CEETEPS - Centro Estadual de Educação Tecnológica FATEC-SP - Faculdade de Tecnologia de São Paulo Paula Souza Governo do Estado de São Paulo ADILSON MACEDO CONTAGEM DE CÉLULAS DE CIANOBACTÉRIAS: UM LEVANTAMENTO DOS PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PELAS EMPRESAS DE SANEAMENTO DO BRASIL SÃO PAULO 2006 CEETEPS - Centro Estadual de Educação Tecnológica FATEC-SP - Faculdade de Tecnologia de São Paulo Paula Souza Governo do Estado de São Paulo ADILSON MACEDO CONTAGEM DE CÉLULAS DE CIANOBACTÉRIAS: UM LEVANTAMENTO DOS PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PELAS EMPRESAS DE SANEAMENTO DO BRASIL Monografia apresentada à Faculdade de Tecnologia de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Tecnologias Ambientais, sob orientação da Profª. Dr.ª Regiane Maria Tironi de Menezes. SÃO PAULO 2006 2 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me dar disposição e saúde. À minha esposa Marcia. À Profª. Dr.ª Regiane Maria Tironi de Menezes pelo respeito e dedicação na orientação deste trabalho. Aos meus amigos e colegas de trabalho da SABESP. A todos os biólogos e profissionais das entidades que consultei para realizar este trabalho: AGESPISA do Piauí, CAERD de Rondônia, CAESB de Brasília Distrito Federal, CAGECE do Ceará, CAGEPA da Paraíba, CASAL de Alagoas, CEDAE do Rio de Janeiro, CESAN do Espírito Santo, COPASA de Minas Gerais, CORSAN do Rio Grande do Sul, EMBASA da Bahia, SAMAE de Blumenau – Santa Catarina, SANASA de Campinas – São Paulo, SANEAGO de Goiás, SANEATINS de Tocantins, SANEPAR do Paraná, SANESUL do Mato Grosso do Sul e SEMAE de Piracicaba – São Paulo. 3 RESUMO Em ambientes eutrofizados com enriquecimento de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, favorecem o crescimento de cianobactérias. A floração ou bloom destes microrganismos podem causar entupimento de filtros nas estações de tratamento de água; trazer riscos à saúde associado a toxina; causam um desequilíbrio neste ecossistema, diminuindo assim a diversidade; podem provocar a morte de peixes e outros animais; podem conferir gosto e odor desagradáveis à água e impedir a recreação, pois, formam camadas densas na superfície da água quando as espécies possuem aerótopos. O monitoramento das cianobactérias é essencial para detectar esse crescimento e acompanhar a evolução dos indivíduos, que são classificados como potencialmente tóxicos; permite também avaliar as características dos ecossistemas aquáticos e dar subsídios para a tomada de decisões quanto ao tratamento da água em estações de tratamento. Atualmente a Portaria 518 (BRASIL, 2004) e a Resolução 357 (BRASIL, 2005a) que tratam da potabilidade e enquadramento dos corpos d’água, respectivamente, obrigam o monitoramento de cianobactérias e a quantificação destes microrganismos em células por mililitro ou biovolume. Definem também o plano de amostragem e as classes em que deverão ser alcançadas como enquadramento, considerando valores preestabelecidos para todo o território brasileiro. A Portaria 518 (BRASIL, 2004) estabelece no artigo 17 que metodologias para determinação de parâmetros biológicos, deverão atender as especificações de normas nacionais, a publicação mais recente do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater ou as normas publicadas pela ISO (International Standartization Organization) e para análise de cianobactérias, até o estabelecimento de normas nacionais ou internacionais, devem ser adotadas as metodologias propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua publicação Toxic cyanobacteria in water: A guide to their public health consequences, monitoring and management. Portanto, as metodologias que não forem citadas na publicação acima, deverão receber aprovação e registro pelo Ministério da Saúde e as empresas que não realizarem as análises em laboratório próprio, poderão contratar este serviço, em qualquer caso, deverá manter-se programas de controle de qualidade ou ainda serem acreditados ou certificados por órgãos competentes para esse fim. No presente trabalho foi realizado um levantamento dos procedimentos adotados por 19 empresas de saneamento ambiental de 16 estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Foi possível fazer um breve relato de vários métodos que envolvem a mensuração de cianobactérias desde a coleta até a contagem propriamente dita. Com essas informações foi criado uma tabela que exemplifica todo esse processo: A preparação da amostra, se utiliza ou não algum preservativo; Qual o método de concentração; Qual o microscópio utilizado; Qual a câmara de contagem e qual a principal fonte para a elaboração de cada método. Pretende-se com isso contribuir para o enriquecimento do tema Monitoramento de cianobactérias. 4 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES..........................................................................................5 LISTA DE TABELAS...................................................................................................6 1. Introdução...............................................................................................................7 1.1 Considerações preliminares.................................................................................7 1.2 Objetivos...............................................................................................................9 1.2.1 Geral................................................................................................................9 1.2.2 Específico........................................................................................................9 2. Revisão da literatura.............................................................................…............10 2.1 Meio ambiente e cianobactérias.........................................................................10 2.2 Porque monitorar ?.............................................................................................11 2.3 Legislação..........................................................................................................12 2.4 Biologia das cianobactérias................................................................................14 2.5 Toxinas...............................................................................................................17 2.6 Contagem de cianobactérias..............................................................................19 2.6.1 Tecnologias e equipamentos.........................................................................19 2.6.2 Técnicas de concentração de amostras........................................................23 2.6.2.1 Filtração em membranas..........................................................................23 2.6.2.2 Centrifugação...........................................................................................24 2.6.2.3 Sedimentação ( Utermöhl ).......................................................................25 2.6.2.4 Sedimentação em proveta........................................................................27 2.6.2.5 Método de Sedgwick-Rafter.....................................................................27 3. Material e métodos...............................................................................................30 3.1 Coleta de informações........................................................................................30 3.2 Resumo dos procedimentos...............................................................................31 4. Discussão..............................................................................................................46 5. Considerações finais....................................................................…....................51 6. Referências bibliográficas...................................................................................52 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Superfície da água com floração de Microcystis.........................................12 Figura 2: Gêneros de cianobactérias freqüentemente encontrados em ambientes aquáticos....................................................................................................................16 Figura 3: Câmaras de Sedgwick-Rafter, dimensões: 50mm por 20mm de lado e 1mm de profundidade, com capacidade de 1ml de amostra...............................................20 Figura 4: Câmaras de Utermöhl.................................................................................21 Figura 5: Microscópio binocular ótico comum com câmara de Sedgwick-Rafter e Microscópio invertido, com câmera digital acoplada ao computador e dispositivo de epifluorescência..........................................................................................................22 Figura 6: Retículo de Whipple com uma colônia de Microcystis................................23 Figura 7: Diagrama que mostra o processo de sedimentação de uma amostra de fitoplâncton.................................................................................................................26 Figura 8: Método de concentração com funil de Sedgwick-Rafter.............................28 Figura 9: Mapa do Brasil, círculo em vermelho indicam as regiões consultadas para o trabalho.......................................................................................................................30 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Classificação dos corpos d`água, considerando densidade de cianobactérias.................................................................. .........................................14 Tabela 2: Principais gêneros de cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas........................................................................................................................19 Tabela 3: Relação das empresas de saneamento consultadas.................................31 Tabela 4: Tabulação das informações sobre os procedimentos para contagem de cianobactérias............................................................................................................44 Tabela 5: Teste de contagem de cianofíceas ( Oscillatoria sp ) com amostras da Lagoa Facultativa de Valinhos, SP, coletadas