Impacte da Poluição Atmosférica por
Partículas (PM10) na Mortalidade dos
Residentes no Concelho de Lisboa
Mafalda Lira
Rita Nicolau
Ausenda Machado
Departamento de Epidemiologia do INSA
Luísa Nogueira
Francisco Ferreira
Comissão de Coordenação
e Desenvolvimento Regional
de Lisboa e Vale do Tejo
Departamento de Ciências e
Engenharia do Ambiente da
FCT-UNL
Trabalho desenvolvido no âmbito do Projecto RISKAR LX, financiado pela
Objectivos
• Avaliação do efeito de curto prazo, resultante de aumentos
súbitos da concentração de PM10 (partículas em suspensão
na atmosfera com dimensão inferior a 10 µm) na
mortalidade diária dos residentes no concelho de Lisboa.
• O impacte na saúde será quantificado através da
estimativa do risco relativo de morte ocasionado por um
incremento de 10 µg/m3 na concentração diária de PM10.
Informação Base
Para o período 2000-2004:
• Nº de óbitos diários (de residentes no concelho) por:
!Todas as causas, excepto externas
!Doenças do Aparelho Circulatório
!Doenças do Aparelho Respiratório
• Concentração média diária de PM10
• Dados Climáticos:
!Temperatura do ar (média, máxima e mínima diárias)
!Humidade relativa do ar (média diária)
• Época de actividade gripal:
!Taxa semanal de incidência de gripe
!Variável indicatriz dos períodos epidémicos de gripe
• Variáveis representativas de aspectos temporais:
!Dia, dia da semana, mês, ano, estações do ano e feriados.
Métodos
• Estudo ecológico baseado em séries temporais.
• Aplicação de Modelos Aditivos Generalizados (GAM)
(Hastie & Tibshirani, 1990).
• Avaliação dos modelos:
- análise de resíduos (normalidade e ausência de auto-correlação);
- comparação dos valores de R2;
- comparação dos valores do Critério de informação de Akaike
(AIC).
• Estimação do Risco Relativo (RR) de morte com base no
modelo seleccionado.
Hastie T, Tibshirani R. Generalized Additive Models. Hall Ca, editor. London 1990.
Métodos
Modelação do efeito do PM10 sobre a mortalidade:
A variável resposta (logaritmo do nº diário de óbitos) é expressa como uma
função aditiva de diversas co-variáveis (concentração de PM10, temperatura,
actividade gripal, ….) que são incluídas progressivamente no modelo.
Numa primeira fase, incluem-se as co-variáveis que permitem modelar a
periodicidade, a sazonalidade e a tendência, características das séries
temporais (dias da semana, do mês, do ano, estações do ano, feriados, …).
Numa segunda fase incluem-se as co-variáveis susceptíveis de originar
confundimento na relação da mortalidade com a concentração de PM10
(temperatura, humidade relativa, períodos epidémicos de gripe, …).
Numa fase final, estima-se o efeito da concentração de PM10 na mortalidade
através de uma componente linear no modelo.
Resultados
maior risco de morte para valores de temperatura
inferiores a 15ºC ou superiores a 27ºC
Representação
gráfica da função
suavização
adoptada para a
variável
temperatura média
diária com
desfasamento
temporal de 2 dias,
no modelo da
mortalidade por
todas as causas,
excepto externas.
Da observação da figura constata-se que:
- a relação entre a temperatura e a mortalidade não é linear;
- o risco de morte é mais elevado para temperaturas extremas quentes.
Resultados
Diagnóstico dos Modelos:
- Modelos com características de bom ajustamento (resíduos normais e
não auto-correlacionados) na mortalidade por todas as causas e na
mortalidade por doenças do aparelho circulatório;
- Modelos com
respiratórias.
pior
ajustamento
na
mortalidade
por
causas
Resultados
Variáveis mais significativas nos modelos obtidos para a
mortalidade por todas as causas, excepto externas:
- Dia (suavizado);
- Ano;
- Estação do ano;
- Indicatriz de períodos epidémicos de gripe;
- Temperatura média diária (suavizada) com desfasamento de 1 dia
[indivíduos ≥65 anos] ou 2 dias [total; indivíduos ≥75 anos];
- Concentração de PM10 com desfasamento até 2 dias.
Resultados
Variáveis mais significativas nos modelos obtidos para a
mortalidade por doenças do aparelho circulatório:
- Dia (suavizado);
- Ano [apenas para a população mais idosa];
- Estação do ano;
- Indicatriz de períodos epidémicos de gripe;
- Temperatura média diária (suavizada) com desfasamento de 1 dia;
- Concentração de PM10 com desfasamento de 2 dias.
