20 grandes _ xp*** 28/3/06 11:30 Page 9 INTRODUÇÃO «Como por vezes é demasiado incrível, a verdade é com frequência omitida.» HERACLITO «Uma vez excluído o impossível, o que resta, por mais improvável que pareça, deve ser a verdade.» SHERLOCK HOLMES «A lei e a ordem são sempre e em todos os lados a lei e a ordem que protegem a hierarquia estabelecida.» HERBERT MARCUSE Questão de Confiança Aquele que avisa não é traidor. Este não é um livro para todas as pessoas. Aqueles que se sentem confortáveis com a sua actual visão do mundo, da política, da religião, da economia ou da história, talvez devam escolher outro género de leitura. Também não creio que este seja um livro adequado para aqueles que têm uma fé inabalável no sistema e nas suas instituições, que consideram que os meios de comunicação não dizem senão a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Embora seja possível que isso não passe de um erro e que sejam precisamente estes que acabo de mencionar que se encontram mais necessitados de dispor de um ponto de comparação com o qual confrontem as suas crenças, embora os deva avisar que a experiência pode ser bastante desagradável. Por outro lado, deste livro desfrutarão – ou, pelo menos, foi essa a minha intenção – os inconformados, os que questionam a autoridade, os que a cada dia assistem atónitos ao espectáculo da crescente estupidificação do ser humano. Vamos falar de poder, não do poder nominal que dizem deter os que nos governam, mas sim do poder real, daquele que exercem na sombra indivíduos e instituições 9 20 grandes _ xp*** 28/3/06 11:30 Page 10 muitas vezes anónimos, mas com capacidade para alterar drasticamente o curso dos acontecimentos e influenciar a vida de milhões de seres humanos. Para isso, passaremos em revista material inquietante, desestabilizador, que raramente é mencionado nos órgãos de comunicação social e quase nunca nos livros de História. Resgataremos das catacumbas alguns cadáveres que foram aí abandonados com a esperança de que ninguém se viesse a recordar deles. Em não poucas ocasiões rotular depreciativamente estes acontecimentos com o termo «teoria da conspiração» foi o suficiente para os desacreditar e condená-los a um esquecimento injusto. Porque, afinal, quem no seu perfeito juízo acreditaria em seitas secretas, intrigas criminosas e encobrimentos governamentais? Este tipo de coisas são próprias de inadaptados, de mentes de imaginação demasiado fértil ou, como considerado por muitos, de jornalistas sensacionalistas ávidos de notoriedade. Esse é o descrédito que têm de sofrer aqueles que não se conformam com a versão oficial e decidem ir mais longe para ver o que poderão encontrar. O epíteto de paranóico é algo que todo o estudioso da conspiração tem de enfrentar mais cedo ou mais tarde. Geralmente, é uma difamação que pretende ser pejorativa, e que parece esquecer que determinado grau de paranóia é extremamente saudável. Todos sofremos em maior ou menor grau de certas doses de paranóia, embora, quando nos diz respeito, a suavizemos chamando-lhe «desconfiança». Não temos de nos sentir culpados. Pensemos quantas vezes essa «desconfiança» nos salvou de perigos para os quais a nossa boa vontade nos teria atirado de cabeça. E a paranóia não passa de um grau especialmente elevado de alerta. Tal como todos os estados alterados de consciência, apresenta-nos um mundo novo, distorcido em alguns aspectos, mas capaz de nos revelar facetas inéditas da nossa própria realidade. É possível que o século XXI seja o século da paranóia. Os avanços da tecnologia das comunicações faz com que a informação flua à velocidade da luz em completa liberdade, apesar daqueles que tradicionalmente procuraram subtrair-nos uma parte substancial da realidade. A idade dos segredos chegou ao fim e serão muitas as sur- 10 20 grandes _ xp*** 28/3/06 11:30 Page 11 presas que irão surgir quando saltarem pelos ares as tampas das cloacas