NOVA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO? Um olhar voltado para a empresa e
a sociedade.1
Marly Perrelli2
Como podemos saber sobre a divisão sexual no trabalho? É possível
encontrar pesquisas sobre esse tema? A resposta é sim. Refiro-me ao livro de
Helena Hirata, “Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a
empresa e a sociedade”, que é resultado, inédito no Brasil, de vinte anos de densa
e rigorosa pesquisa, com olhar acompanhando as inúmeras particularidades e
metamorfoses que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. Vale a pena conhecer
os resultados.
Nessa obra
Helena Hirata faz um paralelo das comparações
internacionais do trabalho industrial e
divisão sexual do trabalho,
enfoques
teóricos e epistemológicos entre as empresas multinacionais de eletroeletrônicos,
indústria de vidro, indústria agroalimenticia pesquisadas em países como Japão,
França e Brasil. São pesquisas comparativas sempre perseguindo as respostas
para questões de sua hipótese sobre “Nova divisão sexual do trabalho?” Os
resultados destas pesquisas, como a própria autora afirma, trazem contribuições
para um conhecimento avançado sobre gestão, relações sociais e relações entre
homens e mulheres na eficácia produtiva.
Foram realizadas entre 1980 e 2000 que compreenderam pesquisas de
campo, visitas a mais de uma centena de estabelecimentos e várias centenas de
entrevistas com diferentes categorias de profissionais, detectando assim na
observação e no discurso dos entrevistados. Alguns dos principais resultados das
pesquisas são em relação à cultura , observou que os valores em relação à
masculinidade e feminilidade, como G. Hofstede refere-se a uma masculinidade
“elevada” no Japão, “a qual corresponderia uma masculinidade “média” no Brasil e
na França, quando nesses dois últimos países as relações sociais de sexo estão
longe de ser comparáveis.
Essas relações sociais entre homens e mulheres não são idênticas
entre Brasil e França. O que os difere são os direitos no trabalho doméstico e
assalariado das mulheres e nesses dois países que mostram contrastes
importantes entre normas, regras, moral e legislações relativas à dimensão
masculinidade/feminilidade.
A autora chama atenção para que não se esqueça da diferença cultural
dos paises pesquisados. Nesta pesquisa comparativa que retrata as diferenças
nacionais que aparecem como diferenças culturais observadas como fenômeno na
cultura de um povo, inicialmente detectada nas próprias propostas dos gerentes e
diretores entrevistados.
Hirata refere-se em sua pesquisa que o mercado de trabalho
internacional é diversificado nas relações homens/mulheres, revela algumas
peculiaridades como as mulheres nas indústrias têxteis na França são em sua
maioria casadas e vivem longe de seu local de trabalho (serviço de transporte em
ônibus especiais). No Brasil, empregam uma mão-de-obra feminina muito
heterogênea, um número significativo de mulheres casadas, divorciadas e viúvas.
Filiais de multinacionais japonesas tentaram, sem êxito, implantar o sistema de
dormitórios na empresa, para que houvesse uma permanência maior dentro da
empresa “consideram este tipo de situação uma privação intolerável de liberdade”,
dizem as mulheres japonesas.
Dentre as descobertas, Helena Hirata constatou uma extrema
diversidade na gestão da força de trabalho, em função da divisão sexual, quando
o olhar tem como referência o corte Norte-Sul. Reconhece, por exemplo, no que
diz respeito à organização de trabalho dos três países referidos em sua pesquisa,
que o trabalho manual, minucioso e repetitivo considerado de fácil execução era
predominantemente atribuído às mulheres, sendo que aquele mais dotado de
atributos e conhecimentos técnicos era predominantemente destinado aos
homens. O contraste marcado pela desigualdade das condições de trabalho,
salários e direitos entre homens e mulheres, bem como pela falta da perspectiva
promocional na carreira, são situações que marcam o percurso da história pautado
nas relações de seus pares.
Hirata afirma que a divisão sexual do trabalho é considerada como um
aspecto da divisão social do trabalho e, nela, as dimensões opressão, dominação
e exploração estão fortemente contidas. Essa divisão social e técnica do trabalho
são acompanhadas de uma hierarquia clara do ponto de vista das relações
sexuadas de poder que encontramos em todas as sociedades. Historiadores,
sociólogos e etnólogos demonstram que as modalidades dessa divisão variam
fortemente no tempo e no espaço, pois é sempre indissociável das relações entre
homens e mulheres.
Sua pesquisa leva a questionar a própria noção de periodização: o
estudo do início do trabalho das mulheres nas empresas pode fornecer elementos
que levam a pensar até que ponto o grau de desenvolvimento e modernização das
técnicas produtivas é compatível com a prática de gestão da mão-de-obra em que
sejam possíveis mudanças nas relações homens/mulheres.
Apesar da crise econômica no Brasil e do desemprego, nos mostra
tendências semelhantes às verificadas na Europa no que diz respeito ao emprego
industrial feminino: as mulheres conservam seus postos de trabalho, mas a custa
de uma instabilidade ou de uma deterioração de suas condições de trabalho.
Por fim, essa obra cujo texto demonstra a relevância das relações
sociais e de trabalho entre homens e mulheres, uma pesquisa singular, uma
produção do conhecimento científico que contribui para o avanço da compressão
da organização do trabalho sob a ótica do masculino e feminino.
A conclusão que pode chegar a partir da leitura deste livro, é que a
maneira como foi escrito nos remete adentrar nas empresas, viver as revelações
que autora descreve e verificar “in loco” as relações sociais, relações de poder,
relações das diferenças entre homens e mulheres no contexto do trabalho. É
assim que este livro nos auxilia a conhecer a teoria das relações sociais que leve
em consideração sua historicidade e seu caráter sexuado, hoje indispensável para
se pensar as próprias condições de sucesso de uma organização industrial.
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Resenha do livro de Helena Hirata,Publicado em 2002 , editora Boitempo, São Paulo, com 335 pg.
Mestranda em Psicologia na UFSC convênio UNOESC.
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