Possibilidades e perspectivas da descrição ab-initio do processo de cintilação em sólidos Milan Lalic Departamento de Física Universidade Federal de Sergipe Cintiladores: transformam a energia da radiação incidente em emissão da luz visível ou ultravioleta. Utilizados como detectores em: pesquisa científica: física nuclear e de altas energias indústria: controle de qualidade, exploração, do petróleo, segurança nos aeroportos … medicina: tomografia de emissão de pósitrons (PET), tomografia computadorizada ... O processo de detecção da radiação • • • • A energia da radiação incidente excita os átomos do cintilador, criando um grande número dos pares elétron-buraco em material. Os pares elétron-buraco recombinam, transferindo energia para íons (centros) luminescentes quem são promovidos aos estados excitados. Os íons luminescentes retornam para estado fundamental, emitindo a radiação na faixa do visível ou UV próximo. Radiação emitida é convertida em sinal elétrico (através do efeito fotoelétrico), e o último é multiplicado e medido. Photomultiplier tube Anode Características desejadas para cintiladores:: transparência alta densidade resistência aos danos de radiação alta saída de luz curto tempo de emissão (para maioria das aplicações) 3 aspectos do processo de cintilação para entender : 1.) Absorção da radiação incidente 2.) Transferência da energia absorvida para centros luminescentes 3.) Processo de emissão O que acontece, ou pode acontecer, quando um fóton atinge uma molécula, ou sólido ??? Moléculas Transições de absorção: • ocorrem somente a partir dos primeiros níveis vibracionais do estado fundamental para maioria dos níveis vibracionais no estado excitado. • ocorrem instantaneamente, i.e. com a mesma posição dos núcleos nos estados fundamental e excitado. Transições de emissão: Probabilidade de transições depende do degrau da similaridade entre níveis vibracionais. • Ocorrem a partir dos primeiros níveis vibracionais do estado excitado para maioria dos níveis vibracionais do estado fundamental. • Ocorrem após o processo de relaxamento, i.e. com posições nucleares alteradas. Consequência: Espectros de absorção e emissão são deslocados em comprimentos de onda Deslocamento de Stokes “Stokes shift” O que acontece em sólidos ? Praticamente os mesmos processos como no caso das moléculas ! Diferenças: • Em vez de níveis da energia dos elétrons, existem bandas de energia. • Graus da liberdades eletrônicos e vibracionais são acoplados em uma maneira mais complicada. p s Como, então, analisar teoricamente o processo de luminescência em sólidos ? Primeiro passo Segundo passo Problema principal Calcular, de alguma maneira, estrutura das bandas eletrônicas em sólidos. Calcular as probabilidades de transição entre estados eletrônicos ocupados e vazios em função da energia da radiação incidente. Temos que lidar com problema quântico de muitos corpos interagentes !!! Objetivo: calcular propriedades do conjunto de elétrons e íons, sem usar qualquer informação empírica a - priori. Desejo: Ĥ nr Ψn En Ψn Ψn r1 , r2 ,..., rn , R1 , R 2 ,..., R m O que fazer? O Hamiltoniano não relativístico completo: impossível de resolver! Procure soluções aproximadas! Hamiltoniano relativístico Ĥ r Hamiltoniano Não-relativístico Ĥ Efeitos relativísticos nucleus fixos nr Ĥ Movimento nuclear nr e ĥ i Efeitos de correlação aproximação Born - Openheimer descrição do estado fundamental Hamiltoniano de um elétron Teoria de perturbação Estrutura eletrônica Estado Fund. Estados excitados aproximação de um elétron Recuperação parcial dos efeitos desprezados (movimento nuclear, int. spin órbita, …) Aproximação de um elétron: -- construir potencial efetivo para cada elétron individual em sólido -- substituir o Hamiltoniano de elétrons interagentes pelo conjunto de Hamiltonianos que descrevem elétrons não-interagentes Ĥ enr ĥ i , i hi ( ri , i ) i ( ri , i ) 2 2 ĥ i i Veffri 2m sabemos de resolver ! Teoria de Hartree-Fock (HFT) Realizada pela: Teoria de Funcional da Densidade (DFT) Técnicas de Funções de Green Teoria de Funcional da Densidade (DFT) ● P. Hohenberg and W. Kohn, Phys. Rev., 136, B864-B871, 1964. ● W. Kohn and L. J. Sham, Phys. Rev., 140, A1133-A1138, 1965. Existe correspondência um a um entre densidade eletrônica do estado fundamental e potencial externo para um sistema de muitos elétrons. 