em maio de 1985..............................47 7 1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações preliminares A água é uma das substâncias mais abundantes da Terra. Ela cobre aproximadamente 71% da superfície do globo, em sua maioria composta por oceanos. Estima-se que 97% do volume total de água esteja nos oceanos e que 3% seja água doce, porém, somente uma pequena parcela da água doce encontra-se disponível para seres humanos, animais e plantas. A maior parte dos 3% de água doce permanece congelada nas calotas polares. A água doce de lagos, rios e subsolo representa somente 0,3% do total de água doce existente na Terra. Essa água doce representa a maior parcela da potável (10%), industrial (21%) e agrícola (69%) (UNEP, 2001). A simplicidade da composição química parece disfarçar a importância da água para o desenvolvimento e preservação de todas as formas de vida existentes na terra. Sem a água, que constitui 70% do corpo humano, a vida, tal como a conhecemos, não seria possível. A sociedade tem negligenciando a possibilidade de esgotamento dos recursos hídricos e vem promovendo intervenções no meio ambiente que prejudicam numerosos mananciais (INIGO, 2000) A conseqüência dos impactos antrópicos nos ecossistemas aquáticos é a ocorrência de acelerados processos de eutrofização, causando um enriquecimento artificial desses ecossistemas pelo aumento das concentrações de nutrientes na água, principalmente compostos nitrogenados e fosfatados, que resulta num aumento dos processos naturais da produção biológica em rios, lagos e reservatórios. As principais fontes desse enriquecimento têm sido identificadas como sendo as descargas de esgotos domésticos e industriais dos centros urbanos e das regiões agricultáveis (FUNASA, 2003). Essas modificações que ocorrem num determinado ambiente aquático ao longo de uma escala temporal variada desencadeiam diferentes respostas por parte da comunidade planctônica, que podem ser utilizadas como parâmetros em estudos limnológicos. A utilização desta comunidade como bioindicadora se fundamenta na avaliação da base de uma cadeia ou teia alimentar, na qual os efeitos oriundos 8 dessas alterações serão refletidos em todos os seus componentes e, conseqüentemente, no bioma como um todo. Mudanças na comunidade fitoplanctônica são reflexos das alterações físicas, químicas e/ou biológicas que ocorrem num corpo d’água. Um grupo de microrganismos que merece atenção neste processo de alteração ambiental são as cianobactérias, cianofíceas ou algas azuis. As cianobactérias representam um risco à saúde humana, quando em reservatórios de abastecimento acontece o fenômeno chamado floração ou bloom, causado pela multiplicação excessiva. Esse fenômeno ocorre através de alguma interferência, que enriquece a água com fósforo e nitrogênio, a chamada eutrofização. As florações de cianobactérias formam geralmente uma imensa massa na superfície da água causando desequilíbrio ecológico e problemas à saúde. Assim, pode ocorrer mortandade de peixes e de outros animais e como algumas espécies de cianobactérias produzem as cianotoxinas, estas florações podem representar sérios riscos à saúde humana. As toxinas liberadas podem lesar o fígado (hepatotoxinas), o sistema nervoso (neurotoxinas), ou apenas provocar irritações na pele. A única forma de saber se uma espécie de cianobactéria está produzindo toxinas é através de análises laboratoriais (AZEVEDO et al., 2005). Considerando a interferência que estes microrganismos podem promover nos ecossistemas aquáticos, a Portaria 518 (BRASIL, 2004) e Resolução 357 (BRASIL, 2005a) exigem a o monitoramento e a contagem em número de células por mililitro. 9 1.2 Objetivos 1.2.1 - Geral Apresentar as empresas de saneamento e relatar os diferentes procedimentos metodológicos utilizados na contagem de células de cianobactérias, objetivando: 1.2.2 – Específico O conhecimento das normas existentes, e das empresas de saneamento que necessitam operacionalmente dos resultados dessa contagem objetivando monitorar e operar os diversos ambientes aquáticos para abastecimento público; A divulgação dos procedimentos adotados pelas empresas de saneamento para quantificação de cianobactérias, desde o momento da coleta, preparação da amostra, microscópio utilizado e calibração do mesmo. 10 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Meio ambiente e cianobactérias Em fevereiro de 1996, um fato inédito despertou a atenção das autoridades médicas do estado de Pernambuco, Brasil. Em uma clínica de hemodiálise em Caruaru pacientes começaram a apresentar náuseas, vômitos após procedimentos nos dialisadores. Mais de sessenta pacientes morreram. Após investigação das autoridades de saúde, se descobriu a causa das mortes: toxinas de cianobactérias. Em 1999 o Rio Darling, na Austrália, ficou coberto por um tapete verde de cianobactérias, que teve como conseqüência a morte de vários animais selvagens e também do gado. A descrição de ocorrências de cianobactérias e a contaminação de ambientes aquáticos por suas toxinas têm sido relatadas em vários países como Austrália, Inglaterra, China, África do Sul, Alemanha, Itália, Argentina e Brasil, sendo, portanto, parte da literatura toxicológica mundial. Estes fatos e outros envolvendo morte de animais, desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos e perda de recursos financeiros trouxeram varias perguntas à cena. O que são cianobactérias? Como afetam o Meio Ambiente? Existe remediação para um ambiente impactado por toxinas de cianobactérias? (YUNES, 2005). A origem das cianobactérias foi estimada em cerca de 3,5 bilhões de anos pela descoberta de fósseis do que foram certamente esses microorganismos, em rochas sedimentares encontradas no noroeste da Austrália. As cianobactérias estão, portanto, entre os organismos pioneiros na Terra, sendo provavelmente os primeiros produtores primários de matéria orgânica a liberarem oxigênio elementar na atmosfera primitiva. A capacidade de crescimento nos mais diferentes meios é uma das características marcantes das cianobactérias. Várias espécies vivem em solos e rochas onde desempenham um importante papel nos processos funcionais do ecossistema e na ciclagem de nutrientes. Entretanto, ambientes de água doce são os mais importantes para o crescimento de cianobactérias, visto que a maioria das espécies apresenta um melhor crescimento em águas neutro alcalinas (pH 6-9), temperatura entre 15 a 30ºC e alta concentração de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo (AZEVEDO, 1998). 11 2.2 Porque monitorar ? O controle das cianobactérias em mananciais de abastecimento é importante devido ao seu potencial tóxico. A Portaria 518 (BRASIL, 2004), relativa às normas de qualidade para água de consumo humano (Potabilidade), estabelece que os responsáveis por estações de tratamento de água para abastecimento público devem realizar monitoramento de cianobactérias e controle de cianotoxinas nos mananciais. Também a Resolução 357 (BRASIL, 2005a) contempla o monitoramento destes organismos (CETESB, 2005a). As toxinas presentes na água doce são produzidas quase exclusivamente por cianobactérias. Os vários gêneros e espécies de cianobactérias produzem diferentes compostos tóxicos, normalmente classificados como neurotoxinas, hepatotoxinas, citotoxinas e endotoxinas. Embora as neurotoxinas sejam altamente tóxicas, sua degradação na coluna de água geralmente é rápida. Entretanto, as saxitoxinas são exceção, e as reações para sua depuração podem levar semanas. Além disso, torna-se difícil a remoção de hepatotoxinas de reservatórios contendo cianobactérias, já que algumas formas são estáveis e resistentes à hidrólise química, ou oxidação, podendo persistir por meses, ou anos, e permanecer potentes mesmo após fervura (UNEP, 2001). O monitoramento de cianobactérias promove o diagnóstico de floração ou bloom (Figura 1) destes gêneros ou espécies que são potencialmente tóxicos, auxiliam na avaliação da estrutura dos ecossistemas aquáticos, permite analisar o desequilíbrio na abundância das espécies e fornece informações para a tomada de decisões no monitoramento e gerenciamento de lagos e represas, proporcionando desta maneira uma redução nos impactos causados por esses microrganismos. 12 Figura 1 – Superfície da água com floração de Microcystis Fonte : Imagem cedida por SOUZA, (2001). 2.3 Legislação A portaria 518 (BRASIL, 2004) estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Esta portaria obriga o monitoramento já no seu artigo 2º. “...obrigação do monitoramento de cianobactérias e cianotoxinas.” e cita no § 1º. do artigo 17 que, para análise de cianobactérias, “...até o estabelecimento de especificações em normas nacionais ou internacionais que disciplinem a matéria, devem ser adotadas as metodologias propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em sua publicação Toxic Cyanobacteria in Water: a guide to their public health consequences, monitoring and management”. Portanto, as metodologias que não forem citadas na publicação acima, deverão receber aprovação e registro pelo Ministério da Saúde e as empresas que não realizarem as análises em laboratório próprio, poderão contratar este serviço, em qualquer caso, deverá manter-se 13 programas de controle de qualidade ou ainda serem acreditados ou certificados por órgãos competentes para esse fim. O artigo 18 § 5º. diz que o monitoramento de cianobactérias deverá ser agregado de monitoramento semanal de cianotoxinas quando o número de células exceder 20.000 cel/ml. Já no artigo 19 § 1º. o monitoramento deverá ser mensal quando o valor total de cianobactérias não ultrapassar 10.000 cel/ml e semanal quando o número de cianobactérias exceder este valor. Ainda no artigo 19 § 2º. considerando também uma questão de saúde coletiva e riscos envolvidos no processo de controle de crescimento algal associado a cianotoxinas que podem ser liberadas pelas cianobactérias no momento de lise celular, ficou estabelecido o veto a aplicação de algicidas no manancial quando a densidade de cianobactérias exceder 20.000 cel/ml no ponto de captação. A Resolução 357 (BRASIL, 2005a) dispõe sobre a classificação dos corpos de água e cita diretrizes para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras providências. A citação sobre a densidade de cianobactérias neste ato jurídico ocorre primeiramente como parâmetro na Tabela 1 do Artigo 14 que trata das águas doces de Classe 1 (Tabela 1) e define o valor de 20.000 cel/ml como valor máximo permitido para o enquadramento de águas desta classe. 