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INTRODUÇÃO
«Como por vezes é demasiado incrível,
a verdade é com frequência omitida.»
HERACLITO
«Uma vez excluído o impossível, o que resta,
por mais improvável que pareça, deve ser a verdade.»
SHERLOCK HOLMES
«A lei e a ordem são sempre e em todos os lados
a lei e a ordem que protegem a hierarquia estabelecida.»
HERBERT MARCUSE
Questão de Confiança
Aquele que avisa não é traidor. Este não é um livro para todas as
pessoas. Aqueles que se sentem confortáveis com a sua actual visão
do mundo, da política, da religião, da economia ou da história, talvez devam escolher outro género de leitura. Também não creio que
este seja um livro adequado para aqueles que têm uma fé inabalável
no sistema e nas suas instituições, que consideram que os meios de
comunicação não dizem senão a verdade, toda a verdade e nada
mais que a verdade. Embora seja possível que isso não passe de um
erro e que sejam precisamente estes que acabo de mencionar que se
encontram mais necessitados de dispor de um ponto de comparação
com o qual confrontem as suas crenças, embora os deva avisar que
a experiência pode ser bastante desagradável.
Por outro lado, deste livro desfrutarão – ou, pelo menos, foi essa
a minha intenção – os inconformados, os que questionam a autoridade, os que a cada dia assistem atónitos ao espectáculo da crescente estupidificação do ser humano. Vamos falar de poder, não do
poder nominal que dizem deter os que nos governam, mas sim do
poder real, daquele que exercem na sombra indivíduos e instituições
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muitas vezes anónimos, mas com capacidade para alterar drasticamente o curso dos acontecimentos e influenciar a vida de milhões de
seres humanos.
Para isso, passaremos em revista material inquietante, desestabilizador, que raramente é mencionado nos órgãos de comunicação
social e quase nunca nos livros de História. Resgataremos das catacumbas alguns cadáveres que foram aí abandonados com a esperança de que ninguém se viesse a recordar deles. Em não poucas ocasiões rotular depreciativamente estes acontecimentos com o termo
«teoria da conspiração» foi o suficiente para os desacreditar e condená-los a um esquecimento injusto. Porque, afinal, quem no seu
perfeito juízo acreditaria em seitas secretas, intrigas criminosas e
encobrimentos governamentais? Este tipo de coisas são próprias de
inadaptados, de mentes de imaginação demasiado fértil ou, como
considerado por muitos, de jornalistas sensacionalistas ávidos de
notoriedade. Esse é o descrédito que têm de sofrer aqueles que não
se conformam com a versão oficial e decidem ir mais longe para ver
o que poderão encontrar.
O epíteto de paranóico é algo que todo o estudioso da conspiração tem de enfrentar mais cedo ou mais tarde. Geralmente, é uma
difamação que pretende ser pejorativa, e que parece esquecer que
determinado grau de paranóia é extremamente saudável. Todos
sofremos em maior ou menor grau de certas doses de paranóia,
embora, quando nos diz respeito, a suavizemos chamando-lhe «desconfiança». Não temos de nos sentir culpados. Pensemos quantas
vezes essa «desconfiança» nos salvou de perigos para os quais a
nossa boa vontade nos teria atirado de cabeça. E a paranóia não
passa de um grau especialmente elevado de alerta. Tal como todos
os estados alterados de consciência, apresenta-nos um mundo novo,
distorcido em alguns aspectos, mas capaz de nos revelar facetas inéditas da nossa própria realidade.
É possível que o século XXI seja o século da paranóia. Os avanços da tecnologia das comunicações faz com que a informação flua
à velocidade da luz em completa liberdade, apesar daqueles que tradicionalmente procuraram subtrair-nos uma parte substancial da
realidade. A idade dos segredos chegou ao fim e serão muitas as sur-
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presas que irão surgir quando saltarem pelos ares as tampas das
cloacas do poder.
Compreendo que seja difícil de enfrentar o facto de, em muitas
ocasiões, esses líderes em quem temos de confiar não passarem de fantoches manipulados por mãos anónimas. Ao longo da nossa fugaz
viagem do berço até ao túmulo, a nossa existência baseia-se fundamentalmente na confiança. Confiamos nos nossos pais, nos nossos
filhos, no nosso companheiro, nos nossos amigos, na nossa empresa, no nosso banco e, às vezes, até no nosso governo. A sociedade
funciona porque é um imenso acto de confiança colectiva. Mas,
como tantas outras coisas, isso está a mudar: a informação flui livremente, a suspeita instalou-se nos nossos corações e já não colocamos
a mão no fogo por ninguém. É esse o sinal do avanço dos tempos.
O cidadão sente-se indefeso perante uma democracia que intui disfarçada e cujas regras são impunemente violadas por poderes que se
podem intuir, apesar de não poderem ser vistos. Um abismo de desconfiança abriu-se sob os nossos pés. Perante esta situação, há duas
posições: não prestar atenção, virar a cabeça para outro lado e aceitar as regras do jogo que nos impuseram, ou confrontá-lo tentando
encontrar um resquício de luz por entre tanta escuridão.
No entanto, é-nos mais fácil acreditar nas pequenas e mesquinhas
traições do político corrupto ou do amigo desleal do que admitir
que os alicerces de certas crenças podem ser tão falsos como um
cenário de papelão. A miopia de não vermos mais além das nossas
próprias crenças pode fazer-nos perder para sempre aquilo que nos
torna autenticamente livres: a capacidade de duvidar.
Nenhuma visão da realidade, incluindo a que se pode oferecer
nesta obra, é inteiramente certa. A verdade, como todos os ideais, é
algo que devemos tentar entender embora seja inatingível por definição. O diabo é um vendedor de verdades do qual devemos fugir o
mais rapidamente possível, porque se comprarmos a sua mercadoria a nossa própria alma corre perigo. A teoria da conspiração é um
paradigma, uma hipótese de raciocínio para nos aproximarmos do
conhecimento da nossa realidade, nem melhor nem pior que o comunismo, o cristianismo, ou a crença inabalável naquilo que os órgãos
de comunicação social nos oferecem.
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Um cepticismo saudável e uma comparação cuidadosa da informação de que dispomos são atitudes extremamente recomendáveis
na vida quotidiana, ainda mais quando tratamos destes temas, convertendo-os em algo de indisfarçável se não queremos cair no terreno da especulação ou, o que ainda é pior, na demagogia. Aqui há
muito pouco lugar para a fantasia e muito para os factos. Se na verdade queremos ter o mínimo de credibilidade no momento em que
narramos histórias tão incríveis como as que virão a seguir, não temos
outro remédio senão atribuir-lhes nomes, documentos e datas que,
apesar do risco de aborrecerem, são o único modo de demonstrar que
aquilo que se expõe merece encontrar-se no universo das possibilidades a considerar.
Os factos estão aí. Nem sequer é necessário ser um grande investigador para aceder a eles. Só se tem de dar um passeio pelas traseiras da História, ser-se crítico e avaliar com uma mentalidade aberta
os factos que se nos oferecem. Dois mais dois serão sempre quatro,
e se encontrarmos um animal que mia, bebe leite e caça ratos o mais
provável é que seja um gato por mais que alguns se empenhem em
dizer-nos que se trata de uma lebre.
Este livro só pretende fazer pensar, de modo a que o leitor tenha
na sua posse uma série de elementos de raciocínio adicionais, sendo
estes difíceis de obter por outros meios, e que lhe permitam considerar que existem outras maneiras de enfrentar a realidade. Não
pretendo afirmar que todas as teorias que surgem aqui analisadas
estão cem por cento certas, mas se cada uma delas contar com um
conjunto de provas suficiente, pode despertar uma dúvida razoável.
Encontrar a verdade – a sua verdade – é trabalho do leitor.
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Primeiras páginas - A Esfera dos Livros