UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO PADRÃO DE EXPRESSÃO DAS GTPASES RHO EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA MARINHO Uberaba 2012 1 MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA MARINHO PADRÃO DE EXPRESSÃO DAS GTPASES RHO EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL Tese apresentada ao Curso de PósGraduação em Patologia, área de concentração “Patologia Geral”, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito parcial para a obtenção do título de doutor. Orientadora: Profa. Dra. Virgínia Oliveira Crema Coorientador: Prof. Dr. Eurípedes de Oliveira Marinho Uberaba 2012 2 MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA MARINHO PADRÃO DE EXPRESSÃO DAS GTPASES RHO EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL Tese apresentada ao Curso de PósGraduação em Patologia, área de concentração “Patologia Geral”, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito parcial para a obtenção do título de doutor. ______ de ___________ de _________. Banca Examinadora: Profa. Dra. Virgínia Oliveira Crema – Orientadora Universidade Federal do Triângulo Mineiro Prof. Dr. Filipe Modolo Siqueira Universidade Federal de Santa Catarina Prof. Dr. Marcos Brasilino de Carvalho Complexo Hospitalar Heliópolis – São Paulo Profa. Dra. Beatriz Martins Tavares Murta Universidade Federal do Triângulo Mineiro Profa. Dra. Adilha Rua Micheletti Universidade Federal do Triângulo Mineiro 3 DEDICATÓRIA 4 Dedico este trabalho aos pacientes oncológicos de cabeça e pescoço. 5 AGRADECIMENTOS 6 Ao meu pai, José de Oliveira Marinho Júnior e minha mãe, Maria do Carmo Pereira Marinho, pela bênção de ter me acolhido em seu lar e me conduzido até aqui. Aos meus irmãos Rogério Marinho, Cybele Marinho e Andréa Marinho pela amizade eterna. Ao meu filho Nicholas M. S. Marinho, pelo amor incondicional. À Profa. Dra. Virgínia Oliveira Crema, pela brilhante orientação e pelo apoio durante todo o percurso da pós-graduação. Agradeço também pela paciência a mim dedicada neste período. Acolheu-me como amiga, levantou-me das quedas, estimulou-me nos momentos de dificuldade, iniciou meus passos no interior de um laboratório e jamais deixou de prestar-me socorro, quando solicitado. Meu profundo agradecimento. Ao Prof. Dr. Eurípedes de Oliveira Marinho, meu estimado tio e coorientador, pela gentileza de me ensinar tudo o que sou capaz de aprender dentro da nossa especialidade: a cirurgia de cabeça e pescoço. Agradeço também pelo apoio frente às atividades da disciplina na UFTM, durante a reta final do meu trabalho. É o meu pai científico! Aos meus queridos colegas de pós-graduação e de laboratório: Sergio, Nanci, Simone, Fabrizio, Rodolfo, Leonor, Nayara, Leopoldo, André, Lair e Nathália pelo amparo na resposta para as minhas dúvidas e pela amizade sincera que se formou. À Profa. Dra. Ana Cristina de Araújo Lemos pela importante colaboração na revisão dos diagnósticos anatomopatológicos e às técnicas disciplina de Patologia Especial pela confecção das lâminas. Ao Prof. Dr. Marcos Brasilino de Carvalho, meu orientador na dissertação de mestrado, pelo apoio e estímulos iniciais na minha vida de pesquisador. 7 Às técnicas do laboratório Maria Aparecida Oliveira Tito, Luzia Maria Eugênia e Ellen Silva de Sousa pelo sorriso constante ao nos prestar auxílio e pela dedicação apresentada aos pós-graduandos. Às secretárias da pós-graduação, Nelma e Denise, pela presteza e atenção a mim dispensadas. Aos professores que ministraram disciplinas, pelo grande ensinamento que obtive, pela ampliação de meu conhecimento científico e pelas críticas construtivas que recebi. Aos meus pacientes, pela confiança. À minha secretária Germana, pela enorme quantidade e qualidade de trabalho a mim dedicado. A todos os meus amigos fora do ambiente acadêmico, principalmente aqueles da banda Outubro, pelas minhas ausências durante a realização deste trabalho. Finalmente, porém jamais menos importante, agradeço, do fundo do meu coração, à Natalee Gonçalves Freitas. Graças a Deus eu a conheci e hoje posso desfrutar de seu amor e convívio diários. 8 APOIO FINANCEIRO • Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) • Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (FUNEPU) 9 RESUMO 10 O carcinoma epidermoide oral (CEO) é uma doença que ocupa a oitava posição na incidência geral de câncer na população mundial, com altas taxas de mortalidade e morbidade. Seu tratamento ainda está baseado na cirurgia, na radioterapia e na quimioterapia. As GTPases Rho já foram descritas como proteínas importantes para vários processos biológicos envolvidos na carcinogênese, como a proliferação e a migração celular em vários tecidos. Este estudo visou avaliar o padrão de expressão das GTPases Rho (RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1) em CEO. Foi realizada imunohistoquímica pela técnica da avidinabiotina-peroxidase para RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1 e a intensidade de imunomarcação quantificada em 83 casos de CEO diagnosticados na UFTM no período de 1984 a 2007. Os casos foram classificados de acordo com Organização Mundial de Saúde em: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado. A expressão de RhoA variou de forma diretamente proporcional à diferenciação tumoral (p<0,0001), sugerindo seu envolvimento na regulação de diferenciação em CEO. Embora tenha havido diferença entre os graus de diferenciação (p<0,0001), RhoB não parece participar da regulação da diferenciação celular em CEO. Cdc42 apresentou imunomarcação inversamente proporcional ao grau de diferenciação celular, quanto menos diferenciada a lesão e maior o potencial de proliferação, maior a expressão de Cdc42 (p<0,0001), sugerindo seu envolvimento na regulação da proliferação celular. Não houve diferença na expressão de Rac1 entre os graus de diferenciação, no entanto, as células no fronte migratório expressaram Rac1, indicando sua participação na regulação da migração celular. O padrão de expressão das proteínas RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1 sugere que essas GTPases Rho podem participar de vias de transdução de sinal reguladoras de processos biológicos envolvidos na patogênese de CEO. Palavras-chave: GTPases Rho, carcinoma epidermoide oral, diferenciação celular. 11 ABSTRACT 12 Oral squamous cell carcinoma (OSCC) is ranked eighth in the overall incidence of cancer in the world with high mortality and morbidity rates. Treatment is still based on surgery, radiotherapy and chemotherapy. The small Rho GTPases have been described as proteins related to various phenomena such as tumorigenesis, cell proliferation and migration in many tissues. This study aimed to evaluate the expression pattern of Rho GTPases (RhoA, RhoB, Rac1 and Cdc42) in OSCC. Immunohistochemistry by avidin-biotin-peroxidase was performed for RhoA, RhoB, Rac1 and Cdc42 and intensity of stain quantified in 83 cases of OSCC from the Federal University of Triângulo Mineiro at the period from 1984 to 2007. The cases were classified according to World Health Organization: well differentiated, moderately differentiated and poorly differentiated groups. The expression of RhoA varied in direct proportion to tumor differentiation (p <0.0001), suggesting their involvement in the regulation of CEO differentiation. Although there was difference between the degrees of differentiation (p <0.0001), RhoB does not seem to participate in the regulation of cellular differentiation in CEO. Cdc42 showed stain inversely proportional to the degree of cell differentiation, the less differentiated the lesion and the greater the potential for proliferation, increased expression of Cdc42 (p <0.0001), suggesting their involvement in regulation of cell proliferation. No differences in expression between Rac1 degree of differentiation, however, at the front migratory cells expressed Rac1, indicating its involvement in the regulation of cell migration. The expression of RhoA, RhoB, Rac1 and Cdc42 suggests that Rho GTPases may participate in signal transduction pathways regulating biological processes involved in the pathogenesis of oral squamous cell carcinoma. Keywords: Rho GTPases, oral squamous cell carcinoma, cell differentiation 13 LISTA DE FIGURAS 14 Figura 1. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o gênero. ................................................................................................ 52 Figura 2. Média de idade dos pacientes portadores de carcinoma epidermoide oral, total e por gênero, no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. .................................................................................................... 53 Figura 3. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a cor. ...................................................................................................... 53 Figura 4. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a localização do tumor............................................................................ 54 Figura 5. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o grau de diferenciação histológica do tumor. ........................................ 54 Figura 6. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a utilização regular de tabaco. ................................................................ 55 Figura 7. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a utilização regular de bebidas alcoólicas. ............................................. 55 Figura 8. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o tipo morfológico da lesão. .................................................................... 56 15 Figura 9. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o estádio clínico. ..................................................................................... 56 Figura 10. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o tratamento empregado. ....................................................................... 57 Figura 11. Padrão de Expressão da GTPase RhoA em Carcinoma epidermoide oral. .................................................................................................. 59 Figura 12 Comparação de expressão da GTPase RhoA em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. ............................. 59 Figura 13. Padrão de Expressão da GTPase RhoB em Carcinoma epidermoide oral. .................................................................................................. 61 Figura 14. Comparação do padrão de Expressão da GTPase RhoB em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. . 61 Figura 15. Padrão de Expressão da GTPase Cdc42 em carcinoma epidermoide oral. .................................................................................................. 63 Figura 16. Comparação do padrão de Expressão da GTPase Cdc42 em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. . 63 Figura 17. Padrão de Expressão da GTPase Rac1 em carcinoma epidermoide oral. .................................................................................................. 64 16 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 17 AH – Ácido hialurônico BD – Bem Diferenciado CEO – Carcinoma epidermoide oral CEP – Comitê de Ética em Pesquisa COX-2 – Ciclo-oxigenase 2 DNA – Ácido Desoxirribonucleico EGF – Fator de Crescimento Epidérmico EGFR – Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico FAK – Kinase de Adesão Focal FGF – Fator de Crescimento de Fibroblasto GAPs - GTPase-activating Proteins GDIs - Guanine Nucleotide Dissociation Inhibitors GDP – Guanosina Difosfato GEFs - Guanine Nucleotide Exchange Factors GGT1 – Geranilgeraniltransferase 1 GPCR - Receptor Acoplado à Proteína-G GTP – Guanosina Trifosfato HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HSG – Human Salivary Glands 18 INCA – Instituo nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva LPA – Ácido Lisofosfatídico MD – Moderadamente Diferenciado MEC – Matriz Extracelular MMP – Metaloproteinase OMS – Organização Mundial de Saúde PAKs - P21-activated kinases PCR – Reação em Cadeia de Polimerase PD – Pouco Diferenciado PI3 Kinase - Fosfatidilinositol 3-Kinase Rho – Ras Homology RNA – Ácido Ribonucleico ROCK – Rho Kinase S-1P – 1 Fosfato Esfingosina Shh - Sonichedgehog TNF-α – Fator de Necrose Tumoral α TNM – Classificação Tumor Nódulo Metástase UFTM – Universidade Federal do Triângulo Mineiro VEGF – Fator de Crescimento Endotelial Vascular 19 SUMÁRIO 20 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 23 1.1 INCIDÊNCIA ............................................................................................ 24 1.2 CARCINOGÊNESE.................................................................................. 26 1.3 ETIOPATOGENIA .................................................................................... 28 1.4 ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS ............................................ 31 1.5 TRATAMENTO ........................................................................................ 34 1.6 PREVENÇÃO .......................................................................................... 