II DOMINGO TEMPO COMUM - 16 janeiro 2011 EIS O CORDEIRO DE DEUS, AQUELE QUE TIRA O PECADO DO MUNDO - Comentário de Pe. Alberto Maggi OSM ao Evangelho. Jo 1,29-34 No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. 30 Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. 31 Eu também não o conhecia. Mas vim batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel”. 29 E João testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. 33 Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo’. 34 E eu vi, e dou testemunho de que este é o Filho de Deus”. 32 João organiza seu evangelho seguindo o ritmo da criação, segundo o livro do Gênesis. É por isso que o trecho de hoje inicia com a expressão: “No dia seguinte”. É o segundo dia. E o evangelista vai cadenciando estes dias, até chegar ao sétimo dia, o dia da plenitude da criação, com as bodas de Caná, onde será anunciada a Nova Aliança. Pois bem. “No dia seguinte, João Batista viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. João Batista identifica em Jesus o Cordeiro de Deus. O que se entende por este cordeiro? É o cordeiro pascal, quer dizer o cordeiro que Moisés ordenou ao seu povo para comer na noite de Páscoa, porque a carne daria a força necessária para fazer este caminho rumo à libertação. E o sangue deste cordeiro teria salvo os hebreus da morte que o anjo destruidor iria trazer naquela noite em todo o Egito. Portanto: carne para ter a força para caminhar rumo a liberdade; sangue que liberta da morte. João Evangelista vê em Jesus o Cordeiro de Deus. São numerosas as referências no evangelho sobre Jesus como o Cordeiro pascal, por exemplo: a sua morte acontecerá na mesma hora em que, no templo, eram sacrificados os cordeiros para a Páscoa; como também o fato de que não será quebrado nenhum osso de Jesus, como havia sido estabelecido para o cordeiro pascal do êxodo. Portanto João evangelista vê em Jesus o Cordeiro de Deus, aquele, cuja carne, dará a capacidade e a força para começar o êxodo, o caminho em direção à liberdade, rumo à 1 libertação. E aquele, cujo sangue, não salvará da morte física, mas salvará da morte definitiva. Quem acolhe este sangue terá uma vida com uma tal qualidade e capacidade que conseguirá vencer a morte. Então a função do Cordeiro de Deus, segundo João, é "aquele que tira o pecado do mundo". Não se trata dos pecados do mundo, o que daria o significado dos pecados dos homens, e sim do pecado do mundo. Há um pecado que precede a vinda de Jesus e é um obstáculo, uma barreira na comunicação entre Deus e a humanidade. Este pecado é a recusa do dom de plenitude de vida que Deus oferece à humanidade. Esta recusa tem como causa a adesão a um sistema ideológico e religioso que é contrária à vontade de Deus. E João Batista identifica Jesus: "Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim vem um homem’ - portanto no momento Ele é apresentado somente como homem – ‘Eu também não o conhecia. Mas vim batizar com água, a fim de que Ele se manifeste a Israel’”. Israel sempre foi um pequeno grupo que se manteve fiel ao Senhor, à Aliança e às suas promessas. De fato no livro do profeta Sofonias se diz: "Eu farei permanecer em teu meio um povo humilde e pobre, um resto de Israel que confiará no nome do Senhor". E a este pequeno grupo é confiada a promessa do Senhor. Mas esta promessa que agora é para Israel, depois, com a vinda de Jesus, passará de Israel a toda a humanidade. “E João testemunhou: ‘Eu vi o Espírito’”. O artigo determinativo indica a totalidade do Espírito que é a energia divina, a plenitude da força de Deus que é o Amor “descer do céu, como uma pomba” - lembramos que a pomba se refere tanto ao Espírito que pairava sobre as aguas na criação, como lembra o livro do Gênesis, quanto ao amor da pomba para o seu ninho - “e pousar sobre ele”. É importante frisar como o evangelista enfatiza não só o fato de que o Espírito desce sobre Jesus, mas que pousa e permanece. O que significa isso? A experiência do Espírito é possível para muitos, mas somente quem, sobre o qual, o Espírito pousa e permanece, poderá comunicá-lo aos outros. Esta será, na verdade, a atividade de Jesus, que agora vamos ver. “Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar’... Aqui, de novo, o evangelista sublinha que não só o Espírito, que é a força, a energia de Deus, desce sobre Jesus, mas que sobre Ele pousa e permanece. E continua literalmente: “esse é quem batiza com o Espírito Santo’’. O evangelista coloca em paralelo a expressão utilizada: "Aquele que tira o pecado do mundo" com: "Esse é quem batiza com o Espírito Santo’’. Este pecado não deve ser apenas expiado, mas deve ser erradicado. Como? Não através de uma luta, não através de uma 2 violência. João já tinha escrito, em seu prólogo, que a luz resplandece nas trevas. A luz não luta contra a escuridão. A luz simplesmente brilha e as trevas vão embora. A ação de Jesus é batizar no Espírito Santo. Enquanto o batismo nas águas significava imersão num líquido que era externo ao homem, o batismo no Espírito Santo significa deixar-se impregnar, embeber com a plenitude do poder divino que vem de Deus através de Jesus. Portanto a ação de Jesus é comunicar, a cada pessoa, sua própria vida divina. No momento em que sobre Jesus desce a força de Deus - o Espírito - a ação de Jesus é a de batizar com o Espírito Santo. “Santo” significa não só a qualidade, a santidade deste Espírito, mas também a sua atividade de santificar, isto é, proteger todos os que acolhem este Espírito, da esfera do mal, da esfera das trevas. Portanto a ação de Jesus é comunicar seu próprio Espírito. Uma vez que este Espírito é acolhido pelo ser humano, este se torna uma fonte borbulhante que comunica, de forma crescente, contínua e transbordante, a vida divina. O trecho termina: "E eu vi, e dou testemunho de que este é o Filho de Deus”. Aquele que tinha sido anunciado simplesmente como um homem – “Depois de mim vem um homem que passou na minha frente” – agora é revelado como o Filho de Deus. Uma vez que a plenitude do Espírito Santo desce e pousa sobre Jesus, realiza-se a plenitude da condição divina e Jesus revela plenamente a realidade de Deus. 3