Construção e produção de uma fotografia conceitual de moda. Construction and production of a conceptual fashion photography. Oliveira, Vinicius de; Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. [email protected] Frisoni, Bianka Cappucci; Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. [email protected] RESUMO Transmitir arte como informação, não é simplesmente jogar ao vento conceitos que possam interessar a alguém, a fotografia a partir do inicio do século XX trouxe para a moda a possibilidade de transcender os conceitos empregados nas vestimentas, e através das publicações, um refino visual imprescindível para quem queria dar um diferencial no tratamento da imagem da moda daquela época. Como a fotografia não só capta o tempo, mas também define o tempo. O presente artigo aborda esses movimentos de moda, de significação, comportamento e produção para construção de um conceito imagético. Palavras Chave: design; moda; fotografia. ABSTRACT Transmit information or art as just information, not just throw to the winds concepts that may be of interest to someone, the photograph from the early twentieth century brought to fashion the possibility of transcending the concepts employed in the garments. And through publications, refining a visual essential for those who wanted to make a difference in the image of fashion at that time. Like photography captures not only time but also sets the time This article discusses these movements of fashion, of meaning, behavior and production for the construction of a concept imagery. Keywords: design, fashion, photography 1 - INTRODUÇÃO O objeto de estudo está sobre o caráter da imagem fotográfica na moda, a mensagem que é elaborada na construção do imaginário antes mesmo da materialização, para pensar no seu uso e forma de linguagem, como objeto de significado em diferentes momentos, levando em consideração à ligação estabelecida com as artes, o cinema, a literatura, e, a cultura de massa como elementos do processo de criação da imagem. Dentre diversas áreas da fotografia perpetua-se uma hegemonia da fotografia publicitária, a publicidade nua e crua que induz um consumo de moda, condenado a ser instável, efêmero, volúvel, e absorvido pelos consumidores como mensagem indispensável para seus desejos de realização. Porem não se trata de um estudo de consumidores e como canalizá-los a esse desejo através da fotografia, e sim da fotografia autoral, ou de expressão pessoal, com um olhar próprio do fotógrafo, com base em suas influências, e questões sócios culturais que exigem do espectador uma percepção mais critica. O objetivo de pesquisa deve expor como as imagens de moda são emitidas a um possível receptor, mantendo o vínculo moda - arte - fotografia na idealização de progresso, de imagens cada vez mais vanguardistas, com conceitos cada vez mais rebuscados, discutindo a qual prioriza as questões estéticas e não as questões mercadológicas, dentro do pensamento evolucionário e de permanência de uma identidade conceitual. Destinando esse estudo aos profissionais da moda, estudantes, fotógrafos e todos profissionais relacionados a artes. . 2 - METODOLOGIA Este trabalho é o resultado de uma pesquisa exploratória, que busca compreender as características do processo de construção de uma imagem conceitual de moda, aprimorando idéias de trabalhos já realizados, levantando hipóteses e destacando influências através de pesquisas bibliográficas, fotografias, filmes, vídeos, etc. A pesquisa foi dividida, para poder ser desenvolvida em cinco momentos: pesquisa do referencial teórico; organização, classificação e análise dos dados; análise dos resultados da pesquisa; e reflexão e descrição dos resultados da pesquisa. Para desenvolvimento de uma lógica de pensamento foi elaborado um mapa mental, que contribui para a associação entre as áreas de estudo, e base para a construção de pesquisa através de palavras-chave interligadas no mapa. produção de moda, processo criativo, percepção Arte Cultura Semiótica CONCEITO FOTOGRAFIA Imagem, linguagem, momento, expressão 3 - REFERENCIAL TEÓRICO Dentro de uma crescente e poderosa configuração de novos sentimentos e pensamentos, a moda vem desempenhar um papel crucial na definição da trajetória do desenvolvimento social e político "a moda está pensada para o corpo: é criada, promovida e levada pelo corpo" (Entwistle, 2002, p.13). As idéias de mudança e de diferença, que podem ser vistas como elementos de qualquer definição de moda e vestuário, “são compatíveis com a definição de cultura como um modo de vida que muda e difere tanto entre grupos sociais e econômicos quanto no interior dos mesmos." (Barnard, 2003, p.63). Sob esse ponto de vista, a cultura de moda é segundo Williams (1981, p.13): "o sistema significante através do qual uma ordem social é comunicada, reproduzida, experimentada e explorada". Moda, vestuário e adorno devem ser agora considerados como algumas das práticas significantes da vida quotidiana (juntamente com as artes, a filosofia, o jornalismo e publicidade) que irão fazer da cultura um sistema geral de significados. (Barnard, 2003, p.63). Moda e indumentária são modos pelos quais as pessoas podem diferenciar-se como indivíduos e declarar alguma forma