XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL VARIAÇÃO ESTRUTURAL EM FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL AO LONGO DE UM GRADIENTE ALTITUDINAL NO MUNICÍPIO DE SALINAS-MG Valeriano Lopes Cunha, Mariana Caroline Moreira Morelli, Cirilo Henrique de Oliveira, Vinícius Orlandi Barbosa Lima, Renata Moreira dos Santos, Michellia Pereira Soares – Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Salinas, Laboratório de Ecologia e Sistemática Vegetal. [email protected]. INTRODUÇÃO Minas Gerais apresenta uma grande riqueza de formações vegetais. A região do extremo norte do estado esta sob influência de três biomas, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, estabelecendo uma zona ecotonal (SANTOS et al. 2007; VELOSO, 2011), com período de cinco a seis meses de estação seca e precipitação total menor que 1.000 mm, onde destaca-se a fitofisionomia da Floresta Estacional Decidual ou “Mata Seca” (LIMA et al. 2010). Poucos trabalhos discutem sobre as variações da vegetação arbórea ao longo de um gradiente altitudinal em Mata Seca. Estudos indicam que a altitude tem forte influencia na característica da vegetação (LIMA et al. 2010). A declividade do terreno em associação com os fatores de formação da floresta causa diferentes situações ao longo do gradiente com distintos níveis de umidade no solo, acúmulo de matéria orgânica em partes mais baixas, variação na incidência de radiação e luz solar ao longo do dia, entre outros, o que leva a variação da composição florística. A estrutura da floresta pode variar de diferentes formas para o mesmo tipo de fitofisionomia, pois as espécies respondem de forma sensível e interativa com o meio e não isoladamente. Dessa maneira, a distribuição de espécies não pode ser generalizada, pois não apresenta um padrão (CARDOSO e SCHIAVINI, 2002). OBJETIVO Descrever as mudanças na estrutura da vegetação arbórea em um fragmento de Floresta Estacional Decidual, ao longo de um gradiente altitudinal. METODOLOGIA Local de estudo A área de estudo está localizada no município de Salinas, extremo norte de Minas Gerais. A região tem clima característico de semiárido, com temperatura média anual de aproximadamente 23ºC e precipitação de 1.000 mm/ano, com chuvas concentradas de novembro a janeiro. O relevo é caracterizado como mares de morros com declives > 20%. A altitude na área urbana é de 471m. Coleta de Dados Foram demarcadas parcelas de 10m x 10m em duas faixas de amostragem, com 10 parcelas na primeira faixa e 15 na segunda, totalizando 0,25ha. As faixas foram dispostas seguindo o aclive predominante do terreno. Foram mensuradas todas as árvores com circunferência à altura do peito (CAP) ≥ 10 cm e estimada a altura. Para registrar a altitude das parcelas utilizou-se um aparelho de GPS. Para cada espécie foram calculados os parâmetros fitossociológicos descritos por MUELLER-DOMBOIS e ELLENBERG (1974) e feitas análises de regressão para o gradiente, que foi dividido em três elevações: Baixa (até 494m), Média (até 521m) e Superior (até 548m). RESULTADOS As cotas de altitude variam de 467 à 548m, dentro das 25 parcelas. Foram mensurados 604 indivíduos, de 23 famílias e 44 espécies. As espécies Commiphora leptophloeos, Campomanesia xanthocarpa e Guettarda platypoda foram as espécies com maior número de indivíduos para a elevação Baixa. Na elevação Média foram C. leptophloeos, C. xanthocarpa, Myracrodruon urundeuva e Galipea ciliata. Para a elevação Superior as espécies C. xanthocarpa, M. urundeuva, C. leptophloeos e Combretum leprosum se destacaram. A densidade total foi de 2.416 ind./ha e densidade média por parcela para cada elevação se apresentou da seguinte forma: Baixa, 109,33 ind./ha; Média, 105,09 ind./ha e Superior 84,73 ind./ha. A área basal total amostrada foi de 16,29 m²ha-¹, área basal média 