14 Tabela 1 – Classificação dos corpos d’água, considerando a densidade de cianobactérias. Classificação dos corpos d’água e diretrizes para o enquadramento, considerando a densidade de cianobactérias CLASSE CLASSE 1 CLASSE 2 CLASSE 3 Descrição Densidade Abastecimento humano após tratamento simplificado, recreação com contato primário, irrigação de hortaliças consumidas cruas. Abastecimento após tratamento convencional, recreação de contato primário, irrigação hortaliças e frutíferas, aqüicultura e pesca. Abastecimento após tratamento convencional ou avançado, recreação de contato secundário, dessedentação de animais. 20.000 cel/ml 50.000 cel/ml 100.000 cel/ml Fonte : Adaptado de BRASIL, (2005a). O valor máximo permitido nas águas de Classe 2 é de até 50.000 cel/ml, tratado no artigo 15, item VIII. Para águas de Classe 3, que trata o artigo 16, existe uma peculiaridade, pois, separa o valor máximo permitido para dessedentação de animais e o valor efetivamente aplicado como máximo permitido. No item h, a densidade de cianobactérias não deverá exceder 50.000 cel/ml quando o uso desta água for para dessedentação de animais, mas existe um outro valor máximo na tabela III de 100.000 cel/ml permitido para o enquadramento deste corpo d’água. 2.4 Biologia das cianobactérias São microrganismos procarióticos autotróficos, também denominados como cianofíceas (algas azuis), capazes de ocorrer em qualquer manancial superficial especialmente naqueles com elevados níveis de nutrientes (nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas com efeitos adversos à saúde (BRASIL, 2004). São componentes naturais do fitoplâncton e habitam ambientes marinhos, estuarinos e de água doce (CARMICHAEL, 2001 apud COSTA, 2003). A fotossíntese é seu principal meio para obtenção de energia e manutenção metabólica. Seus processos vitais requerem somente água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz (AQUAHOBBY, 2005). 15 As formas e organização das células são variadas, podendo ser unicelulares, coloniais ou filamentosas (CETESB, 2005c). Indivíduos unicelulares podem ser esféricos, ovóides, cilíndricos, oblongos, elípticos ou coloniais com divisão em um, dois ou três planos (ordem Chroococcales) ou divisão celular com formação de exósporos (ordem Chamaesiphonales ) e divisão em vários planos (ordem Pleurocapsales ). Em ambos os tipos, as células podem apresentar ou não envelope mucilaginoso. As colônias podem ser formadas por poucas células (2 a 16) ou centenas de células e podem apresentar diversas formas como: arredondadas, alongadas, tabulares, cúbicas ou irregulares. As formas unicelulares e coloniais são denominadas genericamente de cianofíceas cocóides (CETESB, 2005c). Indivíduos filamentosos, formados por cadeias de células resultantes da divisão celular em um único plano (filamentos), envolvidos ou não por bainha mucilaginosa, constituindo os tricomas. Tricomas unisseriados, não ramificados e com apenas células vegetativas (homocitados) são características da Ordem Oscillatoriales. Tricomas que apresentam células especializadas (heterocitados) do tipo heterócitos (Figura 2 – B – última célula abaixo), cuja função é a fixação biológica do nitrogênio atmosférico ou apresentam esporos, denominamos acinetos (Figura 2 – B – 1ª célula acima) (células geralmente bem maiores que as demais e com membrana espessa devido a presença de maior concentração de substância de reserva) constituem as Ordens Nostocales e Stigonematales. Nestas ordens, os tricomas podem apresentar ramificações do tipo falsa, quando um ramo é formado a partir de divisão celular sempre perpendicular ao eixo maior do tricoma ou verdadeira, quando o ramo é formado a partir da divisão celular paralela ao eixo maior do tricoma (CETESB, 2005c). Algumas espécies como as do gênero Pseudanabaena (Figura 2 – F), Geitlerinema, Oscillatoria (Figura 2 – C), por exemplo, possuem capacidade de movimento, possivelmente por difusão da mucilagem no meio líquido (CETESB, 2005c). 16 Figura 2 – Gêneros de cianobactérias freqüentemente encontrados em ambientes aquáticos. A – Anabaena (1000x); B – Anabaena com acineto e heterocito (1000x); C – Oscillatoria (400x); D – Merismopedia (1000x); E – Microcystis (400x); F – Pseudanabaena (1000x). Fonte : Imagens produzidas por MACEDO, (2005). A reprodução das cianobactérias é sempre assexuada do tipo fissão binária em um ou mais planos, ou múltiplas com a formação de baeócitos (anteriormente chamados de endósporos). As formas coloniais também se multiplicam pela fragmentação das colônias, além da simples divisão celular e os filamentos pela simples quebra do tricoma em pequenas partes denominadas hormogônios ou a partir de uma célula morta denominada necrídio (CETESB, 2005c; AQUAHOBBY, 2005). Em alguns grupos de cianofíceas, os hormogônios formam-se envoltos numa espessa bainha e neste caso, como funcionam com uma estrutura de resistência são chamados hormocistos (CETESB, 2005c). 17 2.5 Toxinas Nos programas de monitoramento das cianobactérias para águas de abastecimento, normalmente é exigida apenas a contagem do número de células que são as unidades produtoras da toxina. Porém é importante a identificação dos organismos dominantes, pelo menos até o nível genérico, para saber se já são conhecidos seus efeitos tóxicos, já que diferentes gêneros e espécies produzem diferentes toxinas (SANT’ANNA et al., 2006). CARMICHAEL, (1992) apud Di BERNARDO, (2003) define toxinas como compostos secundários que produzem efeitos nocivos em outros tecidos, células ou organismos. Compostos secundários referem-se àqueles compostos que não são usados pelo organismo no metabolismo primário. Incluem hormônios, antibióticos, aleloquímicos e toxinas. De acordo com suas estruturas químicas, as toxinas de algas podem ser divididas em três grandes grupos: os peptídeos cíclicos, os alcalóides e os lipopolissacarídeos. Os peptídeos cíclicos mais comumente encontrados em florações de cianobactérias tóxicas de águas doces e salobras são das famílias da microcistina e nodularina. A microcistina é um heptapeptídeo e a nodularina, um pentapeptídeo. Os alcalóides, em geral, compreendem grande grupo de compostos nitrogenados heterocíclicos (apresentam estrutura em anel com um nitrogênio ligado ao último anel). Dentre os alcalóides destacam-se: as anatoxinas e as saxitoxinas, produzidas por cianobactérias de água doce dos gêneros Anabaena, Aphanizomenon, Lyngbia e Cylindrospermopsis. As saxitoxinas também são conhecidas como veneno paralisante de mariscos (paralytic shellfish poisoning – PSP), pois foram isoladas primeiramente de dinoflagelados marinhos, responsáveis pelas marés vermelhas. A cilindrospermopsina é um alcalóide sulfatado que bloqueia a síntese protéica com primeiro impacto nas células do fígado. Algumas cianobactérias marinhas também contêm alcalóides que são principalmente dermatotóxicas. Os lipopolissacarídeos são integrantes da parede celular de todas as bactérias gram-negativas, incluindo as cianobactérias, e podem causar irritações ao contato e respostas alérgicas na pele de humanos e de mamíferos (Di BERNARDO, 2003). 18 As toxinas de cianobactérias, ou cianotoxinas, apresentam mecanismos tóxicos específicos em vertebrados e podem ser classificadas de acordo com o modo de ação em: neurotoxinas (anatoxina-a, anatoxina-a(s) e saxitoxinas), hepatotoxinas (microcistinas, nodularina e cilindrospermopsina) e endotoxinas ou dermatotoxinas (lipopolissacarídeos, lingbiatoxinas e aplisiatoxinas). Em geral, algumas dessas toxinas, especificamente os alcalóides neurotóxicos, são caracterizadas por sua ação rápida, causando a morte de mamíferos por parada respiratória após poucos minutos de exposição. Há aquelas que atuam menos rapidamente e são identificadas como peptídeos ou alcalóides hepatotóxicos. Outras ainda (endotoxinas pirogênicas) causam irritações ao contato. Estudos disponíveis indicam que os lipopolissacarídeos produzidos pelas cianobactérias são menos tóxicos que os de outras bactérias, como, por exemplo, Salmonella. Em geral, os sintomas de intoxicação podem ser sintetizados da seguinte forma: a) em águas de uso recreacional, incluindo as marinhas, são verificadas irritações na pele e nos olhos, febre, tonturas fadiga e gastroenterite aguda; b) quanto à água potável, são observadas dores abdominais, náuseas, vômitos, diarréia, irritação da laringe, tosse seca, dor de cabeça, etc., e elevados níveis de enzima no soro, indicando danos ao fígado. Na Tabela 2 são apresentados os principais gêneros de cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas e os tecidos (órgãos) afetados em seres humanos (Di BERNARDO, 2003). 19 Tabela 2 - Principais gêneros de cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas. Fonte : Di BERNARDO, (2003). 2.6 Contagem de cianobactérias 2.6.1 – Tecnologias e equipamentos Existem diversos métodos para quantificar o fitoplâncton. Pode-se quantificar a densidade e biomassa de cianobactérias de diversas formas, seja diretamente pelo número de células ou do número de organismos, por estimativa de biomassa (biovolume), ou indiretamente pela media de clorofila a. (SANT’ANNA et all., 2006). Os métodos diretos de quantificação envolvem o uso de câmaras especiais para microscópio. Os métodos indiretos incluem técnicas nefelométricas, medição de clorofila, medição de ATP, estimação de DNA, uso de citometria de fluxo e de contadores eletrônicos de partículas. Este último é particularmente útil quando se necessita de uma informação relativamente rápida e precisa das categorias de tamanhos presentes na comunidade, mas sua principal desvantagem está na impossibilidade de observar e identificar os organismos e de distinguir o material orgânico do inorgânico (VILLAFAÑE & REID 1995). Utilizando também um espectrofotômetro, como cita DUARTE et al. (1990), é possível realizar uma correlação entre (número de células/ml) e absorbância, lida através de espectrofotômetro em comprimento de onda igual a 750 nm, (para a 20 Cloforícea Chlorella homosphaera) e a partir de diluições consecutivas da cultura no início da fase estacionária de crescimento são feitas medidas e determina-se a curva de correlação entre a população de algas e a absorbância. A contagem celular por microscópio óptico, apesar de trabalhosa quando utilizado um grande número de réplicas e concentrações, permite observar anormalidades que podem ocorrer com relação ao tamanho ou ao formato das células. Existem vários tipos de câmaras que podem ser utilizadas para contagem de algas, tais como: Sedgwick-Rafter (Figura 3), Neubauer, Utermöhl (Figura 4), Palmer-Maloney, dentre outras. A escolha do tipo de câmara dependerá do tamanho e da abundância das algas em estudo (ARAÚJO, 2001). Figura 3 – Câmaras de Sedgwick-Rafter, dimensões: 50 mm por 20 mm de lado e 1 mm de profundidade, com capacidade de 1ml de amostra. Fonte : Imagens produzidas por MACEDO, (2005). 