de singularidade, segundo Castilho e Martins (2005, p.44): “Nessa perspectiva, a moda deve ser reconhecida como estruturada por todo um sistema visual de significados e, portanto, é importante que tenhamos subsídios para entendê-la como meio de comunicação e como linguagem”, e assim, a partir disso, construí-la como expressão de significados provenientes da co-presença de linguagem significante”. Dessa forma a roupa já com seu conceito comunicante, apresenta a fotografia como importante ferramenta de divulgação, Cristiane Mesquita (2004) ao analisar a construção das imagens da linguagem da moda na atualidade, faz uma importante revelação mostrando que em uma era na qual a diversidade reina absoluta, a mídia assume papéis de suma importância para o universo da moda. Não basta apenas querer comunicar, mas sim saber quais os reais caminhos que essa informação deve percorrer para que seja proveitosa e funcional, e neste ponto Machado (1993, p.11) afirma; “É impensável uma época de florescimento cultural sem um correspondente progresso das suas condições técnicas de expressão, como também é impensável uma época de avanços tecnológicos sem conseqüências no plano cultural e, sobretudo sobre os meios que nos permitem dar expressão á idéias”. Araújo (1996) acrescenta que, ao ser enviado, a mensagem passa por um processo de significação ou de transferência de sentido. Cabe ressaltar que está em jogo, principalmente nos veículos da indústria cultural a colocação da operação dos signos, compostos, ressaltados na teoria do lingüista Sausurre (1995), de um significante e um significado. “Partindo assim do pressuposto que os seres humanos são extremamente visuais, e que no mínimo temos cinco vezes mais terminações nervosas que ligam nosso cérebro aos olhos, que aos ouvidos ou as narinas” (SOUSA 2007). A imagem ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem contemporâneo. Livros, revistas, outdoors, internet, cinema, vídeo, etc... produzem imagens incessantemente, quase sempre á exaustão e diante de olhares de passagem. Como afirma Buoro (2002, p.35): Todas são meios ao alcance da população e tão presentes quanto enraizados nos gestos mínimos de nosso dia-a-dia. Faz-se necessária uma tomada de consciência dessa presença maciça, pois, pressionados pela grande quantidade de informação, estabelecemos com as imagens relações visuais pouco significativas. Espectadores freqüentemente passivos têm por hábito consumir toda e qualquer produção imagética, sem tempo para deter sobre ela um olhar mais reflexivo, o qual inclua e considere como texto visual visível e, portanto, como linguagem significante. Somo submetidos as imagens, possuídos por elas, e sequer contamos com elementos para questionar esse intrincado processo de enredante e submissão. As imagens de moda a serem emitidas para um possível receptor são constituídas através de uma intenção, onde são imbricados diferentes componentes que ressaltam o apelo da mensagem a ser constituída visualmente, como reflete Darbon (in SOUSA). Estamos num novo tempo no qual a moda é produto e arte. Hoje, arte e moda estão próximas, ligadas uma com a outra, podemos dizer por definição que a moda é feita para não durar, como disse Lipovetsky, “moda é moda porque a nossa relação com o tempo é a própria efemeridade” (1989, p.58) Há muito tempo a foto de moda deixou de focar única e exclusivamente na roupa, para transparecer outras apropriações, outros discursos, mais coerentes com o próprio ato de se vestir. Acima da proposta de mostrar as roupas e acessórios, paira o objetivo de construir imagens. “Além disso, os anos de 1990 mudam o status de quem define e elabora a imagem: o designer já não é a única estrela. Fotógrafos, stylists, top models, maquiadores, cabeleireiros, diretores de arte, programadores visuais, web designers ou seja, toda a equipe que compõe a imagem é valorizada como nunca”. (MESQUITA, 2004, p. 90). Para a arte conceitual Paulo Victorino (2005) observa que, “a idéia é mais importante que o próprio resultado final; desta forma os artistas não se comprometem a criar elementos e composições agradáveis ao olhar”. “As imagens cumprem funções e suas funções variam com o passar do tempo independente de terem ou não caráter representativo.” (CAMARGO, 1997, p.55). Em outras palavras, falam com eloqüência sobre o “desejo de nossa imaginação de estenderse pelo mundo de significados culturais comumente compreendidos e, através deles, participar dos signos reconhecíveis de beleza e prestígio”.