UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI CLAUDIA DOMINGUES DA SILVA DESEMBORRACHAMENTO DE PISTA DE AEROPORTO SÃO PAULO 2006 CLAUDIA DOMINGUES DA SILVA DESEMBORRACHAMENTO DE PISTA DE AEROPORTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil. Orientador: Professor MSc. Célio Daroncho SÃO PAULO 2006 CLAUDIA DOMINGUES DA SILVA DESEMBORRACHAMENTO DE PISTA DE AEROPORTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil. Trabalho: _____________ em: ____ de _____________ de 2006. ________________________________________________ Célio Daroncho ________________________________________________ Gisleine Coelho de Campos Comentários:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 1 Agradeço aos meus pais pela ajuda constante durante todos esse anos, e também a minha querida amiga Luiza que sempre me deu forças em todos os momentos. 2 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, porque sem ele nada disso seria possível. Ao meu orientador, Célio Daroncho, pela paciência, compreensão e ajuda em todos os momentos da realização deste trabalho. E aos meus amigos, que compartilharam comigo esses árduos anos de estudo, mas também de muitos momentos alegres. Gostaria também de agradecer, os colaboradores da EMPRESA BRASILEIRA DE INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUARIA (INFRAERO) por suas preciosas informações para realização desse trabalho de conclusão de curso. E a todas as pessoas que não foram mencionadas, mas que de uma maneira ou de outra contribuíram para que este trabalho pudesse ser realizado, nos incentivando sempre a seguir em frente e a transpor as barreiras que nos são impostas. A todos vocês meu muito obrigado. 3 RESUMO Este trabalho consiste em fazer uma análise do desemborrachamento de pista, retirada de borracha acumulada na superfície do pavimento, do Aeroporto de Congonhas, notando-se a importância do assunto para o Aeroporto. Para tal, são abordados tópicos importantes e necessários para uma melhor compreensão dos fenômenos que envolvem esse tema. São apresentados conceitos relativos ao tipo de pavimento, atrito em pavimentos aeroportuários, medição de atrito, e de que forma eles ocorrem, a influência que o tipo de textura da superfície do pavimento pode exercer sobre o coeficiente de atrito. Por fim, é feita a análise do desemborrachamento, desde os procedimentos adotados para execução do serviço e os detalhes dos equipamentos utilizados. Palavras Chave: Desemborrachamento, Aeroporto, pista, tipo de pavimento, atrito em pavimentos aeroportuários, medição de atrito, borracha. 4 ABSTRACT This research has the purpose to make an analysis of the ´desemborrachamento` of the runway, the extraction of accumulated rubbers on ´Congonhas` airport´s road surface which is a remarkable subject for the airport. For this, important and necessary topics were carried out to obtain a better understanding of the phenomenon around this theme. Concepts are presented to relate the kind of road surface and its friction, the measure of this friction, the way it occurs, the influence that the surface´s texture can perform over the friction. Finally, the analysis of the ´desemborrachamento` were done by the procedures adapted to make the service and the details of the equipment which were used. Key words: ´Desemborrachamento`, airport´s, runway, kind of road surface and its friction, the measure of this friction, rubbers. 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 5.1 – Modelo de pistas simples. (PEIXOTO, 2002) ........................................16 Figura 5.2 – Modelo de pistas paralelas. (PEIXOTO, 2002) .....................................16 Figura 5.3 – Modelo de pistas secantes sob vento forte. (PEIXOTO, 2002) .............17 Figura 5.4 – Modelo de pistas abertas em V. (PEIXOTO, 2002)...............................18 Figura 5.5 – Efeito da textura do pavimento ao coeficiente de atrito. (ESDU, 1971).25 Figura 5.6 – Método de mancha de areia. (SANTOS, 2004).....................................28 Figura 5.7 – Pêndulo Britânico. (SANTOS, 2004) .....................................................29 Figura 5.8 – Mu-Meter. (SANTOS, 2004) ..................................................................29 Figura 6.1 – Caminhão tanque. (INFRAERO, 2006) .................................................32 Figura 6.2 – Chuveiro rotativo. (INFRAERO, 2006) ..................................................34 Figura 6.3 – Passadas paralelas ao eixo da pista. (INFRAERO, 2006) ....................34 Figura 6.4 – Passadas transversais ao eixo da pista. (INFRAERO, 2006) ...............35 Figura 6.5 – Lavagem com jatos de água em baixa pressão. (INFRAERO, 2006) ...35 6 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 – Classificação das pistas de pouso e decolagem ..................................15 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ASFT Airport Surface Friction Tester DIN Deutsche Normen EPI Equipamento de Proteção Individual ESDU Engineering Sciences Data Unit FAA Federal Aviation Administration ICAO International Civil Aviation Organization IFR Instrument Flight Rules INFRAERO Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária NASA National Aeronautics and Space Agency NOTAM Notice to Air Men TPS Terminal de Passageiros VFR Visual Flight Rules 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................10 2 OBJETIVOS.......................................................................................................11 2.1 Objetivo Geral ...............................................................................................11 2.2 Objetivo Específico ......................................................................................11 3 METODOLOGIA