveria maior incerteza, pois não se saberia exatamente qual é o mandato da autoridade monetária, e mais risco, as taxas de juros de mercado tenderiam a ser mais elevadas.Vale notar, também, que a busca do equilíbrio externo por vezes se choca frontalmente com as necessidades da economia doméstica; imaginemos, por exemplo, quanto teria subido a Selic em dezembro se tentássemos estabilizar o câmbio via taxa de juros e quais teriam sido as consequências para a economia brasileira. Não vejo, portanto, por que mudar uma política que está dando certo. O sistema de metas tem atingido os seus objetivos? A valorização do câmbio não pode significar que está fracassando? O sistema de metas para a inflação com câmbio flutuante assegurou, ao mesmo tempo, a estabilização da economia brasileira com uma taxa média de crescimento do PIB de quase 5% nos últimos 5 anos (o que deve ser comparado com um crescimento médio de cerca de 2% nas últimas duas décadas até 2003), inflação na trajetória de metas e juros reais cadentes. Ao mesmo tempo equilibrou o setor externo, pois gerou saldos no balanço de pagamentos que permitiram a acumulação de mais de US$ 200 bilhões de reservas. Um sucesso inquestionável de equilíbrio interno e externo. Quais são os fatores que mais influenciam a taxa de câmbio? O real tem mostrado uma alta correlação com o preço das commodities e com os índices de aversão ao risco. Quando o preço das commodities sobe, o real se valoriza e vice-versa. Essa correlação já chegou a ser muito alta, de 0,98. A correlação com os índices de aversão ao risco é um pouco mais baixa, mas ainda assim significativa. Além do mais, devemos levar em conta a própria flutuação do dólar frente às principais moedas, o que é uma questão norte americana. Qual o efeito do fluxo positivo de entrada de capitais? Ele permite ao Banco Central prosseguir sua política de acumulação de reservas que tantos benefícios tem prestado ao País. Uma análise cuidadosa dos dados divulgados pelo BC é esclarecedora a esse respeito. É importante observar também que uma parte significativa desse fluxo de capitais é constituída por investimentos estrangeiros diretos, vale dizer, são investimentos em máquinas e equipamentos que vão elevar a capacidade produtiva do Brasil. Outra parte dos recursos destinase à Bolsa de Valores, que é uma fonte importante de capitalização para as empresas brasileiras. O Brasil está sendo apontado como um dos países que se sairá melhor da crise financeira. Quais são os fatores que sustentam essa avaliação? Não se trata de um otimismo exagerado, sem lastro na realidade? Esta avaliação é lastreada no fato de que o Brasil é um dos poucos países que estão fortalecendo seus fundamentos macroeconômicos durante a crise, enquanto a maioria dos países sairá da crise mais vulnerável, como resultado das medidas adotadas para superar os problemas. Os fatos são: o Brasil sairá da crise com reservas internacionais maiores do que quando entrou, uma relação dívida pública líquida em comparação com o PIB menor, uma situação monetária equilibrada, um sistema financeiro saudável e competitivo e com as empresas brasileiras com acesso ao mercado de capitais para financiar o seu crescimento. Apesar dos riscos do excesso de euforia, não há dúvida que estamos em posição mais confortável do que diversos outros países para o pós-crise. -------------------------------------------O Estado de S.Paulo 05 06 2009 Emergentes dão sinais de esperança no fim da crise Vikas Bajaj* e Keith Bradsher*, THE NEW YORK TIMES Se os investidores em Nova York e Londres observam os primeiros sinais frágeis de recuperação, seus contrapartes em países em desenvolvimento estão presenciando um período de grande entusiasmo. Depois de uma queda esmagadora nos últimos 18 meses, os mercados de ações nos países em desenvolvimento experimentam uma fase de otimismo na recuperação da economia global. Embora os mercados emergentes permaneçam bem abaixo das altas enormes de um ano atrás, os investidores já estão novamente considerando que suas chances de crescimento são melhores do que nos Estados Unidos e na Europa. Como resultado, o índice Nifty da Índia saltou 64% nos últimos três meses. O índice CSI de 300 ações, em Xangai e Shenzen, subiu 37% e a Bovespa aumentou 41% em relação ao mesmo período. Em comparação, o ganho de 28% do índice de 500 ações da S&P parece modesto. Analistas atribuem alguns ganhos recentes no índice S&P à crença dos investidores de que a economia chinesa está se restabelecendo. E não é só a China que está provocando otimismo. A produção industrial se recupera na China, assim como as vendas de autos na Índia e as vendas no varejo no Brasil. Pode ser uma exuberância irracional? As atuais valorizações são extremamente ricas. O preço das ações do índice Nifty indiano é 15 vezes maior que os ganhos. Na Bovespa, a relação é de 21 vezes, e no CSI 300, de 29 vezes. A opinião otimista é que essas relações entre preço e ganhos refletem o retorno de um apetite pelo risco nos mercados, que costuma acompanhar uma perspectiva mais positiva, e a crença de que esses países estão prontos para retomar um forte crescimento econômico. A perspectiva mais cética é de que as economias teriam um salto para taxas de crescimento de dois dígitos para justificar as valorizações, e isso só pode significar que uma bolha estaria se formando. Os mercados emergentes geralmente oscilam de modo mais descontrolado do que os dos países desenvolvidos. E os grandes emergentes, do grupo dos Brics - Brasil, Rússia, Índia e China -, enfrentam fragilidades que podem dificultar uma recuperação. Para o