ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ORÇAMENTÁRIA AULA 04: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE CURTO PRAZO TÓPICO 05: ADMINISTRAÇÃO DO DISPONÍVEL VERSÃO TEXTUAL Numa situação ideal, em que uma empresa tem um controle total sobre sua liquidez, seu saldo de caixa seria zero. É óbvio que esta é uma posição de caixa inexistente, embora seja ótima. Fatores como alto custo do dinheiro, inflação, incerteza do fluxo de caixa, entre outros, fazem com que qualquer entidade precise manter, em magnitudes diferentes, um nível mínimo de caixa. Tradicionalmente, considera-se que existem três motivos para que uma empresa mantenha um valor mínimo de caixa: VERSÃO TEXTUAL • Primeiro Motivo - Uma empresa precisa ter recursos aplicados no caixa para poder honrar os compromissos assumidos. Se existisse sincronia perfeita entre os recebimentos e os pagamentos, a demanda de caixa para transação seria desnecessária. Uma empresa que mantenha diariamente recursos em caixa para fazer face à necessidade de troco também o faria pelo motivo transação. • Segundo Motivo - O segundo motivo de existência de um nível de caixa refere-se à precaução. Como existem fluxos de pagamentos futuros nem sempre totalmente previsíveis e em face da atitude do administrador financeiro em relação ao risco, uma empresa deve manter uma quantidade de recursos para estas eventualidades. Em geral, quanto mais propenso ao risco se mostrar a empresa, maior a quantidade de dinheiro mantido no caixa pelo motivo de precaução. • Terceiro Motivo - O terceiro motivo refere-se à especulação. Neste caso, a existência de recursos em caixa decorre da perspectiva de uma oportunidade futura para fazer negócios. Tendo em vista que investimento em caixa representa perda de rentabilidade, a empresa deve exercer controle sobre este item sem aumentar, em nível indesejado, o risco. O caixa mínimo exigido dependerá de uma série de fatores. A lista a seguir apresenta alguns destes, sem pretensão de esgotar o assunto: • Possibilidade de ocorrência de eventos não previstos no planejamento da empresa que representem desembolsos de caixa; • Possibilidade de furtos e desfalques, sendo que estes fatos podem ser minimizados através de controle mais acurado sobre os recebimentos e pagamentos de caixa; • Existência de prazo médio de recebimentos de vendas acima do necessário. Sempre que possível a empresa deve reduzi-lo, seja através de uma compensação mais rápida, seja pela redefinição da política de vendas a prazo; • Existência de prazo de pagamento reduzido. Com intuito de otimizar a rentabilidade, a empresa deve aumentar, sempre que for economicamente vantajoso, o prazo de pagamento; • Existência de grande investimento em estoques. É importante adequar a política de estoques, procurando diminuir o volume investido neste ativo, ajustando-o mais proximamente à demanda. • Existência de grande investimento em estoques. É importante adequar a política de estoques, procurando diminuir o volume investido neste ativo, ajustando-o mais proximamente à demanda. O estudo dos fatores listados indica que uma empresa típica sempre necessitará de um caixa mínimo para satisfazer a suas necessidades financeiras. Para determinar o valor que uma empresa pode deixar em caixa existem diversos modelos de administração de caixa que podem ser utilizados. O fluxo de caixa, por exemplo, é uma metodologia que permite à empresa determinar o fluxo de recursos futuros da empresa e, a partir desta informação, administrar o caixa e minimizar a necessidade de recursos. MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA São apresentados dois modelos de administração de caixa. O primeiro é o modelo de caixa mínimo operacional e o segundo é o modelo de Baumol. Caixa Mínimo Operacional Uma forma simples de estabelecer o montante de recursos que uma empresa deverá manter em caixa é através do Caixa Mínimo Operacional. Esta técnica, apesar de pouco sofisticada, pode ser útil no estabelecimento de um padrão do investimento em