DO TRABALHO.....................................................................12 4 JUSTIFICATIVA ................................................................................................13 5 PLANEJAMENTO E PROJETO DE AEROPORTO ..........................................14 5.1 Configuração de Pistas de Pouso e Decolagem........................................15 5.1.1 Pista Simples...........................................................................................15 5.1.2 Pista Paralela ..........................................................................................16 5.1.3 Pista Secante ..........................................................................................17 5.1.4 Pistas Abertas em “V”..............................................................................18 5.1.5 Pistas de Pouso e Decolagem ................................................................18 5.2 Atrito em pavimentos Aeroportuários ........................................................19 5.3 Propriedade e tipo de pavimento que influem no atrito............................21 5.3.1 Pavimentos tipo I .....................................................................................22 5.3.2 Pavimentos tipo II ....................................................................................22 5.3.3 Pavimentos tipo III ...................................................................................23 5.3.4 Pavimentos tipo IV...................................................................................24 5.4 Hidroplanagem .............................................................................................26 5.5 Ensaios de atrito em pavimentos aeroportuários .....................................28 5.5.1 Mancha de Areia .....................................................................................28 5.5.2 Pêndulo Britânico ....................................................................................29 9 5.5.3 6 6.1 Mu-meter .................................................................................................29 ESTUDO DE CASO ...........................................................................................30 Procedimentos para remoção de borracha das pistas de pouso e decolagem................................................................................................................31 7 CONCLUSÕES..................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................37 10 1 INTRODUÇÃO A evolução e difusão do uso do avião na atividade econômica foram inicialmente lentas. Saltou a um patamar muito elevado durante a Segunda Guerra Mundial e a partir daí modificou o ritmo de crescimento atingindo taxas elevadas. O transporte aeroviário é de grande importância para o desenvolvimento atual, devido principalmente a sua rapidez. Trata-se de uma modalidade de transporte, de demanda e capacidade elevada, exigindo qualidade e desempenho característicos nas instalações do aeroporto e áreas adjacentes. É um dos setores mais dinâmicos da economia mundial. Ele cumpre importante papel estimulando as relações econômicas e o intercâmbio de pessoas e mercadorias (tanto dentro do país quanto com outros países), intra e entre as nações. A importância do transporte aéreo para a vida moderna é muito maior do que o que pode fazer supor, seu desempenho financeiro. A grande quantidade de pousos diariamente das aeronaves nas pistas causa desgaste do pneu, deixando esses resíduos na superfície do pavimento, causando alterações na textura da superfície dos pavimentos, por este motivo se faz necessário a retirada de borracha acumulada nesta superfície, preservando a funcionalidade segura dos pavimentos das pistas de pouso e decolagem. Devido ao exposto acima percebe-se que é uma área importante dos empreendimentos civis. Isto exige profissional habilitado e com conhecimento de tecnologias recentes e avançadas. Não existem muitos estudos ligados a este tema, por isso o tema será abordado, pela preocupação e interesse em descobrir e gerar material para futuras pesquisas, para que este tema fique difundido e conhecido por mais pessoas. 11 2 OBJETIVOS Tendo-se em vista o problema de segurança, advinda do possível derrapamento das aeronaves ao taxiarem por pistas emborrachadas, este trabalho insere-se como mais uma ferramenta que pretende dar suporte a decisão de quando e como fazer o desemborrachamento da pista. 2.1 Objetivo Geral Analisar o comportamento de uma pista aeroportuária sob o ponto de vista da manutenção preventiva de segurança. 2.2 Objetivo Específico Analisar a necessidade e os processos de desemborrachamento de pistas aeroportuárias para garantir, assim, a segurança dos pousos e decolagens em aeroportos, pois caso não seja feita essa manutenção poderá estar colocando em risco vidas humanas. 12 3 METODOLOGIA DO TRABALHO Para a efetivação deste estudo foi feito o uso de materiais didáticos e técnicos diversos como livros técnicos, catálogos, manuais, dissertações, teses, sites especializados, apostilas técnicas e estudo de caso no Aeroporto de Congonhas. 13 4 JUSTIFICATIVA O crescimento do movimento aéreo, em nosso país e no mundo, determina que medidas sejam adotadas tanto na estrutura quanto na administração do espaço aéreo, com o intuito de manter os altos níveis de segurança já alcançados e não permitir a sua degradação em função do elevado número de aviões que ora circulam em zonas altamente congestionadas. Dentre todos os aspectos que envolvem o sistema complexo do mundo aeronáutico, o homem ainda é o grande "vilão", responsável pelo sucesso ou insucesso desta atividade. Seja no desenvolvimento, operação ou manutenção da máquina, nos serviços oferecidos a bordo, ou no controle do tráfego, a relação entre os profissionais que permeiam estas atividades tem participado ativamente com um dos fatores contribuintes para a ocorrência de inúmeros acidentes aeronáuticos, e um dos fatores que mais causam esses acidentes é a borracha depositada na pista, devido ao atrito entre pneu e pavimento. 