AS RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS: DA PRIMEIRA REPÚBLICA À UNIÃO EUROPEIA (1910-1997)
Com a nomeação de Marcelo Caetano para Presidente do Conselho de Ministros, em Setembro de 1968, deu-se, porém, um novo impulso às relações peninsulares. O novo chefe de governo português visita Madrid em Maio de 1970.
Nessa ocasião assina o 3.º Protocolo Adicional ao Tratado de 1939. Esse documento estabelecia consultas periódicas entre os dois países, alargando a colaboração bilateral ao plano técnico e económico, referindo, ainda, a necessidade de
estabelecer condições para uma cooperação política entre os dois países.
Os contactos entre governantes tornam-se a partir daí mais frequentes, crescem as relações comerciais, mas persistem diferenças assinaláveis no plano
internacional. A Espanha continuava a abrir-se ao exterior, nomeadamente ao
Leste europeu; Portugal, mercê da guerra em África, via-se cada vez mais isolado internacionalmente. A situação manter-se-ia assim até à revolução de 25
de Abril de 1974. A Revolução dos Cravos, a mais pacífica de todas as revoluções portuguesas contemporâneas, poria fim ao regime do Estado Novo e ao
seu isolamento internacional.
Em Espanha foi grande o impacto da revolução. No dia seguinte aos acontecimentos de Lisboa o Conselho de Ministros do governo espanhol, presidido
por Franco, concluía “que o facto teria repercussões negativas para Espanha”85,
o que não obstou a que no dia 29 de Abril reconhecesse a Junta de Salvação
Nacional.
No período revolucionário as relações entre ambos os países foram alvo das
maiores cautelas. Segundo Melo Antunes, “houve a preocupação de não criar
em Espanha a ideia de que pretendíamos exportar a Revolução (...) e fazer ver
aos espanhóis que, inclusivamente com a Revolução, não devia haver uma
mudança nas relações políticas entre os dois povos”86.
Durante o ano de 1974 foram intensos os contactos diplomáticos entre
Madrid e Lisboa, espelhando a normalidade das relações entre os dois países.
No entanto, a viragem à esquerda do regime português após o 11 de Março de
1975 provocou um novo clima de tensão.
Grupos extremistas espanhóis, como a ETA e a FRAP, movimentavam-se à
vontade no território português onde tinham contactos privilegiados com partidos e organizações da extrema-esquerda; o mesmo acontecia em Espanha com
elementos contra-revolucionários do ELP e do MDLP.
Embora o Governo espanhol negasse qualquer apoio à contra-revolução
portuguesa não restam dúvidas sobre o comprometimento do regime franquista
com essas forças87.
A referida viragem à esquerda verificada em Portugal no dia 11 de Março
não é certamente alheia, como afirma Medeiros Ferreira, às “movimentações
de tropas espanholas na zona de Badajoz, ou da passagem de avantajados meios
militares norte-americanos pelas bases sediadas em território espanhol, como a
de Rioja”88. Medeiros Ferreira (que foi ministro dos Negócios Estrangeiros do
I Governo Constitucional89) afirmaria mais tarde que (embora não os pudesse
divulgar) dispunha “de testemunhos” que confirmavam “como uma eventualidade séria a intervenção militar de Espanha em Portugal nesse momento”90.
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