MICHEL FOUCAULT GENEALOGIA DO PODER ANALÍTICA DO PODER 1 – Poder como relação, exercício, dinâmica, móvel, multiplicidade de forças heterogêneas, não apenas negativas e também produtivas. 2 – Poder como resistência, microfísica, pensado fora do quadro da soberania jurídica, do determinismo econômico, da noção de repressão e de abuso, de coerção e de ideologia, fora do quadro da proibição da lei e da violência. 3 – Relação de poder não é só dominação, não está oculto e não é efetuado apenas em função de classe social e pelo Estado ou por um grupo e uma instituição. 4 – Não está localizado e nem pode ser transferido, cedido, representado e doado. Onde há saber há poder e onde há poder há saber, são recíprocos e imanentes, mas diversos, apesar de coexistentes. A SOBERANIA JURÍDICA E O PODER 1 – Figura do contrato social, Estado, instituição, sociedade, leis e abuso, repressão, coerção e negatividade, opressão e monopólio da violência. 2 – Filosofia política e a noção de poder como propriedade, como representação, como abuso e violência. 3 - Constrói uma sociedade de direitos e um contrato social para regular corpos pela figura das cidadanias e forjar uma relação jurídica entre o Estado e a sociedade civil. 4 – O poder é visto como algo a ser cedido, transferido, como localização e propriedade. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 1 – Não analisar o poder como fruto dos modos de produção capitalista, da burguesia, que uma classe ou um grupo seria proprietário por ter dinheiro e bens. Não analisar o poder como centro e verticalidade que se abate sobre os proletários, sobre os indivíduos e que os massifica. Mas pensar o indivíduo como produzido pelas relações de poder e saber da modernidade. As relações de poder são diagonais e moleculares, não têm centro, são forças dispersas. 2 - Sair do determinismo econômico na teoria do poder e da noção de poder como um direito. Não se trata de fazer uma análise apenas por legitimidade e por ilegitimidade do poder. A política é a guerra prolongada por outros meios. 3 – O caráter local da crítica. A genealogia é pacientemente documentária. É cinza. Se preocupa com a proveniência e com a emergência. A genealogia é uma anticiência, é o saber histórico das lutas, memória dos combates, luta contra a tirania dos discursos que visam englobar tudo, visa desdisciplinarizar os saberes. É a insurreição dos saberes sujeitados. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4 – Sempre se escreve a história da guerra e de suas instituições. Considerar o indefinido das lutas, que se vence no máximo uma batalha e nunca a guerra. Onde há poder há resistência, há contrapoder, o exercício é permanente, nunca cessa e não o lugar dos que resistem e dos que sujeitam, todos resistem, obedecem e tentam sujeitar, aceitam em certa medida sujeitarem-se ou não, enfim, governam e são governados. 5 – O corpo é uma superfície de inscrição histórica das lutas, em que as relações de poder incitam os corpos, afetam e atravessam os mesmos. 6 – Um dispositivo é um conjunto, um diagrama de forças heterogêneas, múltiplas, entrecruzadas em que há arquitetura, leis, normas, regulamentos, táticas, documentos, formulários, fotos, equipamentos, instituições etc. 7 – O poder, longe de impedir o poder e de reprimir os corpos, produz saber, produz corpos úteis e dóceis, produz saúde e incita potencialidades. Há uma positividade das relações de poder, uma produtividade a ser analisada também. PROCEDIMENTOS MEDOTOLÓGICOS 8 – O intelectual opera a crítica local das práticas, que são o que nós fazemos, descrevendo e analisando sua capilaridade, seus efeitos cotidianos, ele não deve ser um profeta que prescreve e oferece receitas, mas sim problematiza, desloca o que parecia imóvel, desnaturaliza práticas cristalizados com seus escritos, estudos empíricos, suas falas cortantes e críticas. Ele interroga, se inquieta frente aos intoleráveis de seu tempo, de seu presente. 9 – O intelectual faz um sumário topográfico e geológico da batalha. Avalia o estatuto das regras no campo da política da verdade. Analisa os efeitos de verdade e não se algo é falso ou não. Portanto, não é um relativista e sim perspectivo. 10 – Trabalha com documentos riscados várias vezes, lidos e relidos, cria perguntas para eles, os desmonta e embaralha. Não busca a origem e os pertencimentos correlatos e sim a proveniência, a descontinuidade e diferença, a raridade dos objetos em suas condições de aparecimento e de possibilidade, portanto, também se preocupa com a emergência, o ponto de encontro ao acaso das forças caóticas, múltiplas e sem dialética. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 11 – A proveniência é o diferencial das forças em intensidade e a emergência é o lugar de afrontamento. 12 – Assim, a genealogia é uma análise de práticas de poder e de saber, discursivas e não discursivas. Visa problematizar estas práticas, que forjam objetos históricos. Fazer uma história acontecimental, uma histórico política da verdade. 13 – Que efeitos estas práticas forjam? Que saberes as sustentam e as acionam? Que poderes são disparados em determinadas práticas de saber (discursivas)? Que práticas não discursivas (de poder) engendram certos processos de subjetivação (ética)? 14- Trata-se de efetuar uma atitude crítica frente ao presente, história do presente, sem origem e sem teleologia, descrição e análise histórica de práticas concretas, nada escondido e nem oculto. Construir um campo de possíveis e de produção de liberdade. 15 - Pensar a relação normas e leis, em que as leis são usadas mais como táticas do que como proibições. Perguntar a respeito das práticas jurídicas em relação com as adjacências das mesmas no campo das disciplinas como mecanismos e como bloqueios, inclusão e exclusão simultaneamente. Contágio e peste. 16- Fazer o diagrama das lutas, descrever as linhas traçadas do panóptico (Arquitetura, mas mapa da sociedade contemporânea), descrever e analisar o dispositivo atual. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 17 - Paul Veyne, em “Foucault revoluciona a história”, define o que são as práticas e como se efetuam em seus efeitos concretos na criação de objetos. 18 - Introdução da “História da Sexualidade II”, Foucault pensa a problematização das práticas e define como a faz. 19 - Analisa os acontecimentos singulares, que emergem ao acaso das lutas como efeitos de práticas discursivas e não discursivas. 20 – Trabalha com os saberes e não a ciência ou com o sujeito do conhecimento, rejeita o cogito cartesiano e a soberania do sujeito. Rejeita a história contínua e memória, antiquário, monumental e ressentida em prol do que chama história efetiva, útil à vida. Filosofia do martelo, produção de fissuras por meio de um ethos, de uma crítica à modernidade, à atualidade, tentando pensar em que estamos em vias de nos separar da mesma, de diferirmos da mesma. Pergunta o que estamos fazendo conosco neste tempo, que é o hoje e como fazemos, que possibilidades há frente aos perigos do presente de viver de outra maneira, de pensar diferentemente do que se é e de como se vive, na atualidade? PESQUISA DOCUMENTAL 1 – A genealogia e arqueologia com documentos. Pacientemente documentárias, como um arquivo, conjuntos de acontecimentos heterogêneos, descontínuos, dispersos, raros, como práticas vizinhas, de saber, de poder e de subjetivação. Uma arqueogenealogia, uma problematização de práticas discursivas e não discursivas, na diagonal entre macro e micro, sem origens (raízes e vestígios) e sem fins intencionais no futuro (teleologia). 2 – Os documentos são montagens, são articulações arbitrárias de acontecimentos sem unidade, um mapa de linhas (séries) entrecruzadas, distintas, todavia, articuladas. Devem ser usados com periodizações, com um olhar crítico para sua produção, sua difusão, os recortes, os lugares institucionais, as posições de sujeito, os lugares de fala e seus status que nele são atualizados. Suas linhas econômicas, políticas, institucionais, sociais, culturais, de arquivamento e difusão em aparatos e suportes materiais. Os timbres, as fotos, as editoras, a edição, a diagramação, as cores das páginas, as assessorias e especialistas, os financiamentos, as formas de divulgação e para quem e para onde, as prescrições que realiza e os que são alvo de suas recomendações, os saberes que aciona e que se apropria e seleciona, recorta e mistura, reparte e desloca. DIFERENÇA ENTRE PODER, DOMINAÇÃO E VIOLÊNCIA 1 – PAUL RABINOW E H. DREYFUS – Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Ler a tradução de O sujeito e o poder, escrito por Foucault, publicado neste livro. Observem as diferenças entre: 2 – Poder e analítica; 3 – Dominação; 4 – Violência; 5 – Escravidão; 6 – Governo das condutas. 7 – Governo de si e dos outros. As artes de governar e seus efeitos na produção de subjetividades (modos de ser, de sentir, de pensar e de agir). Diferença entre processos de subjetivação e subjetividade.