14 5 PLANEJAMENTO E PROJETO DE AEROPORTO Alguns itens relacionados a aeronaves são essenciais no planejamento e projeto de um aeroporto e estão ligados ao peso, distribuição no piso, dimensões externas e desempenho operacional das diferentes aeronaves, fundamentais para o estudo dos elementos componentes desde a área de pouso até a parte terrestre (PEIXOTO, 2002). Segundo Peixoto (2002) as dimensões e as características operacionais são fornecidas pelos construtores de aeronaves. O peso da aeronave está relacionado ao comprimento de pista para decolar, devido à variação considerável de volume de combustível necessário, dentre outros fatores, provocando variações no peso da aeronave. Alguns itens são muito importantes para o planejamento e projeto de aeroporto, alguns destes são o peso e o tamanho das aeronaves, comprimento de pista e classificação de pista. O peso da aeronave influencia no porte do pavimento necessário, levando-se em conta o número de rodas e a geometria do trem de pouso da aeronave. O projeto do pavimento não necessariamente terá na aeronave mais pesada a condição crítica, exigindo-se estudar de forma ampla as aeronaves a operar no aeroporto (PEIXOTO, 2002). As dimensões externas das aeronaves influenciam na configuração das áreas de circulação próximas ao TPS, Terminal de Passageiros e de pouso. À distância entre posições de parada de aeronaves defronte ao TPS é função da envergadura da aeronave e de um espaço de segurança. As dimensões externas das aeronaves influenciam também nas dimensões do pátio. O layout final do aeroporto depende também das dimensões tanto interna quanto externa das aeronaves da frota a atender (PEIXOTO, 2002). O comprimento de pistas de pouso e de decolagem é influenciado pelo desempenho das aeronaves além das condições locais. As condições locais ou específicas de cada pista são, fundamentalmente, a altitude, a temperatura, os ventos 15 predominantes e a declividade das pistas de pouso e de decolagem (PEIXOTO, 2002). Pode-se classificar a pista de pouso e de decolagem de acordo com a Tabela 5.1, segundo critério indicado pela ICAO (PEIXOTO, 2002). Tabela 5.1– Classificação das pistas de pouso e decolagem Comprimento Básico de Pista (m) Classe da Pista Lb ≥ 2.100 A 1.500 ≤ Lb ≤ 2.099 B 900 ≤ Lb ≤ 1.499 C 750 ≤ Lb ≤ 899 D 600 ≤ Lb ≤ 749 E Fonte: Peixoto, 2002. 5.1 Configuração de Pistas de Pouso e Decolagem A configuração das pistas de pouso e de decolagem corresponde ao número e à forma como estão dispostas em relação ao sítio aeroportuário. O número de pistas necessário depende da demanda prevista e a disposição depende de condições meteorológicas, mancha urbana e operacional (PEIXOTO, 2002). A posição do TPS em relação à pista deve trazer benefícios operacionais, tais como economia de combustível, rapidez de acesso, conforto dos passageiros e redução de área necessária para o sítio aeroportuário (PEIXOTO, 2002).Tipos de pistas: pistas simples, paralelas, secantes ou “abertas em V”. 5.1.1 Pista Simples Pista simples (figura 5.1) corresponde àquela com a menor capacidade operacional, mas adequada à demanda reduzida quando em aeroportos menores. A capacidade é de 45 a 100 operações aéreas por hora em VFR – vôo visual – e 40 a 50 op/h quando operando em IFR – vôo por instrumentos (PEIXOTO, 2002). 16 Figura 5.1 – Modelo de pistas simples. (PEIXOTO, 2002) 5.1.2 Pista Paralela Quando a demanda aumenta ao longo da vida útil de um aeroporto, e se observa demanda muito elevada para pistas simples, deve-se adotar sistema do tipo Pistas Paralelas (Figura 5.2). Esta configuração é a ideal em função da elevada capacidade, dependendo-se do número de pistas e da distância entre estas (PEIXOTO, 2002). Figura 5.2 – Modelo de pistas paralelas. (PEIXOTO, 2002) Quando se precisa aumentar a capacidade e o aeroporto apresentando apenas uma pista não dispõe área suficiente para a construção de outra pista de comprimento pleno, pode-se incorporar uma segunda pista menor, que permita operações regulares de pouso e de decolagem de aeronaves menores, mas exclusivamente para pouso quando da operação de aeronaves maiores. Este sistema de pistas é denominado Dual-Lane, do tipo idêntico ao existente no Aeroporto de São Paulo Congonhas, quando já era elevada a demanda e difíceis as possibilidades de ampliação devido ao considerável adensamento urbano no seu entorno (PEIXOTO, 2002). 17 5.1.3 Pista Secante Quando não se consegue atingir percentual desejado de utilização do sistema de pistas, em função dos ventos freqüentes, pode-se estabelecer uma outra pista (Figura 5.3) em direção diferente da anterior (PEIXOTO, 2002). Desta forma, pode-se continuar operando o sistema de pistas mesmo em condições adversas de vento para uma única direção de pistas, caso se tenha estabelecido outra pista em outra direção que abrangesse os ventos assim considerados (PEIXOTO, 2002). Figura 5.3 – Modelo de pistas secantes sob vento forte. (PEIXOTO, 2002) Contudo, quando os ventos forem suaves, pode-se utilizar as duas pistas, observando-se aumento de capacidade, mas que não atinge a capacidade operacional de pistas paralelas (PEIXOTO, 2002). Este tipo de configuração é a pior quanto à capacidade por causa da direção cruzada de pista que reduz a acessibilidade segura ao aeroporto e a partir deste (PEIXOTO, 2002). Este tipo de configuração assemelha-se ao do sistema de pistas do Aeroporto Internacional Afonso Pena que atende principalmente à cidade de Curitiba/PR, cujas pistas se cruzam fisicamente. Neste aeroporto há estudo de eliminação de uma destas pistas pelo fato que, com a elevação de categoria do aeroporto, o vento lateral admissível aumenta e o coeficiente de utilização do aeroporto também aumenta (PEIXOTO, 2002). 