Reserve Bank da Índia a economia deve crescer 6% neste ano fiscal, uma queda em relação aos 6,7% do ano passado. Otimistas dizem que o crescimento econômico na Índia pode chegar a 7,5%, enquanto a previsão do Banco Mundial é de 4%. Na China, a produção industrial mostra recuperação, e as importações de commodities aumentaram. Mas a recuperação está concentrada em setores domésticos que se beneficiam do programa de estímulo do governo. As exportações ainda enfrentam dificuldades. Um aumento nos empréstimos bancários provocou uma retomada dos mercados imobiliário e automotivo. O governo também deu subsídios de US$ 1,02 bilhão para moradores da área rural comprarem eletrodomésticos e carros, o que contribuiu para uma alta de 14% nas vendas de carros nos primeiros quatro meses do ano, ante o mesmo período de 2008. *Correspondentes em Mumbai e Hong Kong ----------------------------Folha de S.Paulo 05 06 2009 LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Uma mudança na agenda da economia Não posso imaginar a reação dos mercados no dia em que os títulos do Tesouro dos EUA perderem a condição de "AAA" AO LONGO dos últimos 60 dias, alguns dos fantasmas que assustavam os mercados voltaram ao nível da fantasia. Os porta-vozes mais expressivos do caos econômico perdem espaço na mídia à medida que a racionalidade volta a prevalecer. Com isso, monstros imaginários passam a ser substituídos por dúvidas e questões reais. A agenda econômica claramente mudou nas últimas semanas. Afastado o cenário de um colapso no estilo da Grande Depressão, o esforço analítico dos economistas volta-se para a forma da recuperação do crescimento, que ocorrerá a partir de 2010. O ano de 2009 já está perdido na maioria das economias do mundo, e por isso o calendário se inicia no próximo ano. Estou convencido de que a economia mundial vai estar dividida em dois grandes grupos de países. Fazem parte do primeiro os que terão que passar por um ajuste estrutural de grandes proporções, que condicionará a dinâmica da economia por período longo. O Estados Unidos são seu integrante mais importante, tanto pela dimensão de sua economia como pela dificuldade das mudanças que enfrentará. Mas, de modo geral, quase todo o mundo desenvolvido encontra-se em situação similar. Outro grupo é formado por economias que sofreram menos com o colapso financeiro iniciado em Wall Street e com o desarme da bolha de consumo gerada pela especulação imobiliária. Não será um grupo homogêneo, pois o principal elemento que os une é o fato de não terem sido afetados pela bolha imobiliária e de crédito. Por exemplo, China, Coreia e outros países da Ásia, na medida em que parcela importante de seu crescimento estava associada ao boom de consumo nos Estados Unidos, vão viver um processo de ajuste diverso do que vai acontecer no Brasil e na Índia. Mesmo com dinâmica heterogênea, esse será o polo mais dinâmico na segunda década do século, gerando um aumento da participação dos emergentes no PIB mundial. A intensidade da recuperação econômica mundial estará associada de maneira importante ao que vai acontecer nos EUA, que sairão desta crise com cicatrizes profundas. Algumas são superficiais e de cura mais fácil, embora choquem à primeira vista. O melhor exemplo é a General Motors estatal, uma espécie de Automóvel Brás, para usar uma imagem cabocla. Já outras cicatrizes menos superficiais exigirão cuidados médicos mais sofisticados. Como exemplo, eu citaria a tremenda expansão do balanço do Fed, transformado em agente financeiro do Tesouro para evitar o colapso dos grandes bancos americanos. Mas a cicatriz mais profunda e que maior perigo representa para a recuperação e estabilidade da econômica mundial é o endividamento do governo americano. O órgão responsável pelo Orçamento admite que a relação dívida/PIB pode chegar a 82% em 2019. Nessas condições, o total de juros a serem pagos chegaria a US$ 800 bilhões, ante US$ 170 bilhões em 2009. Esses números certamente afetariam a credibilidade dos títulos do Tesouro, obrigando o governo a trabalhar com a restrição do chamado superávit primário para estabilizar seu endividamento. Nós, brasileiros, sabemos bem o que é isso, mas na maior economia do mundo será uma novidade. Não por outra razão, nesta última quarta-feira o presidente do Fed fez uma dura advertência ao governo Obama e ao Congresso para que reduzam o déficit fiscal nos próximos anos. Não posso imaginar a reação dos mercados no dia em que os títulos do Tesouro norte-americano perderem sua condição de "triplo A". LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). -----------------------------------Valor Econômico 05 06 2009 O cisne negro e seus patinhos Marcio Garcia A crise atual é um exemplo do que Nassim Taleb chamou de cisne negro, um evento raríssimo, inesperado e com desdobramentos surpreendentes. Este cisne negro tem gerado muitos patinhos feios. Mas, ao contrário da história de Andersen, esses não estão fadados a se tornarem garbosos cisnes (na história original, o cisne era branco, mas Andersen bem poderia tê-lo feito negro, assim antecipando-se, em muito, a Taleb). Em matéria de política econômica, tanto no exterior quanto no Brasil, parece haver vários desses patinhos feios: bancos estatais, déficits públicos vultosos, multinacionais estatizadas, baixo nível de crédito, economia fechada e outros. Muito do que antes era defeito passou a ser vendido como virtude devido à crise financeira internacional. E não são só os empedernidos defensores do Estado obeso que falam isso. Até um insuspeito e muito bem sucedido administrador de fundos, em recente apresentação, teceu loas à nossa, geralmente enxovalhada, herança lusitana, por pretensamente promover o congraçamento entre patrões e empregados, o que constituiria vantagem competitiva de nossa economia. Avaliar as lições da crise para a política econômica é tarefa para muitas décadas. Demonstração clara que o processo de aprendizado funciona é que, desta vez, pelo menos, não se cometeram muitos dos erros cometidos durante a crise de 1929. Os erros que engendraram e agravaram a crise atual foram, em geral, novos. Para não os repetir, é preciso separar o joio do trigo, evitando críticas generalistas, e elaborar propostas específicas e concretas. A principal lição a ser retirada é que a regulação e a supervisão do sistema financeiro internacional falharam grotescamente, a despeito de todos os avanços na mensuração e gerência de risco. Mostrou-se claramente equivocada a presunção de que a boa saúde de cada instituição financeira em separado (embora nem isso tenha ocorrido) garantiria a higidez do sistema como um todo. Quando a maioria dos bancos faz operações financeiras semelhantes e o crédito torna-se fácil e barato, os preços dos ativos financeiros elevam-se substancialmente, aparentemente convalidando as operações financeiras que foram os motores iniciais do processo. Mas a percepção de segurança é ilusória, pois se baseia em preços que não resistem a um choque mais forte (o cisne negro) que, via de regra, acaba ocorrendo. Diversas propostas de alteração da regulação financeira estão sendo debatidas. Certamente, a regulação e supervisão financeiras no futuro serão mais rígidas e presentes, bem como terão ênfase macroeconômica muito mais forte. A regulação e supervisão financeiras deverão ter característica "macroprudencial". Ou seja, de acordo com Claudio Borio (www.voxeu.org, 14/4/2009), deverão focar o sistema financeiro como um todo, com o objetivo de limitar os custos macroeconômicos dos episódios de crises financeiras, e tratar o risco agregado como endógeno, isto é, dependente do comportamento coletivo das instituições financeiras. A implantação de tal mudança no foco da regulação e supervisão financeiras não é simples e levanta uma série de questões práticas a resolver. Não obstante, é daí que podem sair as medidas de política econômica mais importantes para que o setor financeiro possa voltar a realizar sua função fundamental de intermediar recursos a baixo custo para alavancar o desenvolvimento econômico. Quanto a várias das outras medidas anticrise, o mais provável é que boa parte desses patinhos feios usados no combate à crise não se tornem garbosos cisnes, mas, sim, voltem à condição original. Com a regulação e supervisão financeira reformadas, bancos privados deverão voltar a constituir base mais sólida para o desenvolvimento econômico do que estruturas baseadas em bancos estatais. O mesmo deverá ocorrer com empresas não financeiras, muitas hoje de fato estatizadas, como a GM. No Brasil, por mais que seja importante combater a crise, é preciso cautela para não voltar a dar ao Estado empresário papéis que não pode desempenhar com eficiência. Os males do Estado empresário são bem conhecidos por nós. A eficiência das empresas públicas sempre foi, com honrosas exceções, bastante inferior à das empresas privadas. Os problemas de incentivo em empresas públicas são notórios e de difícil resolução. Ademais, há o grave problema das influências políticas indevidas, que nem a nossa jovem democracia, nem outras mais vetustas, ainda conseguiram resolver. Assim, é melhor não tornar permanente o que pode nos custar muito em termos de diminuição de crescimento no futuro. É importante ressaltar que a avaliação de medidas de política econômica não pode ser feita levando em conta apenas se diminuem os efeitos nocivos da crise. É preciso levar em consideração todo o ciclo econômico. Por exemplo, o enorme aumento de gastos públicos correntes de caráter permanente que vem tendo lugar é positivo para mitigar o efeito da crise hoje, mas, quando a crise passar, constituirá pesado fardo que reduzirá as taxas de crescimento econômico. O mesmo se aplica à reduzida penetração do crédito em nossa economia, ou à grande participação de bancos estatais. Em suma, não se pode pensar em vencer o campeonato de Fórmula 1 com um carro que corre pouco em pista seca mas anda na frente dos outros quando chove a cântaros. É claro que medidas tomadas durante a crise podem ser revertidas ao final da mesma. E é exatamente isso que se quer preservar, não tomando medidas permanentes quando o objetivo é combater a crise. Afinal, quando se colocam pneus para chuva, há que se ter pneus lisos para serem usados caso a pista seque. Generosos aumentos de salários a algumas carreiras do funcionalismo com alto poder de pressão são pneus de chuva que serão mantidos até o final do campeonato, faça sol ou chuva. As perspectivas econômicas do Brasil são, hoje, muito boas. Quão bem irá nossa economia dependerá, é certo, da economia internacional. Mas, em qualquer caso, estamos relativamente muito bem posicionados. Seria excelente para nossos filhos e netos se conseguíssemos maximizar nosso crescimento nos anos futuros, evitando retornar a práticas que já se mostraram equivocadas no passado, e dando sequência ao aprimoramento de nossa economia que vem ocorrendo, sobretudo desde o Plano Real. Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, escreve mensalmente às sextas-feiras (www.econ.puc-rio.br/mgarcia ) ------------------------------------Valor Econômico 05 06 2009 Via de regra, vê-se o gasto público apenas do lado do passivo, não do ativo A dívida pública e as gerações futuras José Carlos de Assis Tomando emprestado o dinheiro parado nas empresas, por meio de títulos públicos, o Estado pode investi-los O imperativo da sobrevivência está impondo a todas as economias importantes do mundo a realização de grandes déficits públicos para salvar seus sistemas financeiros e estimular a demanda. É tempo, pois, de revisitar as teses acadêmicas segundo as quais o déficit, que leva a um aumento da dívida pública, deve ser evitado a todo o custo para não sobrecarregar as gerações futuras com as crescentes obrigações por conta de juros e de amortizações, e o risco de aumento de tributos. Houve tempo, dos anos 70 para cá, em que economistas neoclássicos, depois chamados neoliberais, como os americanos Robert Lucas e Robert Barro, encantavam políticos conservadores de todo o mundo com suas teses de que o déficit público, mesmo em recessão, era fonte de desequilíbrios permanentes na economia e não funcionavam como estímulo à recuperação. Era melhor esperar e deixar que as livres forças do mercado promovessem o relançamento, que seria inevitável. Vivíamos num mundo inocente, no qual ocorriam recessões periódicas e crises financeiras periódicas, mas nunca as duas juntas. Ou seja, pensava-se que estávamos vacinados contra crises globais do tipo da Grande Depressão. Vemos agora que não é bem assim. Uma crise de demanda sem a ocorrência simultânea de uma crise financeira pode ser revertida com adequadas políticas monetárias, mediante uma redução consistente da taxa de juros básica. Uma crise financeira podia ser revertida em sua própria órbita, sem comprometimento fiscal. As duas juntas não aconteciam desde os anos 30. O que é melhor fazer quando acontecem? A melhor maneira de compreender isso é pela lente de um notável economista americano do século passado, Abba Lerner, autor da teoria das Finanças Funcionais. Lerner, embora keynesiano, abandonou a trilha das especulações de Keynes para explicar flutuações cíclicas na base de expectativas subjetivas dos empresários e seguiu o caminho da identificação de interações objetivas entre o setor privado e o setor público, tanto na esfera monetária e financeira quanto na esfera real, no sentido sobretudo de apontar o caminho da recuperação nas crises. Uma crise de demanda, objetivamente, supõe elevados estoques e reduzida propensão a investir do empresariado. O investimento cai, mas não a disponibilidade de recursos por parte de muitas empresas. Elas tendem a entesourá-los sob alguma forma, em lugar de aplicar produtivamente. Em consequência, o desemprego aumenta, realimentando a queda da demanda. O sistema não tem como recuperar-se a partir de sua própria órbita, pois, para investir, é necessário haver um aumento esperado da demanda. E para a demanda aumentar, é preciso haver investimento. Como ninguém é capaz de levantar-se do chão puxando-se pelo próprio cabelo, é preciso que haja a intervenção de uma força externa ao setor privado para empurrar uma economia em crise de demanda. Essa força é o Estado. Tomando emprestado o dinheiro parado nos caixas das empresas superavitárias, mediante o lançamento de títulos públicos, o Estado pode investi-los na compra de serviços públicos e de grandes obras públicas, criando empregos e estimulando a demanda, e, finalmente, incentivando o próprio investimento privado, fomentando um círculo virtuoso de emprego, demanda e investimento. É de notar-se que, de um ponto de vista funcional, não basta um aumento do investimento público. É preciso que seja um investimento deficitário. Um investimento financiado por tributos estará retirando recursos do setor privado na mesma proporção em que os está injetando, sem efeito na demanda global. Portanto, o déficit público não é um "mal" tolerável, mas um recurso funcional necessário. A consequência óbvia é o aumento da dívida pública. Em que medida isso representa uma carga insuportável para as gerações futuras? Em nada. A verdadeira carga insuportável recai sobre a geração presente na ausência do déficit, sob a forma de alta intolerável do desemprego e da queda da demanda. Além disso, vê-se o gasto público apenas do lado do passivo, não do ativo: obras de infraestrutura e serviços de educação e de saúde constituem uma base de produtividade e de bem-estar social para as gerações futuras, ao mesmo tempo em que aliviam os ônus da crise no presente. Do ponto de vista financeiro, o déficit também se paga, desde que haja efetiva recuperação. Com o aumento do produto e da renda, a receita tributária se eleva sem aumento de carga, sendo que, do lado monetário, a expansão da economia requer expansão também de sua base, liberando receita de senhoriagem para o setor público. Tudo isso faz com que, em poucos anos de recuperação, o déficit se reduza ou seja eliminando, possibilitando gradual redução da dívida pública em relação ao PIB, numa atmosfera de crescimento auto-sustentável e sem ônus social. Seria o caso de se pensar que todo déficit público deve ser encarado como bom para a economia? Claro que não. É preciso que ao déficit corresponda um gasto que eleve gradualmente a produtividade e a base de bem estar da sociedade. Além disso, ninguém de bom senso iria aprovar aumentos de dívida pública do tipo que aconteceu no governo Fernando Henrique, quando ela dobrou de cerca de 30% do PIB para quase 60%, sem qualquer investimento relevante em contrapartida. Esse foi um aumento criminoso da dívida, puxado exclusivamente por aumento de juros, além de paralelo a um dos mais amplos programas de privatização do planeta. E o que dirão as agências de risco sobre