Impacto na inflação por conta do aumento de mistura seria mínimo Sexta - 20 Dez 2013 BiodieselBR.com Há cerca de um mês, era grande a expectativa no setor de que o tão almejado novo marco regulatório do biodiesel finalmente desencantaria até porque o governo vinha dando sinais nesse sentido. Mas com o calendário correndo e o tradicional recesso de fim de ano se aproximando, a euforia inicial foi se esvaindo. Hoje, são poucos os que acreditam que o biodiesel terá seu teor de mistura ao diesel aumentado até o final de 2013. O silêncio do governo nas últimas semanas tem alimentado rumores diversos, o mais recorrente dos quais é o de que o anúncio do novo marco estaria sendo represado pela equipe econômica que ainda não estaria 100% convencida de que a medida não traria reflexos significativos para a inflação. Se for essa mesmo a trava, fontes do setor ouvidas por BiodieselBR.com asseguram que o governo não tem o que temer. O diretor superintendente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Júlio Minelli, descarta a ideia de que o aumento de mistura terá desdobramentos na inflação. Segundo ele, o biocombustível, inclusive, tem provocado um efeito reverso, contribuindo para a redução da inflação. “Comparando os preços do último trimestre de 2012 com os fechados no L34 para entregas no primeiro bimestre de 2014, houve uma retração de 23,5%”, argumenta. Já o preço do diesel A (antes da mistura com biodiesel), nesse mesmo período, seguiu na direção oposta, registrando um aumento de 17,4%, segundo contas da Aprobio baseadas em preços oficiais do diesel, divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). De acordo com Minelli, foi justamento o fato de o preço médio do biodiesel negociado nos leilões ter caído quase 24% que permitiu que a alta do diesel nos postos ficasse um pouco abaixo da registrada pelo diesel fóssil puro – os incrementos foram, respectivamente, de 13,7% contra 17,4% no período entre os leilões 27º e 34º. “O B5 colaborou, com sua redução de preço nos últimos catorze meses, para um repasse menor ao consumidor”, conclui. Ainda pelos cálculos do diretor da Aprobio, em cenários hipotéticos de aumento de mistura – B7 e B10 –, a alta teria sido ainda menor: de 12,3% e 10,3% respectivamente. Aproximação O economista Leonardo Zilio, Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove), é outro a afirmar que preocupações dessa natureza não se justificam. “Não existem impactos inflacionários que mereçam preocupação por parte do Estado”, assegura. “Os preços reais do biodiesel são os menores desde o início de sua vigência compulsória, enquanto que os preços do diesel mantém tendência de alta, haja vista o reajuste de 8% nos preços nas refinarias feito recentemente”, sustenta. Para evidenciar a aproximação entre os preços do biodiesel e diesel, Zilio toma por exemplo os valores praticados em outubro último, quando o preço do biodiesel na porta das usinas ficou em R$ 1,86 o litro e o do diesel S-10 na refinaria em aproximadamente R$ 1,68 o litro. A diferença entre os preços dos dois combustíveis é de apenas R$ 0,18. “Importante lembrar ainda que a Petrobras subsidia o diesel importado, entregue no porto a R$ 1,76 o litro”, pondera. Mesmo com a alta de 7,7% no preço médio do biodiesel leiloado noúltimo certame encerrado há pouco mais de uma semana, a relação não se modifica substancialmente. Especialmente se considerarmos os novos preços do diesel com o reajuste de 8% anunciado no fim de novembro. Tendo como parâmetro o preço médio da Região Sudeste na semana entre 08 e 14 de dezembro, o litro do diesel na distribuidora estava sendo vendido a R$ 2,23, R$ 0,14 a mais do que biodiesel. Insignificantes No ano passado, a pedido da Aprobio, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) analisou os impactos socioeconômicos do biodiesel, entre eles, o relativo à inflação. De acordo com o estudo, em 2009, impacto inflacionário era de 0,056%. Esse índice caiu para 0,051% em 2010 e, finalmente, para 0,037% em 2011. Outro estudo, desta vez realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e apresentado pelo economista da Abiove na última edição da Conferência BiodieselBR, realizada em outubro deste ano, sinaliza impactos inflacionários ainda mais sutis. O estudo da FGV concluiu que, se o patamar da mistura saltasse de B5 para B7, o impacto seria inferior a um centavo de aumento na tarifa de ônibus (R$ 0,007) e de R$ 0,20 na cesta básica – isso se considerando valores médios históricos de 2005 a 2012. “Novas estimativas, realizadas em meados de 2013 e pautadas em preços de diesel e biodiesel atualizados, apontaram que tais impactos seriam 50% menores em relação aqueles originalmente apresentados pelo estudo”, salienta Zilio. Cátia Franco – BiodieselBR.com