1 Densidade eletrônica do estado fundamental 1:1 Energia total do estado fundamental é funcional único de ! 2 E ρ Potencial dos núcleos Vext E Ψ 0 Ĥ Ψ 0 Eρ atinge seu valor mínimo se fosse verdadeira densidade eletrônica do estado fundamental. Hˆ Tˆ Vˆ Vˆext => EVext [ ] T V Vext FHK [ ] r r ' 1 e2 3 Etot [ ] T0 Vext r r d r 2 2 ' T0 [ ] Vxc [ ] 2 3 ' (r ) ( E [ ]) 0 ; d r (r ) Vext (r ) e d r 0. ' ( r ) ( r ) r r r r' d 3rd 3r ' Vxc 3 Orbitais Kohn-Sham {ψi (r )}; ρr ψi r 2 i 2 2 eff V ψ r ε ψ r i i i r 2m V V Veff r c r xc r 1 Vc (r) 4π 0 Vxc ρ r´ r r´ equações Kohn-Sham potencial efetivo dr´ Vext (r) potencial Hartree e externo (elétron-íon) : potencial de correlação e troca não conhecido Descrevem um sistema fictício de partículas não-interagentes, com mesma densidade eletrônica do sistema interagente no estado fundamental !!! Aproximações: L(S)DA, GGA ... construir in Poisson: in LDA: 2 Vc 8π in Vxc ρin Veff=Vc+Vxc Kohn-Sham: 2 Veff ψkj ε kj ψkj ε kj , ψ kj ρ occ out ψ k 2 j j, k out Misturar in and out Não Convergiu ? Sim Fim estrutura das bandas do estado fundamental O DFT pode descrever processo de absorção num sólido ??? Absorção do fóton ocorre quase instantaneamente SIM !!! relaxamento absorção Durante o processo núcleos permanecem nas mesmas posições emissão Vext corresponde ao estado fundamental do sólido relaxamento posições nucleares no espaço configuracional Estrutura das bandas providenciada pela DFT é correta !! Sabendo estrutura eletrônica, podemos calcular parte imaginária do tensor dielétrico para transições verticais (mesmo k), em aproximação RPA: Parte imaginária do tensor dielétrico Diretamente proporcional ao espectro da absorção óptica do material p componente do operador dipolo elétrico do elétron Outras “constantes” ópticas: Kramers-Kronig Exemplo: análise teórica do processo de absorção óptica na região ultravioleta do cintilador Bi4Ge3O12 (BGO) Estrutura cúbica, grupo espacial I-43d (nº 220); Célula unitária primitiva: contém 38 átomos e sem centro de inversão. (BiO6)9 - (GeO4)4 - No BGO dopado com Cr: (Concentração: 2,6%) 1. Cr →Bi (trigonal; Cr3+) 2. Cr → Ge (tetraédrica; Cr4+) Densidade dos estados eletrônicos e estrutura das bandas do BGO, calculados pelo método FP-LAPW baseado na DFT. A. F. Lima, S. O. Souza, M. V. Lalić ; Journal of Applied Physics 106, 013715 (2009) Eg = 3,19 eV (indireto: H – Δ) (a)Jellison et al. Journal of Applied Physics 107 (2010) 031514. Espectro de absorção óptica do BGO, calculado pelo método FP-LAPW baseado na DFT. A. F. Lima, S. O. Souza, M. V. Lalić ; Journal of Applied Physics 106, 013715 (2009) (a)Antonangeli et al. Physical Review B 37 (1988) 9036. O espectro de absorção é dominado pelas transições O-2p → Bi-6p A transferência de energia: O’s → Bi O centro luminescente (Bi) recebe a energia e se torna excitado! Densidade dos estados eletrônicos do BGO dopado com Cr, calculada pelo método FP-LAPW baseado na DFT. A. F. Lima, M. V. Lalić ; Journal of Applied Physics 108, 083713 (2010) Bandas devido ao Cr: B e C → ocupadas D, E e F → vazias Maioria dos estados: Spin Up Momento magnético do Cr: + 1,58 B Bandas devido ao Cr: B → ocupada C → vazia Maioria dos estados: Spin Down Momento magnético do Cr: - 2,44 B Espectro da absorção óptica causada pela impureza de Cr incorporada no matriz do BGO em Duas maneiras: (1) substituindo o Ge (2) substituindo o Bi O espectro é interpretado em termos da estrutura eletrônica Comparação entre o espectro de absorção óptica calculada e a experimental do BGO:Cr A. F. Lima, M. V. Lalić ; Journal of Applied Physics 108, 083713 (2010) (a) (b) Chernei et al. Journal of Structural Chemistry 46 (2005) 431. Yingpeng et al. Chinese Physics Letters 11 (1994) 383. Experimentais 300-600 nm (a) d-d (Cr4+) (b) d-d (Cr3+ no Ge) 600-900 nm (a) e (b) d-d (Cr4+) 1150-1300 nm (a) d-d (Cr3+ no Ge) (c)BGO:Cr A. O. (Cr→Ge) + A. O. (Cr→Ge) (c)Bravo et al. Optical Materials 13 (1999) 141. 