O uso correto de talabartes duplos
Por: Marcos Amazonas, Gerente Técnico | Trabalho em Altura | Honeywell Produtos de Segurança.
O TALABARTE DENTRO DO SISTEMA
O sistema individual de proteção de queda é formado por um dispositivo de ancoragem, um dispositivo de união e um cinturão paraquedista. O talabarte é um dispositivo de união dentro deste
sistema e tem a função de conectar o trabalhador à estrutura ou servir de elo entre o cinturão paraquedista e um dispositivo de ancoragem.
FIGURA 1 - Sistema pessoal de proteção de queda
TALABARTES SIMPLES E DUPLOS
100% DO TEMPO CONECTADO
Os talabartes dividem-se em dois modelos
com relação à sua estrutura: os simples e
os duplos. Os simples são utilizados em
situações onde o trabalhador não terá de
soltar-se de um dispositivo de ancoragem
para se conectar a outro. Ele ficará no mesmo lugar, como em uma PTA (Plataforma
de Trabalho Aéreo) ou conectar-se a um
dispositivo móvel de ancoragem, em uma
linha de vida horizontal, que o acompanhará onde existir o risco de queda de altura. O
talabarte duplo é utilizado em situações em
que exista a necessidade de deslocamento
por estruturas, sem uma linha de vida ou
através de pontos fixos de ancoragem.
O talabarte duplo possibilita um deslocamento onde o usuário permanece 100% do tempo conectado a um dispositivo de ancoragem
alternando sua conexão em pontos de ancoragem dispostos de forma planejada. Isso aumenta a segurança do trabalhador, diferente
de um talabarte simples, onde seria necessário soltar-se de um ponto para conectar-se
ao próximo, expondo o usuário a um risco de
queda momentâneo, o que é inaceitável!
TALABARTES “Y” e “V”
Identificando melhor o talabarte duplo, aparecem algumas peculiaridades do equipamento,
que devem ser entendidas para que não sejam criados novos riscos de trabalho. Existem
dois tipos de talabartes duplos: Em “Y” e em
“V”conforme ilustrações das figuras 4 e 5 respectivamente.
Figura 2 - Talabarte Simples
FIGURA 4
Figura 3 - Talabarte Duplo
FIGURA 5
Representação dos talabartes “Y” e “V”
TIPO DO ABSORVEDOR DE ENERGIA
O absorvedor de impacto pode ser no formato de “pacote” onde a
fita especial rompe-se após uma queda gerando um mecanismo
de desaceleração. Em alguns produtos esse efeito pode ser alcançado durante o rasgamento da costura em fitas tradicionais, em
outras situações a absorção de energia se dá em fitas especiais
produzidas para esta finalidade. Em ambas as tecnologias o rompimento ocorre de forma controlada até que o usuário atinja a inércia. O talabarte com absorvedor de pacote pode ser nos modelos
“Y”(1 “pacote”) ou em “V”(2 “pacotes”). Outra tecnologia disponível
no mercado consiste na inserção do absorvedor de energia dentro
de uma fita tubular conforme ilustrado na figura 13. Este modelo é
obrigatoriamente em “V”, pois o absorvedor de impacto faz parte
das próprias pernas dos talabartes. Em breve é possível que surjam outras alternativas técnicas no mercado.
FIGURA 6 - Representação
de um talabarte em “V” sem
“pacote”.
“PERNAS” DO TALABARTE
O talabarte duplo obrigatóriamente possui 3 pontas. Uma que deve
ser conectada ao elemento de engate de retenção de queda do cinturão paraquedista e que fica no vértice do “Y” ou do “V” e as outras
duas, que podem ser identificadas como “pernas” do talabarte a serem conectadas a um dispositivo de ancoragem. Aqui também é utilizada uma terminologia que facilita o entendimento da estrutura do talabarte e que pode ser identificado como uma utilização equivocada
gerando riscos desnecessários. Isso acontece quando o trabalhador,
conecta uma das pernas no seu cinturão e a outra na ancoragem deixando livre o vértice do “Y” ou do “V”. Quando utilizado desta maneira
o talabarte passa a ter o dobro do seu tamanho, comprometendo
a sua funcionalidade. Para quem está acostumado, isso parece impossível de acontecer! No entanto, trata-se de um risco existente e
merece um alerta!
6kN
O dispositivo de união (neste caso o talabarte) é o componente
do sistema individual de proteção de queda, responsável pela absorção do impacto. O valor aceitável a ser recebido pelo corpo da
pessoa, que também é repassado ao dispositivo de ancoragem é
de 6kN. Esse pode variar de país para país em função das diferentes normas internacionais vigentes. É o absorvedor que irá deformar-se de forma projetada, para reduzir a força dentro do mínimo
espaço de frenagem. A falta de um absorvedor de impacto pode
gerar forças muito superiores a 6kN. A matéria prima do talabarte
pode resistir ao alto impacto gerado pela queda sem um absorvedor, porém, o ser humano não suporta. No Brasil, é proibida a
utilização de talabartes sem absovedor de impacto para retenção
de queda a menos que a aplicação seja especifica para trabalhos
de posicionamento.
FIGURA 7 - Risco de utilização errada
do talabarte.