do poder. Compreendo que seja difícil de enfrentar o facto de, em muitas ocasiões, esses líderes em quem temos de confiar não passarem de fantoches manipulados por mãos anónimas. Ao longo da nossa fugaz viagem do berço até ao túmulo, a nossa existência baseia-se fundamentalmente na confiança. Confiamos nos nossos pais, nos nossos filhos, no nosso companheiro, nos nossos amigos, na nossa empresa, no nosso banco e, às vezes, até no nosso governo. A sociedade funciona porque é um imenso acto de confiança colectiva. Mas, como tantas outras coisas, isso está a mudar: a informação flui livremente, a suspeita instalou-se nos nossos corações e já não colocamos a mão no fogo por ninguém. É esse o sinal do avanço dos tempos. O cidadão sente-se indefeso perante uma democracia que intui disfarçada e cujas regras são impunemente violadas por poderes que se podem intuir, apesar de não poderem ser vistos. Um abismo de desconfiança abriu-se sob os nossos pés. Perante esta situação, há duas posições: não prestar atenção, virar a cabeça para outro lado e aceitar as regras do jogo que nos impuseram, ou confrontá-lo tentando encontrar um resquício de luz por entre tanta escuridão. No entanto, é-nos mais fácil acreditar nas pequenas e mesquinhas traições do político corrupto ou do amigo desleal do que admitir que os alicerces de certas crenças podem ser tão falsos como um cenário de papelão. A miopia de não vermos mais além das nossas próprias crenças pode fazer-nos perder para sempre aquilo que nos torna autenticamente livres: a capacidade de duvidar. Nenhuma visão da realidade, incluindo a que se pode oferecer nesta obra, é inteiramente certa. A verdade, como todos os ideais, é algo que devemos tentar entender embora seja inatingível por definição. O diabo é um vendedor de verdades do qual devemos fugir o mais rapidamente possível, porque se comprarmos a sua mercadoria a nossa própria alma corre perigo. A teoria da conspiração é um paradigma, uma hipótese de raciocínio para nos aproximarmos do conhecimento da nossa realidade, nem melhor nem pior que o comunismo, o cristianismo, ou a crença inabalável naquilo que os órgãos de comunicação social nos oferecem. 11 20 grandes _ xp*** 28/3/06 11:30 Page 12 Um cepticismo saudável e uma comparação cuidadosa da informação de que dispomos são atitudes extremamente recomendáveis na vida quotidiana, ainda mais quando tratamos destes temas, convertendo-os em algo de indisfarçável se não queremos cair no terreno da especulação ou, o que ainda é pior, na demagogia. Aqui há muito pouco lugar para a fantasia e muito para os factos. Se na verdade queremos ter o mínimo de credibilidade no momento em que narramos histórias tão incríveis como as que virão a seguir, não temos outro remédio senão atribuir-lhes nomes, documentos e datas que, apesar do risco de aborrecerem, são o único modo de demonstrar que aquilo que se expõe merece encontrar-se no universo das possibilidades a considerar. Os factos estão aí. Nem sequer é necessário ser um grande investigador para aceder a eles. Só se tem de dar um passeio pelas traseiras da História, ser-se crítico e avaliar com uma mentalidade aberta os factos que se nos oferecem. Dois mais dois serão sempre quatro, e se encontrarmos um animal que mia, bebe leite e caça ratos o mais provável é que seja um gato por mais que alguns se empenhem em dizer-nos que se trata de uma lebre. Este livro só pretende fazer pensar, de modo a que o leitor tenha na sua posse uma série de elementos de raciocínio adicionais, sendo estes difíceis de obter por outros meios, e que lhe permitam considerar que existem outras maneiras de enfrentar a realidade. Não pretendo afirmar que todas as teorias que surgem aqui analisadas estão cem por cento certas, mas se cada uma delas contar com um conjunto de provas suficiente, pode despertar uma dúvida razoável. Encontrar a verdade – a sua verdade – é trabalho do leitor. 12