Resultados
Variáveis mais significativas nos modelos obtidos para a
mortalidade por doenças do aparelho respiratório:
- Dia (suavizado);
- Ano;
- Estação do ano;
- Indicatriz de períodos epidémicos de gripe;
- Temperatura média diária (suavizada) com desfasamento de 2 dias;
- Humidade relativa do ar (suavizada);
- Concentração de PM10 com desfasamento de 5 dias.
Estimativas do risco relativo de morte (RR)
para um aumento de 10 µg/m3 na concentração
diária de PM10
Resultados
Todas as causas
(excepto
externas)
Causas do
Aparelho
Circulatório
Causas do
Aparelho
Respiratório
Nº
observações
RR
I. C. a 95%
para RR
% RR
Total
38598
1,0066
(1,0011 ; 1,0121)
0,66 %
≥65 anos
31739
1,0085
(1,0025 -; 1,0145)
0,85
%
-
≥75 anos
24170
1,0122
(1,0054 ; 1,0191)
1,22 %
Total
17496
1,0115
(1,0022 ; 1,0208)
1,15 %
≥65 anos
15879
1,0129
(1,0046 ; 1,0213)
1,29 %
≥75 anos
13061
1,0145
(1,0054 ; 1,0237)
1,45 %
Total
3234
*
*
*
≥65 anos
2955
1,0198
(1,0016 ; 1,0384)
1,98 %
≥75 anos
2461
1,0224
(1,0026 ; 1,0427)
2,24 %
* Não se detectou um efeito significativo (a 5%) do PM10 sobre a mortalidade
Conclusões
O aumento súbito da poluição atmosférica por PM10 está
associado a um aumento da mortalidade:
• Estimou-se que um aumento de 10 µg/m3 da concentração diária de
PM10 correspondeu a um acréscimo do risco relativo de morte por todas
as causas excepto externas (+0,66%) e a um acréscimo do risco de
relativo de morte por causas do aparelho circulatório (+1,15%).
• As estimativas de risco de morte por doenças do aparelho respiratório
só foram significativas para a população mais idosa (≥ 65 anos ou ≥ 75
anos).
• Não se obtiveram conclusões significativas para o efeito do PM10 na
mortalidade dos mais jovens (idade inferior a 15 anos), devido ao
reduzido número de óbitos verificados nesta classe etária.
Conclusões
• Os resultados relativos às 3 causas de morte apreciadas apontam
para riscos de mortalidade mais elevados para indivíduos mais idosos
(≥ 65 anos ou ≥ 75 anos).
• Para os indivíduos com ≥ 75 anos, estimou-se que um aumento de 10
µg/m3 na concentração diária de PM10 produziria um aumento de :
1,12% na mortalidade por todas as causas (excepto externas);
1,45% na mortalidade por causas do aparelho circulatório;
2,24% na mortalidade por causas do aparelho respiratório.
• Nas situações em que se obtiveram estimativas de risco significativas
e comparáveis nas 3 causas de morte apreciadas, verificou-se que
aquelas estimativas eram mais elevadas nas causas respiratórias do
que nas causas do aparelho circulatório e do que no total de causas
(excepto externas).
Conclusões
• Na mortalidade por causas do aparelho respiratório, a variável PM10 foi
apenas significativa para um desfasamento temporal de 5 dias, que é
superior ao desfasamento obtido para as restantes causas de morte (1
a 2 dias);
• Tal diferença pode ser justificada pelo facto das doenças do aparelho
respiratório terem uma progressão mais lenta, sendo o efeito nocivo da
poluição atmosférica apenas notável para maiores desfasamentos
temporais (Zanobetti et al., 2003).
Zanobetti A, Schwartz J, Samoli E, et al. The Temporal Pattern of Respiratory and Heart Disease Mortality in
Response to Air Pollution. Environ. Health Perspec. 2003; 111: 1188-1193
Conclusões
• Os resultados obtidos neste trabalho são concordantes com os
publicados pela Organização Mundial de Saúde - OMS (Anderson et al.,
2004):
A estimativa do risco relativo de morte por todas as causas (excepto
externas) associado a um acréscimo de 10 µg/m3 de PM10 publicada pela
OMS (1,006) é similar à obtida no presente estudo (1,007; IC95% [1,001 ;
1,012]);
A estimativa publicada pela OMS para o risco relativo de morte por causas
do aparelho circulatório foi de 1,009 enquanto que a produzida pelo actual
estudo foi de 1,012 ; IC95% [1,002 ; 1,021].
• Enquanto que os valores da OMS foram estimados através de metaanálise de vários estudos europeus, os apresentados resultaram da
modelação directa da mortalidade verificada no concelho de Lisboa entre
2000 e 2004.
Anderson H, Atkinson RW, Peacock JL, Marston L, Konstantinou K. Meta-analysis of time-series studies and panel
studies of Particulate Matter (PM) and Ozone (O3). London, United Kingdom2004 Contract No.: EUR/04/5042688
Conclusões
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Impacte da Poluição Atmosférica por Partículas (PM ) na