caixa. Para obter o Caixa Mínimo Operacional, basta dividir os desembolsos totais previstos por seu giro de caixa. Por sua vez, para obter o giro de caixa, basta dividir 360, se a base for em dias e o período de projeção for de um ano, pelo ciclo de caixa (ciclo financeiro). EXEMPLO Suponha que uma empresa tenha projetado para certo exercício desembolsos totais líquidos de caixa de R$ 4,2 milhões. Sabe-se que o ciclo de caixa desta empresa alcança 40 dias, ou seja, este é o intervalo de tempo em que a empresa somente desembolsa recursos, ocorrendo entradas de fluxos financeiros somente a partir do 48º dia. Logo, o giro de caixa é de 9 vezes, isto é: Um ciclo financeiro de 40 dias indica que o caixa gira (renovase) 9 vezes no período de um ano. Conhecido o giro do caixa, o montante mínimo de caixa a ser mantido visando satisfazer à demanda operacional por recursos no período totaliza: Pode-se dizer que, quanto maior for o giro de caixa e, consequentemente, menor o ciclo financeiro, mais reduzidas se apresentam quantidades exigidas para o caixa. Na busca de administração de caixa mais eficiente, a empresa deve procurar, dentro das condições de seus negócios, maximizar o giro de seu caixa. Com isto, como o Caixa Mínimo Operacional é obtido pela divisão dos pagamentos pelo giro, um giro de caixa alto acarreta uma necessidade menor de caixa operacional. EXEMPLO Para melhor entendimento, suponha uma empresa com prazo de pagamento de fornecedores de 30 dias, prazo de estocagem de 25 dias e prazo médio de recebimento de clientes de 60 dias. O ciclo de caixa é de 55 dias e é obtido pela soma do prazo de estocagem (25 dias) com o prazo de recebimento (60 dias) menos o prazo de pagamento (30 dias). O giro de caixa é de seis vezes e meio (aproximadamente), ou seja, 360/55. Supondo que os pagamentos anuais estimados da empresa sejam de R$ 800.000, o caixa mínimo operacional é de: Uma redução no prazo de recebimento para 30 dias faz com que o ciclo de caixa se reduza para 25 dias e aumente o giro de caixa para 14,4 vezes. Com isto, o caixa mínimo operacional passa de R$122.324 para R$55.555, promovendo uma redução de R$ 66.768. Modelo de Baumol O modelo de Baumol recebe o nome do pesquisador que propôs utilizar o conceito de lote econômico de compra. Este modelo é aplicado quando existem entradas periódicas de dinheiro no caixa e saídas constantes de recursos. Entre diversas situações, podem ser citados dois exemplos em que é possível existir uma aplicação do modelo de Baumol. O primeiro é o orçamento de uma família típica. Mensalmente, a mãe e/ou pai recebem um salário. Este salário será consumido ao longo do mês, à medida que ocorrerem as necessidades de pagamentos. O segundo caso diz respeito a uma empresa de consultoria que possui clientes que concentram o pagamento em determinado dia do mês, embora a empresa tenha que efetuar desembolsos ao longo do mês. Supondo a existência de um mercado financeiro com um investimento de curto prazo qualquer, uma empresa pode transformar um fluxo regular de recebimentos de caixa em diversos fluxos. Basta que aplique parte do recebimento inicial neste investimento e, com o tempo, vá sacando o dinheiro existente na conta do investimento. A Figura a seguir apresenta a situação original em que, a cada período de tempo (um mês, por exemplo), existe um recebimento e inúmeros pagamentos. A Figura posterior apresenta a situação em que o único recebimento foi transformado em três pela aplicação de 2/3 do recebimento original num investimento de curto prazo. Continuação De um lado, deixar parcela do dinheiro em investimento de curto prazo proporciona um ganho na forma de juros. Entretanto, cada operação de investir ou desinvestir pode implicar um custo, abrangendo desde impostos de transações financeiras até o custo do tempo que o funcionário da empresa leva para fazer a operação de ligar para o banco e solicitar a transferência de recursos da conta de investimento. Através do confronto entre os rendimentos obtidos com investimento