18 5.1.4 Pistas Abertas em “V” Esta configuração corresponde ao abrandamento das condições severas das pistas secantes. Quando não se consegue atingir percentual desejado de utilização do sistema de pistas em função dos ventos freqüentes pode-se estabelecer uma outra pista em direção diferente da anterior tal como pistas secantes, mas na configuração “abertas em V” (Figura 5.4) apenas se cruzam os prolongamentos de pistas e não de forma física (PEIXOTO, 2002). Figura 5.4 – Modelo de pistas abertas em V. (PEIXOTO, 2002) As condições de capacidade dependem da posição do cruzamento do prolongamento dos eixos das pistas em relação às cabeceiras mais utilizadas. Quanto mais próximo do cruzamento dos prolongamentos estiverem as cabeceiras mais utilizadas, maior a capacidade (PEIXOTO, 2002). 5.1.5 Pistas de Pouso e Decolagem As pistas de pouso e de decolagem têm função de estabelecer conexão entre a fase de vôo e a fase terrestre, permitindo-se acelerar e desacelerar com segurança além de permitir que a aeronave taxie, dependendo-se da configuração do sistema de pistas (PEIXOTO, 2002). As pistas de táxi permitem a conexão entre pátios, hangares e pistas de pouso e de decolagem. As pistas de saída de táxi permitem o retorno ao pátio, quando a 19 aeronave já se encontra no pátio de espera ou em rolamento de ida para a pista de pouso e de decolagem em função de demora excessiva para autorização de decolagem que obrigue reabastecimento ou em caso de pane (PEIXOTO, 2002). As pistas de rolamento de saída ou simplesmente saídas são pistas projetadas para permitir a saída da aeronave da pista de pouso e de decolagem a velocidades relativamente altas para o rolamento, permitindo-se majorar a capacidade da pista de pouso e de decolagem (PEIXOTO, 2002). Os pátios de espera correspondem a trechos da pista de rolamento, próximos da pista de pouso e de decolagem, cuja largura permite que aeronaves aguardem a autorização de decolagem, além de permitir que outras possam ultrapassa-las, caso necessário. As dimensões do pátio de espera dependem do comprimento, da envergadura e do raio de giro da aeronave. A capacidade do pátio deve ser da ordem de 2 a 4 aeronaves, dependendo-se da demanda crítica em operações por hora (PEIXOTO, 2002). 5.2 Atrito em pavimentos Aeroportuários Se duas superfícies em contato apresentarem tendência a se mover uma em relação à outra, surge uma força ''resistente'': a força de atrito. No caso da força aplicada não ser suficiente para colocar o corpo em movimento, a força de atrito se opõe à força aplicada e é chamada força de atrito estático. Nessa hipótese, a constante de proporcionalidade é o ''coeficiente de atrito estático'' (SANTOS, 2004). Segundo Santos (2004), no caso de ocorrer movimento, aparece a chamada força de atrito cinético entre as superfícies, que tem sentido contrário ao do movimento. A teoria prevê que ela seja constante, independente da área de contato e proporcional à força normal exercida por uma das superfícies sobre a outra. Esta proporcionalidade é expressa através do chamado ''coeficiente de atrito cinético''. Conforme Santos (2004), as constantes de atrito estático e cinético podem dizer muito sobre as características das superfícies em contato. É interessante destacar 20 que o coeficiente de atrito estático máximo é sempre maior que o coeficiente de atrito cinético. Ainda segundo Santos (2004), quando se trata de segurança aeroviária, um dos principais aspectos a ser levado em conta é a condição de atrito da pista, pois este é um dos fatores determinantes na prevenção de acidentes aéreos nas manobras de pouso e decolagem. Santos (2004) diz que a aderência pneu pavimento é fortemente influenciada pela qualidade da área de contato pneu pavimento, sendo que a presença de água ou não é um fator importante a ser considerado. Essa aderência depende ainda da força de atrito resultante do contato entre as duas superfícies. Fisicamente, a intensidade da força de atrito entre duas superfícies em contato é diretamente proporcional ao coeficiente de atrito e à intensidade da força normal entre as duas superfícies. No estudo da interação pneu pavimento este coeficiente de atrito passa a depender de vários fatores, como a presença de água, a velocidade de deslocamento, tipo e condição do pavimento, natureza, estado dos pneus, etc. O coeficiente de atrito pode ser dividido em duas categorias: • Coeficiente de atrito longitudinal; • Coeficiente de atrito transversal. O coeficiente de atrito longitudinal diz respeito à força que se desenvolve na área de contato pneu pavimento quando se arrasta uma roda travada por meio de um veículo trator. Esse coeficiente simula uma situação de frenagem de emergência no sentido longitudinal. O coeficiente de atrito transversal diz respeito à força perpendicular ao plano de rotação da roda, quando esta circula com um ângulo em relação à sua direção de avanço. Este coeficiente é o que melhor representa uma situação de derrapagem. 21 Existem, também, dois mecanismos responsáveis pelo atrito entre o pneu e o pavimento: O 1º mecanismo é a adesão superficial, que surge dos vínculos intermoleculares entre a borracha e o agregado da superfície do pavimento. Esta é a maior responsável pelo atrito em pistas secas, mas, por outro lado, sofre redução substancial quando o pavimento se encontra molhado, causando a perda de atrito em pistas molhadas. O 2º mecanismo consiste no mecanismo de histerese, que representa a perda de energia da borracha quando ela se deforma, deslizando sobre o agregado do pavimento. O atrito por histerese não é tão afetado pela presença da água na superfície. Portanto, pneus compostos por borrachas com alto valor de histerese costumam ter valores melhores de tração em pavimentos molhados. Ambos os mecanismos, o de adesão e o de histerese, são influenciados pelo escorregamento da interface pneu pavimento. 