SERVIÇOSDEENERGIA SERVIÇOSDEENERGIA por FILIPA CARDOSO “A ESE deveria ser encarada como uma extensão do próprio cliente” Confiança e transparência são alguns elementos que faltam para desbloquear todo o potencial do mercado dos serviços de energia. Para fazer face a esse desafio, o projecto europeu Transparense desenvolveu um Código de Boas Práticas para contratos de desempenho energético. A Schneider Electric faz parte do Comité Científico Nacional do projecto, por isso, Luís Hagatong, Energy Efficiency manager da empresa, explica qual a necessidade e as vantagens deste documento para o caso português. Qual foi a necessidade de criar um código de boas práticas para o mercado dos serviços energéticos, quer a nível europeu, quer a nível nacional? A criação de um código de boas práticas deve-se à necessidade concreta e urgente de transmitir a todos os intervenientes no mercado de serviços energéticos uma maior segurança, transparência e credibilidade neste tipo de modelo de contratação fora dos modelos tradicionais, através da definição de valores e princípios fundamentais que permitirão melhorar a qualidade dos serviços energéticos e facilitar a elaboração e implementação dos Contratos de Desempenho Energético (CDEs). 68 Que impacto poderá ter no mercado português? O principal impacto para o mercado português de Serviços Energéticos que esperamos do Código Europeu de Boas Práticas, considerando a sua pouca maturidade neste tipo de modelo de negócio, é o aumento de confiança em todos os intervenientes se, por exemplo, este tipo de conduta for reflectido nos cadernos de encargos e um requisito a ser seguido. No caso nacional, que barreiras existem à sua implementação? A maior barreira que existe é ainda o grande desconhecimento das vantagens e benefícios dos Serviços Energéticos. Muitas vezes, a empresa de serviços energéticos (ESE) é vista, única e exclusivamente, como uma oportunidade para os clientes (uma empresa ou instituição pública) modernizarem uma infra-estrutura sem investimento. Ou seja, a ESE é vista apenas como um “financiador” do projecto, quando deveria ser encarada como uma extensão do próprio cliente, fornecendo know-how exclusivamente dedicado e especializado na optimização da infra-estrutura e onde ambos (ESE e cliente) “lutam” para o mesmo fim: o da eficiência energética e da redução dos custos de exploração. Se pensarmos ainda que outro dos principais obstáculos ao crescimento das ESE no mercado nacional é precisamente a falta de transparência, rapidamente percebemos que faz todo o sentido a criação de um Comité Científico Nacional e a implementação de um código de boas práticas em Portugal. Só assim é possível estimular a procura de Contratos de Desempenho Energético. O Código Europeu de Boas Práticas dirige-se também aos clientes. Considera que estes estão sensibilizados para estes valores (ou como poderá ser feita essa sensibilização)? Efectivamente, este código destina-se não só às ESE mas também aos seus clientes, assim como quando exista, uma terceira entidade – o financiador. Estando todas as entidades sensibilizadas e aderindo ao mesmo, traduzir-se-á numa maior confiança entre todas as partes envolvidas, facilitando todo o processo de contratação. O Código Europeu de Boas Práticas, no âmbito do desenvolvimento de contratos de desempenho energético, reflecte o compromisso dos seus signatários em desenvolver um trabalho profissional e credível, numa perspectiva colaborativa, clara e transparente com todas as partes envolvidas, de forma a desenvolver um mercado de serviços energéticos de qualidade e sustentável. Assim, para uma maior sensibilização das partes envolvidas, é necessária uma maior sessão de esclarecimento e divulgação destas boas práticas, de modo a que as mesmas sejam solicitadas e seguidas em todos estes modelos de contratação. De entre os valores elencados, quais elegeria como os mais importantes? Os valores que considero mais importantes coincidem com os valores base do Código Europeu de Boas Práticas: Eficiência, Profissionalismo e Transparência, defendendo a ética, qualidade e colaboração. É essencial assegurar poupanças economicamente eficientes, um relacionamento leal e transparente com o cliente e que todas as etapas dos projectos são conduzidas de forma legal e íntegra, tal como a qualidade e ética em todas as etapas de implementação. Na sua opinião, há algum valor em falta que deveria ser incluído? Acredito que os principais valores estão incluídos neste código de conduta. Contudo, e com a evolução natural do mercado de Serviços Energéticos, poderá haver futuramente necessidade de incluir outros valores, pelo que não deveremos considerar o Código como um documento final e definitivo, mas, antes, como algo que poderá mudar de acordo com a própria evolução e novas necessidades do mercado. Que razões levaram a Schneider Electric a fazer parte do Comité Científico Nacional? A Universidade de Coimbra fez o convite à Schneider Electric para integrar o Comité Científico Nacional do projecto europeu Transparense para apoiar o lançamento do Código Europeu de Boas Práticas em Portugal. Aceitámos de imediato o convite pois revimos no projecto e no código os nossos próprios valores e princípios, com vista à credibilização e elevação da confiança no mercado de Serviços Energéticos. Como pretendem pôr em prática este código? Muito do estabelecido pelo Código de Conduta já era implementado no dia-a-dia da Schneider Electric. Ao subscrevermos este código de conduta, estamos a informar o mercado e a formalizar que iremos executar os nossos contratos seguindo os valores e princípios indicados nesse código de conduta. g