O texto bíblico está distante de nós: No tempo: milhares de anos atrás No espaço: geograficamente, milhares de quilômetros nos separam, Na língua: foi escrito nas línguas hebraica, grega e aramaica. Na cultura: a fé bíblica se expressa numa forma diferente da nossa. Noção de família De um modo geral: grupo consanguíneo, pessoas pertencentes a uma mesma família. Posteriormente família é mais do que a reunião dos que vivem sob os mesmos laços de consanguinidade, mas por aqueles que habitam um mesmo espaço. Conceitos Bet’av (casa paterna): a mulher, os filhos casados e suas esposas e filhos(as), bem como outros tipos de “agregados” como forasteiros que se achegavam em busca de proteção. Mispahah (grande família): trata-se de um grupo maior com função social e política muito forte. Família Matriarcado ou patriarcado? Determina o parentesco (os filhos pertencem ao grupo social da mãe ou do pai); Jz 14 (Sansão em Timna) Gn 2.24 “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-os dois uma só carne". Função no grupo familiar Papel dos homens: gerenciar a casa. proteger e Executar a lei do levirato e a função de go’el. Lei do levirato Levirato: Lei israelita que consistia em um parente suscitar filhos ao homem que tivesse morrido antes de deixar herdeiros(Judá e Tamar). go’el Trata-se do go’el, em síntese, o protetor. Esta função está regulamentada no capitulo 25 de Levítico. Mais que o protetor, go’el era um resgatador de bens e pessoas para que a pobreza não tomasse contra dos(as) filhos(as) de Israel. Ele deveria intervir no caso de um israelita ser vendido por causa de dívidas. Cabia-lhe o privilégio de comprá-lo. A história de Ruth ilustra muito bem o significado da função do go’el visto que além de resgatador de propriedade, Boáz se torna também aquele que cumpre o preceito do levirato - dar filhos ao morto que não deixou herdeiros. Além de resgatador do patrimônio e propiciador de herdeiros ao falecido, ao go’el também cabia o dever da vingança no caso de derramamento de sangue. Esta, sem dúvida, era a função mais espinhosa para o go’el porque implicava matar quem houvesse matado o seu protegido. Papel das mulheres: elas eram genitoras; responsável pela educação dos filhos e filhas; pertencia ao marido. A mulher tinha muito pouca consideração no contexto da família israelita; além de propriedade do “marido”, era humilhada na maior parte de sua vida. O casamento levava muito em consideração a responsabilidade com a procriação; neste contexto, o número de filhos era fator de bênção de Yahweh. A mulher dava o nome para os filhos e filhas. É importante ressaltar que o nome definia a essência de cada pessoa – o nome queria dizer o que se esperava, o sentido que se tinha daquela pessoa que nascia. Os filhos: até os 12 anos era educado pela mãe e depois recebia o conhecimento de um ofício pelo pai. Ditado rabínico: “Quem não ensina a seu filho um oficio útil, o cria para ser ladrão” As filhas: eram tratadas de modo diferenciado, pois permanecia sempre ao lado da mãe, e como ela era relegada a uma condição inferior. Família no período pré-monarquico A “família formava um grupo solidário. Oferecia a seus membros segurança, proteção jurídica e sustento. Essa coesão estreita expressava-se também em relação a terceiros: a família era responsável coletivamente por erros cometidos por cada um de seus membros, especialmente pelo chefe da família”. No início o homem poderia ter outra esposa ou concubina somente se a sua mulher fosse estéril. Posteriormente foi aceito a questão da poligamia. As genealogias são listadas pela linha paterna. Marido é o senhor da esposa. Pai tem autoridade total sobre os filhos e filhas. Ter muitos filhos é considerado bênção. No Genesis Deus ordena a mulher e ao homem: Crescei e multiplicai-vos (Gn 1.28) Quando Deus escolhe Abraão ele promete: uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar (Gn 22.17); Colocar uma criança no mundo a partir de então é associado ao cumprimento de uma promessa. Família no período monárquico O rei tinha o direito de tirar, a qualquer tempo, os filhos e filhas do trabalho da família. Havia total controle sobre as propriedades das famílias. O novo regime de governo teria pleno controle sobre a terra e sua produção (1Rs 21.13). O rei era um autêntico tirano sobre as famílias, requisitando e recrutando forças segundo suas necessidade. Obtendo o direito de interferir na vida econômica da família o rei abre a possibilidade para controlar o sistema religioso. O rei passou a nomear profissionalmente lideres políticos e religiosos. Com isso, a nação, perdeu o senso de vocação divina e o sentido amoroso do pai e da mãe na esfera do governo. Esta ausência leva o povo carente a evocar a Deus com Pai (Is 64.8) e sentir-se como o filho diante de Deus. Família no período pós-exílico Crescente individualismo – Anteriormente a proposta mais desejada no Antigo Testamento, é aquela segundo a qual três a quatro gerações ligadas pelos laços de sangue, viviam, produziam e alimentavam-se juntas. Com a dispersão para varias localidades, trabalho forçado, abandono da propriedade, ausência do templo e a consequente convivência com outras culturas, a antiga pratica familiar foi entrando em crise. Por mais estranho que pareça a família (pai, mãe, filhos e filhas) cresceu em importância, mas perdeu a unidade em relação ao clã (família estendida até a quarta geração). Sendo assim, o clã ou a “grande família” – o grupo de parentesco consanguíneo – foi dando lugar a um novo tipo de parentesco. Um exemplo evidente desse problema está em Rt 4.1-10 e Dt 25.5- 10 onde os textos mostram que a obrigatoriedade de acolher a viúva, de um dos membros do clã, foi relaxada.