21 B A C Figura 4 – Câmaras de Utermöhl. Fontes : A – VILLAFAÑE & REID, (1995); B – MACEDO, (2005); C – AGUJARO, (2005). Pode-se utilizar microscópio ótico, comum (Figura 5 - A) para observação qualitativa do material e para observação quantitativa quando for utilizada câmara de Sedgwick-Rafter. A ocular utilizada é geralmente de 10x e as objetivas de 10, 20, 40, 63 (opcional) e 100x são recomendadas. Esta última é importante para visualização de indivíduos de dimensões muito pequenas e para evidenciar septos em filamentos ou inclusões celulares. A contagem é realizada com objetiva 40x (esta deverá ser de longa distância), podendo ser utilizada a de 20x quando há dominância de indivíduos com grandes dimensões (SANT’ANNA, et al., 2006) 22 A B Figura 5 – A – Microscópio binocular ótico comum com câmara de Sedgwick-Rafter, B - Microscópio invertido, com câmera digital acoplada ao computador e dispositivo de epifluorescência. Fonte : Imagens produzidas por MACEDO, (2005). A contagem pelo método de Sedgwick-Rafter apresenta a vantagem de ser uma das mais precisas, desde que se proceda com cuidado em todas as operações e que se utilize grande número de campos. No caso de águas excepcionalmente ricas em algas ou cujos microrganismos existentes sejam de tamanho muito reduzido, o emprego da ocular micrométrica de Whipple permite que se contenham os organismos existentes apenas em uma parte do campo, desde que, naturalmente, se inclua esse fator no equacionamento final (BRANCO, 1986). O equipamento deverá ter Retículo de Whipple (Figura 6) para a contagem e ocular de medição usada para realizar medidas dos organismos necessárias à sua identificação (SANT’ANNA, et al., 2006). A mesma configuração deverá apresentar o microscópio invertido (Figura 5-B) quando for utilizado o método de quantificação, segundo a técnica de Utermöhl, que é o mais preciso e recomendado para a quantificação desses organismos (SANT’ANNA, et al., 2006). 23 Figura 6 – Retículo de Whipple com uma colônia de Microcystis sobreposta, sem escala. Fonte : Imagem produzida por MACEDO, (2005). 2.6.2 – Técnicas de concentração de amostras Os organismos contidos em amostras de água, às vezes, necessitam ser concentrados em laboratório antes da análise (A.P.H.A., 1998). Várias técnicas foram desenvolvidas, todas elas apresentando vantagens e desvantagens, devendo cada qual ser aplicada de acordo com o objetivo do estudo (SANT’ANNA, et al., 2006; CETESB, 2005a). 2.6.2.1 – Filtração em membranas O método de filtração da amostra de água através das membranas especiais de celulose, utilizadas para contagem de bactérias, pode ser empregado, também, para identificação e contagem de plâncton (BRANCO, 1986). delicadas de flagelados são destruídas, mesmo com Porém, formas baixas pressões (A.P.H.A.,1998). Geralmente as membranas utilizadas têm o diâmetro de poro de 0,45 µm com 47 mm de diâmetro e espessura de 0,15mm (BRANCO, 1986; A.P.H.A., 1998). A utilização dessas membranas requer um aparelho especial de filtração a vácuo que consiste, geralmente, em um funil de vidro ou de aço inoxidável, em cuja 24 abertura inferior, que tem aproximadamente o diâmetro da membrana, ajusta-se uma peça, também em forma de funil com a boca fechada por uma superfície de vidro poroso, sobre a qual se apóia a membrana. O tubo de saída desse segundo funil, é ajustado à rolha de um frasco de Kitassato, ligado a um bomba pneumática (BRANCO, 1986). Após preparado a aparelhagem acrescenta-se a amostra, pequena quantidade de iodeto de potássio em solução saturada ou então 4% de formalina. Na finalização do procedimento a membrana deverá ficar secando por 24 horas para depois visualizar no microscópio (BRANCO, 1986). 2.6.2.2 – Centrifugação O método da centrifugação fornece resposta mais rápida, porém pode causar perda de organismos nas diferentes etapas do processo, alteração de seu aspecto e rompimento das células (SANT’ANNA et al., 2006). No tipo mais comum de centrífuga de laboratório, coloca-se um volume conhecido e a amostra é centrifugada por 20 minutos a aproximadamente 1000 rpm. (VILLAFAÑE & REID, 1995). Segundo CETESB (2005a), considerando dois tubos de 50ml, a amostra é centrifugada a 2500 rpm para o mesmo tempo. Após a centrifugação elimina-se o sobrenadante cuidadosamente, até chegar a um volume concentrado de amostra necessária para contagem, se a contagem for feita em câmaras de Sedgwick-Rafter, utiliza-se 1ml (VILLAFAÑE & REID, 1995). Devido principalmente à sua rapidez, como também a simplicidade de execução, o método de centrifugação pode ser utilizado para programas de controle de qualidade de água e mesmo monitoramento, quando a decantação não é viável (CETESB, 2005a). 25 2.6.2.3 – Sedimentação (Utermöhl) É o método mais conhecido e envolve o uso do microscópio invertido. Este método foi introduzido por Utermöhl em 1931, embora a versão utilizada atualmente é aquela descrita por UTERMÖHL (1958), apud VILLAFAÑE & REID, (1995). O princípio da técnica do microscópio invertido consiste em deixar sedimentar uma amostra em um cilindro de sedimentação, de maneira tal, que, depois de um certo tempo pode-se assumir que todos os organismos presentes na amostra se encontram na base de vidro da câmara de sedimentação. Então o cilindro se separa da câmara e é possível observar os organismos no microscópio invertido (VILLAFAÑE & REID, 1995). A concentração da amostra em câmaras de Utermöhl é a mais recomendada, pois evita perdas ou danos dos organismos durante o processo. Dependendo do número de algas presentes na amostra, utilizam-se câmaras de volumes diferentes: 2, 5, 10, 50 ou 100ml (Figura 4 – A). As de 2,5 e 10ml são as mais comumente empregadas para ambientes eutróficos (SANT’ANNA et al., 2006). Na preparação da amostra, esta, deve estar bem homogeneizada antes de colocar no cilindro de sedimentação, para isto é necessário agitar suavemente para não destruir as colônias. Uma vez colocada a amostra no cilindro, tampa-se a parte superior (Figura 7 – a) para evitar a perda do material pela parte inferior devido a pressão hidrostática. Depois de um tempo (variável de acordo com o volume da amostra), o cilindro com o sobrenadante se separa da base usando um vidro quadrado, que serve também para tampar a amostra que contem o fitoplâncton (Figura 7 – b). O sobrenadante da amostra é eliminado por um pequeno orifício que existe na base retangular, quando retira-se a tampa circular que se encontrava sobre o cilindro de sedimentação (Figura 7 – c). A câmara, coberta com um vidro, contem os organismos que serão contados (Figura 7 – d) (VILLAFAÑE & REID, 1995). 26 Figura 7 – Diagrama que mostra o processo de sedimentação de uma amostra de fitoplâncton. a) A amostra é colocada no cilindro de sedimentação e é tampada; b) Depois de um tempo, o fitoplâncton terá sedimentado na câmara e o cilindro desliza para o orifício pequeno da base; c) O cilindro é descoberto para eliminar a água; d) A câmara contém agora somente o material sedimentado. Fonte : VILLAFAÑE & REID (1995). Geralmente quando utiliza-se câmaras de sedimentação de 10ml o tempo de sedimentação é de pelo menos 3 horas (até 4 horas) para cada centímetro de altura do líquido (CHORUS & BARTRAM, 1999) (LUND et al., 1958 apud VILLAFAÑE e REID 1995). O problema do tempo necessário para alcançar uma completa sedimentação de todos os organismos da amostra tem sido tratado em vários trabalhos (LUND et al., 1958; MARGALEF, 1969; EVANS, 1972; FURET & BENSON-EVANS, 1982 apud VILLAFAÑE e REID 1995). O tempo de sedimentação não depende só da quantidade da amostra, também do fixador utilizado. Em geral, considera-se que as amostras fixadas com lugol sedimentam mais rapidamente que aquelas fixadas com formol (HASLE, 1978 apud VILLAFAÑE e REID 1995). UTERMÖHL, (1958) apud VILLAFAÑE e REID, (1995), recomendava um tempo de sedimentação de pelo menos 24 horas, enquanto que LUND et al., (1958) apud VILLAFAÑE e REID (1995) recomendava 18horas para cilindros de 100ml e 1 hora para os de 1ml WILLÉN, (1976) apud VILLAFAÑE e REID, (1995), sugeria 8 horas para cilindros de 10ml e 48 horas para os de 50ml e 100ml. Porém cada pesquisador deve avaliar qual é o tempo adequado de sedimentação, de acordo com o volume, tipo da amostra e fixador ou preservativo utilizado. Em geral, não é recomendável o uso de cilindros de sedimentação muito altos (por exemplo, de 27 100ml), devido a tendência de alguns organismos (especialmente coloniais) ficarem aderidos na parede (PAASCHE, 1960 apud VILLAFAÑE & REID, 1995). 2.6.2.4 – Sedimentação em proveta Se não houver disponibilidade de um microscópio invertido ou centrífuga, também é possível sedimentar a amostra em proveta e desprezar o sobrenadante (SANT’ANNA, et al., 2006), (CETESB, 2005a), deixando um volume conhecido para ser utilizado em câmara de Sedgwick-Rafter (SANT’ANNA, et al., 2006). Neste procedimento pode haver perda de organismos (CHORUS & BARTRAM, 1999) (SANT’ANNA et al. 2006). Geralmente as amostras fixadas com lugol são transferidas para uma proveta de 1000ml e deixadas em repouso por tempo variado, dependendo da concentração este tempo pode variar de 12 horas, 24 horas ou mais, caso seja evidenciado floração de cianobactérias que possuem aerótopos (JARDIM1, informação verbal). É possível adicionar algumas gotas de detergente que quebra a tensão superficial, se a dominância de indivíduos na amostra for de células que apresentam aerótopos ou grandes bainhas mucilaginosas que interferem na sedimentação (SANT’ANNA et al., 2006). Após o período de repouso é retirado 900ml ou 950ml por sifonação com auxílio de uma bomba de vácuo e do concentrado é retirado uma alíquota para a análise (JARDIM1, informação verbal). 