um eventual aumento da dívida pública brasileira como consequência de um vigoroso programa de estímulo à demanda para enfrentar a crise? Bem, as agências ficarão muito ocupadas com a União Europeia, que está estourando todos os parâmetros do Tratado de Maastricht e do Pacto de Estabilidade e Crescimento que criou o euro (máximo de 3% do PIB do déficit e de 60% da dívida), com o Japão, cuja dívida vai para 205% do PIB, com a Inglaterra, com déficit de quase 10%, e com os próprios Estados Unidos (12,3% do PIB). Sem falar, obviamente, nos riscos que elas não viram no Lehman Brothers, no Bank of América e no Citi! José Carlos de Assis é economista e professor, presidente do Instituto Desemprego Zero. ---------------------------------Valor Econômico 05 06 2009 A ameaça nuclear não representa o perigo mais imediato, mas sim o combate real As consequências do extremismo coreano Sung-chul Yang A opinião pública em todo o mundo necessita de um esfriamento, especialmente na Coreia do Sul e no Japão Mais uma vez, a península coreana está experimentando um dos seus periódicos acessos de extremismo, desta vez marcados pelo suicídio, em maio, do expresidente da Coreia do Sul, Roh Moo-hyun, e pelo segundo teste de um artefato nuclear da Coreia do Norte. O suicídio de Roh é um desastre para a sua família e uma vergonha nacional, ao passo que a explosão nuclear do líder da Coreia do Norte Kim Jong-il é algo que se assemelha a um ataque de raiva, mas que poderá trazer graves consequências para as duas Coreias e o mundo. A bomba norte-coreana, estimada em quatro quilotons, nem chega perto da magnitude das bombas atômicas de 15 a 21 quilotons que a América lançou sobre o Japão há 64 anos. Na verdade, esta tentativa arrogante de Kim Jong-il relembra o sapo-boi mãe nas fábulas de Esopo, que se inchava para imitar um boi. A beligerância desafiadora do mundo da Coreia do Norte não é uma rematada loucura. É, pelo contrário, um subproduto dos seus próprios temores graves sobre o colapso do regime. Na condição de coreano, sempre fico intrigado pelo extremismo coreano. Em que lugar do mundo é possível encontrar uma mutação dinástica militarizada de sistema totalitário comunista mais isolada e organizada do que na Coreia do Norte? Em que lugar na face da terra podemos ver um pedinte disparador de mísseis, munido de armas nucleares, como Kim Jong-il? Existe algum outro país onde apenas um pai e seu filho governaram como semideuses nos 61 anos passados? Igualmente, em que outro lugar exceto na Coreia do Sul podemos encontrar uma igreja cristã cujo quadro de membros registrados esteja aumentando para além de 800 mil e na qual quase 100 mil seguidores frequentam cada uma das três cerimônias religiosas de domingo todas as semanas? Em que outro lugar podemos assistir um ex-presidente cometendo suicídio, pulando de um penhasco próximo à sua residência? Isso tudo, num país que tinha uma renda per capita estimada de US$ 40 na década de 1940, mas que agora se tornou a 12ª ou 13ª maior economia do mundo. Cornelius Osgood, um antropólogo americano, atribuiu o extremismo coreano ao clima da península. Ele observou que o temperamento coreano é um produto de longos e implacáveis invernos siberianos e de verões quentes e úmidos, com apenas curtas primaveras e outonos. Eu acredito, contudo, que o extremismo coreano origina-se a partir da geografia e história do país. Cercados por vizinhos hostis, como os chineses, mongóis e manchus no Norte e pelos japoneses no outro lado do oceano, os coreanos lutaram com unhas e dentes por milhares de anos para conservar sua identidade étnica, linguística, cultural e política. Deixando o jogo de culpas de lado, o que pode ser feito com a Coreia do Norte? Infelizmente, colocar o gênio nuclear de volta na garrafa é quase impossível. A eficácia das opções disponíveis é limitada, e todas estão repletas de consequências políticas e militares imprevisíveis. O "estrangulamento econômico" da Coreia do Norte parece ser a opção de última instância. O fortalecimento e endurecimento da Resolução 1718 do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas (ONU), elaborado na esteira do primeiro teste nuclear realizado pela Coreia do Norte, em outubro de 2006, deveria ser a tarefa imediata. O CS já está empenhado em elaborar uma nova resolução. Para tornar a nova resolução eficaz, porém, a plena e resoluta participação da China - que ainda não ocorreu - é crítica. Qualquer medida unilateral de países isolados adotada contra a Coreia do Norte deve ser executada no âmbito da estrutura mais ampla da nova resolução. Além disso, mesmo se novas sanções forem impostas, a porta para as Conversações entre as Seis Partes devem ser deixadas abertas para Kim Jong-il. Nesta situação cara-a-cara, as cinco demais partes nas negociações - China, Japão, Rússia, Estados Unidos e Coreia do Sul - não devem ceder primeiro à Coreia do Norte. No momento, a opinião pública em todo o mundo, especialmente na Coreia do Sul e no Japão, está altamente volátil. Um período de esfriamento é necessário. A busca de um diálogo com a Coreia do Norte imediatamente depois da sua explosão de raiva com mísseis e da sua atitude nuclear temerária é imprudente e carece de espírito prático. Após a imposição de sanções duras e eficazes lideradas pela ONU, as partes interessadas deverão esperar até a Coreia do Norte sentir a dor do aperto econômico. Considerando, porém, que a Coreia do Norte é um dos países mais pobres e menos globalizados do mundo, a eficácia das sanções será limitada. Ao mesmo tempo, a ameaça nuclear não representa o perigo mais imediato. A maior ameaça