5.3 Propriedade e tipo de pavimento que influem no atrito O coeficiente de atrito varia de acordo com o comportamento do pneu e sua interação com o pavimento, gerando o atrito tanto por histerese quanto por adesão, que variam de acordo com as características físicas da superfície da pista, principalmente da textura e da micro-textura da pista (SANTOS, 2004). De acordo com Gillespie (1992), o mecanismo de força de atrito por histerese é relacionado à macro-textura da superfície do pavimento, enquanto que a força de atrito por adesão é ligada à micro-textura do pavimento. A ESDU (1971) classifica os pavimentos em quatro tipos de acordo com a rugosidade da macro e da micro-textura do pavimento. 22 5.3.1 Pavimentos tipo I O primeiro tipo de pavimento caracteriza-se por apresentar uma macro-textura aberta e uma micro-textura rugosa e áspera, permitindo alta adesão entre a borracha do pneu e o pavimento. Este tipo de pavimento proporciona, ainda, um alto índice de histerese da borracha quando esta se deforma para acompanhar as saliências do piso. Nota-se que pavimentos do tipo I não sofrem perda acentuada de propriedades de atrito na presença de água, devido à capacidade de permitir o escoamento do fluido quando da movimentação do pneu sobre o pavimento, em qualquer velocidade de deslocamento da aeronave. Os pavimentos do tipo I são característicos de pistas recém construídas, que não sofreram desgaste do seu material agregado na superfície, ou de pistas construídas com material granulado advindo de rochas mais resistentes à erosão e que resistem melhor à utilização, mantendo suas características em relação ao atrito por mais tempo. 5.3.2 Pavimentos tipo II Os pavimentos do tipo II possuem macro-textura com alto nível de rugosidade, porém, com micro-textura suave. Pavimentos desse tipo apresentam menor valor de atrito por adesão devido à menor capacidade de borracha aderir à micro-textura mais suave do pavimento. Em pistas de pouso com altas taxas de utilização, o material agregado da superfície costuma se desgastar, e faz pavimentos do tipo I tomar a forma de pavimentos do tipo II, principalmente em regiões em que se fez uso de material rochoso menos resistente à abrasão na construção do pavimento, onde a utilização desse material como agregado em pavimentos acarreta no seu desgaste com o passar do tempo, perdendo então suas características de atrito, especialmente na condição de pista molhada. 23 O atrito por histerese, nesse tipo de pavimento, é responsável pela maior parte da força de frenagem gerada em condições de pista molhada. Pneus construídos com materiais que permitam valores altos de coeficiente de atrito por histerese apresentam melhor desempenho nas referidas condições. Como esse tipo de pavimento possui uma macro-textura aberta, o escoamento da água acumulada sobre o pavimento ainda é passível de acontecer, diminuindo os riscos de hidroplanagem; no entanto, é necessário registrar que aumentos de velocidades e aumentos de espessura da lâmina d’água podem acarretar a ocorrência da hidroplanagem. 5.3.3 Pavimentos tipo III Já o pavimento do tipo III possui uma macro-textura suave, ou seja, mais fechada, porém com uma micro-textura rugosa, como é o caso de um pavimento típico, recém construído. Pavimentos desse tipo apresentam um valor de atrito por adesão alto devido à micro-textura rugosa, fazendo com que o valor do coeficiente de atrito em pista seca seja alto. No caso de frenagens em pistas molhadas, o valor de atrito por adesão é alto, permitindo valores satisfatórios de frenagem gerada pelo pneu. No entanto, devido a macrotextura ser mais fechada, a água acumulada sobre a pista demora mais a escoar, sendo certo que os únicos canais possíveis para o escoamento são os sulcos e ranhuras dos pneus e a inclinação do pavimento. Isto, juntamente com o aumento da velocidade, facilita o efeito da hidroplanagem, reduzindo o tamanho da zona de contato seco entre o pneu e o pavimento e diminuindo o valor geral do coeficiente de atrito. Como mencionado acima, este tipo de pavimento é mais sensível ao acúmulo da água, devido a uma macro-textura menor que as presentes nos tipos I e II, posto que, nestes, é possível o escoamento de água também pelas ranhuras da superfície do pavimento. 24 5.3.4 Pavimentos tipo IV Os pavimentos do tipo IV caracterizam-se por uma macro-textura fechada e uma micro-textura suave. Além disso, apresentam uma queda pronunciada do valor do coeficiente de atrito para pista molhada, causada pelos baixos índices de atrito por adesão, assim como incapacidade de escoar a água acumulada sobre a pista por meio da superfície do pavimento. No entanto, em pista seca, o valor de força de frenagem que pode ser gerada, também é menor, devido aos valores pequenos de atrito por adesão e por histerese, fazendo com que uma aeronave necessite de uma distância maior para executar uma frenagem. Os pavimentos dos outros tipos podem atingir a forma do tipo IV através do uso e do desgaste dos agregados do revestimento, principalmente onde os fatores climáticos podem acumular grande quantidade de sujeira na pista, que lentamente vai preenchendo a macrotextura, enquanto que o uso freqüente vai desgastando lentamente a micro-textura da pista. Quando o estado do pavimento atinge esse ponto, é recomendável a execução de atividades de manutenção, restaurando as características que permitam a obtenção de maior segurança para a operação das aeronaves. A figura 5.5, mostra uma visão em corte desses quatro tipos de pavimento, assim como o comportamento geral do coeficiente de atrito em função da velocidade, para situações de pista seca e molhada. No primeiro caso a macro-textura aberta permite um escoamento mais rápido da água, diminuindo assim a perda de atrito por adesão, que é a mais afetada com a presença de água (SANTOS, 2004). 