2.6.2.5 – Método de sedgwick-rafter Este método é descrito na 11ª publicação de A.P.H.A., (1960). Nesta publicação é possível encontrar o método, exatamente com este nome, já na 12ª edição A.P.H.A., (1965) o nome foi alterado para Filtração em areia. O sistema de filtração, diagrama fotográfico, descrito em A.P.H.A. edições 11ª e 12ª tem origem nos trabalhos de WHIPPLE et al. (1927) apud A.P.H.A. (1960 e 1965), e a partir da 13ª. edição de A.P.H.A. (1970) não mais foi descrita esta técnica. 28 Nesse método, a amostra é, inicialmente, concentrada por meio de filtração através de areia fina. Isto é realizado em um funil especial, denominado funil de Sedgwick-Rafter, (Figura 8) com capacidade geralmente, para 500ml de água. À abertura inferior desse funil é ajustada uma rolha de borracha, com uma perfuração no centro, onde se adapta um tubo fino de vidro, que servirá como sifão, que se adapta, pela outra extremidade, a um tubo de borracha, ligado a um aparelho de sucção. Sobre o orifício superior da rolha é colocado um disco de tecido de malhas muito finas (o mesmo que são feitas as redes de plâncton) e, sobre esta, uma camada de aproximadamente 10 ou 12mm de altura de areia fina. Essa areia pode ser de praia, branca, lavada, que passe em peneira n.º 60 ( série U.S.) e que seja retida pela n.º 120 (BRANCO, 1986) Figura 8 – Método de concentração com funil de Sedgwick-Rafter Fonte : Imagem produzida por MACEDO, (2005). A filtração é realizada do seguinte modo: ajusta-se à extremidade inferior do funil, a rolha já presa ao sifão de vidro e levando, na sua superfície superior, o disco de seda, exatamente no centro, de maneira a cobrir perfeitamente o orifício por onde se vai dar a saída da água. A areia deve ser colocada, previamente, em um copo com água; agitando-se rapidamente o copo, em seguida, pequenas quantidades do 1 Informação fornecida por JARDIM, F., em São Paulo, em 2006. 29 seu conteúdo no funil, repetidas vezes, até que a areia levada em suspensão na água, complete a altura desejada sobre a rolha, na saída do funil. Retira-se a água por sucção, para, em seguida, adicionar-se o volume de amostra a ser concentrado. Esta deve ser derramada suave e lentamente, escorrendo junto à parede interna do funil, a fim de não provocar a agitação da areia. Uma vez colocado todo o volume desejado, faz-se funcionar o aparelho de sucção, procedendo-se à filtração. Essa filtração não deve ser muito rápida. De quando em quando, deve-se proceder a uma agitação do líquido, por meio de um bastão de vidro, a fim de impedir a precipitação das algas sobre a parede interna do funil, especialmente na região cônica deste. Outra maneira de remover o material aderente consiste em lavar, de quando em quando, as paredes internas do funil, com água isenta de algas. Não é muito aconselhável o uso de água destilada, uma vez que esta, não contendo uma concentração adequada de sais, poderá causar o rompimento (plasmólise) ou deformação das células (BRANCO, 1986) Após sugada toda a água, retira-se a rolha, juntamente com o disco de seda e recolhe-se num becker. A seguir, adiciona-se água isenta de algas nas paredes internas do funil, de modo a lavá-las, removendo toda a areia (e organismos). Essa água deverá ser totalmente recolhida por meio do frasco onde já estão a areia e o disco de seda. Agita-se repetidas vezes, esse Becker, a fim de desprender todos os organismos dos grãos de areia, deixa-se decantar rapidamente esta última, para, em seguida, com uma pipeta de um mililitro, retirar a amostra do sobrenadante, que será utilizada para contagem (BRANCO, 1986). 30 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Coleta de informações As informações para este trabalho foram obtidas através de contato telefônico e/ou correio eletrônico com os biólogos e outros profissionais que atuam em diversas empresas de 16 estados brasileiros mais o Distrito Federal (Figura 9), totalizando 19 empresas que atuam no setor de saneamento ambiental, sendo elas de nível estadual ou municipal (Tabela 3). Os analistas consultados atuam no monitoramento de cianobactérias direta ou indiretamente e puderam informar com clareza o procedimento adotado por cada uma delas. Figura 9 – Mapa do Brasil, círculo em vermelho indicam as regiões consultadas para o trabalho. Fonte : Adaptado de WIKIPEDIA, (2006). 31 Tabela 3 – Relação das empresas de saneamento consultadas. Localização Instituição Alagoas CASAL Companhia de Abastecimento D’água e Saneamento de Alagoas Bahia EMBASA Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. Ceará CAGECE Companhia de Águas e Esgotos do Ceará Distrito Federal - Brasília CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal Espírito Santo CESAN Companhia Espírito Santense de Saneamento Goiás SANEAGO Companhia de Saneamento de Goiás Mato Grosso do Sul SANESUL Companhia de Saneamento do Estado do Mato Grosso do Sul Minas Gerais COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais Paraíba CAGEPA Companhia de Água e Esgotos da Paraíba Paraná SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná Piauí AGESPISA Companhia de Águas e Esgotos do Piauí S.A. Rio de Janeiro CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos Rio Grande do Sul CORSAN Companhia Riograndense de Saneamento Rondônia CAERD Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia Santa Catarina - Blumenau SAMAE Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto São Paulo SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo São Paulo - Campinas SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A São Paulo - Piracicaba SEMAE Serviço Municipal de Água e Esgoto Tocantins SANEATINS Companhia de Saneamento do Tocantins Fonte : Adaptado de AESBE, (2006). 3.2 Resumo dos procedimentos AGESPISA e CAGEPA AGESPISA – Companhia de Águas e Esgotos do Piauí S.A. Piauí CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba Paraíba Estas empresas não realizam contagem de cianobactérias, mas enviam ao ITEP – Instituto Tecnológico de Pernambuco (ALENCAR 2 , MENESES 3 comunicação pessoal). 2 ALENCAR, B.B. Informações sobre análise de fitoplâncton de água bruta [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 13. abr. 2006. , 32 Segundo MENESES3, (comunicação pessoal): * O método utilizado pelo ITEP é o Utermöhl. As amostras para análise quantitativa são fixadas com solução de lugol; * As amostras de água bruta são sedimentadas em câmaras de 2,973ml e as amostras de água tratada sedimentam em câmaras de 10ml; * A contagem do número de células é realizada em microscópio invertido, num aumento de 400 vezes. CAERD CAERD – Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia Rondônia Esta empresa está se adequando para instalar um laboratório nos próximos meses (BAHIA4, informação verbal). CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal Brasília - Distrito Federal Segundo CAVALCANTI5, (comunicação pessoal); CAESB, (2005): * Possui um procedimento para análise quantitativa de fitoplâncton, é feita a contagem dos grupos de algas e para as cianobactérias a contagem de células é feita somente para o gênero Cylindrospermopsis; * Nas análises utilizam microscópio invertido, juntamente com câmaras de Utermöhl com volumes variados (0,13ml; 5ml e 10ml); * As amostras coletadas são fixadas com lugol e transferidas para câmaras de sedimentação, cujo volume, a ser decidido pelo analista responsável, deve variar com a abundância dos organismos a ser determinada; 3 MENESES, A.C.L.S.M.de Análises hidrobiológicas de água bruta – Cianobactérias [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 18. abr. 2006. 4 Informação fornecida por BAHIA,M.A. da S., em São Paulo, em 2006. CAVALCANTI, C. Análises hidrobiológicas [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 30. mar. 2006. 5 33 * São utilizados câmaras de 5ml ou 10ml e tempo de sedimentação de 12 horas; * Depois de finalizado o processo de sedimentação, as câmaras são levadas ao microscópio invertido e as algas são contadas por toda a câmara ou uma fração desta. Quando se conta uma fração pode-se fazê-lo sistematicamente (diagonal) ou aleatoriamente (10 campos escolhidos ao acaso); * A análise da água tratada também é feita e comparada com a água bruta para obter o percentual de remoção. CAGECE Companhia de Águas e Esgotos do Ceará Ceará Segundo CARVALHO6, (comunicação pessoal): * A CAGECE implantou os trabalhos e análise de fitoplâncton e contagem de cianobactérias através de parceria e cursos com o biólogo Fernando Jardim da COPASA de Minas Gerais; * As amostras coletadas são fixadas com lugol e transferidas para uma proveta de 1000ml (que será o volume inicial), então esta proveta é deixada em repouso por 24 horas; * Após esse período é feito a sifonação de 950ml da amostra com o auxílio de uma bomba de vácuo e transfere-se 50ml restante (que será o volume final) para um recipiente, então retira-se 1ml para colocar na câmara de Sedgwick-Rafter; * O microscópio utilizado é o invertido sem o retículo de Whipple, faz-se a média dos tricomas e emite os resultados em Org/ml e Cel/ml; * A análise pode ser efetuada por campos ou por faixas, considera-se para isso a concentração de organismos na amostra. A contagem deve ser efetuada até contar 100 organismos do organismo predominante. Normalmente, se em um campo observa-se 10 ou mais organismos do organismos predominante, a contagem é feita por campos. Caso contrário, será necessário a contagem por faixas, de um extremo ao outro da câmara. Ao contar por campos, deve-se atentar para que um campo jamais sobreponha o outro, evitando contar o mesmo organismo mais de uma vez. 6 CARVALHO, S.M. de C. Procedimento de contagem fitoplâncton [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 18. abr. 2006. 