300-600 nm d-d (Cr4+ e Cr3+) 600-800 nm d-d (Cr4+ e Cr3+) 950-1250 nm d-d (Cr4+) O DFT pode descrever processo de emissão num sólido ??? Sendo promovido no estado excitado, 7 9 o elétron permanece lá por 10 10 s NÂO !!! relaxamento absorção Durante esse período, os núcleos se adaptam a nova situação do sistema eletrônico, e mudam suas posições ! emissão Vext não corresponde ao estado fundamental do sólido, mas ao estado excitado ! relaxamento posições nucleares no espaço configuracional Estrutura das bandas providenciada pela DFT não é correta !! Para descrever a emissão... precisa-se descrição dos estados excitados do sólido, i.e. estrutura das bandas eletrônicas nos estados excitados ! temos que partir além da DFT, e aplicar alguma teoria que trata sistema de muitos corpos interagentes. ManyBody Perturbation Theory (MBPT) Resolução das eq. Bethe-Salpeter; cálculos muito exigentes e aplicáveis somente no regime da resposta linear Dois caminhos Time Dependent Density Functional Theory (TDDFT) Mesmo espírito da DFT; cálculos menos exigentes e aplicáveis tanto no regime linear quanto no regime de campos elétricos fortes... A filosofia do TDDFT • Idéia geral do DFT Mapear sistema de N partículas interagentes em um sistema de N partículas não-interagentes Formalismo independente do tempo (DFT) Formalismo dependente do tempo (TDDFT) Estado fundamental Potencial estático Estados excitados Potencial dependente do tempo DFT versus TDDFT DFT TDDFT • Estado fundamental • Estados excitados • Teoremas Hohenberg-Kohn • Teoremas Runge-Gross • Minimização da energia total • Ponto estacionário de ação • Orbitais estacionárias • Orbitais dependentes do tempo • Densidade estacionária • Densidade dependente do tempo Teoremas • Hohenberg-Kohn (DFT) Existe correspondência um a um entre densidade eletrônica do estado fundamental e potencial externo. • Runge-Gross (TDDFT) Existe correspondência um a um entre densidade eletrônica em qualquer instante t e o potencial externo no mesmo instante. Funcionais DFT: Energia é funcional único da densidade eletrônica n(r ) TDDFT: Integral de ação é funcional único da densidade eletrônica dependente do tempo n(r , t ) Equações Kohn-Sham E[n] 0 DFT: Minimizar a energia com respeito da densidade n( r ) • equações de uma partícula num potencial efetivo • resolvidas auto consistentemente A[n] 0 TDDFT: Achar ponto estacionário da ação n( r , t ) • equações de Euler-Lagrange • resolvidas auto consistentemente Potenciais de correlação e troca LDA (Local Density Approximation) em DFT VxcLDA[n] dr n(r ) xchom [n(r )] boa quando densidades variam lentamente no espaço ALDA (Adiabatic Local Density Approximation) em TDDFT ALDA xc V [n] V LDA xc [n]| n n ( r ,t ) boa quando densidades variam lentamente no espaço e tempo Tem mesmas vantagens e problemas como LDA. Porém, produz precisas energias de excitação. Como calcular energias de excitação ? Acoplar o TDDFT e Teoria de Resposta Linear !!! que descreve como o sistema responde ao aplicado campo elétrico externo Aproximação Linear susceptibilidade condutividade tensor dielétrico Teoria da resposta linear t t0 situação estática, sem perturbação vext (r ) v(0) (r ) pot. externo gera densidade do estado fundam. (0) n (r ) t t0 Estado fundamental descrito pela DFT: {i (r )} { i } orbitais Kohn-Sham energias Kohn-Sham perturbação ligada, p. exemplo campo elétrico oscilante vext (r , t ) v(0) (r ) v(1) (r , t ) , onde v(1) (r , t ) Ez cos(k z 0t ) gera n(r , t ) n(0) (r ) n(1) (r , t ) n(2) (r , t ) ... v(1) n(1) (r , t ) gera termo linear Teoria da resposta linear + TDDFT transformada Fourier: função da resposta linear do sistema interagente; difícil de calcular ! TDDFT: sistema fictício das partículas não-interagentes, com a mesma densidade do sistema interagente ! onde fi são números de ocupação de orbitais Kohn-Sham. Teoria da resposta linear + TDDFT Mudança linear do potencial Kohn-Sham: é causada pela mudança linear da densidade XC kernel, aproximado pela ALDA, ou alguma aproximação não-local Teoria da resposta linear + TDDFT substituindo Teoria da resposta linear + TDDFT Equação integral para determinação da função da resposta do sistema interagente Pólos de Energias de excitação do sistema interagente Teoria da resposta linear + TDDFT Equação integral Resolve-se auto-consistentemente, mas a tarefa é computacionalmente exigente !! Existem vários procedimentos técnicos da resolução! Códigos atuais que implementaram TDDFT: • Exciting (C. A. Draxl et al, Univ. Leoben, Austria) • ABINIT (X. Gonze et al, Univ. Louvain, Belgium) • EXC ((Lucia Reining et al, Europe) • ... ? ... mas, o assunto é ainda alvo da pesquisa intensiva ...