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Ano
o 16 – nº 796 – Vinicius Pereira/Folhapress
Revista
Domingo, 29 de
junho de 2014
A estudante Ivy
Farias adotou a
pinscher Nany,
que a ajudou
a superar a
depressão
Adote um
amigo
Estima-se que haja 400 mil cães e gatos
desamparados na cidade de São Paulo; saiba
como adotar um bichinho e mude sua vida
Rubens Cavallari/Folhapress
Alexandre Rossi, o Dr. Pet, cuida
temporariamente de Billy, para
alegria de Estopinha, adotada por ele
6
Adotar
capa
é animal
Levar para casa um bichinho abandonado pode ser uma
resolução difícil, mas que já mudou a vida de muita gente; saiba
como escolher um novo animal de estimação, onde e como
adotá-lo e o que levar em consideração na hora da decisão
“A gratidão de um animal retirado chorros e 150 gatos, mas esse número
muda todos os dias, com doações e nodas ruas ou de um abrigo é algo maravos animais que chegam”, conta Gavilhoso! Ele reconhece o que recebe e
demonstra agradecimento eterno”, ga- briele Dietz, veterinária e subgerente de
rante Luisa Mell, 35 anos, apresentado- vigilância e controle de animais domésticos da instituição. Lá, como em muitas
ra de TV conhecida pelo engajamento
na defesa dos animais. Dona de três ca- ONGs, a maioria dos animais é adulta.
“Filhotinhos são mais difíceis de sechorros adotados —Dino, Gisele e Marley—, ela fala com convicção dos benefí- rem encontrados, pois são a preferêncios de se adotar um
bichinho. “É bom para
Ao contrário do que as pessoas
o animal e melhor
ainda para quem o
imaginam, não é preciso
adota. É como se fosadotar o animal de estimação
se um filho ou um sobrinho de quatro paainda filhote para conseguir
tas”, define.
educá-lo de forma correta
Estima-se que haja
Alexandre Rossi, zootecnista conhecido como Dr. Pet
aproximadamente
400 mil cães e gatos
desamparados na cidade de São Paulo.
cia. Porém, ao contrário do que as pes“Há muitos deles em abrigos, nas ruas,
soas imaginam, não é preciso adotar o
no centro de controle de zoonoses ou
bicho ainda bebê para conseguir eduem clínicas veterinárias esperando a
cá-lo de forma correta”, aponta Alechance de serem adotados e terem uma xandre Rossi, zootecnista conhecido
família. Eles são tantos que não faz sen- como Dr. Pet. “Os filhotes são uma gracinha, bonitinhos, mas, por outro lado, é
tido comprar um bichinho em vez de
sempre mais garantido optar por um
adotar”, defende Luisa.
animal crescido, pois ele já tem o temSomente no Centro de Controle de
peramento definido, dá para saber se
Zoonoses de São Paulo, há, hoje, cerca
ele é tímido, se é briguento, se vai se dar
de 500 animais. “Existem uns 350 caAgora Revista da Hora Domingo, 29/6/2014 7
■
Ronny Santos/Folhapress
bem com gato ou com outros animais. E
também dá para avaliar de que tamanho ele vai ficar”, exemplifica. “As pessoas querem previsibilidade. A raça pode ajudar, mas não há garantias.”
Expert em adestramento, Rossi também se rendeu aos encantos de um bichinho adotado, a sapeca Estopinha,
que vive com ele desde 2009. “Ela foi a
melhor escolha, perfeita para mim. Me
disseram que ela era arteira, fomos
passear, e ela queria brincar com tudo,
era curiosa e não enjoou com a volta de
carro. Era a cachorra que eu queria para mim”, lembra ele.
O envolvimento do Dr. Pet com adoção de animais começou na infância,
Perla Poltronieri posa
com um dos 150 gatos
atendidos pela ONG
Catland, fundada por ela
Fazemos o trabalho que
o poder público deveria
fazer. As ONGs nem
deveriam existir, mas, já que
o governo não faz a parte
dele, nós fazemos a nossa
Perla Poltronieri, presidente da Catland
quando convenceu seus pais a transformar a casa em lar temporário, quando
se abriga algum animal abandonado
enquanto ele não acha um dono. “Era o
jeito de ficar com algum bicho por um
tempo”, ri ele, que continua ajudando
—inclusive está por uns dias com o chow
chow Billy em casa.