36 1.7 GTPASES RHO ....................................................................................... 37 1.8 GTPASES RHO NO CEO ........................................................................ 41 2. HIPÓTESE ........................................................................................................ 43 3. OBJETIVOS...................................................................................................... 45 3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 46 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................... 46 4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 47 4.1 CASUÍSTICA ........................................................................................... 48 4.2 ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA ............................................................... 48 4.3 PROCESSAMENTO DA AMOSTRA........................................................ 49 4.4 REAGENTES ........................................................................................... 49 4.5 REAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA ........................................................... 49 21 4.6 AVALIAÇÃO MORFOMÉTRICA .............................................................. 50 4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA .......................................................................... 50 4.8 OBSERVAÇÃO E OBTENÇÃO DE IMAGENS ........................................ 50 5. RESULTADOS ................................................................................................ 51 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA CASUÍSTICA.................................................... 52 5.2 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RHOA EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL 58 5.3 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RHOB EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL 60 5.4 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE CDC42 EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL .......................................................................................... 62 5.5 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RAC1 EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL .................................................................................................................... 64 6. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 65 7. CONCLUSÕES ................................................................................................. 81 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 83 ANEXOS ............................................................................................................. 112 ANEXO 1. PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFTM. ....... 113 ANEXO 02. CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS ESTUDADOS DIAGNOSTICADOS COM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UFTM NO PERÍODO DE 1984 A 2007. ................................. 120 22 1. INTRODUÇÃO 23 1.1 INCIDÊNCIA O carcinoma epidermoide oral (CEO) ocupa, em média, a oitava posição na incidência geral de câncer na população mundial, sendo o terceiro mais comum na região centro-sul da Ásia. Compreende de 2% a 6% de todas as doenças malignas nos países ocidentais e de 30% a 40% no subcontinente indiano. É mais frequente nos afroamericanos e hispânicos do que nos caucasianos. Esta incidência elevada na Índia provavelmente ocorre devido ao hábito de se utilizar produtos não fumados à base de tabaco (LLEWELLYN et al., 2001). Cerca de 500.000 pessoas são afetadas por esta doença em todo o mundo (GLAZER et al., 2009). Somente nos Estados Unidos da América, o CEO é responsável por cerca de 8000 mortes anuais. No diagnóstico inicial, 36% dos pacientes tem doença localizada, 43% tem doença com disseminação regional (comprometimento de linfonodos cervicais) e 9% apresentam metástase à distância (MASSANO et al., 2006). Os indivíduos afroamericanos do gênero masculino possuem mortalidade significativamente mais elevada, quando comparados com os correspondentes o feminino, com índice de sobrevida em cinco anos substancialmente menor (KALMAR, 2006). Em outros países como a Bélgica, a Dinamarca, a Grécia, Portugal e Escócia, há uma tendência ao aumento do número de novos casos de CEO (LA VECCHIA et al., 2004). Na América do Sul, o CEO ocupa o quinto lugar entre os homens e sexto lugar entre as mulheres. Os homens brasileiros só perdem em incidência para os homens da França e da Índia (WUNSCH-FILHO e DE CAMARGO, 2001). Segundo o Instituto Nacional do Câncer, a estimativa para novos casos de tumores de cavidade oral para o ano de 2012 é de cerca 10 para cada 100.000 homens (9.990 novos casos) e de cerca de 04 para cada 100.000 mulheres (4.180 novos casos), (INCA, 2011). O CEO ocorre predominantemente na população masculina, aparecendo em idades mais precoces do que na população feminina, talvez pelo fato de os homens consumirem mais álcool e utilizarem mais produtos com tabaco (DE CARVALHO et al., 2001). 24 Das doenças malignas da cavidade oral, o CEO corresponde a mais de 90% (CHEN, 2001). Outras incluem as neoplasias de glândulas salivares, sarcomas, linfomas, melanoma e doenças metastáticas (KALMAR, 2006). Cerca de 90% dos casos de CEO possuem como sítios primários o assoalho da boca, a região ventral-lateral da língua e o palato mole (BROUMAND et al., 2006). O CEO de língua é o mais comum da cavidade oral, correspondendo a cerca de 20-40%, devido à sua rica rede linfática e sua estrutura altamente vascularizada, as invasões e metástases tumorais são mais frequentes (LIM, 2006). Os pacientes com CEO de língua e assoalho de boca possuem risco aumentado para o aparecimento de segundo tumor primário, cancerização em campo ou múltiplos tumores primários (THOMSON, 2002). O risco para o desenvolvimento de um segundo CEO primário varia de 4,3% a 30% (JONES et al., 1994). Isto demonstra um comportamento local agressivo, relacionado à falta de barreiras anatômicas para a sua disseminação e a propensão às metástases cervicais (AROSARENA et al., 2006). O local mais frequente de aparecimento de metástases à distância é o pulmão (BETTENDORF et al., 2004). Apesar de toda a pesquisa e dos avanços nos campos da oncologia e da cirurgia nas cinco últimas décadas terem melhorado a qualidade de vida dos pacientes, os índices gerais de mortalidade por CEO não foram alterados (BETTENDORF et al., 2004; MASSANO et al., 2006; HOOPER et al., 2009). Os índices de sobrevida global e sobrevida livre de doença permanecem em torno de 56% e 58%, respectivamente (BELL et al., 2007). A maioria dos pacientes portadores de CEO se encontra na sexta ou sétima décadas de vida. Apenas 0,4% a 6% desses tumores aparecem em indivíduos abaixo de 45 anos de idade (IYPE, 2004; BROUMAND et al., 2006). A maioria dos casos de CEO em indivíduos abaixo de 45 anos pode ser também atribuída aos efeitos conjuntos de tabaco e álcool (GILLISON, 2007). Entretanto, gênero e idade não parecem apresentar diferenças significativas quanto ao prognóstico (LO, 2003). 25 As condições socioeconômicas estão intimamente relacionadas com a incidência de CEO (LEITE e KOIFMAN, 1998). Em 2010, alguns autores obtiveram dados sobre renda, educação, características demográficas, frequência de visitas ao cirurgião dentista por ano e hábito de fumar de pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço nos Estados Unidos e no Canadá. Concluíram que tais tumores são mais incidentes em indivíduos de baixa renda, que visitam o cirurgião dentista menos que uma vez ao ano, com menor tempo de educação escolar e tabagistas (JOHNSON et al., 2010). Dados semelhantes foram obtidos no Brasil, com o sangramento gengival, a falta de cuidados odontológicos e o uso de colutórios orais à base de álcool mostrando-se como fatores associados ao CEO, a despeito do consumo de tabaco ou álccol (MARQUES et al., 2008). O baixo nível educacional e a profissão de trabalhos manuais também estão relacionado ao maior risco de desenvolver CEO no Brasil (BOING et al., 2011). 1.2 CARCINOGÊNESE Está claro que a biologia molecular do carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço é muito complexa e se desenvolve a partir da disfunção de várias vias inter-relacionadas. Não há um mecanismo ou uma molécula que seja isoladamente responsável pela carcinogênese (GLAZER et al., 2009). A progressão do tumor ocorre de forma multifatorial e em vários graus, demonstrando que uma avaliação de múltiplos marcadores deve ser logicamente requerida para as estimativas de resultados finais (MASSANO et al., 2006). O crescimento tumoral resulta de um desequilíbrio entre a proliferação e a apoptose, sendo influenciado pela angiogênese, enquanto que o potencial metastático é influenciado pelas alterações nas interações célula-célula e célula-matriz extracelular (BETTENDORF et al., 2004). 26 Aberrações cromossômicas 3, 9, 11, 13 e 17 são as mais comumente encontradas em CEOs (MASSANO et al., 2006). A instabilidade genômica (aneuploidia) é fator importante para a carcinogênese oral; indivíduos com tumores advindos de lesões aneuploides possuem prognóstico acentuadamente pior (SUDBO, 2004). Os CEOs apresentam até 90% de lesões com aneuploidia, comparados a 17% nas lesões pré-malignas (ABOU-ELHAMD e HABIB, 2007). O gene supressor de tumor p53 apresenta expressão elevada em CEOs com menor diferenciação; mutações nesse gene estão intimamente relacionadas com fatores ambientais, como o tabagismo (FERLITO et al., 2006). Espécimes de CEOs ressecados com margens histológicas negativas e com p53 mutado positivo em uma das margens resultou em cerca de 38% de recidiva local (BRENNAN et al., 1995). Deleções dos genes 16p e 9p21 estão associadas à progressão da doença; a perda de heterozigose aumenta o índice de recorrência e piora o prognóstico (MASSANO et al., 2006). Tumores bem diferenciados de cabeça e pescoço apresentam deleções dos cromossomos 3p, 5q e 9p e ganho em 3p; tumores pouco diferenciados apresentam deleções de 4q, 8p, 11q, 13q, 18q e 21q e ganhos em 1p, 11q, 13q, 19q e 22q (BOCKMUHL et al., 1998). A superexpressão do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) está presente em uma frequência de 30% dos CEOs e associada a quadros de evolução desfavorável devido à sua associação com estádio clínico do tumor primário e estádio patológico avançado, modo de invasão difuso e alta incidência de metástases linfonodais (BETTENDORF et al., 2004). O bloqueio de EGFR por uso de drogas leva à potencialização da apoptose, inibição de angiogênese, da invasão celular tumoral e da formação de metástases (MAO et al., 2004). Os proto-oncogenes da família Ras estão envolvidos na sinalização celular via ligação de GTP e uma proteína ligante (p21), que traduzem sinais mitogênicos da superfície celular para componentes citoplasmáticos. Alguns membros da família Ras de oncogenes demonstraram super-expressão no CEO 27 (YARBROUGH et al., 1994). Em 15% de todos os tumores humanos são encontrados oncogenes H-ras ou K-ras mutados, enquanto que 55% dos cânceres de lábio apresentam mutação de H-ras (BETTENDORF et al., 2004). Várias outras proteínas foram estudadas quanto ao seu valor prognóstico para o CEO; dentre elas, Ki-67, FAS, c-MYC, ciclina D1, PIK3CA, TRAILR1, ATM, RUNX3, MGMT, GLUT-1, TAOS1, a família de proteínas SIBLING, o fator de crescimento do hepatócito, CD44, NFkβ, STAT, Wnt, TGF-β, AKT, PTEN, mTOR e a proteína ligante do ácido graxo epidérmico, além de outras, indicando uma preocupação mundial com a descoberta de marcadores para a doença (BAGAN e SCULLY, 2008; LORCH et al., 2009; MOLINOLO et al., 2009). A superexpressão de ciclo-oxigenase 2 (COX-2) pode estar associada a tumores com maiores índices de disseminação regional e à distância, menor tempo de sobrevida livre de doença e até resistência ao tratamento radioterápico (MADAULE et al., 1998; KIM e ORD, 2003; TERAKADO et al., 2004). Um inibidor de COX-2, o celecoxib, é altamente eficaz e seguro para a inibição das células cancerosas orais em camundongos, quando administrado precocemente, sugerindo uma atividade preventiva no CEO (WANG et al., 2002). 1.3 ETIOPATOGENIA A ingestão de álcool e o uso de tabaco são fatores de risco independentes para o CEO, sendo esse risco de 3 a 9 vezes maior para o indivíduo que fuma ou bebe e até 100 vezes maior para aqueles que possuem os dois vícios (NEVILLE, 2002). O maior fator de risco para o CEO entre não alcoólatras é o tabagismo e entre os não fumantes é o alcoolismo (ZNAOR, 2003). O risco elevado de CEO proveniente do hábito de fumar parece advir de alterações no balanço entre ativação e reparo do dano ao DNA promovido pelos carcinógenos relacionados ao tabaco (GILLISON, 2007). 