34 CASAL CASAL – Companhia de Abastecimento D’água e Saneamento de Alagoas Alagoas Esta empresa não realiza este tipo de análise (BISPO7, informação verbal). CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos Rio de Janeiro Segundo SOARES8, (comunicação pessoal): * As amostras são fixadas em campo, com solução de lugol. Chegando ao laboratório são colocadas para sedimentar em câmaras de Utermöhl por 24 horas quando for utilizado câmaras de 10ml e 48 horas para câmaras de 50ml; * A densidade fitoplanctônica (cel/ml) é estimada segundo a técnica de Utermöhl em microscópio invertido a 400 vezes. O volume sedimentado é definido de acordo com a concentração de algas e/ou detritos. O tempo de sedimentação é de pelo menos três horas para cada centímetro de altura da câmara; * Os indivíduos (células) são enumerados em campos aleatórios, em número suficiente para alcançar 100 indivíduos da espécie mais freqüente, sendo o erro inferior a 20%, a um coeficiente de confiança de 95%. Quando não é possível utilizar esse critério (amostras com algas escassas e detrito abundante) são contados indivíduos em tantos campos aleatórios quantos os necessários para que se estabilize o número de espécies adicionadas por campo (método da área mínima), a fim de garantir uma representatividade qualitativa mínima de espécies; * A análise de água tratada não é feita coma a mesma freqüência que a água bruta, mas quando existe a necessidade é utilizado câmara de Utermöhl de 50ml. 7 Informação fornecida por BISPO, F., em São Paulo, em 2006. SOARES, M.C.S. Informações CEDAE [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 26. abr. 2006 8 35 CESAN Companhia Espírito Santense de Saneamento Espírito Santo Segundo ROBIN9, (informação verbal): * O método de concentração de amostra é a sedimentação em câmaras de Utermöhl, previamente fixada com lugol. Utilizam câmaras de 5ml, 10ml ou 25ml, esta última para análise de água tratada; * A contagem é feita com microscópio invertido no aumento de 400 vezes e identificam até o nível de gênero; * O retículo de Whipple é utilizado quando são encontrados cianobactérias cocóides, como por exemplo Synechocystis, que são comuns nesta região. COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais Minas Gerais Segundo JARDIM1, (informação verbal): * O método de concentração nesta empresa pode variar entre a sedimentação em câmaras de Utermöhl ou sedimentação em proveta de 1000ml. O preservativo utilizado é o lugol acético a 5ml adicionado num frasco âmbar de coleta para 1000ml de amostra; * Depois de sedimentado a amostra na proveta de 1000ml, com tempo de repouso de 12 a 24 horas, é feito a sifonação de 900ml e transfere-se o restante para um outro recipiente. Caso a contagem de organismos não atenda a Distribuição de Poisson que corresponde a 100 indivíduos da espécie predominante é feita uma nova concentração, agora, em proveta de 100ml, utilizando a amostra restante da concentração anterior e permanece em repouso por mais 12 horas, após esse período retira-se 90ml e dos 10ml restante é feito a contagem; * As contagens podem ser feitas em microscópio invertido ou ótico comum. 36 Segundo (JARDIM, 2002): * O aumento utilizado no microscópio invertido nas contagens de células é 200 vezes, mas para contagem de células menores como de algumas Chroococcaceae utilizam-se aumentos maiores, chegando até 320 vezes; * No microscópio ótico comum o aumento utilizado é o de 200 vezes com objetiva de longa distância; * Na etapa inicial da contagem é feita uma média do número de células em 30 colônias contadas no quadrado maior do retículo de Whipple, isso para as cocóides. Para as filamentosas, é feito uma média do número de células em 30 tricomas aleatórios; * Durante a contagem são contados quantos quadrados sobrepõe as colônias encontradas e todos os tricomas são contados; * Para obter o número de células das coloniais basta multiplicar o número de quadrados maiores contados pela média do número de células e para as filamentosas basta multiplicar a média do número de células por tricoma pelo número de tricomas encontrados. Para verificar a eficiência de remoção na Estação de Tratamento de água também são feitas análises da água final (JARDIM1, informação verbal). CORSAN Companhia Riograndense de Saneamento Rio Grande do Sul Segundo GIORDANI10, (comunicação pessoal): * As análises hidrobiológicas para quantificação de fitoplâncton são realizadas a mais de 30 anos nesta empresa. Utiliza a Norma Técnica CORSAN – Águas – Determinação de Fitoplâncton de Água Doce – Técnica de Sedgwick-Rafter, que teve como base para sua elaboração a Norma Técnica CETESB L5.303 de 1991, A.P.H.A. de 1995 e CHORUS & BARTRAM de 1999; 9 Informação fornecida por ROBIN, K., em São Paulo, em 2006. GIORDANI, A.T. Resposta Corsan [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 12. mai. 2006 10 37 * Após o procedimento de coleta a amostra é trabalhada in vivo e não é utilizado nenhum reagente para fixar, salvo as condições com grande quantidade de fitoflagelados, em que é acrescentado Lugol na alíquota da amostra; * Como método de concentração utiliza a centrífuga e a contagem é feita no microscópio ótico comum no aumento de 100 vezes e quando necessário altera a objetiva para 20x, chegando a 200 vezes de aumento; * Para as cianobactérias filamentosas a contagem é feita de todos os tricomas em faixas ou campos. As cocóides são contadas no retículo de Whipple, mas quando apresenta floração é feita a desagregação das colônias; * São realizadas análises de água final semanalmente e sempre que o número de células na água bruta estiver acima de 20.000 cel/ml. EMBASA Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. Bahia Segundo AMARAL11, (comunicação pessoal); EMBASA, (2005): * A EMBASA implantou os trabalhos de análise de fitoplâncton e contagem de cianobactérias através de parceria e cursos com o biólogo Fernando Jardim da COPASA de Minas Gerais e a partir daí a empresa criou o seu próprio procedimento operacional; * As amostras coletadas são fixadas com lugol acético e transferidas para uma proveta de 1000ml (que será o volume inicial), então esta proveta é coberta com papel alumínio e deixado em repouso por no mínimo 12 horas e, no máximo 15 dias; * Após esse período é feito a sifonação de 900ml da amostra com auxílio de uma bomba de vácuo e transferido os 100ml restantes para uma outra proveta, agora de 100ml. Deixa-se então em repouso, para sedimentação por um período de 24 a 48 horas. Após esse período, faz-se a sifonação de 50ml e transfere-se os 50ml restante (que será o volume final) para um erlenmeyer; 11 AMARAL, D. Informações cianobactérias MONOGRAFIA [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 23. mai. 2006 38 * Quando a amostra apresenta grande quantidade de algas, não é feita a concentração, simplesmente retira-se 1ml do frasco de coleta e coloca-se na câmara de Sedgwick-Rafter (volume inicial 1ml e volume final 1ml); * Utiliza microscópio ótico comum com retículo de Whipple e câmara de Sedgwick-Rafter no aumento mais apropriado para a amostra; * Na contagem os biólogos escolhem a objetiva mais apropriada à amostra e contam as células por campo ou faixas, seguindo a distribuição de “Poisson“; * Para cianobactérias cocóides como Microcystis, conta-se quantas células contém num quadrado maior do retículo de Whipple e faz-se uma média para depois contar quantos quadrados maiores do retículo de Whipple se sobrepõe as colônias encontradas, então multiplica-se o número de quadrados encontrados pela média do número de células; * Para as filamentosas, conta-se a quantidade de células encontradas e multiplica-se pelo número de filamentos encontrados; * A empresa possui um sistema informatizado que armazena e disponibiliza em tempo real os resultados obtidos para todos os usuários conectados, mas esses resultados são somente de células totais de cianobactérias, conforme obriga a Portaria 518 (BRASIL, 2004) e não são feitas distinções de gêneros ou espécies. SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo São Paulo O histórico de análise de fitoplâncton na SABESP tem praticamente 30 anos, para resultados em UPA/ml e Org/ml, e os resultados de cianobactérias em células/ml foram implantados a partir de 1999 (SAWADA12, informação verbal). Após o procedimento da coleta, a amostra é trabalhada in vivo e não é utilizado nenhum reagente para fixar, salvo as condições com grande quantidade de fitoflagelados, então faz-se necessário o preservativo lugol na própria câmara de Sedgwick-Rafter ou numa alíquota da amostra. 12 Informação fornecida por SAWADA, C., em São Paulo, em 2006. 39 A concentração de amostra e a metodologia de contagem são feitas pelo método de Sedgwick-Rafter, didaticamente descrita por BRANCO (1986). As amostras são concentradas em funis de Sedgwick-Rafter através de areia fina de praia, devidamente esterilizada com solução sulfocrômica na proporção 1:1. Este método possui a vantagem de ser rápido, pois é possível concentrar uma amostra em aproximadamente 10 minutos, desde 100ml para água bruta, até 3000ml para análise de água tratada, com auxílio de uma bomba de vácuo, como já é realizado rotineiramente por esta entidade para quantificar os microrganismos nas Estações de Tratamento de Água e pelo resultado obtido nas etapas do processo da ETA é feito a análise estatística e determina-se a eficiência na remoção de fitoplâncton. Segundo SABESP, (2005): * O microscópio utilizado é o ótico comum com objetiva de 10x ou 6,3x e ocular de 10x e Retículo de Whipple calibrado em 1000 µm de lado; * Portanto, a contagem das cianobactérias é realizada em aumento de 100 vezes e com retículo de Whipple padronizado em 400 µm2 para cada UPA; * A contagem de cianobactérias inicia-se da seguinte maneira: Verifica-se a média de células cocóides que cabem no quadrado menor do retículo de Whipple e para as filamentosas, a média do número de células que cabem num quadrado maior do retículo de Whipple (1 organismo = 100µm); * Para cada tipo de água existe um método de contagem e a definição de qual método a ser escolhido depende da quantidade de organismos na câmara. Portanto as filamentosas e as cocóides maiores que 2 UPA são contadas em faixa e as cocóides menores que 2 UPA em campo, mas, caso a concentração de cocóides for muito baixa, poderá optar-se pela contagem em faixa. Este procedimento procura fazer a varredura da maior quantidade de organismos possível, para que a amostragem seja considerável. 