O expert apoia e incentiva a iniciativa.
“É uma boa saída para quem ainda está
inseguro, não sabe se quer ou não adotar, se vai se adaptar, ou ainda para
quem quer ajudar mas não pode ter um
vínculo para sempre”, explica. Ele completa dizendo que, após receber um bichinho em casa, muitas pessoas acabam gostando e percebem que podem
alterar suas vidas por causa daquele
animal. “Elas percebem que a vida melhora muito”, observa. Para os animais,
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a medida também é benéfica. “É uma
ótima estratégia para conseguir mais
lares e evitar que outros cães e gatos
sejam jogados em abrigos lotados.”
Perla Poltronieri, 40 anos, presidente
da Catland Rescue, concorda. “O lar
temporário é o modelo ideal para que
não haja abrigos, que não são soluções
definitivas, são mais como albergues e
extremamente necessários”, diz ela, cuja instituição cuida de cerca de 150 ga-
capa
O que avaliar
Ter um animal é um compromisso
para a vida
■ A expectativa de vida do bichinho pode
variar de 12 a 20 anos
■ É sempre melhor que a decisão seja
tomada em grupo pela família
■ Planeje se você terá condições
financeiras para arcar com gastos,
como alimentação e veterinário
■ Lembre que o bicho precisa que você
tenha tempo para brincar com ele,
ensiná-lo e levá-lo para passear
■ A mascote precisa ir ao veterinário
quando está saudável também _pelo
menos a cada seis meses
■ Animais de grande porte pedem
um espaço maior, além de mais
atividade física
■ Há animais que exigem tosa periódica,
por causa da pelagem (como poodle,
lhasa apso e shih tzu)
■ Pense onde
deixará o animal
quando viajar
■ Se tem
crianças
em casa,
deve acompanhar a
adaptação delas
com o bicho e dele
com elas
■
Fonte: Alexandre Rossi, zootecnista, conhecido como Dr. Pet; Luisa
Mell, apresentadora e defensora dos animais; Ceres Berger Faraco,
psicóloga, veterinária e fundadora do site Psicologia Animal; Eliane
Garcia Diniz, veterinária do Hospital Veterinário Sena Madureira; e
Gabriele Dietz, veterinária e subgerente de Vigilância e Controle de
Animais Domésticos do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo
Agora Revista da Hora Domingo,29/6/2014 9
■
Documentodeidentificaçãoéobrigatório
Há dois anos, a vira-lata Lila não imaginava que ganharia um lar, uma família e
que, inclusive, teria documentos. “Assim
que a encontramos, na rua, não sabíamos o
que fazer. Então, levamos ao Centro de
Controle de Zoonoses, onde ela foi vacinada e castrada. Lá, fizemos o RGA (registro
geral animal) e ainda colocamos o chip de
identificação eletrônica nela”, conta a empresária Renata Dutra, 36 anos. Ela e o marido, Jeferson Cicarelli, 37 anos, também
adotaram Pretinha.
A primeira recomendação ao achar um
animal é levá-lo ao veterinário. “É preciso
ver o estado de saúde do animal, vaciná-lo
e vermifugá-lo”, indica Eliane Garcia Diniz,
do Hospital Veterinário Sena Madureira.
Segundo Gabriele Dietz, subgerente de
vigilância e controle de animais domésticos
da instituição, o RGA é obrigatório para cachorros e gatos no município de São Paulo.
“Custa apenas R$ 2 e, com ele, o animal ganha uma plaquetinha para ser colocada na
coleira, que facilita a localização do proprietário caso ele se perca”, diz ela. É possível, ainda, implantar o microchip no animalzinho, que possibilita acesso ao banco
de dados. “Tem o tamanho de um grão de
arroz e, geralmente, é colocado no pescoço.
Não é obrigatório, mas é interessante que o
bicho tenha a identificação”, avalia.
Toda documentação é importante pois,
para os bichos, perder-se pode ser um
grande choque —até maior do que para seus
donos. A psicóloga Ceres Berger Faraco
afirma que o animal fica traumatizado
quando se perde ou é abandonado. “A ruptura dos vínculos que ele tinha com quem
cuidava dele gera sofrimento e pode comprometer a vida do bichinho. Especialmente se ele não tiver a sorte de encontrar outras pessoas com quem possa trocar afeto.”