28 O hábito de fumar e/ou ingerir bebidas alcoólicas ainda aumenta significativamente a chance do aparecimento de um segundo tumor primário (DAY et al., 1994; HALL, 2000). O tabagismo aumenta também o risco de periodontites em quatro vezes, elevando os níveis de bactérias patogênicas na microflora oral (JOHNSON, 2001). O hábito de mascar betel, planta preparada com tabaco para mascar comum na Índia, está relacionado à maior incidência e pior prognóstico (LO, 2003). O betel pode acelerar da migração tumoral através do estímulo de expressão de metaloproteinase de matriz 8 (MMP-8), (LIU et al., 2007). O histórico familiar positivo de CEO pode representar uma sensibilidade herdada aos efeitos tóxicos aos genes de agentes mutagênicos presentes no tabaco e dos metabólitos do álcool (GILLISON, 2007). O CEO de lábio é a única apresentação da doença que não está relacionada diretamente ao tabagismo; está relacionada à exposição à luz solar (KALMAR, 2006). Vários outros fatores de risco já foram relacionados ao carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço, tais como a falta de higienização da boca, o refluxo gastroesofágico, fatores dietéticos, inalação de gases provenientes de material de pintura e gasolina, além do hábito de consumir maconha (MAO et al., 2004; GILLISON, 2007). O comportamento sexual parece exercer influência na incidência do CEO. Para o gênero masculino, os fatores relacionados ao maior risco são: idade precoce na primeira relação sexual, número de parceiros sexuais durante a vida, histórico de úlceras genitais e hábito da prática de sexo oral. Para o gênero feminino, o fator importante é o número de parceiros (GILLISON, 2007). Indivíduos com menos de 55 anos de idade e com histórico de comportamento sexual de alto risco tem maior probabilidade de apresentar carcinomas HPVpositivos (SMITH, 2004). A falta de higiene oral parece ser um fator de risco independente para o CEO, já que os pacientes portadores dessa doença geralmente se apresentam com dentes cariados e periodontite (HOOPER et al., 2009). A periodontite 29 aumenta estatisticamente o risco para o CEO pouco diferenciado de cavidade oral (TEZAL et al., 2009). O número de dentes perdidos é um importante indicativo de risco elevado para CEO (LISSOWSKA et al., 2003). A maneira pela qual as infecções bacterianas podem causar câncer ainda não está elucidada. Sabe-se que as bactérias podem interferir nos mecanismos de sinalização, induzir a proliferação celular e inibir a apoptose (LAX e THOMAS, 2002). Bactérias podem ativar substâncias químicas carcinogênicas. Alguns microrganismos, como espécies de Streptococcus e Neisseria, podem converter etanol em acetaldeído, substância altamente carcinogênica (HOOPER et al., 2009). Certas cepas resistentes de Staphylococcus aureus podem induzir a formação de mediadores da inflamação, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α); este fator está intimamente implicado na carcinogênese oral. É necessário, entretanto, chegar a uma conclusão se o controle dessas bactérias pode afetar a incidência do CEO (MEURMAN, 2010). Alguns vírus estão associados ao CEO. O papiloma vírus (HPV), especialmente os subtipos 16 e 18 (MILLER e JOHNSTONE, 2001) e o herpes vírus, subtipos 1 e 2 (SHILLITOE, 2009), já foram descritos como participantes na carcinogênese oral, possivelmente devido à sua relação com a regulação genética. Os tumores de cavidade oral e faringe com detecção de fração de DNA do HPV parecem apresentar melhor prognóstico do que aqueles HPV-negativos (SCHWARTZ et al., 2001). A associação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) com o CEO ainda carece de maiores estudos. Estados de imunodeficiência associados ao consumo de álcool e tabaco representam fatores de risco para o CEO em pacientes infectados pelo HIV (EPSTEIN et al., 2005). Um estudo realizado com 539 pacientes com CEO entre 1985 e 1994 identificou 4,5% dos pacientes como HIV positivos. Os pacientes HIV positivos eram significativamente mais jovens, tiveram tumores primários maiores, estádios mais avançados da doença e pior sobrevida, quando comparados com os HIV negativos (SINGH et al., 1996). 30 Algumas infecções fúngicas podem estar associadas ao CEO. A Candida albicans já foi encontrada em maiores quantidades em biofilmes da superfície de CEO em relação a sítios controle saudáveis (HOOPER et al., 2009). Leucoplasias infectadas por Candida parecem ter maior probabilidade de transformação maligna do que outros tipos (REIBEL, 2003). Compostos de nitrosamina produzidos por espécies de Candida podem ativar oncogenes específicos e iniciar o desenvolvimento de uma lesão maligna (HOOPER et al., 2009). 1.4 ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS A suspeita de CEO deverá ser levantada em qualquer paciente com lesão única da cavidade oral que persista por mais de três semanas. A apresentação clínica dessas lesões precoces é comumente na forma de eritroplasia e/ou leucoplasia. A lesão é bem demarcada e apresenta áreas de endurecimento à palpação. As características clínicas das lesões avançadas incluem ulcerações, nodulações e fixação aos tecidos subjacentes (BAGAN et al., 2010). A dor é um sintoma presente em cerca de 30% a 40% dos pacientes portadores de CEO (BAGAN et al., 2010). Outros sintomas relacionados ao CEO são a otalgia, sangramentos, mobilidade dentária, problemas respiratórios, dificuldades na fala, disfagia, trismo, parestesias e problemas com uso de próteses (HAYA-FERNANDEZ et al., 2004). Ocasionalmente, os pacientes podem se apresentar ao exame inicial apenas com linfadenomegalia cervical, sem quaisquer outros sintomas. Há relação direta entre o tamanho da lesão e o aparecimento de ulceração, sangramento e linfadenopatia. Nos estádios terminais podem aparecer fístulas cutâneas, hemorragias maiores, anemia severa e caquexia (BAGAN et al., 2010). O CEO pode apresentar-se com sinais e sintomas menos comuns, como dormência na região mentoniana, dificuldade de cicatrização após extração dentária ou grande perda de peso (SCULLY e BAGAN, 2009). 31 O sítio anatômico do tumor também está ligado ao prognóstico, com os tumores mais posteriores da cavidade oral evoluindo menos satisfatoriamente (LEITE e KOIFMAN, 1998). Isto pode ser explicado pela diferença das redes vasculares e linfáticas nos vários sítios da cavidade oral (MASSANO et al., 2006). O estadiamento TNM, apesar de muito criticado, exerce enorme influência no prognóstico do CEO, sendo que os estádios mais avançados correspondem a pior evolução clínica e a um pior prognóstico (GONZALES-MOLES, 2002). A presença de um linfonodo metastático reduz a sobrevida em 50% (GENDEN et al., 2003). Quanto maior o número de linfonodos metastáticos, pior o prognóstico (MASSANO et al., 2006). O extravasamento capsular do linfonodo está associado a maiores índices de recorrência, de metástases à distância e menor sobrevida (FERLITO et al., 2002; GREENBERG, 2003). Quando há extravasamento capsular, ocorre um decréscimo na sobrevida de 29% a 60%, assim como aumento nos índices de metástases regionais (SHINGAKI et al., 2003). Evidências sugerem que o grau de diferenciação do tumor esteja correlacionado com o prognóstico; tumores mal diferenciados tendem a apresentar pior evolução (LO, 2003). A presença de invasão perineural pode estar correlacionada com maior probabilidade de metástases regionais e distantes, maior profundidade de invasão tumoral, pior grau de diferenciação e menor índice de sobrevida em cinco anos (RAHIMA et al., 2004). A angiogênese no CEO está relacionada com os parâmetros de estadiamento T e N e é um fator preditivo independente de recorrência tumoral, além de ser um fator prognóstico confiável (BETTENDORF et al., 2004). O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), importante para a formação de novos vasos sanguíneos, é um componente chave na angiogênese tumoral. Encontra-se super estimulado no fronte de invasão tumoral, indicando ter um papel importante no desenvolvimento de metástases (SHINTANI et al., 2004). 32 A exploração convencional da cavidade oral (incluindo inspeção e palpação) constitui o padrão ouro para o diagnóstico de CEO. A biopsia e o exame histopatológico representam o estudo indispensável para a identificação de novos casos da doença (SEOANE LESTON e DIZ DIOS, 2010). A investigação do fronte de invasão tumoral nos CEOs está baseada no acesso aos parâmetros histológicos qualitativos, como o grau de queratinização, o polimorfismo nuclear, o padrão de invasão e a infiltração linfocitária local (BANKFALVI e PIFFKO, 2000). Os exames de imagem devem ser realizados como complemento da avaliação clínica e para o estadiamento do tumor primário e dos linfonodos regionais (SEOANE LESTON e DIZ DIOS, 2010). Algumas críticas foram levantadas quanto ao exame histopatológico padrão para o diagnóstico dos carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço: incapacidade de revelar células com mutação nas margens cirúrgicas aparentemente livres de doença; falha no reconhecimento de tumores genotipicamente diferentes com fenótipos idênticos, o que poderia afetar o prognóstico, já que certas mutações genéticas podem ser preditivas de comportamento ou prognóstico. A partir desse raciocínio, as técnicas de diagnóstico moleculares como a reação em cadeia de polimerase (PCR), hibridização in situ, hibridização in situ fluorescente, análise da instabilidade microssatélite e da perda de heterozigose, a hibridização genômica comparativa, a PCR transcriptase reversa, os microensaios de DNA e de RNA, a análise microfluídica e a imunohistoquímica tem absorvido atenção maior nas últimas décadas (BILODEAU et al., 2010). Os biomarcadores moleculares, os painéis de detecção genética e os tratamentos específicos tem se tornado uma realidade no cuidado de pacientes com carcinomas de cabeça e pescoço (GLAZER et al., 2009). Também foram desenvolvidos estudos sobre a participação da angiogênese (LIU, S. Y. et al., 2008) e do fator de crescimento de fibroblasto (FGF) também foram desenvolvidos (TANAKA et al., 2006). 33 Um estudo recente avaliou a presença de alguns genes relacionados a tumores nas margens de peças cirúrgicas de CEO e houve positividade para pelo menos um desses genes em 38% dos casos estudados. A identificação desses genes nas margens cirúrgicas de pacientes portadores de CEO poderia ser útil no reconhecimento de pacientes com um maior risco de desenvolver um segundo tumor primário ou recorrência local e ainda auxiliaria o cirurgião na delineação da extensão da ressecção do tumor e no planejamento da terapia adjuvante (DE CARVALHO et al., 2012). Os avanços no diagnóstico molecular sugerem que marcadores proteicos de alterações pré-cancerosas podem ser detectados antes que as lesões mucosas clinicamente aparentes sejam identificáveis. Se essa promessa de um pré-diagnóstico puder ser realizada, a detecção precoce de pacientes com risco para CEO inicial ou recorrente será possível e aumentará as esperanças de redução na morbidade e na mortalidade (KALMAR, 2006). Em termos práticos, os fatores com maior influência na evolução da doença são o estadiamento, o extravasamento capsular, a espessura tumoral e margens cirúrgicas livres de doença. O futuro recairá sobre a melhor compreensão da biologia molecular tumoral (MASSANO et al., 2006). Em resumo, a avaliação ideal para um indivíduo com CEO deve incluir uma história com exame físico geral, exame detalhado da cabeça e do pescoço, diagnóstico histopatológico, avaliação radiográfica e a coleta de dados do estado psicossocial (PATEL e SHAH, 2005). 1.5 TRATAMENTO A melhor opção de tratamento para os tumores iniciais e avançados ainda é a cirurgia, podendo ser substituída pela radioterapia nos estádios I e II e complementada pela radioterapia e/ou quimioterapia nos estádios III e IV (BETTENDORF et al., 2004). Para o CEO de estádio inicial, a cirurgia constitui o 34 melhor e talvez o único tratamento a ser instituído. Mas alguns autores relatam taxa de recorrência de 11,5%, mesmo para CEOs iniciais com margens cirúrgicas livres ao exame anatomopatológico e sem complementação com radioterapia ou quimioterapia (HUANG et al., 2010). O tratamento cirúrgico local pode produzir comprometimentos funcionais significativos para a fala, a deglutição, a mastigação, a saúde dentária e a reintegração social. Deve ser considerado como um dos tratamentos mais desfigurantes e debilitantes entre todos aqueles envolvendo o câncer (MIGNOGNA et al., 2001). O esvaziamento cervical é o tratamento de escolha para os casos de CEO com metástases regionais e pode estar indicado mesmo em pacientes sem a presença de linfonodos cervicais palpáveis (CHENG e SCHMIDT, 2008). As metástases ocultas para o CEO variam de 20% a 45% (ZBAREN et al., 2006). O tratamento eletivo do estádio N0 pode prevenir recorrências e a necessidade de uma cirurgia mais radical (FERLITO et al., 2006), mas os critérios para sua indicação ainda merecem mais estudos (CHENG e SCHMIDT, 2008). Na presença de linfonodos positivos, o tratamento do pescoço torna-se imperativo (CARLSON e MILLER, 2006). Entretanto, esse procedimento é fonte de complicações pós-operatórias significantes, como a disfunção da cintura escapular (KERAWALA, 2010). A identificação do linfonodo sentinela utilizando a linfocintilografia pode diminuir a agressividade dessa cirurgia (MASSANO et al., 2006). A pesquisa do linfonodo sentinela é um método potencial para o estadiamento das metástases loco-regionais do CEO, principalmente quando o primário estiver localizado na língua (KESKI-SANTTI et al., 2008). O tratamento vigente para o CEO pode causar problemas. A cirurgia mutila a anatomia dos tecidos; a radioterapia leva à diminuição da salivação por lesão irreversível das glândulas salivares, mucosite e retração cicatricial tecidual; a 35 quimioterapia afeta fatores defensores locais e sistêmicos, podendo promover infecções (MEURMAN e GRONROOS, 2010). A associação de agentes quimioterápicos com radioterapia de forma concomitante pode aumentar a sobrevida, porém às custas de elevada toxicidade (MURPHY e CMELAK, 2006; BHIDE e NUTTING, 2010). Por este motivo, a indústria farmacêutica tem focado no desenvolvimento de drogas que atuem em componentes moleculares das células, codificados ou regulados por oncogenes ou genes supressores de tumor. Sabe-se, entretanto, que os comportamentos das células não são regulados por uma série linear de comandos, mas por redes de interações moleculares (INGBER, 2008). A terapia com inibidores da angiogênese tem se tornado uma estratégia importante para o tratamento do câncer (HIDA e KLAGSBRUN, 2005). As células endoteliais tumorais possuem características diferentes das células endoteliais normais: aneuploidia, instabilidade cromossômica, ausência de pontos de checagem no ciclo celular; as células endoteliais tumorais devem tornar-se o principal alvo deste tipo de terapia (HIDA et al., 2008). 