25 Figura 5.5 – Efeito da textura do pavimento ao coeficiente de atrito. (ESDU, 1971) Já no segundo caso, essa diminuição do coeficiente de atrito em pistas molhadas é mais acentuada, visto que, mesmo com uma macro-textura aberta, a perda de adesão é maior devido à sua micro-textura ser mais suave (SANTOS, 2004). No terceiro e quarto casos, a macro-textura é fechada, o que ocasiona uma menor velocidade no escoamento das águas da chuva, formando uma película d’água sobre o pavimento. Isto faz com que a perda de atrito por adesão seja maior, sendo o quarto caso pior ainda face à sua micro textura mais polida. E pelo fato da macrotextura ser fechada, o atrito por histerese também é menor que nos dois primeiros casos (SANTOS, 2004). 26 5.4 Hidroplanagem Um estudo realizado pela McDonnell Douglas em 1997, como diz ASFT (2004), aponta as pistas contaminadas por água ou gelo como a quarta maior causa de acidentes em pousos e táxis nos Estados Unidos entre 1992 e 1996. Aspectos como a espessura da lâmina d’água, rugosidade da superfície e capacidade de evacuação da água pelos sulcos do pneu devem ser levados em consideração quando o pavimento se encontra na condição molhada. Na hidroplanagem o atrito se reduz a valores insuficientes para manter a roda girando, perde-se o controle direcional e a capacidade de frenagem; para que a roda volte a girar durante o processo de hidroplanagem, a velocidade deve ser reduzida sensivelmente (APS et al, 1995). Existem três tipos de hidroplanagem: • Hidroplanagem viscosa: Pista molhada, uma pequena camada de água pode atuar como um lubrificante, permitindo que os pneus deslizem. Este tipo tem a agravante de poder ocorrer em velocidades menores que as dos outros tipos de hidroplanagem e numa camada de água extremamente delgada (cerca de um milionésimo de polegada). O pior é que a chuva não é a única vilã: a umidade de garoa e sereno também pode causar o fenômeno (SANTOS, 2004). • Hidroplanagem dinâmica: Ao contrário da viscosa, a hidroplanagem dinâmica ocorre normalmente em velocidades maiores, em água parada com a espessura de um décimo de polegada ou mais. Durante este tipo de hidroplanagem a água não consegue escapar pelos sulcos dos pneus e a roda gira sem a menor tração, literalmente sobre a camada de água (SANTOS, 2004). • Hidroplanagem de borracha retornada: Resulta do travamento dos freios em uma pista molhada ou úmida, o que cria uma super aquecida camada de vapor devido à fricção dos pneus contra a superfície da pista. Quando isso ocorre, a borracha 27 do pneu funde-se enquanto roda sobre o vapor, deixando marcas de derrapagem acinzentadas ou brancas na pista. Esse tipo normalmente não causa problemas em aeronaves equipadas com sistema de frenagem com modulating anti-skid (aeronaves equipadas com freios antideslizantes), que impede o travamento das rodas (SANTOS, 2004). O problema da aquaplanagem seria minimizado se todas as pistas fossem construídas de maneira igual, isto é, todas utilizando as técnicas de construção que minimizam os efeitos da aquaplanagem, com execução do grooving, que é o ranhuramento feito na pista para evitar aquaplanagem. (SANTOS, 2004). Tom Yager, engenheiro de pesquisas do NASA's Aircraft Landing Dynamics Facility em Hampton, Virgínia, nos Estados Unidos, opina que a solução ideal é uma pista de concreto com 1,5 % de cobertura com fendas transversais (grooving) de ¼ de polegada (cerca de 6 mm) de profundidade e ¼ de polegada de largura com uma polegada (aproximadamente dois centímetro e meio) de separação entre elas (SANTOS 2004). Grooving ou ranhuramento é a única maneira eficaz para se evitar a aquaplanagem em situações de pousos em pistas molhadas. Seja em pistas construídas em pavimento rígido (concreto) ou flexível (asfalto), o ranhuramento aumenta o coeficiente de atrito proporcionando maior área de contato não encharcado. Além disso, agiliza o escoamento da água para as laterais da pista, resulta em pistas mais seguras, exigindo menor extensão para os pousos, ou em contrapartida, permitindo a aterrissagem de aeronaves maiores. Como complemento ao grooving, para garantia dos coeficientes de atrito adequados, é necessária a remoção da borracha dos pneus acumulada com o tempo. O grooving na pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ocupa uma extensão de 1.746 m. No caso da pista auxiliar, a extensão é de 1.437 m e, em ambos os casos, a largura da área sulcada é de 30 metros (15 metros de cada lado do eixo das pistas); o espaçamento utilizado em Congonhas é de 3 cm entre cada sulco e durante os meses quentes de verão, o grooving na área de toque pode ficar cheio de borracha de pneu, reduzindo o coeficiente de atrito (SANTOS, 2004). 