GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA ANEXO III Monólogos para interpretação textual Educação Profissional Técnica de Nível Médio, subseqüente ao Ensino Médio ETET MARTINS PENA Técnico em Artes Dramáticas O Despertar da Primavera-Frank Wedekind Monólogo feminino Ilse-...Foi um tempo horrível! Não quero nem lembrar. De manhã ele me obrigava a vestir seu roupão persa e desfilar pela casa, à noite me obrigava a desfilar pelo quarto, vestida de pagem africano! Ele me pintava toda de preto! Ele é muito louco! Ficava me fotografando! Eu tinha que inventar mil personagens diferentes... As fotos devem ter ficado incríveis! Um dia eu era Ariadne e ficava deitada no sofá, outro dia era Lêda, no dia seguinte Ganymede... Fiquei até de quatro no chão como se fosse a rainha do Egito! Mas eu tive muito azar porque justamente nesse tempo ele começou a ficar tarado com idéias de assassinato, suicídio, estrangulamento... De manhã na cama ele pegava um revolver carregado, encostava o cano no meu peito e punha o dedo no gatilho: “Se você piscar eu atiro!” Moritz, ele era capaz de atirar!... Então ele pegava o cano do revólver e enfiava na boca! Começava a chupar o cano e aí olha só que louco. Começava a soprar como se fosse uma flauta! Ele me explicou, disse que fazia isso para despertar o espírito de auto conservação! Depois dizia que ia meter uma bala na minha espinha! A Lira Dos Vinte Anos-Paulo César Coutinho Monólogo feminino Ninon- Eu não entendo muito as coisas, não se isso é alienação, mas fico sempre perguntando por que tem que ser assim, se todo mundo é humano. Mesmo um maldito capitalista, um policial, não é uma pessoa?Não tem sentimentos? Não ama? GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA Quando marcaram a manifestação em frente da embaixada achei ótimo, sou antiimperialista radical, não só por causa do horror que eles fazem, mas também porque nunca fui com a cara desses gringos nojentos. Fui toda feliz, com flores no cabelo... Tava tão bonito, a bandeira queimando, o céu vermelho de fim de tarde, parecia que também tava pegando fogo. Tinha um cara do meu lado que era uma gracinha, a gente ficou se olhando e se rindo gritando abaixo o imperialismo. Aí de repente, começaram a atirar lá de dentro. Ouvi os tiros, os gritos, vi a correria, mas fiquei ali parada sem acreditar, sem poder me mexer. Então o menino do meu lado levou uma bala na cabeça. Ele nem gritou, só caiu assim feito um passarinho. Eu me abaixei e segurei ele entre os braços, meu vestido ficou cheio de sangue. Quando pararam de atirar tinha seis mortos no chão. ... Foi tão absurdo, a gente tava ali namorando, e em questão de segundos eu tava viva e ele tava morto. “A AURORA DA MINHA VIDA”, de Naum Alves de Souza Monólogo masculino Bobo: “Meu pai disse que não me aguenta.” “Eu não sei ler. Eu nunca estudei isso.” “Eu não estava em escola nenhuma. Isso foi história que minha mãe inventou. Era sanatório mesmo. De louco. Louco não pode ficar em escola. louco não pode ficar em lugar nenhum. A minha mãe não gosta que as pessoas saibam. E a senhora gosta de encher o meu saco. A senhora quer que minha mãe me mande de volta para lá. Eu não quero voltar para lá. Se eu voltar eu mato a senhora.” “Eu não tenho amigo. Eu não gosto, eu não acredito em amigo!” “Todo mundo saiu. Vão me prender aqui. Não chame os enfermeiros, polo amor de Deus. Telefona para a minha mãe e pede o meu remédio, que eu fico quieto. Não chame os enfermeiros, eu não quero mais injeção, pelo amor de Deus.” “Eu sei que a senhora vai. A senhora não gosta de mim.” “Eu tenho medo dos enfermeiros. Não deixe eles me agarrarem. Eu não posso com eles. É o meu pai que manda eles virem. A senhora me esconde? Eu não gosto desta escola. Ninguém gosta de mim.” “... um dia, eu estava muito doido, o remédio tinha acabado e a minha mãe ligou para o médico mas ele não estava...” “Eu passei mal, desmaiei, repuxava tudo, parecia que eu ia morrer.” “Eu já perguntei mas tudo que o médico fala eu não acredito mais. A coisa que ele mais fala é que eu vou acabar matando a minha mãe.” GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA “JOGOS NA HORA DA SESTA”, de Roma Mahleu Monólogo masculino DIEGO: “Uma vez no interior na casa do meu avô, um cavalo apodreceu no meio do mato com as patas enredadas... meu avô que contou. Parece que uma onça meio que o comeu... tinha sido um bom cavalo... era meio cinza com manchas brancas no lombo manso. Me deu raiva... comia pãezinhos de açúcar na minha mão... e tinha o focinho molhado...” “Alma é gente depois de morta. É igualzinho, só que é transparente e tem buracos nos olhos... é como um fantasma, só que não é branca.” “...Talvez para andarem tranquilas pelos campos... quando as corujas cantam, nas noites sem lua, elas ficam por aí – dando voltas e voltas... meu avô disse que é tudo bobagem – isto da terra estar cheia de mortos... ele ficou brabo quando eu falei... bateu o pé no chão, levantou um monte de pó e calou a boca... eu me caguei... meu avô disse que é ignorância ter medo dos mortos... é com os vivos que temos que ter cuidado.”