1.6 PREVENÇÃO Várias estratégias de prevenção do aparecimento do CEO já foram traçadas: a interrupção dos hábitos de alto risco (particularmente o uso de tabaco), o tratamento adequado das lesões predisponentes e instalação de programas de campanhas populacionais (KURIAKOSE e SHARAN, 2006). Atualmente emprega-se, em alguns serviços especializados, a quimioprevenção, que consiste na administração de agentes para bloquear ou reverter a carcinogênese oral, obtendo redução ou eliminação de lesões précancerosas e diminuição na incidência de segundo tumor primário. Vários agentes têm sido estudados para esse fim, a saber: os retinóides, o beta-caroteno, a vitamina E e os inibidores de COX-2. Entretanto, outro grande estudo europeu 36 não demonstrou benefício da quimioprevenção em termos de sobrevida global, sobrevida livre de doença ou índice de segundos tumores primários (VAN ZANDWIJK et al., 2000). Um estudo randomizado realizado na Índia com acompanhamento de mais de 190.000 pessoas conseguiu detectar uma redução de 32% na mortalidade em indivíduos de alto risco, no grupo de homens usuários de tabaco e álcool. Esses dados sugerem que a avaliação visual da cavidade oral de pacientes de alto risco poderia prevenir aproximadamente 40.000 mortes por ano decorrentes de CEO em todo o mundo (SANKARANARAYANAN et al., 2005). Dados alarmantes demonstraram que somente 34% de um grupo de 129 odontólogos brasileiros conseguiriam identificar as características clínicas comuns do CEO e somente 11% poderiam identificar os agentes etiológicos responsáveis pela doença (LEAO et al., 2005). 1.7 GTPASES RHO Diversas proteínas sinalizadoras, como fatores de crescimento e proteínas da matriz extracelular, ativam vias de sinalização que regulam a proliferação, diferenciação, adesão e a formação de processos ricos em actina associados à migração celular e apoptose. Estes processos biológicos são regulados por GTPases Rho (Ras-Homology GTPases) em outros tipos celulares. Proteínas pertencentes a essa família Rho regulam ainda vias de transdução de sinal em células eucariontes normais envolvidas na morfogênese e citodiferenciação, migração, polarização celular, adesão célula-célula e célula-matriz extracelular (ETIENNE-MANNEVILLE e HALL, 2002). Cerca de 20 proteínas Rho foram identificadas e classificadas em cinco subgrupos, de acordo com sua sequência primária e suas funções conhecidas: Rho-like, Rac-like, Cdc42-like, Rnd e RhoBTB. Membros menos conhecidos e não 37 incluídos nesta classificação são RhoD, Rif e RhoH/TTF (BURRIDGE e WENNERBERG, 2004). No subgrupo Rho-like (Ras homologous) estão as isoformas RhoA, RhoB e RhoC. Embora existam muitas semelhanças em sua regulação e funções, algumas diferenças funcionais entre essas isoformas têm sido descritas no crescimento; enquanto RhoA e RhoC são promotoras, RhoB tem função inibitória (CHEN et al., 2000). As proteínas do subgrupo Rac-like (Ras-related C3 botulinumtoxinsubstrate1) estimulam a formação de lamelipódios, como inicialmente descrito para Rac1 (RIDLEY et al., 1992). Rac1 e RhoG são amplamente expressas, enquanto Rac2 e Rac3 estão restritas aos tecidos hematopoiético e nervoso, respectivamente (HAATAJA et al., 1997; BURRIDGE e WENNERBERG, 2004). Todas as isoformas do subgrupo Cdc42 (Cell division cycle 42) estimulam a formação de filopódios (KOZMA et al., 1995; NOBES e HALL, 1995). TC10 e TCL estão envolvidas em eventos metabólicos mediados pela insulina (CHIANG et al., 2002). Wrch1 tem sido envolvida na via de sinalização de Wnt (TAO et al., 2001), enquanto o papel de Chp/Wrch2 permanece desconhecido (BURRIDGE e WENNERBERG, 2004). No subgrupo Rnd, Rnd1 e Rnd2 são expressas no cérebro, enquanto Rnd3 e RhoE são amplamente expressas mas em baixas quantidades, sendo reguladas pela sinalização de Ras/Raf (HANSEN et al., 2000). A função de RhoBTB1 e RhoBTB2, do subgrupo RhoBTB, não é conhecida (BURRIDGE e WENNERBERG, 2004). RhoA, Rac1 e Cdc42 são as proteínas Rho mais bem caracterizadas e amplamente expressas. Em fibroblastos, RhoA é responsável pela formação de feixes contráteis de actina e miosina (fibras de estresse) e adesões focais, já Rac1 e Cdc42 regulam a formação de lamelipódios e filopódios, respectivamente (HALL, 1998). Entretanto, a participação dessas proteínas pode variar de acordo com o tipo celular e composição da matriz extracelular (CHIOU et al., 2003). 38 Similarmente a outras GTPases, as proteínas Rho ciclam entre uma forma ativa ligada ao GTP e uma forma inativa ligada ao GDP. Esse ciclo é regulado por Guanine Nucleotide Exchange Factors (GEFs), que estimulam a troca do GDP pelo GTP e por GTPase-activating Proteins (GAPs), que catalizam a hidrólise do GTP e, consequentemente, inativam as proteínas Rho. Vários GEFs que ativam membros da família Rho, como Tiam-1, Dbl, Ost e Vav, são oncogenes conhecidos (CERIONE e ZHENG, 1996). Proteínas inativas formam complexos com GDP-dissociation Inhibitors (GDIs) no citosol, enquanto as proteínas ativadas interagem com várias proteínas efetoras na fração de membrana (TAKAI et al., 2001). O principal estímulo ativador da família Rho é o receptor acoplado à proteína-G (GPCR). GPCRs usam G-Alpha12 ou G-Alpha13 para transdução de sinal dos receptores de ácido lisofosfatídico (LPA) e 1-fosfato esfingosina (S-1P) e hormônios ativadores de Rho. Além do GPCR, as integrinas também ativam as GTPases Rho (RIDLEY, 1997; VAN AELST e D'SOUZA-SCHOREY, 1997; KJOLLER e HALL, 1999; BISHOP e HALL, 2000; HAKOSHIMA et al., 2003; JAFFE e HALL, 2005). As integrinas ativam as GTPase Rho, assim como aperfeiçoam a ativação do fator de crescimento através da atuação sobre as membranas celulares. As integrinas agem também na ativação de fosfatidilinositol 3-kinase (PI 3-kinase), possivelmente através de kinase de adesão focal (FAK) para promover a polimerização e reorganização dos filamentos de actina através tanto diretamente quanto através de uma variedade de vias de sinalização (RIDLEY, 1997; VAN AELST e D'SOUZA-SCHOREY, 1997; KJOLLER e HALL, 1999; BISHOP e HALL, 2000; RIDLEY, 2001; HAKOSHIMA et al., 2003; JAFFE e HALL, 2005; BOURDON et al., 2006; BRAZIER et al., 2006; OLEKSY et al., 2006; TSAI e JIANG, 2006) Uma abordagem amplamente aceita para o estudo dessas proteínas é utilização da Toxina A de Clostridium difficile, capaz de inibir todas as GTPases pela glicosilação de um resíduo treonina (LERM et al., 2000). A ativação de 39 integrinas, receptores de fatores de crescimento ou de receptores acoplados a proteínas G leva ao estímulo de um ou mais GEFs, que estimulam as GTPases Rho. As respostas celulares resultam da interação das proteínas Rho com diferentes proteínas efetoras (ETIENNE-MANNEVILLE e HALL, 2002; BURRIDGE e WENNERBERG, 2004). Vias de sinalização que são reguladas por membros da família Rho desempenham um papel importante em várias doenças, incluindo câncer, doenças autoimunes e infecções bacterianas (RIDLEY, 1999; BISHOP e HALL, 2000; RIDLEY, 2001; SAHAI e MARSHALL, 2002; ASPENSTROM et al., 2004; JAFFE e HALL, 2005; MERAJVER e USMANI, 2005; KANDPAL, 2006; HEASMAN e RIDLEY, 2008). Previamente, em células tronco adultas, Human Salivary Gland (HSG) provenientes de ducto intercalar, demonstrou-se que as proteínas Rho desempenham um papel essencial na formação acinar estimulada pela matriz extracelular (Matrigel®) e por fatores de crescimento como o EGF, bFGF e também pelo LPA (CREMA et al., 2006). Na reorganização do citoesqueleto, foram identificados diversos efetores das proteínas Rho propriamente ditas, como Rho kinase (ROCK) (AMANO et al., 1996; KIMURA et al., 1996), citronkinase (MADAULE et al., 1998) e PI P 5-kinase (CHONG et al., 1994). Proteínas efetoras de Rac1 e Cdc42 como as P21activated kinases (PAKs) (TEO et al., 1995), PI 3-Kinase (WYMANN e PIROLA, 1998), WASP (SYMONS et al., 1996) e IQGAP (KURODA et al., 1998) também atuam no citoesqueleto. As proteínas Rho regulam a formação das fibras de estresse da actina e a geração de forças contráteis baseadas na actina e miosina nas células. Rac e Cdc42 estão relacionadas à dinâmica da actina no bordo das células migratórias e associadas com a formação de lamelipódios e filopódios (KEELY, 2001). Previamente, em células HSG, foi demonstrado, por meio da utilização de inibidores: Toxina A de Clostridium difficile (GTPases Rho), Y-27632 (ROCK), 40 Wortmannin e LY294002 (PI 3-kinase), que durante a formação acinar, Rac1 e Cdc42 são importantes na regulação da migração celular, enquanto RhoA participaria principalmente da polimerização de actina no córtex celular (CREMA et al., 2006). 1.8 GTPASES RHO NO CEO O papel das GTPases Rho no desenvolvimento e progressão de neoplasias permanece pouco conhecido, especialmente no carcinoma epidermoide oral. Alguns trabalhos relatam o papel das GTPases Rho na proliferação e diferenciação celular, função como fatores prognósticos, participação na invasão e migração celular. Contudo, ainda existem divergências entre os papéis das proteínas Rho na promoção e regulação do câncer (ABRAHAM et al., 2001; KITAJO et al., 2003; FARIED et al., 2006; KLEER et al., 2006; FARIED et al., 2007; PATEL et al., 2007; ZHANG et al., 2007; LAI et al., 2008; LIU, L. et al., 2008; ISLAM et al., 2009; KARLSSON et al., 2009; JIANG et al., 2010). Existem evidências contundentes do papel essencial da atividade da via de sinalização das GTPases Rho em processos relacionados com o câncer, como proliferação e migração celular, sobrevivência, crescimento e progressão das células neoplásicas. A via de sinalização das GTPases Rho interage com diferentes cascatas de sinalização oncogênica, como Ras e Wnt, contribuindo com vários aspectos da tumorigênese (BOETTNER e VAN AELST, 2002; MALLIRI e COLLARD, 2003). Alguns membros da família Rho e alguns de seus efetores podem ser indicadores diagnósticos potenciais para a doença maligna (ABRAHAM et al., 2001). RhoA, Rac2 e Cdc42 estão superexpressos em carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço, assim como em linhagens de células deste tipo de tumor (ABRAHAM et al., 2001). Recentemente, foi relatado um aumento na expressão 41 de Rac1 em apenas 15 casos de CEO; contudo, ainda não foi estabelecida uma correlação entre o padrão de expressão e a graduação histopatológica ou prognóstico (LIU et al., 2004). Mesmo carcinomas epidermoides moderadamente diferenciados elevam as concentrações de Rho e Rac, o que sugere que estas moléculas possam se tornar marcadores da progressão tumoral (KEELY, 2001). Quanto à proteína ROCK, efetora de RhoA e RhoB, sua inibição atenuou a proliferação celular induzida por Sonichedgehog (Shh) em linhagem de CEO (NISHIMAKI et al., 2004). A sinalização intracelular de Shh é parcialmente mediada pela família G12 de proteínas G heterotriméricas, seguida pela ativação da GTPase RhoA e seu efetor downstream ROCK (KASAI et al., 2004). A proteína PI 3-kinase, efetora de Rac1/Cdc42, parece estar envolvida em processos biológicos da carcinogênese, uma vez que foi relatada uma imunorreatividade em carcinomas orais invasivos; o tecido epitelial normal e displásico não expressaram PI 3-kinase (STAHL et al., 2004). Além disso, a ativação de uma proteína downstream da PI 3-kinase, a serina/treonina kinase Akt (reguladora do crescimento de células normais e cancerosas), foi correlacionada com a progressão de carcinomas de pele de camundongos e em linhagens celulares de carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (AMORNPHIMOLTHAM et al., 2004). . 42 2. HIPÓTESE 43 As GTPases Rho podem participar de vias de transdução de sinal reguladoras de processos biológicos envolvidos na patogênese de carcinoma epidermoide oral. 44 3. OBJETIVOS 45 3.1 OBJETIVO GERAL Avaliar o padrão de expressão das GTPases Rho (RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1) em carcinoma epidermoide oral. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Verificar se a amostra estudada é adequada para a realização deste estudo, por meio da revisão dos prontuários. 2. Comparar o padrão de expressão da GTPase RhoA com a diferenciação celular (bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado) em carcinoma epidermoide oral, por imunohistoquímica in situ. 3. Comparar o padrão de expressão da GTPase RhoB com a diferenciação celular (bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado) em carcinoma epidermoide oral, por imunohistoquímica in situ. 4. Comparar o padrão de expressão da GTPase Cdc42 com a diferenciação celular (bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado) em carcinoma epidermoide oral, por imunohistoquímica in situ. 5. Comparar o padrão de expressão da GTPase Rac1 com a diferenciação celular (bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado) em carcinoma epidermoide oral, por imunohistoquímica in situ. 46 4. MATERIAL E MÉTODOS 47 4.1 CASUÍSTICA Foram estudados 83 casos de Carcinoma epidermoide oral. Os casos arquivados em blocos de parafina no serviço de Patologia foram obtidos de indivíduos submetidos a biopsia incisional ou excisional no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), no período de 1984 a 2007. Foi realizada a pesquisa do histórico da doença dos pacientes em seus respectivos prontuários. Foram excluídos os casos com material insuficiente par confecção de lâminas. Este Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFTM (Protocolo n° 804), (Anexo 1). 4.2 ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA Os casos foram revistos e diagnosticados por uma mesma patologista, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os seguintes critérios foram utilizados para a graduação histopatológica (BARNES, 2005): Carcinoma bem diferenciado: observação de diferenciação celular; células com abundante citoplasma eosinófilo, queratinização proeminente, em células isoladas ou a formação de pérolas córneas. Carcinoma moderadamente diferenciado: células semelhantes às epiteliais, sem evidência de diferenciação escamosa; células com citoplasma escasso, menos pontes intercelulares e menos queratinização; são vistas variações no tamanho e na forma das células; os núcleos apresentam pleomorfismo e são hipercromáticos; podem ser encontradas algumas figuras de mitoses. Carcinoma pouco diferenciado: as células apresentam pouca semelhança com as epiteliais; pode ser observada grande quantidade de pleomorfismo celular e atipias nucleares; ausência de queratinização e de pontes intercelulares, além de altas taxas de mitoses típicas ou atípicas. 48 4.3 PROCESSAMENTO DA AMOSTRA Cortes histológicos de quatro µm de espessura do material de biopsia de carcinoma epidermoide oral, previamente incluído em blocos de parafina, foram obtidos em micrótomo (Leica®, Nussoloch, Alemanha) em lâminas pré-cobertas com Poly-y-lisine® (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA). 4.4 REAGENTES Para as reações de imunohistoquímica foram utilizados os anticorpos primários policlonais de coelho anti-RhoA (sc-179), coelho anti-RhoB (sc-180), coelho anti Rac1 (sc-217) e coelho anti-Cdc42 (sc-87), que foram obtidos da Santa Cruz BiotechnologyInc (Santa Cruz, CA, EUA). Os reagentes 3,3ʹdiaminobenzidine (DAB), os sais, Triton X-100 e o peróxido de hidrogênio foram obtidos da Sigma-Aldrich (St. Louis, MO, EUA). O soro não imune de cabra e o anticorpo secundário de cabra anti-IgG de coelho biotinilado foram obtidos da Jackson Immuno Research Laboratories (West Grove, PENN, EUA). 4.5 REAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA Os experimentos foram realizados em duplicata. Após desparafinização e hidratação dos cortes com tampão fosfato 0,1M, pH 7,4 (PB), foi feito o bloqueio da peroxidase endógena com solução H2O2 20 vol/metanol 1:1 por 10 minutos. O bloqueio dos sítios específicos foi feito com soro não imune de cabra, na diluição 1:10 em PB/triton X-100 0,2%, durante uma hora em câmara úmida à temperatura ambiente (TA). A incubação com os anticorpos primários de coelho contra Rho-A, Rho-B, Rac1 e Cdc42 foi feita na diluição 1:50 em PB/triton X-100 0,2%, em câmara úmida à TA, durante cerca de 16 horas. Após lavagem com PB, as amostras foram incubadas com os anticorpos secundários de cabra anti-coelho na diluição 1:200 em PB/triton X-100 0,2%, por uma hora e 30 minutos à TA. Após 49 lavagem com PB, os cortes foram incubados com o complexo avidina-biotinaperoxidase (Kit ABC-Elite®) por duas horas em câmara úmida. A reação foi evidenciada com DAB. Para os controles negativos foi omitido o anticorpo primário. A contra coloração foi feita com hematoxilina de Harris por 30 segundos. As lâminas foram desidratadas e montadas com Entellan®. 4.6 AVALIAÇÃO MORFOMÉTRICA As células de Carcinoma epidermoide oral marcadas foram analisadas em toda extensão do corte histológico. A intensidade da marcação foi considerada negativa (-), marcação: fraca (+), moderada (++) ou intensa (+++) de acordo com a impregnação da substância cromógena. 4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados da morfometria foram analisados com o programa Graphpad InStat®. Através do teste de Kolmogorov-Smirnov, as variáveis foram testadas para verificar a normalidade da distribuição. Foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis e pós-teste Método de Dunn para a comparação múltipla entre os grupos estudados. As diferenças foram consideradas significativas quando p<0,05. 4.8 OBSERVAÇÃO E OBTENÇÃO DE IMAGENS As avaliações das reações imunohistoquímicas foram realizadas em microscópio Axiophot (Zeiss®). Com as imagens obtidas foram montadas figuras com o programa Photoshop 7.0.1®. 50 5. RESULTADOS 51 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA CASUÍSTICA Foi realizado o levantamento do número de casos de Carcinoma epidermoide de cavidade oral submetidos à biopsia no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro no período de 1984 a 2007. Neste período foram realizadas 97.609 biopsias, das quais foram identificados 83 casos de carcinoma epidermoide de cavidade oral. Os dados para a caracterização da casuística foram obtidos por meio de revisão dos prontuários dos 83 pacientes com carcinoma epidermoide oral (Anexo 2). Quanto ao gênero, 73% (n=61) eram homens e 27% (n=22) eram mulheres (Figura 1). 27% Feminino 73% Masculino Figura 1. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o gênero. 52 A média de idade dos pacientes foi de 59,15 ± 14,55 anos, sendo de 57,38 ± 14,73 anos para o gênero masculino e de 64,33 ± 12,97 anos para o gênero feminino (Figura 2). 100 Idade (anos) 80 60 40 20 0 Total Masculino Feminino Figura 2. Média de idade dos pacientes portadores de carcinoma epidermoide oral, total e por gênero, no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. Quanto à cor, 77% (n=64) dos pacientes eram brancos, 21% (n=17) eram não brancos e 2% (n=2) não foram informados (Figura 3). 2% 21% Branco Não branco 77% Não informado Figura 3. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a cor. 53 Quanto à localização do tumor, 46% (n=38) localizaram-se no lábio, 15% (n=12) na gengiva, 15% (n=12) na língua, 11% (n=9) no assoalho, 7% (n=6) no palato e 6% (n=5) na mucosa oral (Figura 4). 6% 7% 11% 15% 15% Assoalho Gengiva Lábio Língua Mucosa oral 46% Palato Figura 4. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a localização do tumor. Quanto ao grau de diferenciação histológica do tumor, 53% (n=44) eram moderadamente diferenciados, 29% (n=24) eram bem diferenciados, 16% (n=13) eram pouco diferenciados e 2% (n=2) eram indefinidos (Figura 5). 16% 2% 29% Bem diferenciado Moderadamente diferenciado Pouco diferenciado 53% Indefinido Figura 5. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o grau de diferenciação histológica do tumor. 54 Quanto ao tabagismo, 60% (n=50) dos pacientes relataram uso regular de tabaco, 11% (n=9) negaram uso regular de tabaco e em 29% (n=24) não havia descrição no prontuário (Figura 6). 29% Sim 60% 11% Não Não informado Figura 6. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a utilização regular de tabaco. Quanto ao etilismo, 40% (n=33) dos pacientes relataram consumo regular de bebidas alcoólicas, 17% (n=14) negaram o uso e em 43% (n=36) dos casos não havia registro nos prontuários (Figura 7). 40% 43% Sim Não 17% Não informado Figura 7. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo a utilização regular de bebidas alcoólicas. 55 Quanto ao tipo morfológico da lesão encontrada, 63% (n=52) eram ulceradas, 12% eram vegetantes (n=10), 10% (n=8) eram úlcero-vegetantes, 3% (n=3) eram nodulares, 1% (n=1) era nodular ulcerada e em 11% (n=9) não havia registro nos prontuários (Figura 8). 11% 3% 1% Nodular 12% Nodular ulcerada 10% Ulcerada Úlcero-vegetante 63% Vegetante Não informado Figura 8. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o tipo morfológico da lesão. Quanto ao estádio clínico, 33% (n=27) eram doenças em estádio I, 4% (n=3) em estádio II, 6% (n=5) em estádio III, 8% (n=7) em estádio IV e em 49% (n=41) não havia registro nos prontuários (Figura 9). 33% I 49% II 8% 6% 4% III IV Não informado Figura 9. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o estádio clínico. 56 Quanto à profissão, 19 eram lavradores, 14 do lar, cinco domésticas, cinco aposentados, quatro pedreiros, três prestadores de serviços gerais, dois carpinteiros, dois ferroviários, um vendedor, um jardineiro, um servente, um porteiro, um servidor público, um tratorista, um gráfico, um pintor, um técnico têxtil, um militar, um mecânico, um agricultor, um motorista, um serralheiro, um auxiliar de escritório, um vigilante, um sapateiro, um encanador, um autônomo e em 10 casos não havia relato nos prontuários. Quanto ao tratamento empregado, 46% (n=38) foram submetidos à cirurgia, 4% (n=3) a radioterapia e/ou quimioterapia e em 50% (n=42) dos casos não havia registro nos prontuários (Figura 10). 46% Cirurgia 50% Radioterapia e/ou Quimioterapia 4% Não informado Figura 10. Distribuição dos pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007, segundo o tratamento empregado. Em apenas 28 dos 83 casos estudados houve informação sobre a sobrevida, dois quais oito eram CEO bem diferenciados, 15 eram CEO moderadamente diferenciados e cinco eram CEO pouco diferenciados. Dentre os 28 casos, 16 pacientes tiveram sobrevida maior que cinco anos, sendo sete diagnosticados como CEO bem diferenciado, sete como CEO moderadamente diferenciado e dois como CEO pouco diferenciado. 57 5.2 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RHOA EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL Nos casos de carcinoma epidermoide oral, a proteína RhoA foi vista intensamente marcada nas células neoplásicas das lesões bem diferenciadas (BD), moderadamente marcada nas lesões moderadamente diferenciadas (MD) e fracamente marcadas nas lesões pouco diferenciadas (PD), (Figura 11). A avaliação morfométrica da intensidade de imunoexpressão de RhoA mostrou diferença estatisticamente significante (p<0,0001), quando comparados os grupos BD (2,90 ± 0,30), MD (1,75 ± 0,43) e PD (0,36 ± 0,50). As células neoplásicas das lesões BD apresentaram imunomarcação significantemente maior, que a intensidade de marcação nas lesões MD (p<0,0001) e, que a marcação das lesões PD (p<0,0001). E, a imunoexpressão observada nas lesões MD foi significantemente maior das lesões PD (p<0,001), (Figura 12). 58 Figura 11. Padrão de Expressão da GTPase RhoA em carcinoma epidermoide oral. Reação imunohistoquímica pela técnica avidina-biotina-peroxidase, sendo a positividade vista em castanho. Carcinoma epidermoide oral: (A) bem diferenciado; (B) moderadamente diferenciado; (C) pouco diferenciado; (D) controle negativo. Contra-coloração com hematoxilina. Barra = 25 µm. Figura 12 Comparação de expressão da GTPase RhoA em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. Bem diferenciado (BD), moderadamente diferenciado (MD) e pouco diferenciado (PD). Teste de Mann Whitney, ***p<0,0001: BD versus MD, BD versus PD, MD versus PD. Pós-teste de Dunn: **p<0,001: MD versus PD; ***p<0,0001: BD versus MD; BD versus PD. 59 5.3 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RHOB EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL Nos casos de carcinoma epidermoide oral, imunomarcação para proteína RhoB foi observada fraca ou negativa nas células neoplásicas das lesões bem BD, moderada nas lesões MD e fraca nas lesões PD (Figura 13). A avaliação morfométrica da intensidade de imunoexpressão de RhoB mostrou diferença estatisticamente significante (p<0,0001), quando comparados os grupos BD (1,23 ± 0,43), MD (0,76 ± 0,42) e PD (0,53 ± 0,51). A imunoexpressão observada para o grupo BD foi significante maior do que a observada para o grupo MD (p<0,001), e, que a marcação das lesões PD (p<0,0001). Não houve diferença estatisticamente significante (p>0,05) entre a imunoexpressão dos grupos MD e PD (Figura 1). 