28 5.5 Ensaios de atrito em pavimentos aeroportuários As superfícies dos corpos, por mais polidas que possam parecer do ponto de vista macroscópico, apresentam rugosidade quando analisadas microscopicamente. Em conseqüência, se duas superfícies em contato apresentarem tendência a se mover uma em relação à outra, surge uma força ''resistente'': a força de atrito. O atrito das pistas é muito importante para a segurança aeroviária, pois evita acidentes aéreos no pouso e decolagem, sendo medidos pelos ensaios: 5.5.1 Mancha de Areia O ensaio de Mancha de Areia (Figura 5.6) tem como objetivo avaliar a macrotextura dos agregados, parâmetros que influem diretamente na aderência entre pneu e pavimento (SANTOS, 2004). Figura 5.6 – Método de mancha de areia. (SANTOS, 2004) O ensaio consiste em preeencher os vazios da superfície do pavimento com um volume conhecido de uma areia natural limpa e seca de grãos arredondados, que passa na peneira de abertura 0,3 mm e fica retida na peneira de abertura de 0,15 mm, a areia é espalhada por um cilindro de aço revestido de borracha. A divisão desse volume pela área média da “mancha” formada pelo espalhamento, dará a espessura de areia que determina a textura da superfície, conforme preconizado pela ASTM E 965-96 (SANTOS, 2004). 29 5.5.2 Pêndulo Britânico Consiste num pêndulo (figura 5.7), cuja haste possui em sua extremidade uma sapata de borracha, que é lançado em direção ao pavimento molhado, com o objetivo de medir a perda de energia, e é registrada numa escala graduada (SANTOS, 2004). Figura 5.7 – Pêndulo Britânico. (SANTOS, 2004) 5.5.3 Mu-meter Equipamento (Figura 5.8) que determina o coeficiente de atrito dinâmico da pista em vários pontos, possui sensores que entram em contato com o pavimento, determinando através de um computador o coeficiente de atrito de 40 em 40m e um gráfico do coeficiente de atrito com a distância. Realiza-se esse procedimento de uma cabeceira para outra e vice-versa (SANTOS, 2004) Figura 5.8 – Mu-Meter. (SANTOS, 2004) 30 6 ESTUDO DE CASO O estudo foi realizado no Aeroporto de Congonhas e verificou-se que as cabeceiras são os locais onde os pneus são mais exigidos. Quando uma aeronave está se aproximando da pista para realizar o procedimento de pouso, no momento em que ela toca o solo, ela está a 210 km/h aproximadamente. Conseqüentemente, os pneus da aeronave têm que ser acelerados repentinamente a uma velocidade angular que seja proporcional a 210 km/h, quando do contato com o solo. Isto ocorre necessariamente em uma fração de segundo. Esta aceleração repentina devido ao contato com a pista é responsável pela acumulação de borracha nos poros do pavimento, pois, no início, os pneus necessitam de uma força tangencial muito grande para que a roda e os conjuntos pesados dos pneus comecem a girar. Este é um ponto importante, já que esse acúmulo de borracha na cabeceira da pista gera uma maior preocupação quanto ao monitoramento das condições de atrito da superfície do pavimento. Já em relação às empresas aéreas, este é um motivo de grandes gastos com pneus, tendo em vista que essa situação provoca maior desgaste dos mesmos. Uma das alternativas é de se colocar os pneus girando momentos antes do toque, de forma a diminuir essa “derrapagem” inicial. Um dos argumentos negativos é que, com esse tipo de procedimento, a distância final de parada da aeronave se tornaria maior. Percebe-se que o aumento de distância pode realmente ser significativo, dependendo do tipo de aeronave e de seu peso, quando comparado com a distância de frenagem sem o giro prévio dos pneus. Por exemplo, para um Boeing 747, que pese em torno de 182.000 kg, isto é, praticamente vazio, e que aterrisse com uma velocidade de 210 km/h aproximadamente, usando esse procedimento de pré-giramento das rodas, o avião teria uma distância de frenagem de 30 metros maior que o procedimento padrão, o equivalente à metade do comprimento do avião, o que seria uma distância razoavelmente pequena. Entretanto, caso a aeronave estivesse cheia, o peso seria bem maior, acarretando uma diferença de distância de frenagem maior que 30 31 metros, passando a ser mais significativo. Muito embora essa diferença da distância de frenagem não seja tão grande, em casos como o do Aeroporto de Congonhas, esse comprimento de pista pode ser o diferencial entre um pouso seguro e um perigoso, já que, além da pista ser curta, os pilotos têm grande parcela de responsabilidade nesses tipos de operações. Depende também da perícia do próprio piloto, que acaba, por vezes, não tocando o solo igualmente com as rodas do trem de pouso principal. Com o passar do tempo, os pneus das aeronaves e as próprias operações de remoção de borracha vão desgastando os agregados da superfície, deixando-os mais lisos e provocando assim, a diminuição do atrito por adesão. Uma outra forma de analisar estes altos e baixos nas medições do atrito, além do acúmulo de borracha que ocorre naturalmente, é o fato das remoções de borrachas não estarem sendo executadas corretamente, comprometendo sua eficiência. A não observância do tempo e da homogeneidade do espalhamento do detergente antes da aplicação do jato d’água pode ser um fator crucial para um rendimento baixo no desemborrachamento. 6.1 Procedimentos para remoção de borracha das pistas de pouso e decolagem A quantidade de pousos diários de aeronaves nas pistas dos Aeroportos provoca desgaste dos pneus, deixando resíduos de borracha na superfície dos pavimentos, ocasionando de forma progressiva alterações na textura da superfície do pavimento, razão pela qual, se torna necessário implementar um processo de remoção ou retirada de borracha acumulada nesta superfície, visando preservar ou restaurar a funcionalidade operacional segura dos pavimentos das pistas de pouso e decolagem. O processo de remoção de borracha deve ser inserido na programação de manutenção preventiva das pistas dos aeroportos, de modo a ser executado 32 periódica e sistematicamente, com o auxilio de equipamento especiais, utilizando água limpa hidrojateada com pressão controlada, com ou sem aplicação de produtos químicos desemborrachantes (ex. detergentes biodegradáveis). Os equipamentos especiais que atualmente são utilizados pelas áreas de manutenção da