hoje é o combate real, já que, no dia que se seguiu ao teste nuclear da Coreia do Norte, a Coreia do Sul anunciou a sua participação integral na Iniciativa de Segurança contra a Proliferação (PSI), que procura interceptar navios que possam estar envolvidos no transporte de tecnologia nuclear por meios ilegais. A Coreia do Norte criticou duramente esta decisão da Coreia do Sul, definindo-a como uma "declaração de guerra". Portanto, muito cuidado e serenidade serão necessários nos mares ao redor da Coreia nos próximos dias e semanas. A tensão crescente na península coreana vem abalando rapidamente os raios de esperança pela reunião que se seguiram a dez anos de progresso sob os governos Kim Dae-Jung e Roh Moo-hyun. Tanto o presidente sul-coreano Lee Myung-bak, por meio das suas bruscas mudanças de rota, como Kim Jong-il, com sua renovada chantagem nuclear, parecem determinados a ver as relações se deteriorarem. Os dois lideres atuais na Coreia não podem repetir o erro dos seus antecessores na última parte do Século XIX. Blindados por lutas fraticidas internas pelo poder, eles não conseguiram enxergar as artimanhas estratégicas das grandes potências na região. Essa incapacidade conduziu diretamente à colonização da Coreia pelo Japão. O agravamento das relações entre as Coreias certamente tornará os dois lados menos seguros e estáveis, política econômica e militarmente. Presos nesse ciclo vicioso, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul se tornarão muito mais vulneráveis às manobras estratégicas das potências vizinhas. Como resultado, a crescente hostilidade entre as Coreias poderá tornar-se, no fim das contas, muito mais letal ao bem-estar de todos os coreanos do que o trágico suicídio de Roh Moo-hyun e os fúteis fogos de artifício de Kim Jong-il. Sung-chul Yang foi embaixador da República da Coreia nos Estados Unidos e atualmente é professor na Universidade Coreia em Seul; é também o autor de "The North and South Korean Political System: A Comparative Analysis" (Os sistemas políticos norte-coreanos e sul-coreanos: uma análise comparativa) © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. www.project-syndicate.org ---------------------------------------------- OUTRAS NOTÍCIAS Correio Braziliense - 05/06/2009 Poupança volta a ser melhor negócio – O bom rendimento da caderneta de poupança, principalmente se comparado ao dos Fundos de Investimento que pagam imposto e cobram taxa de administração, foi responsável pela volta da captação positiva em maio. Segundo o Banco Central, a poupança obteve R$ 1,881 bilhão, resultado de depósitos de R$ 78,839 bilhões e saques de R$ 76,959 bilhões. A captação líquida é diferença entre depósitos e saques. Com a captação positiva de maio, a segunda do ano, a poupança reverteu as perdas acumuladas em 2009. No período de cinco meses, a caderneta está positiva em R$ 356 milhões. Até abril, a poupança acumulava captação líquida negativa de R$ 1,523 bilhão. O saldo de maio, que equivale a todos os depósitos feitos pelos poupadores mais os rendimentos aplicados sobre as contas, superou R$ 278,56 bilhões. Para o economista Demétrius Borel Lucindo, da Top Trade Investimentos, contribuiu para diminuir os saques na poupança uma decisão do governo. “As medidas para taxar a poupança a partir de 2010 foram adequadas, sem terrorismo”, avaliou. O governo anunciou que as cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil vão passar a pagar Imposto de Renda no caso de a taxa Selic ficar muito baixa. Caso o governo tivesse tomado uma medida imediatista, o resultado poderia ser muito diferente, na opinião do economista. Para valer, a proposta ainda tem que ser aprovada pelo Congresso Nacional. Apetite Também contribuiu para a captação da caderneta ficar positiva o fim dos gastos adicionais de início de ano. Como a maioria dos poupadores têm poucos recursos guardados, eles servem muitas vezes para complementar a renda, que é deslocada para despesas como pagamento de matrícula e material escolar e impostos, típicos do começo do ano. “Certamente, teve saques para pagamento de dívidas e outros compromissos”, disse o economista Otávio Vaz, da Global Equity. Os dois economistas garantem que o apetite dos investidores pelas aplicações, principalmente as que envolvem risco, como as ações na Bolsa, está voltando. “O dinheiro está fluindo mais e migrando de uma aplicação para outra, sempre em busca de rentabilidade”, disse Demétrius. Para ele, está sendo restaurada, aos poucos, a credibilidade do sistema financeiro. No ano passado, com a crise, muitos investidores perderam dinheiro e fugiram. Agora, com os juros baixíssimos pelo mundo afora, também os estrangeiros estão vendo no Brasil uma oportunidade de negócios. De acordo com os dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), a captação em fundos de investimento foi negativa no mês de maio em R$ 412 milhões. No último dia útil do mês, incide o sistema come-cotas , que é quando as administradoras cobram as taxas dos seus investidores. Foram R$ 2,7 bilhões. No ano, a captação em fundos está positiva em R$ 30,6 bilhões, com o saldo acumulado superior a R$ 1,24 trilhão. ----------------------------------Valor Econômico - 05/06/2009 Limite para a queda dos juros opõe Fazenda e BC O Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá, na reunião do dia 25, manter a meta de inflação em 4,5% para 2011. Será o sétimo ano consecutivo com a mesma meta. Não há no governo, pelo menos até agora, disposição para ousar numa gradual redução da inflação, a despeito da avaliação de vários economistas oficiais de que a crise