60 Figura 13. Padrão de Expressão da GTPase RhoB em carcinoma epidermoide oral. Reação imunohistoquímica pela técnica avidina-biotina-peroxidase, sendo a positividade vista em castanho. Carcinoma epidermoide oral: (A) bem diferenciado; (B) moderadamente diferenciado; (C) pouco diferenciado; (D) controle negativo. Contra-coloração com hematoxilina. Barra = 25 µm. Figura 14. Comparação do padrão de Expressão da GTPase RhoB em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. Bem diferenciado (BD), moderadamente diferenciado (MD) e pouco diferenciado (PD). Teste de Mann Whitney, ***p<0,0001: BD versus MD, BD versus PD, MD versus PD. Pós-teste de Dunn: **p<0,001: BD versus MD; ***p<0,0001: BD versus PD; p>0,05: MD versus PD. 61 5.4 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE CDC42 EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL Nos casos de carcinoma epidermoide oral, imunomarcação para proteína RhoB foi observada fraca nas células neoplásicas das lesões bem BD, moderada nas lesões MD e intensa nas lesões PD (Figura 15). A avaliação morfométrica para Cdc42 mostrou diferença estatisticamente significante (p<0,0001), quando comparados os grupos BD (1,19 ± 0,40), MD (1,91 ± 0,28) e PD (2,62 ± 0,61). As células neoplásicas das lesões BD apresentaram imunomarcação significantemente menor, que a intensidade de marcação nas lesões MD (p<0,0001) e, que a marcação das lesões PD (p<0,0001). E, a imunoexpressão observada nas lesões MD foi significantemente menor das lesões PD (p<0,001), (Figura 16). 62 Figura 15. Padrão de Expressão da GTPase Cdc42 em carcinoma epidermoide oral. Reação imunohistoquímica pela técnica avidina-biotina-peroxidase, sendo a positividade vista em castanho. Carcinoma epidermoide oral: (A) bem diferenciado; (B) moderadamente diferenciado; (C) pouco diferenciado; (D) controle negativo. Contra-coloração com hematoxilina. Barra = 25 µm. Figura 16. Comparação do padrão de Expressão da GTPase Cdc42 em carcinoma epidermoide oral em pacientes diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no Hospital de Clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. Bem diferenciado (BD), moderadamente diferenciado (MD) e pouco diferenciado (PD). Teste de Mann Whitney, ***p<0,0001: BD versus MD, BD versus PD, MD versus PD. Pós-teste de Dunn: **p<0,001: MD versus PD; ***p<0,0001: BD versus MD; BD versus PD. 63 5.5 PADRÃO DE EXPRESSÃO DE RAC1 EM CARCINOMA EPIDERMOIDE ORAL A proteína Rac1 não foi expressa pela grande maioria das células neoplásicas casos BD, MD e PD. Apenas algumas células do fronte migratório mostraram uma imunomarcação intensa (Figura 17). Figura 17. Padrão de Expressão da GTPase Rac1 em carcinoma epidermoide oral. Reação imunohistoquímica pela técnica avidina-biotina-peroxidase, sendo a positividade vista em castanho. Carcinoma epidermoide oral: (A) bem diferenciado; (B) moderadamente diferenciado; (C) pouco diferenciado; (D) controle negativo. Contra-coloração com hematoxilina. Barra = 25 µm. 64 6. DISCUSSÃO 65 A casuística obtida para a realização deste trabalho mostrou-se adequada, pois os dados levantados assemelham-se àqueles encontrados na literatura. Quanto ao gênero, 73% foram homens e 27% foram mulheres, mantendo uma relação próxima de 3:1. A idade do diagnóstico do CEO foi mais precoce nos homens (média de 57,38) do que nas mulheres (64,33). Esses dados coincidem com a literatura (DE CARVALHO et al., 2001). Com relação à cor, 77% dos pacientes eram brancos e 21% não brancos. Quando relacionados ao sítio mais frequente, o lábio (46%), podemos fazer a associação de cor e maior incidência de CEO de lábio, devido à exposição solar, como observado por outros autores (BROUMAND et al., 2006; KALMAR, 2006; LIM, 2006). A avaliação do grau de diferenciação é muito dependente da amostra e, na nossa casuística, predominaram os casos de CEO moderadamente diferenciados (53%), seguidos pelos bem diferenciados (29%) e pouco diferenciados (16%). O uso regular de tabaco, através de cigarros de papel, palha, cachimbo, charuto e fumo de mascar foi observado em 60% dos casos, contra 11% que negaram sua utilização. Não encontramos relato de uso de tabaco em 29% dos prontuários. A literatura confirma amplamente a forte relação de tabagismo e CEO (NEVILLE, 2002; ZNAOR, 2003; KALMAR, 2006; GILLISON, 2007). O consumo regular de álcool foi relatado em 40% dos casos, contra 17% sem consumo. Um dado preocupante foi a ausência de relato de consumo de bebidas alcoólicas em 43% dos prontuários. O álcool tem sido descrito como um dos fatores mais diretamente relacionados ao aparecimento do CEO (ZNAOR, 2003; GILLISON, 2007). Os dados de higienização oral, hábitos sexuais, refluxo gastroesofágico, fatores dietéticos, inalação de gases e consumo de maconha não foram relatados nos prontuários, tornando impossível a análise da casuística com a literatura. 66 Quanto ao tratamento empregado, a cirurgia foi o mais utilizado (46%), seguido por radioterapia e/ou quimioterapia (4%). Não encontramos qualquer relato de tratamento em 50% dos casos, dado alarmante por nós observado. Em relação à literatura, os dados foram semelhantes quanto ao predomínio do tratamento cirúrgico (BETTENDORF et al., 2004; CARLSON e MILLER, 2006; CHENG e SCHMIDT, 2008). O tipo morfológico predominante das lesões foi o ulcerado, em 63% dos casos, também condizente com a literatura (BAGAN et al., 2010). O estádio clínico I foi o mais frequente (33%), seguido dos estádios IV (8%), III (6%) e II (4%). Novamente, a escassez de informações nos prontuários limitou uma análise mais detalhada de nossa casuística. Finalmente, com relação às profissões, predominaram aquelas mais relacionadas à exposição frequente e intensa ao sol (lavradores, pedreiros, serviços gerais, carpinteiros, ferroviários, tratorista, jardineiro, servente de pedreiro, entre outras). Muitos destes trabalhadores também estão expostos ao consumo regular de álcool e tabaco, o que eleva a possibilidade do aparecimento do CEO. As GTPases Rho são pequenas proteínas pertencentes à super família Ras, que traduzem sinais externos para dentro das células. São importantes para a regulação de um grande número de funções celulares, incluindo a motilidade, a mitose, a proliferação e a apoptose (PRICE e COLLARD, 2001; SPIERING e HODGSON, 2011). O controle da polaridade, da protrusão e da adesão durante o movimento da célula é também realizado por essas proteínas. As GTPases Rho exercem um papel pivô na progressão da fase G1 do ciclo celular, primariamente através da regulação da expressão da ciclina D1 (BURBELO et al., 2004). RhoA, Rac1 e Cdc42 são os membros da família das GTPases Rho mais caracterizadas e participam de complexas cascatas de sinalização que controlam a proliferação celular (WELSH, 2004). 67 As proteínas Rho possuem mais de 60 efetores downstream conhecidos, que determinam a evolução da ativação para uma dada proteína GTPase. Cada efetor ativado por uma GTPase determina se a ativação será relacionada à morfologia celular, à polaridade, ao tráfego vesicular ou ao controle do ciclo celular (BUSTELO et al., 2007). Os efetores downstream mais conhecidos são ROCK (maior efetor de RhoA), PKN, Rhotekin, Citron, PIP5-quinase e p140mDia, que regula a polimerização de actina (LU et al., 2009). Algumas GTPases da família Rho podem ser consideradas como atípicas. São elas RhoH, Wrch-1, Chp e RhoBTB. Essas proteínas estão envolvidas em um amplo espectro de processos biológicos (ASPENSTROM et al., 2007). Raramente seguem o esquema de resposta cíclica aos GEFs e GAPs e são reguladas positivamente pelo nível de expressão e negativamente por sua degradação. Suas funções podem ser reguladas por interações entre proteínas, envolvendo tipos de domínios não encontrados nas proteínas Rho clássicas (WENNERBERG e DER, 2004). RhoH é uma GTPase específica do sistema hematopoiético envolvida com a sinalização das células T, Wrch1 e Chp estão envolvidas com a adesão celular e a dinâmica do citoesqueleto e RhoBTBs podem ser consideradas como supressores de tumor (ASPENSTROM et al., 2007). Há mais de uma década, estudos de vários laboratórios mostraram que os membros Rho, Rac e Cdc42 da família Rho são essenciais para respostas morfogênicas e de mitoses nas células. Desde então, outras vias oncogênicas levando ao crescimento aberrante e envolvendo outras proteínas, como o Fator de Crescimento Insulínico, o Fator de Crescimento Epidérmico ou os Receptores para o Fator de Crescimento do Hepatócito mostraram-se dependentes da sinalização das GTPases Rho (GRISE et al., 2009). Para que as células tumorais adquiram comportamento invasivo é necessário que haja a quebra das adesões celulares, modificações no padrão de polarização celular, aumento da mobilidade e capacidade de remodelação da matriz extracelular (MEC). Rho A e Rac1 regulam a função de proteínas que são 68 relacionadas à promoção da mobilidade celular, ligando o citoesqueleto de actina à membrana plasmática (RIDLEY, 2006; TORKA et al., 2006). Este papel é um evento importante na evolução das neoplasias, visto que age em genes supressores de tumor dando origem a lesões altamente metastáticas. RhoA e Rac1 pode modular a degradação e remodelação da matriz extracelular através da regulação dos níveis de metaloproteinases (MMPs) de matriz que degradam a matriz extracelular, ou regulando os níveis dos seus antagonistas, inibidores teciduais de MMPs (KANG et al., 2007). Considerando-se que nenhuma mutação com perda ou ganho de função foi encontrada ainda nas GTPases Rho, os resultados dos estudos já realizados sugerem que os distúrbios da sinalização dessas proteínas no câncer possam ser causados por alterações de seus reguladores ou por regulação direta de seus níveis de expressão, resultando em uma variação de sua atividade biológica. De fato, a superexpressão e a repressão de GTPases ou de alguns efetores upstream ou downstream da sinalização de Rho tem sido associados a muitos tumores em humanos (GOMEZ DEL PULGAR et al., 2005) As GTPases Rho podem contribuir com a iniciação e progressão do câncer, incluindo a aquisição de potencial ilimitado de proliferação, sobrevivência e evasão de apoptose, invasão de tecidos e o estabelecimento de metástases. Elas estão frequentemente superexpressas em tumores e é provável que estejam relacionadas ao fenótipo invasivo das células tumorais (VEGA e RIDLEY, 2008). A aquisição de um fenótipo invasivo é um evento crucial na progressão de uma lesão localizada para uma metastática (SCHMITZ et al., 2000). Para que ocorra metástase, as células tumorais têm que cruzar limites do tecido, o que requer motilidade celular aumentada remodelando o citoesqueleto e os contatos celulares com a MEC. Vias intrínsecas e extrínsecas ativadas convergem para estimular as GTPases Rho, incluindo RhoA e Rac1, reguladores fundamentais do citoesqueleto de actina e, consequentemente, da migração celular (ETIENNEMANNEVILLE e HALL, 2002; SAHAI e MARSHALL, 2002; VEGA e RIDLEY, 69 2008). Porém, sua participação pode variar de acordo com o tipo celular e a composição da MEC (CHIOU et al., 2003). A atividade de Rac é essencial para a atividade protrusiva e movimento e a atividade de Cdc42 é requerida para o estabelecimento de polaridade durante o movimento (NOBES e HALL, 1999). Está evidente que as GTPases Rho e várias moléculas downstream assumem um papel importante na contratilidade e adesão, em circunstâncias normais. Há evidência crescente de que Rho e seu efetor ROCK estejam relacionados com invasão e metástases (SCHMITZ et al., 2000). ROCK também parece estar envolvida na proliferação celular, como mDia 1/2; porém essas proteínas também estão envolvidas com a dinâmica do citoesqueleto de actina, motilidade, adesão e morfogênese, dado ao equilíbrio de expressão de ambas (NARUMIYA et al., 2009). O ácido hialurônico (AH), um componente da matriz extracelular, é encontrado em concentrações elevadas nos tumores malignos, quando comparado com tumores benignos e tecidos normais. Em alguns tipos de tumor, o nível de sua concentração é fator preditivo de malignidade (TOOLE et al., 2002). Encontra-se frequentemente ligado a CD44, um importante receptor de superfície celular, que pode se ligar às GTPases Rho, levando à instalação de múltiplas funções. A ativação da sinalização das GTPases Rho pelo CD44 pode ser responsável por comportamentos específicos de células tumorais, ativação da transcrição, adesão da célula tumoral, crescimento, sobrevivência, migração e invasão (BOURGUIGNON, 2008). Os processos de migração e proliferação celular são regulados por GTPases Rho em outros tipos celulares, estimulados pela MEC e fatores de crescimento (NOBES e HALL, 1995; SANTOS et al., 1997; ETIENNEMANNEVILLE e HALL, 2002; AZNAR et al., 2004). Entre as GTPases Rho, Rac1 tem sido descrita como a chave reguladora para a migração celular (RIDLEY et al., 1992); entretanto, em certos tipos celulares, RhoA (SANTOS et al., 1997) e RhoC (WANG et al., 2003) também são essenciais para esse processo. 