Jeferson Cicarelli e Renata Dutra
mimam Pretinha e Lila,
ambas adotadas por eles
Ronny Santos/Folhapress
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capa
capa
Onde adotar
Seja diretamente na ONG ou em feiras de adoção, é importante levar RG,
CPF, comprovante de residência e passar pela entrevista com a equipe
Centro de Controle de Zoonoses
de São Paulo
www.prefeitura.sp.gov.br/zoonoses
De seg. a sex., das 9h às 17h, e sáb.,
das 9h às 15h
■ R. Santa Eulália, 86, tel. (11) 3397-8900
■ Taxa de adoção: R$ 17,15
■
■
Associação Protetora de
Animais São Francisco de Assis
www.apasfa.org
R. Alagoas, 539, tel. (11) 6955-4352
■ Feiras aos sáb., das 9h às 17h
■ Taxa de adoção: R$ 70
■
■
Matilha Cultural/ONG Natureza
em Forma
www.matilhacultural.com.br
R. Rego Freitas, 542
■ Dom., das 10h às 20h
■ Taxa de adoção varia conforme o animal
■
Ampara Animal
www.amparanimal.org.br
■ Feiras em locais variados
■ Informações pelo e-mail: contato@
amparanimal.org.br
■ Taxa de adoção: R$ 100
■
ONG Anjos dos Bichos
www.anjosdosbichos.com.br
■ Feira no estacionamento do posto Shell
(al. Araguaia, 3.207, Barueri)
■ Sáb., das 10 às 16h
■ Taxa de adoção: R$ 50
■
Gatópoles
www.gatopoles.com.br
■ Visitas agendadas no informacoes@
gatopoles.com.br
■ Sem taxa de adoção
■
■
ONG Deixe Viver
■ Feira no Internacional Shopping
Guarulhos (rod. Presidente Dutra, km 230,
Guarulhos, tel. (11) 2414-5000)
■ No último domingo do mês, das 13h às 18h
■ Taxa de adoção: R$ 40
Apaa (Associação Paulista de
Auxílio aos Animais)
Feira no estacionamento do Pet Center
Marginal (av. Washington Luis, 2.737, tel.
(11) 2305-7245)
■ Aos sáb., dom. e feriados, das 12h às 17h
■ Taxa de adoção: R$ 60
■
Procure 1 Amigo
www.procure1amigo.com.br
■ Sem taxa de adoção
■
ONG Projeto CEL
■ www.projetocel.org.br/site_novo
Feira no Pet Center Marginal (av. Presidente
Castelo Branco, 1.795, tel. (11) 2797-7400)
■ Sáb. e dom., das 14h às 18h
■ Taxa de adoção: R$ 80
■
Cão Sem Dono
www.caosemdono.com.br
■ Feiras em locais variados
■ Informações pelo e-mail: faleconosco@
caosemdono.com.br
■ Sem taxa de adoção
■
Catland
www.facebook.com/rescuecatland
■ Sem taxa de adoção
■
Projeto Cão Sem Fome
projetocaosemfome.com
■ Sem taxa de adoção
■
Agora Revista da Hora Domingo, 29/6/2014 11
■
Vinicius Pereira/Folhapress
■ Ivy Farias brinca com a cachorrinha Nany, adotada em 2012; a estudante, que se
tornou voluntária de ONG, acredita que a mascote a ajudou a superar a depressão
tos. “Não vou mudar o mundo, mas posso transformar a vida daqueles gatos
que estão na minha mão”, vibra.
O interesse pelos felinos foi despertado em 2009, quando ela ganhou a gatinha Megh. “Não conhecia os hábitos
desse animal. Comecei a ler sobre o assunto e vi os maus-tratos, as ONGs que
os resgatam... Também tinha que fazer
alguma coisa”, recorda ela. “Não dá para virar as costas quando vemos um
animal na rua. Eu tratava, castrava e
dava para meus conhecidos. Minha família inteira tem gatos”, diverte-se.
Sobre a atuação da Catland, ela afirma: “Fazemos o trabalho que o poder
público deveria fazer. As ONGs nem deveriam existir, mas, já que o governo
não faz a parte dele, nós fazemos a nossa”, alfineta ela. “Fazer algo em benefí12
cio de uma causa como essa é impagável. Não existe valor financeiro que
compense. Salvar os animais é minha
maior compensação e motivação.”