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL das parcelas para cada elevação foi de 0,62 m²ha-¹ na Baixa; 0,636 m²ha-¹ para a Média e 0,676 m²ha-¹ na Superior. Na análise de regressão para a relação entre o número de indivíduos por parcela e a altitude, indicou que maiores altitudes apresentam menor número de indivíduos, no entanto, esta variável explicou apenas 23,66% da variação na distribuição dos indivíduos. A relação entre o número espécies por parcela e a altitude foi significativa, diminuindo à medida que se aumenta a altitude, mas a variável explicou somente 4,72% da variação no número de espécies. A relação entre o diâmetro médio por parcela e a altitude foi expressiva, à medida que ocorre a elevação da altitude aumenta-se o diâmetro, a variável explicou 39,09% do aumento. DISCUSSÃO Em comparação com outros autores, o número de espécies amostradas pode ser considerado dentro do esperado, onde a maioria dos trabalhos apresenta em torno de 42 espécies (LIMA et al. 2010; SANTOS et al. 2007; VELOSO, 2011). A expressiva abundância de C. leptophloeos ao longo de todo o gradiente talvez possa ser dada pela morfologia do caule da espécie, que apresenta casca de cor verde, favorecendo a atividade fotossintética mesmo no período desfavorável quando ocorre a sua deciduidade foliar, tendo assim certa vantagem adaptativa sobre as demais. Já M. urundeuva é uma espécie típica das Florestas Deciduais, que produz pequenas sementes que são dispersas pelo vento no período seco, facilitando a distribuição de novos indivíduos no ambiente. A sua baixa ocorrência nas menores altitudes pode ser em função da extração madeireira seletiva ocorrida no local em anos atrás, sendo está espécie uma das mais exploradas. A mesma justificativa pode ter contribuído para o maior adensamento de indivíduos jovens nas baixas altitudes e o aumento da área basal nas parcelas localizadas nas maiores elevações. Além disso, as árvores adultas e produtivas no topo podem ser consideradas como matrizes, onde a dispersão das suas sementes é facilitada pela declividade e ação do vento, podendo ocorrer acúmulo dessas na base, promovendo o desenvolvimento de maior número de indivíduos. Já a maior riqueza florísticas nas menores altitudes pode ser em função de que espécies pioneiras podem se estabelecer na área, o que não ocorre tão expressivamente no topo. CONCLUSÃO A elevação influenciou a organização estrutural da comunidade, mas a baixa relação entre as variáveis implica que a mesma pode ser afetada por outros fatores ambientais intrínsecos do local, como tipo de substrato, profundidade do solo, declividade além do grau de antropização. (Agradecimentos: A FAPEMIG pela concessão de bolsa, ao IFNMG/Salinas pelo espaço no laboratório). REFERENCIAS: CARDOSO, E.; SCHIAVINI, I. 2002. Relação entre distribuição de espécies arbóreas e topografia em um gradiente florestal na estação ecológica do Panga (Uberlândia, MG). Revista Brasileira de Botânica, V.25, n.3, p.277-289. LIMA, M. S.; DAMASCENO-JÚNIOR, G. A.; TANAKA, M. O. 2010. Aspectos estruturais da comunidade arbórea em remanescentes de Floresta Estacional Decidual, em Corumbá, MS, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, V.33, n.3, p.437-453. MUELLER-DOMBOIS, D. e ELLENBERG, H. 1974. Aims and methods of vegetation ecology. New York, Wiley & Sons, 547p. SANTOS, R. M. S.; VIEIRA, F. A.; GUSMÃO, E.; NUNES, Y. R. F. 2007. Florística e estrutura de uma Floresta Estacional Decidual, no Parque Municipal Da Sapucaia, Montes Claros (MG). Universidade Federal de Lavras, Brasil; CERNE, vol. 13, núm. 3, pp. 248-256. VELOSO, M. D. M. 2011.TESE de Doutorado; Estrutura, diversidade florística e variações espaciais do componente arbóreo-arbustivo da vegetação ciliar do Rio Pandeiros, Norte de Minas Gerais. Universidade Federal de Lavras, 159p. 2