70 As GTPases Rho, principalmente RhoA, também estão envolvidas com a perda de polaridade epitelial que aparece mesmo em neoplasias benignas (VEGA e RIDLEY, 2008). A invasão de células tumorais requer uma coordenação entre adesão celular/motilidade e degradação proteolítica da matriz extracelular (NARUMIYA et al., 2009). A atividade de RhoA tem sido também associada com a formação de adesões focais e fibras de estresse, que conferem contratilidade para tracionamento do corpo celular e retração da porção traseira da célula (RAFTOPOULOU e HALL, 2004). RhoA exerce um papel importante na determinação dos níveis de p21 e p27, proteínas envolvidas com mecanismos complexos da progressão do ciclo celular (WELSH, 2004). Para pacientes com tumores sólidos, a maior ameaça à sobrevivência é a metástase e a migração celular é a etapa crucial para a sua formação. Nas células com motilidade, os lamelipódios e os filopódios podem ser observados na área de avanço da célula, enquanto a retração é vista no lado oposto. Isto se deve à reorganização do citoesqueleto (NOBES e HALL, 1999). Embora haja intercomunicação entre os membros das GTPases da família Rho, cada um deles é ativado em resposta a sinais ambientais específicos e cada um induz uma resposta particular ao citoesqueleto de actina (MACKAY e HALL, 1998). Essas intercomunicações e as diferenças nos padrões de expressão entre os membros da família Rho resultam em diferentes comportamentos nos variados tipos de câncer (KAMAI et al., 2004). Há evidência de uma ativação sequencial de Cdc42 → Rac1 → RhoA (NOBES e HALL, 1995). Entretanto, ainda faltam respostas à questão de como as GTPases Rho são reguladas. A inibição da via de sinalização das GTPases Rho está envolvida com a inibição mediada por micro-RNA-138 da migração celular e da invasão no carcinoma epidermoide de língua. Níveis reduzidos de micro-RNA-138 estão associados a um maior potencial metastático nos CEOs (JIANG et al., 2010). Em nosso laboratório, o papel das GTPases Rho tem sido avaliado por alguns autores. RhoA, RhoB, Rac1 e Cdc42 foram estudadas em cultura primária 71 de células de CEO e parecem ser importantes para a regulação das vias de transdução de sinal envolvidas na diferenciação dessas células, por meio do uso do inibidor Toxina A de Clostridium difficile (PINHEIRO, 2010). Também em cultura primária de células de CEO, demonstramos que o processo de migração é promovido pelas GTPases Rho e pelas ROCKs, seus efetores. A inibição das ROCKs reduziu significativamente a migração celular e PI 3-kinase mostrou sua participação em vias de transdução de sinal que restringem a migração dessas células de CEO (SARGENTI NETO, 2011). Demonstramos também que RhoA possivelmente participe da regulação da diferenciação celular em astrocitomas, já que ocorre uma diminuição de sua expressão com a progressão do grau de malignidade histopatológica (CARDOSO, 2011). Mais recentemente, estudando as PAKs, proteínas que participam de vias de transdução de sinal que regulam diversos processos biológicos, como proliferação e morte celular, concluímos que as PAKs ½ não participam da regulação da proliferação celular em queilite actínica e em CEO. Entretanto, as PAKs 4/5/6 estão envolvidas na regulação da morte celular em CEO (DEL NERO, 2012). Ainda em nosso laboratório, em estudo envolvendo o papel das GTPases Rho nos adenomas pleomórficos de glândulas parótidas, RhoA parece regular a diferenciação celular e RhoB, a diferenciação mesenquimal (CARBONI, 2011). Ainda em ameloblastomas, RhoA e RhoB tiveram expressão elevada em um grande número de células, principalmente as não polarizadas, podendo estar associadas a mecanismos de invasão nesses tumores (MODOLO et al., 2011). O papel de RhoA tem sido descrito tanto na promoção como na inibição da invasão. Em adenocarcinoma mamário, RhoA foi observada com expressão semelhante em relação ao tecido mamário normal (JIANG et al., 2003) e também com expressão aumentada em casos de tumores mamários avançados (FRITZ et 72 al., 1999; BURBELO et al., 2004). Uma grande elevação na expressão de RhoA também foi observada em tumores do cólon (FRITZ et al., 1999). RhoA teve expressão menor em carcinomas de células claras de ovário nos estádios precoces e maior expressão nos casos sem resposta à quimioterapia (CANET et al., 2011). Já foi caracterizada uma via de transdução de sinal envolvendo a ativação de RhoA responsável pela inibição da migração celular em glioblastoma (MALCHINKHUU et al., 2008). As proteínas oncogênicas Skp2 e Myc parecem coordenar a indução da transcrição complexa de RhoA (CHAN et al., 2010). RhoA foi envolvida na promoção da invasão e migração em linhagens TSGH de carcinoma de bexiga (CHANG et al., 2010) e em células epiteliais mamárias humanas (PILLE et al., 2005). RhoA também é requerida, tanto por células endoteliais como por células em migração, para que as últimas cruzem o endotélio vascular (WORTHYLAKE et al., 2001). RhoA já foi detectada com níveis até duas vezes do normal em 80% dos carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço (ADNANE et al., 2002). Para RhoA, foi observada diferença estatisticamente significante nas comparações entre todos os grupos de nosso trabalho (BD versus MD, BD versus PD e MD versus PD), demonstrando que a imunomarcação varia de forma diretamente proporcional à diferenciação tumoral (quanto mais diferenciada a neoplasia, maior a imunomarcação para RhoA). Portanto, RhoA, segundo nossos resultados, coincidentes com aqueles da literatura, poderá ser utilizada como um marcador de diferenciação celular no CEO. Um aspecto interessante observado em nosso trabalho foi a intensa imunomarcação para RhoA na região da membrana plasmática nas células sem lamelipódios nas margens das lesões, sugerindo seu envolvimento nos processos iniciais da invasão. RhoA e RhoB compartilham 86% da identidade de sequência de aminoácidos e mesmo assim possuem papéis diferentes na oncogênese: RhoA promove a formação, invasão e metástases (PRUITT e DER, 2001), enquanto RhoB parece exibir um comportamento supressor de tumor (CHEN et al., 2000). 73 No entanto, a expressão de RhoA, RhoB e Rac1 encontram-se diminuídas à medida que o grau de malignidade de tumores cerebrais aumenta (FORGET et al., 2002). RhoA, Rac1, Cdc42 e ROCK encontram-se com expressão aumentada e estão associadas à progressão do câncer de testículo (KAMAI et al., 2004). RhoB localiza-se primariamente nos endossomos e está envolvida com o tráfego de membrana e a sobrevivência celular (GRISE et al., 2009). RhoB é dispensável para a morte celular fisiológica, mas é importante para a apoptose induzida em células transformadas por vários tipos de terapia antineoplásica. RhoB parece ser relevante para outros estados patológicos envolvendo o estresse celular, como as respostas inflamatórias ou a lesão por reperfusão. A inativação de RhoB ou de seus efetores poderia gerar resistência a drogas ou à radioterapia em células cancerosas (PRENDERGAST, 2001). Em células de cultura e em modelos animais, RhoB antagoniza a transformação maligna, agindo como supressor de tumor. Na linhagem celular de melanoma altamente metastático B16-F10, a expressão de RhoB inibiu as metástases para o pulmão (JIANG et al., 2004). Sua superexpressão em células cancerosas de humanos resulta em inibição de transdução de sinais envolvidos na carcinogênese e na sobrevivência do tumor, assim como na indução de apoptose (CHEN et al., 2000). Baseado nesses dados foi estudada a imunoexpressão de RhoB em carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço; sua expressão mostrou-se prevalente em carcinomas in situ e em tumores bem diferenciados. A expressão de RhoB tornou-se de fraca até indetectável à medida que o tumor mostrou-se mais profundamente invasivo e menos diferenciado. Além disso, foi detectado que RhoB, presente no ambiente intranuclear em tecidos não neoplásicos, apareceu deslocado para o citoplasma no carcinoma invasivo, mostrando uma perda de sua habilidade de deslocar-se para o núcleo celular. A função de RhoB parece, portanto, estar implicada com a diferenciação celular (ADNANE et al., 2002). A expressão de RhoB também sensibiliza as células cancerígenas ao 5-fluoruracil (JIANG et al., 2004). 74 Ras regula a expressão de RhoB através de um mecanismo dependente de PI3K e Akt. O bloqueio genético e farmacológico de PI3K e Akt resulta no aumento da expressão de RhoB. Portanto, RhoB antagoniza as características oncogênicas de PI3K e Akt, diminuindo a indução de transformação, migração e invasão e induzindo à apoptose. Em modelo animal, RhoB inibe as metástases de melanoma para o pulmão (JIANG et al., 2004). Em nosso trabalho, não houve diferença estatisticamente significante para RhoB, quando comparados os grupos MD versus PD. Apesar de haver sido observada diferença estatisticamente significante entre os grupos BD versus MD e BD versus PD, a maioria dos casos, em todos os grupos, apresentou imunomarcação fraca (*). Portanto, RhoB não deve ser considerada como um marcador de diferenciação celular em CEO. Observamos que RhoB, pelos resultados obtidos, parece exercer função supressora de tumor, como descrito na literatura. Cdc42 tem um importante papel no estabelecimento da polarização inicial de células epiteliais, resultando posteriormente na formação de adesões célula a célula apropriadas (KROSCHEWSKI et al., 1999). Alguns de seus efetores agem especificamente na mediação da motilidade, enquanto outros possuem um papel importante na adesão celular. WASP e MRCK são exemplos de efetores de Cdc42 cruciais para a organização da actina e formação de filopódios, conferindo um fenótipo de motilidade (SCHMITZ et al., 2000). Os efetores de Rac e Cdc42 conhecidos como IQGAP1 e IQGAP2 parecem regular a adesão célula a célula (ERICKSON et al., 1997). Pode-se especular, portanto, que a sinalização aberrante hiperativa de Cdc42 possa facilitar o fenótipo de motilidade pela ruptura dos contatos juncionais intercelulares (SCHMITZ et al., 2000). Em nosso estudo, observamos um aumento significativo da imunomarcação de Cdc42 à medida que o tumor perde diferenciação. Como Cdc42 está relacionada à proliferação celular e à migração, já discutidas anteriormente, suspeitamos que a presença maior de Cdc42 no grupo PD indique 75 um maior fenótipo de proliferação e invasão, tornando essa proteína um potencial marcador para esses fenômenos. Algumas alterações na morfologia celular, como a reorganização do citoesqueleto de actina por Rac e Cdc42, são iniciadas quando uma célula recebe um sinal do seu ambiente, resultando em uma cascata de sinalização que leva a mudanças na expressão genética. As alterações na expressão de algumas proteínas, como as MMPs, levam a rearranjos arquiteturais essenciais para a remodelagem da MEC (CURRAN e MURRAY, 1999). Em células migratórias, Rac1 gera uma força protrusiva pela polimerização de actina localizada na região anterior da célula (voltada para a direção de migração), enquanto Cdc42 estimula a formação de filopódios (RIDLEY et al., 1992). Rac1 regula a polimerização de actina para a formação de lamelipódios (protrusão da membrana), essencial para a migração celular. O início dessa migração é caracterizado pela polimerização da actina no bordo de direção e extensão de um lamelipódio na direção do movimento (ZHUGE e XU, 2001). Em sua forma ativa, Rac1 acumula-se à frente das células em migração (JAFFE e HALL, 2005), conforme observado nas células de CEO do fronte migratório com lamelipódios evidentes em nosso estudo. Além disso, Rac1 regula a formação de contato célula-célula dependente de caderina em células epiteliais (BRAGA et al., 1997), o que entra em concordância com a intensa marcação por nós observada na região de membrana plasmática das células adjacentes de CEO. Os efeitos fisiológicos de Rac são dependentes tanto das interações entre proteínas quanto da expressão dessas proteínas e a invasão depende de uma reprogramação complexa da célula (SCHMITZ et al., 2000). Rac1 encontra-se superexpressa em vários tumores e algumas evidências indicam que a sinalização celular dependente de Rac1 é importante para a 76 transformação maligna (GOMEZ DEL PULGAR et al., 2005). Mutações no domínio efetor de Rac1 parecem aumentar a atividade da proteína e a sobrevivência dos tumores (HWANG et al., 2004). A depleção de Rac1 inibe fortemente a formação de lamelipódios, a migração celular e a invasão em células de glioblastoma SNB19 e células de carcinoma mamário (CHAN et al., 2005). Tiam1, um ativador de Rac1, induz migração celular e formação de metástases em modelo animal (MICHIELS et al., 1995). Rac1 apresenta níveis de expressão elevada em tumores de mama e cólon (FRITZ et al., 1999). Durante a metástase, as células invasoras devem atravessar barreiras tissulares compostas principalmente de colágeno tipo I. Rac1 parece mediar a ativação da metaloproteinase 2 (MMP-2), uma colagenase, em modelo in vitro, aumentando a invasão de células de fibrossarcoma HT1080 através de uma barreira de colágeno. Isto indica que a ativação de MMP-2 dependente de colágeno por Rac1 contribui para a invasão de células tumorais através da barreira de colágeno intersticial, levando a célula a assumir um fenótipo colagenolítico (ZHUGE e XU, 2001). A superexpressão de Rac1 foi identificada em 14 casos de CEO em Taiwan, uma área com alta incidência de CEO devido ao consumo de fumo de mascar de areca, rico em tabaco. A imunorreatividade para Rac1 foi significativamente elevada no número de casos de CEO (74%), quando comparados aos tecidos não neoplásicos utilizados como controle (48%). É provável que a periferia do tecido normal adjacente ao CEO possa conter alterações moleculares importantes nos estágios precoces da carcinogênese oral. Nesse mesmo trabalho, foi observada uma redução significativa da expressão de Rac1 nos tumores que recidivaram. Uma hipótese levantada seja a de que os tumores recidivados possam modular outros mecanismos vantajosos para o desenvolvimento neoplásico, que ultrapassem a importância da participação de Rac1 (LIU et al., 2004). 77 Diferentemente daquilo observado na literatura, não obtivemos imunomarcação para Rac1 nas células de CEO bem, moderadamente ou pouco diferenciadas, a não ser nas células do fronte migratório, aonde a expressão foi observada. Isto sugere que Rac1 deva participar realmente dos fenômenos de migração e invasão celular tumoral, não estando diretamente relacionada à diferenciação celular. RhoC não foi objeto de nosso estudo, mas sua superexpressão parece levar a um aumento da expressão de fatores angiogênicos, aumentando a vascularização do tumor e a probabilidade de entrada de células tumorais na corrente sanguínea (VAN GOLEN et al., 2000). Rho C é encontrada com níveis elevados nos carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço e tem sido proposta como marcador de mau prognóstico, por estar relacionada com maior incidência de metástases linfonodais (KLEER et al., 2006). Resultados semelhantes foram observados em linhagem celular de melanoma A375P, adenocarcinomas pancreáticos e tumores renais, confirmando a hipótese de que RhoC é um gene que afeta um processo essencial para a formação de metástases (HALL, 1991; SUWA et al., 1998; CLARK et al., 2000). A molécula GDI (Guanine Nucleotide Dissociation Inhibitors), responsável pela manutenção de RhoGDP em estado inativo no citoplasma, também demonstrou expressão aberrante em adenocarcinomas mamários (JIANG et al., 2003). Muitas GEFs participam também da ativação oncogênica das GTPases Rho e induzem à malignidade frequentemente (BOURGUIGNON, 2008). As proteínas Vav (Vav1, Vav2 e Vav3) são GEFs conhecidas e a superexpressão de Vav2 foi recentemente relacionada a linhagens de células mais invasivas. A ativação de Vav2 parece modular a invasão celular através da regulação específica da atividade de Rac1 e Cdc42 no CEO (LAI et al., 2008). As Vavs estão implicadas com várias neoplasias malignas como neuroblastoma, melanoma, tumores pancreáticos e leucemias (KATZAV, 2007). Parece que a regulação afinada das GTPases Rho e de suas moléculas de interação é necessária para a manutenção de um estado saudável da célula e 78 seus efeitos são determinados por vários fatores como a sua concentração, tipo celular, estímulo, substrato, localização e tempo (SCHMITZ et al., 2000). Já foram publicados trabalhos considerando os inibidores de Ras como potenciais drogas antineoplásicas (KLOOG e COX, 2004). Recentemente foram realizadas pesquisas de mecanismos de interferência nas funções das GTPases Rho, divididos em quatro fases: na prevenção do correto direcionamento da proteína Rho ao nível da membrana celular; na inibição da atuação dos GEFs, impedindo a aquisição de uma forma ativa; no impedimento da formação ou na ruptura do complexo Rho-efetor e na inibição da atividade da proteína efetora (CHARDIN e MCCORMICK, 1999; DU e PRENDERGAST, 1999; VASTRIK et al., 1999; LIU et al., 2000). Algumas estratégias foram propostas para a diminuição da atividade específica das GTPases Rho em células tumorais, ou tendo as próprias proteínas Rho como alvo, com resultados promissores. Para esse objetivo foram utilizados anticorpos neutralizadores, proteínas dominantes negativas, toxinas bacterianas, oligonucleotídeos ou a interferência de RNA (WANG et al., 2003; KLOOG e COX, 2004; WALKER e OLSON, 2005; FRITZ e KAINA, 2006; LU et al., 2009). Um caminho mais promissor para a descoberta de drogas antineoplásicas pode ser a geração de medicamentos com eficácia inibitória contra várias proteínas Ras, particularmente K-Ras e N-Ras. Os bifosfonatos podem ter um potencial terapêutico interessante em virtude de sua eficiência em modelos animais contra o câncer ósseo, reduzindo o crescimento tumoral, a reabsorção óssea e a dor oncológica (WALKER et al., 2002). A utilização de estatinas como os inibidores de farnesiltransferase, geranilgeraniltransferase (GGT1) e HMG-CoA-redutase tem sido estudada quanto à sua aplicabilidade no tratamento do câncer (GIBBS et al., 1996; DU et al., 1999). Com relação ao CEO, um estudo demonstrou que GGT1 suprimiu a proliferação celular e induziu a suspensão do ciclo celular em G1. Houve um aumento aparente na expressão e uma redução na localização na membrana de 79 RhoA, demonstrando que GGT1 pode ser útil como inibidor de invasão e de metástases em casos de CEO (HAMADA et al., 2011). As GTPases Rho afetam a suscetibilidade celular às drogas antineoplásicas e à irradiação ionizante (FRITZ e KAINA, 2006). A correlação entre a superexpressão de GTPases Rho e a evolução clínica levanta a possibilidade de que seus níveis de expressão possam ser úteis como indicadores prognósticos. O que importa agora é determinar os caminhos cruciais que ligam as proteínas Rho ao câncer. Espera-se que novos trabalhos utilizando modelos in vivo de progressão tumoral e análises mais detalhadas da expressão das GTPases Rho em tumores humanos possa responder várias questões (VEGA e RIDLEY, 2008). A confirmação pela biologia molecular do diagnóstico histopatológico elevaria a qualidade da abordagem terapêutica após o tratamento cirúrgico. A determinação dos níveis de proteínas Rho nos espécimes de biopsia poderia aumentar a acurácia do diagnóstico para pacientes em quadros limítrofes da doença, assim como facilitaria o acompanhamento clínico (FORGET et al., 2002). Então, quais são os mecanismos de desregulação das GTPases? Como a expressão das GTPases Rho afeta a heterogeneidade do CEO? Ainda são necessários aprimoramentos na monitorização da atividade das GTPases Rho em pequenas amostras de tecido, como aquelas obtidas de biopsias. Em síntese, os resultados deste estudo fornecem uma contribuição importante para a compreensão das vias de transdução de sinal reguladoras de processos biológicos envolvidos na patogênese do carcinoma epidermoide oral. As proteínas RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1 parecem estar envolvidas na regulação de processos biológicos que ocorrem em todos os graus histopatológicos do CEO. 80 7. CONCLUSÕES 81 O padrão de expressão das proteínas RhoA, RhoB, Cdc42 e Rac1 sugere que as GTPases Rho podem participar da regulação de processos biológicos que ocorrem em todos os graus histopatológicos. A casuística foi adequada para a realização de estudo de Carcinoma epidermoide oral.. A GTPase RhoA pode estar envolvida na regulação da diferenciação celular em CEO; quanto mais diferenciada a lesão, maior a expressão de RhoA. A GTPase RhoB parece não estar envolvida na regulação da diferenciação celular em CEO; quanto menos diferenciada a lesão, maior a expressão de RhoB. A GTPase Cdc42 parece regular a proliferação celular em CEO; quanto menos diferenciada a lesão e maior o potencial de proliferação, maior a expressão de Cdc42. A GTPase Rac1 parece não participar da regulação da diferenciação celular. No entanto, as células com lamelipódios evidentes no fronte migratório superexpressam Rac1, indicando sua participação na regulação da migração celular. 82 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83 ABOU-ELHAMD, K. E.; HABIB, T. N. The flow cytometric analysis of premalignant and malignant lesions in head and neck squamous cell carcinoma. Oral Oncol, v. 43, n. 4, p. 366-72, Apr 2007. ABRAHAM, M. T.; KURIAKOSE, M. A.; SACKS, P. G.; YEE, H.; CHIRIBOGA, L.; BEARER, E. 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Caracterização dos casos estudados diagnosticados com carcinoma epidermoide oral no hospital de clínicas da UFTM no período de 1984 a 2007. Gênero Idade Cor Profissão 1 2 3 4 5 M F M M M 79 55 30 57 70 B B B B B lavrador doméstica servente mecânico aposentdo 6 7 M M 88 81 B B 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 M M M M M M M M F F F M M 35 62 65 51 35 64 54 46 74 NI 79 37 41 B NI B B B B NB B B NI B B NB ferroviário serviços gerais carpineiro NI lavrador lavrador lavrador lavrador encanador lavrador doméstica NI do lar NI vendedor 21 M 56 B lavrador 22 23 24 F M M 82 59 29 B B B do lar lavrador lavrador Região Topográfica assoalho da boca lábio lábio língua gengiva e assoalho da boca lábio lábio lábio lábio lábio lábio lábio lábio gengiva lábio lábio língua lábio lábio lábio assoalho da boca e língua língua lábio lábio Tipo de lesão Diagnóstico Tabagismo Etilismo Tratamento vegetante ulcerada ulcerada ulcerada vegetante BD BD BD BD BD sim sim NI sim sim sim não NI sim sim NI cirurgia cirurgia NI NI Sobrevida > 5 anos NI sim NI NI não ulcerada nóduloulcerada ulcerada ulcerada vegetante ulcerada ulcerada vegetante ulcerada ulcerada ulcerada vegetante vegetante ulcerada ulceradavegetante ulcerada BD BD sim NI não NI cirurgia cirurgia sim NI BD BD BD BD BD BD BD BD BD BD BD BD BD sim NI não sim NI sim sim sim NI NI sim NI NI sim NI não sim NI sim sim NI NI NI não NI NI cirurgia cirurgia cirurgia cirurgia cirurgia NI NI cirurgia cirurgia NI cirurgia NI cirurgia NI NI sim sim NI NI NI NI NI BD sim sim radioterapia NI ulcerada ulcerada ulceradavegetante BD BD BD sim sim sim sim não sim NI cirurgia cirurgia NI sim sim sim NI NI 120 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 F F F M M M M F F M M M F F 69 73 41 49 57 68 66 60 47 70 58 44 43 67 NB B NB NB B NB B B B B B B B B NI do lar doméstica lavrador sapateiro aposentado lavrador do lar do lar lavrador porteiro carpineiro do lar do lar gengiva lábio língua assoalho da boca lábio língua lábio palato duro lábio palato mole lábio gengiva gengiva palato duro 39 40 41 42 M M M M 51 71 53 43 B B B B militar NI lavrador NI assoalho da boca lábio lábio assoalho da boca 43 44 M M 48 52 NB B ser gerais aux.escritório gengiva gengiva 45 46 47 48 49 50 51 M M M M M M F 57 92 54 53 85 49 82 B NB B NB NB B B lavrador aposentado ferroviário tratorista lavrador agricultor do lar língua assoalho da boca lábio língua mucosa oral lábio gengiva 52 53 M M 49 32 B B lavrador autônomo lábio lábio ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada NI NI ulcerada nodular ulcerada ulcerada NI ulcerada ulcerovegetante NI ulcerada ulcerada ulceradavegetante vegetante ulceradavegetante vegetante NI ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada ulceradavegetante ulcerada ulcerada MD MD MD MD MD MD MD MD MD MD MD MD MD MD não não sim sim não NI não NI sim sim sim sim NI sim não não não sim não NI sim NI sim sim não sim NI NI cirurgia cirurgia cirurgia cirurgia/quimioterapia cirurgia NI cirurgia NI cirurgia NI cirurgia NI radio/quimio NI NI NI NI NI sim não sim NI sim NI NI não NI NI MD MD MD MD NI sim sim sim NI sim sim sim NI cirurgia cirurgia NI NI NI NI NI MD MD sim NI não NI cirurgia NI NI não MD MD MD MD MD MD MD NI NI sim sim sim NI sim NI NI NI sim não NI NI NI NI cirurgia NI NI NI cirurgia NI não sim NI não NI não MD MD NI não NI NI NI cirurgia NI NI 121 54 55 56 57 58 59 60 61 M M F F M F F M 42 39 55 73 45 58 60 51 NB NB NB B B B B B 62 63 M M 71 76 64 65 66 67 68 69 M F M M F M 70 71 72 73 M F M M 74 F 75 M 76 M 77 M 78 M 79 M 80 F 81 M B - branco língua gengiva gengiva gengiva mucosa oral lábio mucosa oral palato mole NI ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada NI ulcerada MD MD MD MD MD MD MD MD sim sim sim sim NI sim NI sim sim NI NI sim NI NI NI sim NI NI NI cirurgia NI cirurgia NI cirurgia NI não não NI NI sim NI NI B B pedreiro pedreiro do lar do lar gráfico técnico textil do lar servidor público lavrador lavrador lábio lábio MD MD NI sim NI sim cirurgia NI NI sim 84 85 60 65 74 45 B B B NB B B NIRH do lar aposentado jardineiro doméstica pedreiro lábio lábio lábio lábio lábio palato duro e mole MD MD MD MD MD PD NI sim não NI sim sim NI não sim NI sim sim NI NI cirurgia NI cirurgia NI NI NI sim NI NI NI 66 57 75 74 B B B B NI do lar lavrador motorista ulcerada ulceradavegetante ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada nodular ulceradavegetante ulcerada ulcerada ulcerada ulcerada PD PD PD PD sim NI sim sim sim NI NI sim NI NI radioterapia NI não NI NI NI PD PD PD PD PD PD PD PD NI sim sim sim sim sim não sim NI sim NI sim NI sim NI sim NI cirurgia cirurgia NI NI NI cirurgia NI NI NI NI NI não não sim sim assoalho da boca gengiva língua e gengiva assoalho, gengiva e língua 64 B do lar língua NI 74 NB pedreiro mucosa jugal vegetante 64 B aposentado língua NI 54 B diversos palato mole vegetante 48 B NI língua (sublingual) ulcerada 59 NB serralheiro mucosa jugal ulcerada 53 B doméstica lábio ulcerada 52 B pintor assoalho da boca nodular NB - não-branco NI - não informado nos prontuários 122