Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Edição 03/2007
ISSN 1980-6930
PATRIMÔNIO MUSICAL DO NORTE DO BRASIL:
TRANSCRIÇÃO DA ÓPERA GLI EROI, DE MENELEU
CAMPOS, ATOS III E IV.
Jamel das Chagas Ferreira1
Márcio Leonel Farias Reis Páscoa2
Resumo:
A produção lírica no período de 1850 a 1910 envolveu compositores como Henrique
Eulálio Gurjão (1834-1885) e Meneleu Campos (1872-1927). Este último escreveu a ópera
Gli Eroi, que permanece inédita. Após um estudo preliminar que visava preparar o manuscrito
do autor para edição, procedeu-se ao trabalho de transcrição. Dentre os objetivos destaca-se a
contribuição ao panorama musical e cultural da Amazônia em uma época de relevante
significado para toda a região norte. O objetivo específico é a transcrição dos atos III e IV do
manuscrito da ópera Gli Eroi, de Meneleu Campos (1872-1927). Nos atos III e IV foram
detectados elementos naturalistas, e indícios de que o compositor já tinha a intenção de fazer
o acompanhamento para orquestra, pela estrutura em que foi composta a parte do piano e por
haver inúmeras indicações de entrada de solos de alguns instrumentos.
Palavras-chave: Ópera Amazônia Meneleu Campos
Durante os anos de 1850 a 1910, o Amazonas viveu juntamente com o Pará um dos
mais ricos períodos de sua história. As capitais Manaus e Belém modernizaram-se e tornaramse referenciais sob muitos aspectos. A vida musical em Manaus nesta época, chamada de
Período da Borracha já mereceu atenção de pesquisa acadêmica (Páscoa, 1997) e levantou o
debate sobre novos pontos que devem ser examinados.
A produção lírica neste período envolveu compositores como Henrique Eulálio Gurjão
(1834-1885), José Cândido da Gama Malcher (1853-1921), Ettore Bosio (?-1934) e Meneleu
Campos (1872-1927). Este último escreveu a ópera Gli Eroi, que permanece inédita. O
bolsista Rossini Rocha da Silva realizou durante a edição 2005/2006 deste programa, um
estudo preliminar que visava preparar o manuscrito do autor para edição. O trabalho de
transcrição é meticuloso, demorado e enseja reflexão sobre a produção do autor. É
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Bolsista da Fapeam. Aluno do 7º período do curso de Música da EAT-UEA.
Doutor em Ciências Musicais Históricas pela Universidade de Coimbra (Portugal), Mestre em
Artes/Musicologia pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mesquita Filho» (UNESPSP), bacharel em música/instrumentos antigos (flauta transversal e doce) pelo Instituto de Artes da UNESP-SP.
É professor de História da Música I e II e Música Brasileira I e II do curso de Música da EAT/UEA.
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recomendável que o trabalho seja dividido entre duas pessoas para assegurar êxito maior e
confrontar resultados
Dentre os objetivos destaca-se a contribuição ao panorama musical e cultural da
Amazônia em uma época de relevante significado para toda a região norte, com possíveis
alcances em âmbito nacional e internacional, uma vez que a transcrição do material servirá a
ampliação do repertório lírico, projetando autor e região. O objetivo específico é a transcrição
dos atos III e IV do manuscrito da ópera Gli Eroi, de Maneleu Campos (1872-1927).
O procedimento metodológico empregado para o desenvolvimento deste projeto
consiste na transcrição do manuscrito autógrafo de Meneleu Campos, de maneira a cotejar
elementos musicais que permitam uma edição da partitura de canto e piano, o material de
composição do autor. O resultado esperado foi a transcrição do material manuscrito da ópera
Gli Eroi, atos III e IV, de modo a permitir uma edição livre de erros técnicos possivelmente
existentes na cópia autógrafa.
Todo o terceiro e quarto ato da Ópera Gli Eroi, de Meneleu Campos (1872-1927)
foram transcritos, conforme o cronograma.
Em ambos os atos, algumas evidências foram detectadas de que a ópera Gli Eroi
continha vários elementos naturalistas. A música está disposta de maneira contínua pela
partitura, sem quebras formais como as cenas ou os números fazem na estrutura tradicional
das gerações anteriores de Meneleu Campos. As melodias também estão dispostas de forma
mais livre e fragmentária, divididas por entre a parte vocal e instrumental, sem uma
metrificação definida, o que indica que a versificação também não é rígida.
A estrutura da composição no início do terceiro ato é entretanto tradicional, pois
apresenta um prelúdio e coro masculino de entrada. No quarto ato encontramos um pequeno
prelúdio instrumental com apenas 21 compassos. Ao longo do manuscrito encontra-se sinais
verbais, com indicações para os cantores, parte instrumental (piano) e orientações de entrada e
saída de personagens, momentos em que a cortina tem que ser aberta ou fechada, sinais
agógicos e outras situações interpretativas.
O compositor não apenas mostra o que deve ser cantado ou encenado, mas ele parece
ter a preocupação de mostrar no exato momento, como deveria ser interpretado.
Houve problemas para entender muitas destas indicações e orientações do compositor por elas
estarem grafadas em italiano cursivo, e mesmo por haver muitos trechos em que a grafia
apresenta-se quase ilegível. O libreto também está em italiano cursivo, assim como a sua
disposição na partitura, obviamente.
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Quando da transcrição do terceiro ato encontramos indícios de que o compositor já
tinha a intenção de fazer o acompanhamento para orquestra, pela estrutura em que foi
composta a parte do piano e por haver inúmeras indicações de entrada de solos de alguns
instrumentos, com expressões como celli e viole. Não obstante, no quarto ato encontramos nas
últimas páginas a palavra orchestra grafada no início dos sistemas, indicando assim que a
parte de piano era apenas o material de trabalho e que a obra devia se destinar em breve à
orquestração, com vistas a encenação. Funcionários da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
de onde o manuscrito provém, falaram da possível existência de um manuscrito da parte
orquestral, mas ele não foi encontrado. Sabe-se que a obra do compositor foi levada para lá,
com o falecimento de sua viúva, mas não há um inventário do que foi levado.
Ainda assim, a evidência de uma orquestração está já presente na maneira como o
autor compôs, mesmo ao piano. Em muitos trechos apresenta-se melodismo orquestral, tanto
das partes graves, com trêmulos que deveriam ser acomodados a seção de metais e cordas
mais graves, como da melodia predominante, correspondente aos violinos e à seção de
madeiras mais agudas. A predominância de ariosos e recitativos nas partes vocais e a
atribuição de um desenho melódico e construções harmônicas mais elaboradas na parte
instrumental apontam neste sentido, bem como para as influências da música sinfônica.
Abaixo, mostramos um trecho do prelúdio do terceiro ato como exemplo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
PÁSCOA, Márcio. A Vida Musical em Manaus na Época da Borracha (1850-1910).
Manaus: Imprensa Oficial do Estado/ FUNARTE, 1997.
PÁSCOA, Márcio. Ópera na Amazônia na Época da Borracha (1880-1907): Bug Jargal
de José Cândido da Gama Malcher. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, 2003. (Tese de Doutorado).
SALLES, Vicente. A Música e o Tempo no Grão-Pará. Belém: Conselho Estadual de
Cultura, 1980.
SADIE, Stanley (ed.) - The New Grove Dictionary of music and musicians, New York
London, Macmillan Publishers, 1980
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