mundial, ao jogar o crescimento da economia brasileira para um patamar bem abaixo do seu potencial, criou uma oportunidade de ouro para a taxa de inflação doméstica se aproximar da dos países ricos, sem que isso imponha custos adicionais à política monetária. Inflação menor, para esses economistas, significa juros mais baixos e maior crescimento - desde, é claro, que a meta de inflação seja plenamente crível - o que é uma visão distinta dos que enxergam na meta mais frouxa uma possibilidade de juros módicos e aumento do PIB. Os analistas econômicos privados apontam inflação de 4,33% em 2009 e de 4,30% para 2010, abaixo, portanto, da meta de 4,5% definida para esse par de anos. As expectativas só não estão em percentuais mais baixos pela insistência do próprio governo em optar por metas mais flexíveis para ancorá-las, acreditam técnicos oficiais mais alinhados com o Banco Central. Na verdade, desta vez o assunto meta de inflação não está sequer sendo objeto de acalentadas discussões entre BC e Fazenda. A falta de apetite para tratar do tema e a ausência de ambição do governo nessa área têm estreita relação com a política monetária de 2010 - são grandes as possibilidades de se ter que aumentar os juros em meados do ano que vem - e suas consequências no debate político-eleitoral às vésperas da escolha do sucessor de Lula. Não se deve subtrair do elenco de explicações para o silêncio, também, o fosso que separa o Ministério da Fazenda do BC e as aspirações políticas do presidente Henrique Meirelles. Embora alguns técnicos da Fazenda até considerem viável uma diminuição pequena da meta, eles assinalam que tratar da inflação de 2011 não é prioridade agora. O que interessa, a essa altura, é buscar o crescimento econômico e é bom notar, nesse aspecto, que esses economistas estão achando a recuperação da atividade economica muito lenta para quem ainda almeja crescer 1% este ano, conforme declaração recente do ministro Guido Mantega. "Meta de inflação não é uma questão decisiva neste momento. Não é isso que vai levar o país para frente ou para trás ", disse um influente assessor do ministério. Ao contrário de 2007, quando advogou a redução da meta de inflação de 2009 para algo abaixo de 4,5%, desta vez Meirelles também não está demonstrando muita disposição para entrar na disputa. Por trás dessa aparente apatia está uma questão bastante delicada: para que patamar deve ir a taxa Selic de agora em diante e quais as perspectivas para 2010? Visto pela fotografia de hoje, em meados do próximo ano a economia deverá estar novamente em ritmo de crescimento acelerado, a taxa de câmbio tende a se depreciar como costuma ocorrer no Brasil em períodos pré-eleitorais (mas nada parecido com 2002) e os preços das commodities estarão em alta. Uma confluência de eventos que indicam pressões inflacionárias daqui a um ano e juros, portanto, mais elevados que os atuais. Adicionar a isso uma meta mais restrita para 2011 pode ser um equívoco, alegam assessores mais afinados com Mantega. Tal argumento poderia ser confrontado por outro: subir e baixar juros conforme os ciclos econômicos é coisa da vida. Pode-se muito bem reduzir os juros de forma mais acentuada agora e, em meados de 2010, se necessário, vir a aumentá-los, mas a partir de um patamar menor. A visão de fontes encarregadas de municiar o Copom de informações para que o comitê decida sobre o tamanho do corte da Selic é, entretanto, bem diferente. A gordura que havia para cortar a taxa de juros já está acabando, dizem. "Agora, a política monetária tem que ser regida pela sintonia fina", explica um assessor. "Estamos chegando a uma fase em que a gestão da política monetária deixará de ser só cortar a Selic. É preciso olhar a curva de juros. Uma decisão mal tomada na Selic hoje fará empinar a curva de juros, aumentando a taxa de um ano e comprometendo todo o o estímulo monetário dado para o país voltar a crescer", explicou outro economista do governo, que compartilha da visão do BC. Para essa vertente, mais importante do que cortar a Selic em 100 pontos-base na reunião do Copom de abril foi ter introduzido na ata daquela reunião uma referência aos juros futuros, com o seguinte texto: "O Comitê entende também que a melhora do cenário prospectivo para a inflação em 2009 e em 2010 não foi, até o momento, incorporada na estrutura a termo da taxa de juros". Tal comentário teria sido decisivo para o mercado reduzir em 50 pontos-base os juros de um ano. Essa modesta redução foi lida pela autoridade monetária como um claro recado do mercado de que a gordura para grandes baixas dos juros básicos estaria acabando. Razão que justificaria a disposição do BC de , agora, ir mais devagar no processo de redução dos juros. A sintonia fina se justifica, segundo essa ala de economistas, porque o juro real, hoje na casa de 5% ao ano, já está aquém do que seria uma taxa de juros neutra (nível de juros que faz com que a trajetória de crescimento do produto coincida com o crescimento potencial, ou seja, uma taxa que não exerce influência sobre a oferta e a demanda da economia). Essa taxa se justifica agora pela deterioração das condições financeiras pós-crise global, mas não parece sustentável quando essas voltarem à normalidade, avaliam essas fontes. Para a Fazenda, que quer uma ajuda dos juros para frear a apreciação cambial, essa é uma conversa de quem não está lá muito afeito ao diálogo. E se esse já não era fácil antes, hoje o espaço para um debate sobre meta de inflação, política monetária e cambial é minúsculo, principalmente entre as equipes. Essa não é uma situação nova. As diferenças de visão