40 SAMAE Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto Blumenau – Santa Catarina Segundo SCHULZE13, (comunicação pessoal): * As amostras coletadas são fixadas com lugol, numa proporção de 0,3ml do reagente para cada 100ml de amostra e transferidas para uma das câmaras de Utermöhl de volume variado: 2, 10, 50 ou 100ml e permanece em repouso por 24 horas em câmara úmida; * A escolha da câmara de Utermöhl varia de acordo com a turbidez, conforme descrito abaixo: - Turbidez menor que 30 NTU = Utermöhl de 100ml; - Turbidez maior que 30 NTU até 100 NTU = Utermöhl de 50ml; - Turbidez maior que 100 NTU até 200 NTU = Utermöhl de 10ml; - Turbidez acima de 200 NTU é necessário uma diluição da amostra; * O microscópio utilizado é o invertido no aumento de 400 vezes sem retículo de Whipple; * A contagem de células de cianobactérias é feita perpendicularmente, pelo centro do fundo da câmara de Utermöhl em campo contínuo. SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A Campinas – São Paulo Segundo PINTO14, (informação verbal): * Para concentração das amostras utiliza-se o método de sedimentação em câmaras de Utermöhl. Faz-se a fixação da amostra, calibração do microscópio invertido e a metodologia de contagem segundo a norma CETESB L5.303; * Quando necessitam realizar pesquisa em águas na saída do tratamento das ETAs, a água é filtrada numa membrana de 0,45 µm, então é feito a raspagem e 13 SCHULZE, E. Confirmação de informações [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 09. mai. 2006 41 posteriormente aplicada sobre uma lâmina comum e visualizada em microscópio. Este procedimento pode ser considerado como uma análise qualitativa e uma maneira encontrada pelos biólogos para analisar águas tratadas. SANEAGO Companhia de Saneamento de Goiás Goiás Segundo CRISTIANA15, (informação verbal): * Após a coleta de 150ml a 200ml de água bruta as amostras são fixadas com lugol e adicionadas em câmaras de Utermöhl para a sedimentação; * A contagem é feita no microscópio invertido com aumento de 400 vezes e não utilizam retículo de Whipple. SANEATINS Companhia de Saneamento do Tocantins Tocantins Segundo SILVA16, (comunicação pessoal): * Os trabalhos desta empresa para quantificação e identificação de cianobactérias foram propostos por Fernando Jardim da COPASA de Minas Gerais e baseado também nas Normas técnicas CETESB, A.P.H.A. e Chorus & Bartram; * As amostras coletadas são fixadas com lugol acético ou Transeau. No laboratório é adicionado no frasco de vidro âmbar de 1000ml, 5 ml de lugol acético e transportados ao laboratório para análise; * No procedimento para realização da contagem pode ocorrer uma alternância entre as câmaras de Sedgwick-Rafter e de Utermöhl, considerando o tempo para sedimentação nas câmaras de Utermöhl pode-se variar entre as de Sedgwick- Rafter; 14 Informação fornecida por PINTO, A.C.P.P., em São Paulo, em 2006. Informação fornecida por CRISTIANA., em São Paulo, em 2006. 16 SILVA, J.R.L. Informações cianobactérias MONOGRAFIA [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 10. mai. 2006 15 42 * Quando as análises são feitas em câmaras de Sedgwick-Rafter, num aumento de 100 vezes é feito uma sedimentação anteriormente de 1 hora; * Nas análises em câmaras de Utermöhl são feitas no aumento de 400 vezes, aguardando 24 horas para a sedimentação e a utilização do Retículo de Whipple não é freqüente. SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná Paraná Segundo FARIA17, (comunicação pessoal): * A SANEPAR baseia-se nos métodos descritos na norma CETESB L5.303 e na publicação do Standard methods for the examination of water and wastewater; * As amostras são fixadas com lugol e a concentração é feita em câmaras de Utermöhl com volume 10ml; * O microscópio utilizado é o invertido com aumento de 400 vezes. SANESUL Companhia de Saneamento do Estado do Mato Grosso do Sul Mato Grosso do Sul Esta empresa está se adequando para a implantação deste tipo de análise (ROBERTO18, informação verbal). 17 FARIA, S.M. da S.S. de. Cianobactérias [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 17. abr. 2006. 43 SEMAE Serviço Municipal de Água e Esgoto Piracicaba – São Paulo Segundo CANALE19, (comunicação pessoal): * A metodologia adotada como referência para os trabalhos desta empresa é a Norma Técnica CETESB L5.318; * As amostras são preservadas com lugol e o procedimento de concentração pode ser feito por centrifugação (2500 rpm x 20 min.) ou sedimentação em proveta de 50ml e tempo de repouso de 24 horas. No caso de concentração por sedimentação, adiciona-se ainda detergente neutro (2 gotas) para quebrar a tensão superficial, caso a dominância for de cianobactérias que possuem aerótopos; * O microscópio utilizado é o ótico comum com câmaras de Sedgwick-Rafter no aumento de 400 vezes com retículo de Whipple; * Quando existe a necessidade de promover a dissolução da mucilagem de cianobactérias do gênero Microcystis, por exemplo, adiciona-se hidróxido de potássio (KOH) à amostra, seguido pelo aquecimento em banho Maria (75ºC) por 30-40 min., e a contagem é feita com as células desprendidas da colônia. 18 Informação fornecida por ROBERTO, J., em São Paulo, em 2006. CANALE, I. ATT.Ivan Canale – Monografia Adilson [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 12. mai. 2006. 19 44 Tabela 4 – Tabulação das informações sobre os procedimentos para contagem de cianobactérias. Reagente fixador / Localização Instituição Câmara de contagem Fonte Alagoas CASAL Não realizam este tipo de análise Bahia EMBASA Lugol Sedgwick-Rafter Norma EMBASA Ceará CAGECE Lugol Invertido e não usa Retículo de Whipple Sedgwick-Rafter Fernando Jardim CAESB ** Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido ou Ótico comum Utermöhl CESAN Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x Utermöhl Utermöhl SANEAGO Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x Utermöhl Utermöhl SANESUL Em fase de implantação Minas Gerais COPASA Lugol Sedimentação em Utermöhl ou Invertido com aumento de 200x e ótico Proveta de 1000ml comum com 200x e Retículo de Whipple Paraíba CAGEPA * Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x Utermöhl Paraná SANEPAR Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x Utermöhl L5.303 e Standard Piauí AGESPISA * Lugol Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x Utermöhl Utermöhl CEDAE Lugol Sedimentação em Utermöhl Utermöhl Utermöhl CORSAN Não utiliza Centrifugação CAERD Não realizam este tipo de análise SAMAE Lugol Distrito Federal Espírito Santo Goiás Mato Grosso do Sul Preservativo Método de concentração Microscópio Sedimentação em proveta de Ótico comum e Retículo de Whipple com 1000ml aumento de 100x Sedimentação em Proveta de 1000ml Utermöhl ou Sedgwick-Rafter Norma Técnica CETESB NT 06 Norma COPASA – Fernando Jardim Utermöhl CETESB Norma Methods Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Rondônia Santa Catarina Sedimentação em Utermöhl Invertido com aumento de 400x, não usa Retículo de Whipple Ótico comum com aumento de 100x e 200x Retículo de Whipple Invertido com aumento de 400x, não usa retículo de Whipple Sedgwick-Rafter Utermöhl Norma Técnica CORSAN Utermöhl 45 Tabela 4 – Tabulação das informações sobre os procedimentos para contagem de cianobactérias. (Continuação) Reagente fixador / Localização Instituição São Paulo SABESP Não utiliza Sedgwick-Rafter São Paulo SANASA Lugol Sedimentação em Utermöhl São Paulo SEMAE Lugol Tocantins SANEATINS Preservativo Método de concentração Microscópio Câmara de contagem Ótico comum com aumento de 100x e Retículo de Whipple Invertido com aumento de 400x e Retículo de Whipple Centrifugação ou Sedimentação Ótico comum com aumento de 400x e em Proveta de 50ml retículo de Whipple Lugol acético ou Sedimentação em Utermöhl ou Invertido no aumento de 400x ou Ótico Transeau Proveta comum com aumento de 100x Fonte Branco, 1986 e Sedgwick-Rafter Standard Methods CETESB Norma Utermöhl L5.303 CETESB Norma Sedgwick-Rafter L5.318 Norma COPASA, Utermöhl ou Sedgwick-Rafter CETESB, APHA e Chorus & Bartram * Estas empresas realizam as análises através do Instituto Tecnológico de Pernambuco - ITEP ** A CAESB emite laudos de células de cianobactérias somente para Cylindrospermopsis, utiliza microscópio invertido ou ótico comum (para Cylindrospermopsis e demais algas aumento de 32x) e micrômetro na ocular do microscópio. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Fonte : JARDIM ; ALENCAR ; MENESES ; BAHIA ; CAVALCANTI ; CARVALHO ; BISPO ; SOARES ; ROBIN ; GIORDANI ; AMARAL ; SAWADA ; SCHULZE ; PINTO ; CRISTIANA ; 16 17 18 19 SILVA ; FARIA ; ROBERTO ; CANALE ; (Notas de rodapé referente a fonte, citadas nas páginas anteriores); CAESB, (2005); SABESP, (2005); EMBASA, (2005); JARDIM, (2002). 