TALABARTE EM “Y”
Este modelo de talabarte possui um absorvedor de impacto comum para as suas “2 pernas” e, para que funcione corretamente, atente-se a alguns detalhes que devem ser respeitados:
Em muitas situações, o trabalhador tem uma das “pernas” do
talabarte conectado à estrutura e a outra fica livre, fixada em
algum ponto do cinturão para que não o incomode. Aqui está o
maior problema: esta “perna” livre acaba por ser conectada em
alguma parte estrutural do cinturão, assim como nas argolas
(elementos de engate) de posicionamento ou nas fitas estruturais do cinturão. Caso venha a ocorrer uma queda, o absorvedor de energia pode não abrir-se por completo, o que afeta
diretamente sua performance. Também pode fazer com que o
trabalhador fique suspenso pelo ponto do cinturão onde a “perna” foi fixada, deixando-o em uma péssima posição à espera
de um resgate.
Veja que a abertura do absorvedor de energia (ver figura 9) pode
ser maior do que a “perna” do talabarte e em caso de queda sua
eficiência será comprometida caso seja feito um mal uso do talabarte. Devido a este fato, existem novos requisitos de norma,
na Europa e nos Estados Unidos, que ensaiam os talabartes
conectados por duas “pernas” de forma a identificar se existe a
possibilidade de haver o rasgamento no vértice do produto, que
pode causar a falha do talabarte.
TABELA 1
Requisitos de norma para talabartes de retenção de queda
Norma
Queda livre
máxima
Comprimento
máximo do
talabarte
NBR 14629
e
NBR 15834
4m
2m
Comprimento
mínimo do
talabarte
Força de
pico máxima
para
retenção de
queda
Abertura
máxima do
absorvedor
de impacto
Não existe
requisito
6kN
1,75m
A forma correta de evitar este risco é fixar esta “perna”, que não
está conectada à um ponto de ancoragem, em um local específico
para isso, por exemplo a um porta-talabarte destacável ou alça
destacável.
CERTO
ERRADO
CERTO
FIGURA 8
Representação dos talabartes “Y” e “V”
1x
1,5x
FIGURA 9 - A abertura do absorvedor pode ser maior do que a “perna”
do talabarte.
ALÇA DESTACÁVEL
Para que os riscos de ficar suspenso de forma inadequada e de
receber um impacto muito alto sejam eliminados, foi desenvolvido pela Honeywell um ponto específico para porta-talabartes.
Esta alça destacável não tem resistência para mais do que alguns quilos e se for acionada solta-se facilmente do cinturão. A
alça destacável também protege o trabalhador quando a “perna”
conectada ao cinturão (ou mesmo as duas quando não estiver
trabalhando em altura) venha a engatar-se acidentalmente em
alguma saliência.
TALABARTES EM “V”
Este modelo de talabate possui um absorvedor de impacto para
cada “perna”, ou seja, dois absorvedores. Uma das vantagens
deste modelo é que ele possui uma amplitude maior de alcance
quando comparado ao modelo em “Y”, o que gera uma autonomia maior ao trabalhador.
FIGURA 10 – Um modelo de porta
talabarte destacável.
O risco neste caso pode ocorrer quando a pessoa está conectada às duas “pernas” de forma simultânea, ou seja, dois absorvedores de impacto. Foi visto acima que um absorvedor é projetado para refletir na pessoa um impacto em torno de 6 kN. Então,
se dois absorvedores de energia forem solicitados por apenas
uma pessoa, irão repassar um impacto mais alto. Em algum momento, durante um deslocamento, o trabalhador terá que ficar
conectado as duas “pernas” do talabarte em “V” e deverá estar
ciente deste risco e não manter-se nesta situação.
O talabarte em “V” não tem limitações com relação a conexão
da perna livre no cinturão, uma vez que cada perna possui seu
próprio absorvedor de impacto funcionando de forma independente.
CERTO
ERRADO
FIGURA 12 - Forma certa e errada de se utilizar o talabarte em “V”
FIGURA 11 – Talabartes “Y e “V”
com mesmo comprimento e amplitudes diferentes.
É muito importante o trabalhador estar ciente deste risco, pois
a sensação de estar mais protegido conectado pelas duas “pernas” não é verdadeira neste modelo de equipamento.
FIGURA 13 - Modelo de talabarte
em “V”, onde os absorvedores de
impacto ficam dentro da fita tubular
das “pernas”.
Não é possível identificar qual é o melhor modelo para cada realidade de trabalho. O importante é
conhecer as características de cada um dos modelos e com isso identificar o mais adequado à demanda da sua empresa. A Honeywell está pronta para auxiliar na escolha do equipamento correto
e também para auxiliar na cultura de segurança, com informações técnicas e suporte.
Honeywell, protegemos mais que um trabalhador, estamos protegendo uma vida.
BIBLIOGRAFIA
• ANSI/ASSE Z359.13-2009 Personal Energy Absorbers and Energy Absorbing Lanyards.
• BS 8513:2009 Personal fall protection equipment – Twin-legged energy-absorbing lanyards – Specification.
• BS 8437:2005 Code of practice for selection, use and maintenance of personal fall protection systems and equipment for use in the workplace.
• WAHSA Technical Guidance Note 4 “Guidance on the use of single and twin energy absorbing lanyards”
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O uso correto de talabartes duplos