O processo de doação
A maioria das ONGs recolhe os animais abandonados, examina, castra,
vacina e cuida deles até encontrar um
dono, o que pode demorar dias ou anos.
Para escolher, a pessoa pode ir à sede
da instituição, às feiras de adoção ou
mesmo escolher o bicho pela internet.
Algumas organizações cobram uma taxa ou pedem uma contribuição para
ajudar com os gastos, outras oferecem
o animal gratuitamente. Antes de pegar um bichinho, porém, é preciso pensar bem e em todos os aspectos.
“É o que chamamos de posse respon-
sável, um compromisso para a vida”,
pontua Gabriele, do Centro de Controle
de Zoonoses. “O ideal é que a decisão de
ter um novo membro em casa seja tomada por toda a família em conjunto. O
animal não é um objeto ou um brinquedo que se compra e, depois, quando
cansa, encosta num canto”, ressalta.
Para Ivy Farias, 33 anos, a adoção da
pinscher Nany foi uma das melhores
coisas que aconteceu nos últimos dois
anos. “Eu estava com depressão, e o
médico tinha me sugerido que adotasse
um cachorro. Fui parar na página do
Cão Sem Fome, vi a foto dela, e foi amor
à primeira vista”, conta a estudante de
direito, destacando que a cachorra a
ajudou a superar a doença. “Eu até
emagreci, porque, queira ou não, você
tem que ir passear com o cachorro, limpar xixi e coco, cuidar dele”, lista Ivy.
Ana Carolina de
Toledo adotou dois
gatos e abriga
temporariamente
outros três
“Os médicos indicam a adoção de animais de estimação para estimular o
exercício, pois, quando as pessoas estão
cuidando de outra vida, elas ficam mais
motivadas a dar uma volta”, emenda
Gabriele. “Só não dá para um idoso pegar um filhotinho, porque ele não terá
energia para acompanhar o ritmo do
animalzinho. Além disso, as unhas e os
dentinhos podem machucar a pele fina
dele”, complementa Luisa Mell.
Já a bancária Ana Carolina de Toledo,
34 anos, esperou que seu filho, Théo,
sete anos, ficasse maior para ela voltar
a ter gatos. “As brincadeiras dele quando pequeno assustavam a gata que tínhamos e que hoje está com a minha
mãe”, conta ela.
Ana adotou o gatino Neno, em 2013, e
Elvis, há quatro meses. “Percebi que o
primeiro precisava de companhia e me
ofereci como lar temporário para o Elvis, já sabendo que não ia devolvêlo”, ri ela, que hoje abriga temporariamente outros três gatos. “O
bicho é uma terapia. Ele te
dá amor e companheirismo
sem querer nada
em troca.”
Ronny Santos/Folhapress
(Laís Oliveira)
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Bichos de estimação viram tatuagens
que marcam o corpo de seus donos
Fábio Fernandez Fuentes,
44 anos, exibe a
tatuagem do cão Pepe
16
anos, que fez a imagem de Pepe, da raça
jack russell, na panturrilha.
Apaixonada por seus quatro cães, a
pedagoga Ana Panzani Alves Veloso, 33
anos, escolheu o mais velho deles para
representar a matilha. “Queria fazer algo que simbolizasse todos eles, e o
Shark é um referencial muito precioso e
amoroso. Não que os outros não sejam,
todos são amigos, que vão deixar
um buraco imenso quando partirem”, diz ela, que adotou o pitbull Shark há oito anos.
Segundo o psicólogo Haroldo Lopes, quem tatua a imagem
do animal de estimação está
mostrando a forte ligação
que tem com ele. “A tatuagem funciona como
uma aliança, uma demonstração de fidelidade com aquela vida que, para ela, é
tão importante. A
pessoa mostra o
afeto que tem pelo
bicho e exibe orgulhosa aquela ima-
Robson Ventura/ Folhapress
Adotados ou não, os bichinhos de estimação conquistam um lugar cada vez
maior no coração de seus donos, que
não medem esforços para agradar os
animais e cuidar deles com todo carinho. Alguns demonstram esse afeto ao
marcar o amor pelo bichinho na própria
pele. “Sempre gostei de tatuagens, mas
nunca achei algo que realmente tivesse
vontade de fazer. Foi quando resolvi tatuar a foto do meu cachorro, que seria algo com um
significado importante para
mim”, diz o administrador
Fábio Fernandez
Fuentes, 44
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