46 4. DISCUSSÃO No item 3.2 resumo dos procedimentos e também na Tabela 4 é possível verificar a diversidade de métodos para concentrar as amostras, uma variação na utilização do microscópio ótico comum com o invertido e também a calibração destes microscópios, aspectos quem podem contribuir para o aumento de interferentes. ROBERTO & PEREIRA, (1987) fizeram uma série de considerações e observações realizadas em laboratório em relação à interferência nos resultados de estudos quantitativos e qualitativos de organismos fitoplânctonicos provocados pelos procedimentos de coleta, homogeneização, estocagem, manuseio, transporte e preservação indevidos ou não observados a contento, causando alterações significativas e mascarando os resultados finais de contagem, bem como conduzindo a erros na identificação. Apresentam ainda diversas formas de preservação de amostras e citam que os dois reagentes mais utilizados são o formol e a solução de lugol. O lugol fornece uma concentração suficiente para uma preservação por aproximadamente seis meses para amostras de locais oligotróficos utilizando-se 1ml/l, e para ambientes eutróficos 2ml/l, quando estocados em local escuro, devido à degradação sofrida pela solução de lugol através da ação da luz. (ROBERTO & PEREIRA,1987; CETESB, 2005a) No levantamento apresentado na Tabela 4 observou-se que a solução de lugol é o preservativo mais utilizado e que duas empresas não utilizam nenhum preservativo, pois trabalham com amostras in vivo, salvo as condições com grande quantidade de fitoflagelados, então se faz necessário a solução de lugol numa alíquota da amostra. Segundo SANT’ANNA et al., (2006); ROBERTO & PEREIRA, (1987) mesmo com o lugol é possível que cianobactérias que possuem aerótopos permaneçam na superfície. A resolução do problema da contagem em câmaras de Sedgwick-Rafter se torna relativamente simples, uma vez que apenas a mudança de foco e a realização de uma segunda leitura no plano superior da lâmina, complementariam a contagem. Quando utilizada a câmara de Utermöhl, no microscópio invertido, a solução de alteração de foco não pode ser aplicada, uma vez que a distância entre a superfície 47 do líquido e a objetiva impede a aproximação suficiente para visualização dos organismos não sedimentados. Em função dessa dificuldade, verifica-se que a adição de 0,125ml ou quatro gotas com a pipeta de 1ml de detergente, para uma alíquota de 50ml de amostra, proporciona, após 30 minutos de homogeneização, a sedimentação desses organismos (ROBERTO & PEREIRA, 1987). Para evitar erros na identificação é importante preparar outra amostra sem a adição de detergente, pois, podem ocorrer alterações morfológicas e estruturais. ROBERTO & PEREIRA, (1987) coletaram amostras da Lagoa Facultativa de Valinhos, SP com a presença de Oscillatoria e fizeram experimentos comparando diversos preservativos (Tabela 5). Observaram que a porcentagem variou entre 3 e 96% de organismos não sedimentados ficando evidenciada a contribuição do detergente para a sedimentação destas cianobactérias. Tabela 5 – Teste de contagem de cianofíceas (Oscillatoria sp) com amostras da Lagoa Facultativa de Valinhos, SP, coletadas em maio de 1985. Organismos Organismos não sedimentados sedimentados (2º. nível ( 1º. nível ) junto à lamínula) Reagentes (n.º org/ml) Lugol (1ml/l) Níveis de Total dos Porcentagem organismos de erro n.º org/ml n.º org/ml % 5508 133914 139422 96,04 5616 141846 147462 96,19 4968 126915 131883 96,23 Formol (2%) 5114 132514 137628 96,28 Lugol + detergente 153511 5832 159343 3,66 focalização Formol + lugol (2%) (1ml/l) Lugol + mertiolato (1ml/l) (1ml/250ml) Obs.: Contagens efetuadas em câmaras de Sedgwick-Rafter Fonte : ROBERTO & PEREIRA, (1987). 48 A técnica de concentração observada com maior freqüência foi a sedimentação em câmaras de Utermöhl, mas sem um critério padrão entre elas quanto a definição do volume da câmara para cada amostra, no geral observa-se a quantidade de algas presentes na amostra. O tempo de sedimentação mais comum foi o de 24 horas para câmaras de 10ml. Segundo SANT’ANNA et al., (2006) as câmaras de 2,5 e 10ml são as mais comumente empregadas para ambientes eutróficos. A técnica de centrifugação foi citada por duas empresas. A técnica de concentração Sedgwick-Rafter, utilizando o funil com o mesmo nome, foi descrita somente por uma empresa. A técnica de sedimentação em proveta foi verificada em cinco empresas. Destas cinco, quatro delas foram implantadas através de cursos ministrados pelo biólogo Fernando Jardim da COPASA. No procedimento quando utiliza-se proveta de 1000ml faz-se posteriormente a sifonação da amostra, de modo que resulte um sedimentado de 5 a 10% do volume inicial. Quando usada proveta de 50ml também deve resultar a mesma porcentagem de volume final. Todas as técnicas de concentração de amostras apresentadas possuem vantagens e desvantagens, e considerando que as empresas consultadas utilizam os resultados para monitoramento de mananciais e abastecimento público deve-se levar em consideração o tempo para esta concentração, devido a necessidade de uma resposta rápida a Estação de Tratamento de Água. Como o microscópio invertido foi o mais citado dentre as empresas, a câmara de contagem mais freqüente foi a de Utermöhl. A calibração do microscópio invertido está padronizada em 400 vezes em quase todas as empresas. SANT’ANNA et al. (2006), afirmam que o tipo de microscópio determina a técnica de preparação da amostra. A utilização do microscópio ótico comum com aumento de 100 vezes ou 200 vezes com auxílio do retículo de Whipple também foi citado. O retículo de Whipple utilizado para realizar as medidas dos organismos foi citado por algumas empresas, outras não utilizam deste recurso de medida. 49 O fato das empresas de saneamento trabalharem com procedimentos diferenciados não caracteriza um problema operacional, e considerando que cada empresa tem o seu histórico e promove o monitoramento utilizando sempre a mesma metodologia, os resultados poderão ser considerados como válidos para cada uma delas, mas para existir confiabilidade neste processo é importante que se estabeleça programas de organização no trabalho e qualidade analítica, para que os resultados possam ser confiáveis, possibilitando a comparação entre as empresas. Os programas de controle de qualidade em laboratórios podem ser genericamente definidos como um conjunto de ações, com o objetivo de garantir a produção de resultados com a máxima confiabilidade. Devem, preferencialmente, ser formalizados em documentação específica, abrangendo os seguintes aspectos, atividades e/ou metas: • Recursos humanos: descrição da qualificação e capacitação necessárias às diversas atividades técnicas ou gerenciais; • Equipamentos e instrumentação: cadastro dos equipamentos, estado de conservação, procedimentos de calibração, requerimentos e freqüência de manutenção; • Especificação de suprimentos: de forma a garantir que todos os reagentes e suprimentos em geral atendam aos requisitos específicos de qualidade e orientem testes de controle de qualidade; • Padronização de procedimentos: documentação detalhada de todos os procedimentos de rotina do laboratório, incluindo regras de segurança, métodos e técnicas analíticas, procedimentos de coleta e armazenamento de amostras, calibração de instrumentos, preparo de armazenamento de reagentes, etc. Métodos analíticos devem ser padronizados e/ou validados, mantendo-se documentadas as respectivas precisão, sensibilidade e especificidade; • Organização de banco de dados: incluindo fluxo de informações e arquivo; • Medidas de controle de qualidade analítica: incluindo verificações de rotina por meio de análises em réplicas, controles positivos e negativos, controle interlaboratorial, calibração de instrumentos e equipamentos, etc (BRASIL, 2005b). 50 A Portaria 518 (BRASIL, 2004) obriga o monitoramento de cianobactérias e a quantificação em células por mililitro, também a Resolução 357 (BRASIL, 2005a) define valores de densidade somente em número de células, e de fato, algumas empresas atendem estes atos jurídicos emitindo laudos somente com valores de células por ml e não fazem a identificação dos organismos. Mais do que obter o resultado de número de células de cianobactérias, para uma empresa de saneamento que promove a gestão do manancial, é importante conhecer estas cianobactérias até o nível genérico, desta maneira é possível direcionar metodologias para detecção de toxinas, definir estratégias para o controle da floração de gêneros com algicidas específicos, tomar as devidas precauções quanto ao tratamento da água e implantar sistema de carvão ativado em pó quando necessário, entre outras. Para o monitoramento de um manancial é importante também relacionar o resultado de número de células com outras unidades de medida, como UPA/ml ou Org/ml considerando que podem existir indivíduos maiores e indivíduos menores, como, por exemplo, Anabaena e Merismopedia. Na legislação não existe a citação de monitoramento de algas e cianobactérias na água tratada, já que estes e outros microrganismos devem estar ausentes, mas algumas empresas fazem estas análises periodicamente ou dependendo da densidade de cianobactérias na captação para medir a eficiência de remoção do tratamento. 51 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho apresentou os métodos efetivamente utilizados por empresas de saneamento do Brasil para quantificar cianobactérias. Apesar de terem sido demonstradas diferenças nos procedimentos adotados por estas empresas é importante ressaltar que todas elas conhecem o sistema e têm critérios de qualidade para minimizar possíveis interferentes. Todas as empresas levam em consideração o histórico dos mananciais atendidos e buscam melhorias para o tratamento da água. Em função da exigência da legislação no monitoramento e quantificação de cianobactérias em número de células por ml é imprescindível o desenvolvimento de planos de calibração destas metodologias. Durante a pesquisa, praticamente todos os entrevistados evidenciaram a necessidade de promover com freqüência encontros e eventos para estreitar cada vez mais o relacionamento entre as empresas de saneamento, buscando assim, através de troca de informações uma qualidade nos trabalhos relacionados a cianobactérias e outros assuntos ligados a mananciais para abastecimento público. Com respeito a treinamento, também foi discutida a necessidade de capacitação e atualização técnica dos biólogos e profissionais encarregados de realizar este tipo de análise, além de promover cada vez mais a qualidade analítica, devido a carência deste tipo de profissional em algumas regiões brasileiras. Considerando a necessidade de uma padronização, já está sendo discutido a proposta de um Guia de Referência para Identificação e contagem de cianobactérias pela ANA – Agência Nacional de Águas e CFBio – Conselho Federal de Biologia em um grupo de trabalho que tem como objetivos, propor diferentes métodos para identificação e quantificação de cianobactérias que atendam às legislações e programas de avaliação ecológica de águas superficiais de acordo com as especificidades e infra-estruturas locais, além de informações sobre coleta, procedimentos analíticos e controle de qualidade. Portanto, o presente trabalho vem contribuir para o conhecimento; das técnicas utilizadas para contagem de cianobactérias e dos procedimentos metodológicos para esta contagem, utilizados pelas empresas de saneamento do Brasil. 52 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AESBE - Associação das Empresas de Saneamento Básico – Companhias de Saneamento Associadas. Disponível em: <http://www.aesbe.org.br>. 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