Não é a cor que sorri Uns dentes brancos, outros amarelos. Olhos escuros, mogno, com ou sem sulcos, não sei, as sombras não os deixam ver. Cabelo também escuro, petróleo em hélice, de brilho baço e volume elétrico. Nariz pequeno e esborrachado, maçãs do rosto sem rubor. Corpo pequeno, mas forte, robusto do duro trabalho. Talvez não seu, de algum seu antepassado, também não o sei. No entanto, mesmo que os dentes fossem não meio amarelados, mas sim brancos como a cal, não faria qualquer diferença. Mesmo que os olhos fossem verdes jardins ou profundos oceanos não faria qualquer diferença. Nem que o cabelo fosse de um loiro sujo ou rubro de fogo, liso e lambido, com reflexos ofuscantes como um espelho luzindo. Nem que o nariz fosse empinado e arrogante, rodeado de rosas, murchas e às manchas. Nem mesmo que o corpo fosse o mais alto e esbelto, efémero e fraco. Nem se fosse ou deixasse de ser, o sorriso, que lhe rasgava a cara, tão belo quanto tudo (ou talvez mais do que isso…) se alteraria. Simplesmente lindo e contente. Porque, mesmo que não fosse quem era, que não gostassem, que apelidos lhe fossem dados, que sofresse, aquele sorriso… Ah, sim, fosse branca, preta, amarela, vermelha ou morena, o sorriso não diminuiria, não mudaria. E isso única, e simplesmente, porque não é a cor que sorri… É quem está debaixo da pele… Ana Teresa Jorge Guerreiro Escalão ii) Escola Secundária de Castro Verde