INFRAERO são relacionados a seguir: • Caminhão tanque (Figura 6.1), dotado de bomba WONA para aplicação do hidrojateamento, especialmente projetado para aeroportos, conforme normas USA e DIN, incluindo os seguintes acessórios: pistolas de hidrojateamento, chuveiro rotativo (sobre rodinhas), mangueiras, bocais ou bicos, etc; • Caminhão tanque, dotado de bomba LEMASA para aplicação do hidrojateamento, especialmente projetado para aeroportos, de acordo com normas DIN, incluindo os seguintes acessórios: pistolas de hidrojateamento, chuveiro rotativo (sobre rodinhas), mangueiras, bicos, etc. Figura 6.1 – Caminhão tanque. (INFRAERO, 2006) A freqüência com que deve se aplicar o processo de Remoção de Borracha nas pistas de pouso e decolagem tem sido atrelada à programação de medição de atrito, em razão de que os pavimentos das pistas requerem uma permanente garantia de segurança operacional para aeronaves. Os procedimentos que devem orientar o processo executivo para Remoção de Borracha, são simples, porém resguardados de alguns cuidados especiais de segurança, tais como: 33 • Necessidade da emissão de NOTAM (aviso aos aeronavegantes), por conta da área de operações; • Autorização pela torre de controle e pela área de operações para o acesso da equipe técnica e equipamentos às pistas de pouso e decolagem; • Os pavimentos das pistas impregnadas de borracha deverão ser previamente inspecionados, a fim de que estejam livres de restos de óleo ou graxas e, demarcar as áreas de pavimento que terão que ser submetidos ao processo de remoção e retirada de borracha. O pessoal da equipe técnica, responsável pelo trabalho, deverá estar devidamente protegida com EPI, para dar início aos serviços de Remoção de Borracha. Previamente a colocação do equipamento em operação, deverá ser feito um “check list” de itens operacionais, testar todo o conjunto do equipamento (motor e tanque do caminhão, painel da bomba, a própria bomba e acessórios, inclusive mangueiras) que será utilizado no processo de remoção em razão de que o tempo que será gasto e, a extensão das áreas a serem limpas, condicionam o trabalho a um ritmo continuado até sua conclusão, a fim de que os pavimentos das pistas sejam liberados para as medições de atrito e textura. Para dar início ao processo de Remoção de Borracha, o principal cuidado a ser tomado é o da escolha e regulagem inicial da pressão de trabalho da bomba, já que para utilização segura das pistolas de hidrojateamento e/ou chuveiro rotativo (Figura 6.2) na superfície dos pavimentos, deve se observar cuidadosamente que nas passadas de hidrojateamento, o pavimento não está sendo danificado por excesso de pressão ou, que a borracha do pavimento não está se desprendendo por falta de pressão. 34 Figura 6.2 – Chuveiro rotativo. (INFRAERO, 2006) O procedimento das passadas de hidrojateamento com os acessórios mencionados sobre o pavimento impregnado de borracha deve seguir um processo ordenado de passadas transversais ao eixo da pista (Figura 6.4) e paralelas ao eixo da pista (Figura 6.3), em cada umas das faixas nas áreas demarcadas, e assim sucessivamente em todas as faixas e áreas demarcadas, até a completa retirada da borracha. Figura 6.3 – Passadas paralelas ao eixo da pista. (INFRAERO, 2006) 35 Figura 6.4 – Passadas transversais ao eixo da pista. (INFRAERO, 2006) Na seqüência, as áreas de pavimento onde houve a retirada de borracha, devem ser lavadas com jatos de água em baixa pressão (Figura 6.5), por vezes com solução detergente diluído para auxiliar na remoção total da borracha desprendida. Figura 6.5 – Lavagem com jatos de água em baixa pressão. (INFRAERO, 2006) A borracha que foi removida e que ficou acumulada nos locais de trabalho deve ser recolhida para sua destinação final. Concluídos os trabalhos de Remoção e retirada da Borracha das pistas de pouso e decolagem deverá ser feita uma vistoria geral dos pavimentos a fim de verificar o estado da superfície destes e registrar sua condição e/ou dano sofrido, seja pela utilização normal das aeronaves ou, pelo processo inadequado de hidrojateamento. 36 7 CONCLUSÕES Este trabalho reuniu em um único lugar várias informações relacionadas ao desemborrachamento da pista do aeroporto de Congonhas Tratou-se das formas de medição de atrito, os tipos de pavimento e a importância de realizar a retirada de borracha das pistas, pois muitos acidentes são causados pela não retirada desta borracha. É importante realizar o desemborrachamento devido a problemática de acidentes, mas este procedimento deve ser feito cautelosamente respeitando a integridade da pista. Dessa forma, esse trabalho não visa esgotar o assunto, e sim, servir de estímulo e base para que sejam feitos ainda mais trabalhos e estudos relacionados ao tema 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APS et al. Avaliação de Superfícies Antiderrapantes de Pavimentos Aeroportuários. Artigo – Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. ASFT. Friction Testing 1944-97. Disponível em: < http://www.asft.se/history.html#2. > Acesso em: 14 Mar. 2006. ESDU. ENGINEERING SCIENCES DATA UNIT. Frictional and Retarding Forces on Aircraft Tyres, Part 1: Introducion. London: ESDU, 1971, 40p. GILLESPIE, THOMAS D. Fundamentals of Vehicle Dynamics. Warrendale: Society of Automotive Engineers, 1992. 495p. INFRAERO. Aeroporto Internacional de Congonhas/São Paulo. Coletadas informações junto a Infraero para realização do estudo de caso, 2006. PEIXOTO, C.F. Introdução a Engenharia Aeroportuária. 2002. Rio Claro, São Paulo, SP, 2002. SANTOS, E.L.dos. Análise Histórica de Medição de Atrito das Pistas do Aeroporto Santos Dumont – RJ. Graduação – Divisão de Infra-Estrutura Aeronáutica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, 2004.