(BENSTOCK; TERRIS, 2002, p.137). Para Ruiz (2007, p.133), são quatro os principais pontos que fazem da moda uma manifestação artística: “o primeiro seria o caráter experimental e reflexivo das criações; o segundo estaria presente na mensagem passada pela roupa, que seria muito mais emocional do que funcional, o terceiro equivaleria a intenção do criador de recusar as convenções e as formulas prontas para experimentar um universo em que não se visa a comercialização convencional, e sim a experimentação ; por fim, o quarto ponto seria que essa recusa pelas formulas facilmente digeríveis pelo grande publico acaba caracterizando um trabalho autoral. Quando assinala que a obra fotográfica é o resultado do conjunto de uma ação material e da atitude do fotografo, Joan Costa (2001, pg.63) afirma que geralmente alguma dessas quatro atitudes se impõe sobre as demais: “Imitativa, reprodutiva, criativa ou experimental, produzindo fotosarte em que predomina a originalidade do sujeito e fotos-linguagem em que predomina a atitude experimental. Nos damos conta que na fotografia de moda existe a mistura de tudo isso: as fotos documento com qualidade são representações da realidade e imagens do autor, cumprindo o requisito da foto-arte, que muitas vezes são instantâneas e com uma grande capacidade de narração, e precisamente a instantaneidade e a necessidade de transmitir mensagens colocaram em marcha o motor da criatividade, e a inovação conduzindo o encontro de uma linguagem especificamente fotográfica”. A contribuição do fotógrafo de moda para a contemporaneidade passa pelas suas abordagens do que é o “viver” contemporâneo, abrindo espaço para, no seu exercício plástico, interferir o espectador nas novas abordagens éticas e estéticas que a vida sugere. Um dos grandes nomes da fotografia de moda foi Helmut Newton que segundo Danilo Russo (2009): “buscava retratar o tumulto interno vivido pelas mulheres por conta dos valores da sociedade da época. Sua capacidade de utilizar de forma elegante temas sexuais explícitos influenciou decisivamente a fotografia de moda dos anos 60, e seu trabalho segue como uma forte referencia até os dias de hoje. Newton ajudou a consolidar a imagem da mulher como o sexo forte, suas modelos são poderosas e seguras, tem pleno controle de sua sexualidade e de qualquer situação, mas a natureza das fotos depende da interpretação de quem as observa”. Na verdade segundo Barnard (2003, p.208). “o trabalho de Newton como grande parte da fotografia de moda, é mais freqüentemente acusado de estar sendo pornográfico, ao reduzir as mulheres a corpos sexualmente atraentes, do que explicado em termos de contestar as estruturas dominantes de gênero”. A grande unidade entre os principais fotógrafos de moda é o propósito de propagar um discurso, seja ele uma mensagem, um sentimento, ou simplesmente provocar uma reação no espectador. Utilizando de maneiras e processos de fabricação da obra de arte, que variam e renovam continuamente o ciclo de cada época. 4 - COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS Expressando desejos em imagens multi-expressivas, a fotografia de moda faz-se entender ou ser interpretada de maneiras diversas durante sua breve existência. A fotografia de moda transformou-se em gênero visual com linguagem própria para escrever sem palavras sua presença no mundo, comunicando os pensamentos e o comportamento social de cada época. Os criadores, designers, estilistas, produtores de moda, fotógrafos e equipe, recusam as convenções e as fórmulas prontas para se “aventurarem” em um universo de significação e transferências de sentidos, em que os resultados são considerados como sendo ao mesmo tempo atraentes e de certo modo repugnantes. A imagem seja ela da moda de rua, da celebridade, do desfile, editorial, ou do casual, permanecem independente do tempo, afirmando que a idéia é mais importante que o resultado final, e que muitas vezes o criar instantâneo, tem uma grande capacidade de narração para o público de uma mensagem sem palavras. Vivemos em um mundo em que o olhar foi construído como o sentido mais adequado para conhecer as coisas, e nele a fotografia foi recebida como expressão plena, indiscutível e definitiva para refletir a natureza urgente da moda e seus conceitos. 5 - CONCLUSÃO O presente artigo apresentou o debate sobre a fotografia de moda conceitual, a discussão sobre o vinculo moda-arte-fotografia, que através de uma equipe de produção criam-se imagens de moda totalmente elaboradas para tocar os espectadores. Para muitos a fotografia de moda não se pode caracterizar arte, porém percebe-se que hoje a idéia da equipe de produção juntamente com o olhar do fotografo, mesmo antes de se tornar a foto já é arte. A imagem passa ao leitor o significado subjetivo de suas mensagens através de elementos e composições muitas vezes confusos e desagradáveis, emocionando apenas os receptores que possuem uma bagagem cultural para o entendimento pleno da obra. A importância da pesquisa contribui para um pensar mais intimista da moda, a importância da analise de pensadores de moda diferentes, demonstra que a quebra de paradigmas, esta ligado muito ao fotografo em si, pela sua linguagem, olhar e instantaneidade. Na pratica grandes fotografias que são obras de arte provocam sentimentos diversos, cumprem suas funções semióticas e por ultimo e mais importante despertam a criatividade no receptor. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BARNARD, Malcolm. Moda e comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. BENSTOCK, Shari; TERRIS, Suzanne. Por dentro da moda. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Educ/Fapesp/Cortez, 2002. CAMARGO, Isaac Antonio. Reflexões sobre o pensamento fotográfico. Londrina: Eduel, 1997 CASTILHO, Kátia. Discursos da Moda – Semiótica, Design e Corpo, São Paulo: Anhembi Morumbi, 2005. COSTA, Joan. Imagem corporativa en el siglo XXI. 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