de curto prazo e o custo de cada operação de aplicação e resgate, a empresa pode determinar em quantos montantes iguais o recebimento original será dividido, de modo a maximizar seu lucro. Este valor é obtido por: sendo i a taxa de juros da aplicação financeira, R o montante recebido periodicamente, b o custo de cada operação de investimento ou resgate incluindo aqui desde impostos até quaisquer custos diretamente vinculados a estas operações - e N o número de operações que serão realizadas no período. EXEMPLO Para melhor entendimento, seja um exemplo retirado do texto original de Assaf Neto e Tibúrcio Silva (Fonte: -- ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital de Giro São Paulo: Atlas, 3. Ed. 2007) . A empresa de advocacia que recebe no dia primeiro de cada mês R$ 9.600 pela prestação de seus serviços a outra empresa. Supondo um mês com 20 dias úteis, pode-se afirmar que os desembolsos médios diários da empresa montam R$ 480 (= 9.600/20). A taxa de juros de mercado é de 1 % a.m. e cada vez que é feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a empresa despende R$ 3,00 referentes ao custo vinculado a esta operação. Assim: Deste modo, serão feitas quatro operações de transferência de recursos sendo que cada um dos resgates no valor de R$ 2.400 (= R$ 9.600/4). Outra forma de analisar o resultado acima é dizer que a cada cinco dias (= 20/4) existirá uma transferência de fundos da aplicação financeira para o caixa da empresa. A Tabela seguinte mostra o fluxo de pagamentos e recebimentos da empresa. A primeira coluna apresenta o caixa inicial para cada dia. Para o primeiro dia, dos R$ 9.600 recebidos, R$ 7.200 foram investidos no curto prazo. Os desembolsos diários de R$ 480 reduzem o caixa até o instante em que seja necessário fazer uma transferência de recursos da aplicação financeira para o caixa, o que ocorre, no exemplo citado, no 5º, 10º e 15º dia útil do mês. Fonte ( -- Retirado do texto original de Assaf Neto e Tibúrcio Silva (2007)) O modelo de Baumol é importante por reconhecer a existência de um custo de transação e por relacionar o uso de caixa com o conceito de economia de escala. Assim, se a empresa de advocacia tivesse um aumento no volume recebido, de R$ 9.600 para R$ 19.200, o valor de N apresentaria um acréscimo para 5,66. Para concluir, deve ser lembrado que o modelo de Baumol considera que o fluxo de pagamentos é relativamente constante e o recebimento é periódico. Isso nem sempre é característica das empresas em seu dia-a-dia. Logo, dificilmente um fluxo de caixa será constante e previsível conforme suposto no modelo. Entretanto, é importante ressaltar que muitas suposições do modelo podem ser relaxadas sem muita complexidade, inclusive para algumas situações de incerteza, e podem ser úteis em alguns casos onde uma solução simples de implementar seja necessária. Em economias instáveis, a aplicação do modelo deve ser considerada com cuidado, pois, em sua formulação original, não considera a demanda de caixa para precaução e especulação, além de supor que a taxa de juros é constante no período considerado. Apesar destas restrições, é importante notar que o modelo traz para a discussão importantes princípios teóricos, essenciais ao estudo da administração de caixa, sendo, pois, um parâmetro bastante útil para a avaliação do saldo de caixa. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Resolva a lista de exercícios 4 (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) e poste as respostas em seu portfólio. Esta atividade é avaliativa. Capriche! LEITURA COMPLEMENTAR Leia a unidade 4 - Administração Financeira de Curto Prazo que se encontra em Material de Apoio (páginas 169 a 275). FÓRUM Vá ao fórum "Aula 4 – Discussão sobre dúvidas da aula 4" para discussão de dúvidas sobre administração financeira de curto prazo. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://www.adobe.com/go/getflashplayer Responsável: Prof. Sérgio César de Paula Cardoso Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual