II DOMINGO do TEMPO COMUM – 19 de janeiro de 2014 EIS O CORDEIRO DE DEUS, AQUELE QUE TIRA O PECADO DO MUNDO Comentário de Pe. Alberto Maggi OSM ao Evangelho. Jo 1,29-34 Naquele tempo, 29No dia seguinte, João Batista viu Jesus aproximarse dele e disse: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30 Dele é que eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim’. 31Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel”. 32 E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. 33Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ´Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. 34Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!” João organiza seu evangelho seguindo o ritmo da criação, segundo o livro do Gênesis. É por isso que o trecho de hoje inicia com a expressão: “No dia seguinte”. É o segundo dia. E o evangelista vai cadenciando esses dias, até chegar ao sétimo dia, isto é, o dia da plenitude da criação, com as bodas de Caná, onde será anunciada a Nova Aliança. “João Batista viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o cordeiro de Deus... ’”. João Batista identifica em Jesus o Cordeiro de Deus. O que se entende por esse “cordeiro”? É o cordeiro pascal, quer dizer, o cordeiro que Moisés havia ordenado a seu povo para comer na noite de Páscoa, porque a carne teria dado a força necessária para fazer o caminho rumo à libertação. E o sangue deste cordeiro teria salvado os hebreus da morte que o anjo destruidor iria trazer naquela noite em todo o Egito. Portanto: carne para ter a força para caminhar rumo a liberdade; sangue que liberta da morte. João Evangelista vê em Jesus o Cordeiro de Deus. São numerosas as referências no evangelho sobre Jesus como o Cordeiro pascal. Por exemplo: a sua morte acontecerá na mesma hora em que, no templo, eram sacrificados os cordeiros para a Páscoa; como também o fato de que não será quebrado nenhum osso de Jesus, como havia sido estabelecido para o cordeiro pascal do êxodo. Portanto, João evangelista vê em Jesus “o Cordeiro de Deus”, aquele, cuja carne, dará a capacidade e a força para começar o êxodo, o caminho em direção à liberdade, rumo à libertação. É aquele, cujo sangue, não salvará da morte física, mas salvará da morte definitiva. Quem acolhe esse sangue terá uma vida de tal qualidade e capacidade que conseguirá vencer a morte! Então, a função do Cordeiro de Deus, segundo João, é aquele “...que tira o pecado do mundo”. Não se trata dos pecados do mundo, o que significaria os pecados dos homens, e sim do “pecado do mundo”. Há um pecado que precede a vinda de Jesus e é um obstáculo, uma barreira na comunicação entre Deus e a humanidade. Esse pecado é a recusa do dom de plenitude de vida que Deus oferece à humanidade. Esta recusa tem como causa a adesão a um sistema ideológico e religioso que é contrária à vontade de Deus. Depois, João Batista identifica Jesus: ”Dele é que eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim’ - portanto no momento Jesus é apresentado somente como homem - ‘Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel’”. Israel sempre foi um pequeno grupo que se manteve fiel ao Senhor, à Aliança e às promessas do Senhor. De fato no livro do profeta Sofonias se diz: “Eu farei permanecer em teu meio um povo humilde e pobre, um resto de Israel que confiará no nome do Senhor” (3,12). E a este pequeno grupo é confiada a promessa do Senhor. Mas, esta promessa que agora é para Israel, em seguida, com a vinda de Jesus, passará de Israel para toda a humanidade. E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito...” - o artigo determinativo indica a totalidade do Espírito que é a energia divina, a plenitude da força de Deus que é o Amor - “... descer do céu, como uma pomba...” lembramos que a pomba se refere tanto ao Espírito que pairava sobre as aguas na criação, como lembra o livro do Gênesis (1,2), quanto ao amor proverbial da pomba para o seu ninho – ”... e permanecer sobre ele”. É importante frisar como o evangelista enfatiza não só o fato de que o Espírito desce sobre Jesus, mas que pousa e permanece. O que significa isso? A experiência do Espírito é possível para muitos, mas somente quem, sobre o qual, o Espírito pousa e permanece, poderá comunicá-lo aos outros. Esta será, na verdade, a atividade de Jesus, que agora vamos ver. ”Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ´Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer... ’. Aqui, de novo, o evangelista sublinha que não só o Espírito, que é a força e a energia de Deus, desce sobre Jesus, mas que sobre Ele pousa e permanece. E continua literalmente: ‘... este é quem batiza com o Espírito Santo’”. O evangelista coloca em paralelo a expressão utilizada: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” com “Este é quem batiza com o Espírito Santo’’. Este “pecado do mundo” não deve ser apenas expiado, mas deve ser desenraizado. Como? Não através de uma luta, não através de uma violência. João já tinha escrito, em seu prólogo, que “a luz brilha nas trevas”. A luz não luta contra a escuridão. A luz simplesmente brilha e as trevas vão embora! A ação de Jesus é batizar no Espírito Santo. Enquanto, o batismo nas águas significava imersão num líquido que era externo ao homem, o batismo no Espírito Santo significa deixar-se impregnar, embeber com a plenitude do poder divino que vem de Deus através de Jesus. Portanto, a ação de Jesus é comunicar, a cada pessoa, sua própria vida divina. No momento em que sobre Jesus desce a força de Deus - o Espírito - a ação de Jesus é a de batizar com o Espírito Santo. “Santo” significa não só a qualidade, isto é, a santidade desse Espírito, mas também a sua atividade de santificar, isto é, proteger e defender todos os que acolhem esse Espírito da esfera do mal e das trevas. Portanto, a ação de Jesus é comunicar seu próprio Espírito. Uma vez que este Espírito é acolhido pelo ser humano, este se torna uma fonte borbulhante que comunica, de forma crescente, contínua e transbordante, a vida divina. O trecho termina: ”Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!”. Aquele que tinha sido anunciado simplesmente como um homem – “Depois de mim vem um homem que passou à minha frente” – agora é revelado como o Filho de Deus. Uma vez que a plenitude do Espírito Santo desce e pousa sobre Jesus, realizase a plenitude da condição divina e Jesus revela e manifesta plenamente a realidade de Deus.