macroeconômica entre Fazenda e BC vêm de 2006. O que há de novo, desta vez, é que nunca se teve juro real tão baixo num regime de estabilidade da inflação. E há economistas qualificados, no governo e fora dele, dizendo que os juros podem cair mais e a meta de inflação pode sair do lugar e iniciar uma trajetória de queda gradual a partir de 2011. Trata-se de uma oportunidade que deveria ser avaliada com mais empenho, à margem das vaidades e das questões político-eleitorais. ------------------------------------O Estado de S.Paulo - 05/06/2009 Minc ataca ruralistas, que o acusam de 'circo' eleitoral – Depois de duas semanas de ataques a cinco colegas de governo, de críticas a ruralistas e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, avaliou na tarde de ontem que continuará no cargo. "Estou firme, firmíssimo; tremei, poluidores", afirmou ele, após audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Horas antes, ele havia dito que sentia todo dia "o pescocinho na mira". "Querem tirar uma picanha do Carlinhos", ironizou o ministro. O triunfo anunciado pelo ministro veio na sequência de um processo de enquadramento político, em que Lula não permitiu, por exemplo, recuo no licenciamento da BR-319 - rodovia que corta um pedaço da Amazônia. Antes da conversa com o presidente e de um ato com artistas da TV Globo, o ministro participou de dois eventos em que manteve críticas aos ruralistas e à presidente da Confederação Nacional da Agricultura e da Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). "Aqui, no Parlamento, pediram meu pescoço, mas, pelo que me consta, ele ainda está no meu lugar e, provavelmente, vai ficar até o fim do governo Lula", afirmou Minc, em audiência na Câmara, na Comissão do Meio Ambiente. "Não vamos deixar essa turminha destruir nossos biomas", acrescentou, referindo-se aos ruralistas. "Podem ameaçar, mas não vão transformar nossos biomas em latifúndios, em monocultura." O ministro disse que não se recusa a negociar com Kátia, usando o seguinte argumento: "Fiz acordo com (os ruralistas) da soja, da cana e com o governador Blairo Maggi. Por que não posso fazer com a senadora Kátia Abreu, que é muito mais bonita, muito mais simpática e muito mais articulada?" O ministro causou mal-estar no governo ao chamar, na semana passada, os ruralistas de "vigaristas" e dizer que estava impedido "moralmente" de dar licença ambiental para as obras da BR-319, previstas no PAC. Minc relatou ontem que, em conversa na terça-feira, o presidente apenas pediu que as "contradições" fossem discutidas no âmbito interno do governo. "Eu concordei com ele. O presidente disse que é mais adequado que algumas contradições, aquelas que não têm consenso, sejam arbitradas por ele." O relato de Minc sobre a conversa com o presidente foi feito em um novo ato com críticas a ministros que já tinham sofrido ataques na semana passada. Para desconforto de Reinhold Stephanes (Agricultura), Dilma Rousseff (Casa Civil), Edison Lobão (Minas e Energia) e Alfredo Nascimento (Transportes), Minc contou com o apoio de rostos famosos. Os atores Christiane Torloni e Victor Fasano entregaram a Lula um manifesto que teria 1 milhão de assinaturas contra a destruição da Amazônia. Após a audiência com o presidente, os atores deram uma longa entrevista para defender a permanência do ministro. "A democracia não vai aguentar mais um golpe", afirmou Christiane. "Não vai ser bom para o Brasil perder um segundo ministro do Meio Ambiente", disse, referindo-se à demissão de Marina Silva, no ano passado. A atriz elevou o tom nas críticas e chegou a fazer referências ao escândalo do assessor petista que foi preso com dólares na cueca em 2005. "Esta casa está sendo observada", disse. Ela aproveitou para criticar setores do Congresso que se opõem a Minc: "Temos de saber quem é a favor da preservação da Amazônia e quem é a favor de colocar o dinheiro na cueca." -------------------------------------O Estado de S.Paulo - 05/06/2009 Recuperações crescem 193% O número de pedidos de recuperação judicial quase triplicou nos primeiros cinco meses do ano, ante o mesmo período do ano passado, aponta o Indicador de Falências e Recuperações divulgado ontem pela empresa de informações econômicas Serasa Experian. De janeiro a maio, chegaram à Justiça 334 requerimentos de recuperação, com alta de 193% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado, quando houve 114 casos. O grande salto na quantidade de pedidos protocolados revela, segundo os economistas da Serasa, que a recessão mundial teve fortes efeitos sobre a economia brasileira. Eles destacam que a melhora no consumo, a redução dos juros e a maior entrada de capital externo observadas neste primeiro semestre ainda não deram fôlego para as empresas enfrentarem seus problemas financeiros. Apenas no mês de maio, de acordo com o levantamento da Serasa, houve 255 pedidos de falências, ante 185 em abril. Em maio de 2008, haviam sido registrados 213 pedidos. O indicador da Serasa também levantou o número de recuperações judiciais deferidas, ou seja, requerimentos ainda em processo de análise pela Justiça. Nos primeiros cinco meses do ano, houve 214 deferimentos, ante 70 no mesmo período do ano passado - um aumento de 205,7%. Quanto às recuperações judiciais concedidas, de janeiro a maio foram registradas 36. No mesmo período do ano passado, foram apenas 6. Já as falências requeridas, de janeiro a maio, somaram 945, abaixo das 975 registradas nos cinco primeiros meses de 2008. As falências decretadas, por sua vez, somaram 334 de janeiro a maio deste ano, enquanto no mesmo período de 2008 foram 408.