Trabalho 494 5 IMPLANTAÇÃO DO PROTOCOLO DE ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO PARA URGENCIAS OBSTÉTRICAS: UM RELATO DE EXPERIENCIA Luciane Alves Ribeiro¹ Analu Barreto, Isadora Paim, Isis Barreto, Keliany Sena² INTRODUÇÃO: Acolher significa receber, recepcionar e, aceitar o outro como sujeito de direitos e desejos e como co-responsável pela produção da saúde, tanto no âmbito da atenção individual como do ponto de vista coletivo. Envolve várias relações, competências profissionais e condições ambientais biofísicas e psicossociais favoráveis (INOJOSA, 2005). O Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) é um marcador que permite a garantia de acesso, e concretização do principio da equidade, pois possibilita a identificação das prioridades para atendimento. OBJETIVO: Descrever a experiência da construção do projeto e implantação de plano piloto para utilização do ACCR (acolhimento com classificação de risco) para urgências obstétricas em uma maternidade pública de Feira de Santana, vivenciados por discentes do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana, e docente facilitador da disciplina Estágio Supervisionado II. METODOLOGIA: O modelo usado como estratégia de ensino-aprendizado permitiu às autoras vivenciar momentos de integração da gestão do cuidado específico e gestão pública de serviços, favorecendo uma melhor reflexão sobre os problemas apresentados e desenvolvimento da escuta qualificada. RESULTADOS: Evidenciou-se uma melhor sistematização da assistência prestada e fortalecimento do vínculo entre ensino-serviço-sociedade. A construção do projeto para a implantação do ACCR possibilitou a ampliação do olhar para a humanização da assistência e funcionamento de todo um serviço. CONCLUSÃO: O acolhimento deve ser entendido como um conjunto de ações de atenção e gestão que favoreçam uma relação de confiança e compromisso entre equipes e serviços. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa Humanização do Parto: Humanização no pré-natal e nascimento. Brasília, 2002; BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política 4137 Trabalho 494 6 Nacional de Humanização. Humanizasus: documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008; INOJOSA, R. M. Acolhimento: a qualificação do encontro entre profissionais de saúde e usuários. Trabalho apresentado ao X Congresso Internacional Del CLAD sobre La Reforma Del Estado y de La Administrassem Pública, Santiago, Chile, p. 18-21, out., 2005. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/OS/inojosa_saude.pdf> Acesso em: 22 Nov 2010. DESCRITORES: Saúde da Mulher, Humanização da Assistência, Acolhimento, Educação em Saúde. ¹ Enfermeira Especialista em Saúde da Família e Enfermagem do Trabalho. Enfermeira da Fundação Hospitalar de Feira de Santana. Professora Substituta do Departamento de Saúde da Universidade Estadual de Feira de Santana. Mestranda em Saúde Coletiva. ² Estudantes do 9° semestre de enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana, em estágio no Centro Obstétrico e UTI neonatal do Hospital Inácia Pinto dos Santos, em Feira de Santana-Ba. CATEGORIA TEMÁTICA / SUBTEMA: Humanização / Das relações com o usuário. 4138 Trabalho 494 7 INTRODUÇÃO: ___________ Durante o Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana, se oferta no nono semestre a disciplina Estágio Supervisionado II da área de Gestão Pública que possui três eixos norteadores, sendo um deles a humanização da assistência, neste sentido a referida disciplina possui como um dos métodos de avaliação a construção de projeto de intervenção em serviço pelos discentes da disciplina. Ao realizar a observação das condições de acolhimento às usuárias do Hospital Inácia Pinto dos Santos (HIPS) realizada pelas enfermeirandas 2010.2 da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) durante os meses de setembro e outubro de 2010, percebeu-se a necessidade de implantação de um protocolo que aborde questões relacionadas à Humanização da assistência e a humanização do parto e nascimento. Assim, propusemos a realização de um trabalho de acordo com a proposta do PNH, utilizando o acolhimento com classificação de risco (ACCR) para prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização. Acolher significa receber, recepcionar e, aceitar o outro como sujeito de direitos e desejos e como co-responsável pela produção da saúde, tanto no âmbito da atenção individual como do ponto de vista coletivo. Envolve várias relações, competências profissionais e condições ambientais biofísicas e psicossociais favoráveis (INOJOSA, 2005). O Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) é um marcador que permite a garantia de acesso, e concretização do principio da equidade, pois possibilita a identificação das prioridades para atendimento, ou seja, atender segundo a necessidade de saúde/ gravidade/ risco ou vulnerabilidade de cada usuário. Avaliar riscos e vulnerabilidade implica em estar atento tanto ao grau de sofrimento físico quanto psíquico (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE, 2009). A implantação do ACCR no HIPS irá contribuir para a melhoria da qualidade da assistência prestada, priorizando usuárias de acordo com sua necessidade de intervenção. 4139 Trabalho 494 8 Acreditamos que a implantação de um Protocolo para o Acolhimento com Classificação de Risco contribuirá significativamente para a melhoria da qualidade da assistência prestada às usuárias desta instituição, bem como aperfeiçoar o trabalho da equipe de saúde, promovendo uma melhor integração da equipe. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Promover a implantação de um Protocolo para o Acolhimento com Classificação de Risco no Hospital Inácia Pinto dos Santos, em consonância com a PNH, em 2010. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Subsidiar a prática profissional no que se refere ao ACCR; Estabelecer diretrizes práticas para o ACCR. Assegurar uma assistência com redução de danos e agravos a clientela do HIPS Promover a Humanização da assistência obstétrica e neonatal REVISÃO DE LITERATURA ________________________ A Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada em 2003, como fruto de debates entre técnicos, gestores e profissionais de saúde comprometidos em fazer com que avancem os princípios do SUS, como o acesso universal, a integralidade da atenção e equidade na gestão, tudo de acordo com a necessidade da população brasileira. Segundo Pistelli, Silva e Vieira (2005), a PNH destaca o aspecto subjetivo que constitui qualquer ato de cuidado, sendo uma política que não separa atenção e gestão, alterando o modo tradicional com que habitualmente se constroem as relações entre as instâncias gestoras do SUS, já que ela se faz transversalmente, num trabalho conjunto com outras áreas e outras políticas. A PNH se estrutura a partir de diretrizes, as quais são entendidas como orientações gerais de determinada política. O acolhimento é considerado como uma das diretrizes de maior relevância da PNH. Segundo Brasil (2004), o 4140 Trabalho 494 9 acolhimento define-se como um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas aos usuários. Implicam também em prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização, orientando o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde para a continuidade da assistência e estabelecendo articulações com esses serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos. Por dispositivos entende-se a atualização das diretrizes de uma política em arranjos de processos de trabalho. Segundo Brasil (2008), na PNH, foram desenvolvidos vários dispositivos que são postos a funcionar nas práticas de produção de saúde, envolvendo coletivos e visando promover mudanças nos modelos de atenção e de gestão, sendo o Acolhimento com Classificação de Risco um dos mais importantes. De acordo com Protocolo da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (2009), o Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) é um dispositivo técnico-assistencial que permite, alem da garantia de acesso, concretizar o princípio da equidade, pois possibilita a identificação das prioridades para atendimento, ou seja, atender segundo a necessidade de saúde de cada usuário. Avaliar riscos e vulnerabilidade implica em estar atento tanto ao grau de sofrimento físico quanto psíquico, pois muitas vezes o usuário que chega andando, sem sinais visíveis de problemas físicos, mas muito angustiado, pode estar mais necessitado de atendimento e com maior grau de risco e vulnerabilidade. Segundo o mesmo autor, o ACCR permite refletir e mudar os modos de operar a assistência, pois questiona a clínica no trabalho em saúde, os modelos de atenção e gestão e o acesso aos serviços. No entanto, não se pode enfocar apenas a avaliação de risco, pois se perde potência de ação de saúde. (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2009) A tecnologia de Avaliação com Classificação de Risco pressupõe a determinação de agilidade no atendimento a partir da análise, sob a óptica de protocolo pré-estabelecido, do grau de necessidade do usuário, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e não na ordem de chegada. Desta 4141 Trabalho 494 10 forma há uma análise (Avaliação) e uma ordenação (Classificação) da necessidade, distanciando-se do conceito tradicional de triagem e suas práticas de exclusão, já que todos serão atendidos. Estas duas tecnologias, Acolhimento e Avaliação/Classificação de Risco, portanto, têm objetivos diferentes, mas complementares, podendo, dada a singularidade dos serviços, coexistirem ou funcionarem separadamente no contexto físico, mas jamais díspares no processo de trabalho. (BRASIL, 2004, p. 16-17) O termo “humanização” tem diferentes sentidos. Quando se fala em humanização da assistência ao parto não se pretende propor uma forma “correta” de humanização, mas sim apresentar uma proposta de mudança nas práticas de atendimento que leve em conta os direitos das mulheres a uma maternidade segura e prazerosa. Nesse sentido, de acordo com a Rede Nacional Feminista de Saúde (2002), a humanização do parto refere-se ao respeito e à promoção dos direitos de mulheres e crianças a uma assistência baseada na evidência científica da segurança e eficácia, e não na conveniência de instituições ou profissionais. O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) foram instituídos pelo Ministério da Saúde, subsidiado nas análises das necessidades de atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à mãe no período pósparto. Seu objetivo principal é assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania. (BRASIL, 2002) De acordo com Tornquist (2002), trabalhar o ACCR aliado ao atendimento obstétrico justifica-se pelo fato de se entender que o modelo de atenção obstétrica atual permanece utilizando práticas prejudiciais à saúde da mulher e do bebê. A adoção de práticas humanizadoras é fundamental para garantir uma atenção integral à mulher. A estratégia de implantação da sistemática do ACCR possibilita abrir processos de reflexão e aprendizado institucional de modo à re-significar as práticas assistenciais e construir novos sentidos e valores, avançando em ações humanizadas e compartilhadas, pois a produção de saúde é um trabalho coletivo e cooperativo. Possibilita a ampliação da resolutividade ao incorporar critérios de avaliação de riscos, que levam em conta toda a complexidade dos fenômenos 4142 Trabalho 494 11 saúde/doença, o grau de sofrimento dos usuários e seus familiares, a priorização da atenção no tempo, diminuindo o número de mortes evitáveis, sequelas e internações. É uma tecnologia capaz de acolher a mulher no ciclo gravídico puerperal, garantindo um melhor acesso aos serviços de urgência/emergência nos hospitais e um desafio para a construção de projeto de redes aliadas de defesa da vida. (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2009) Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, foram firmadas como princípios do vigente sistema de saúde a universalidade, a integralidade e a eqüidade, que vêem englobar como dimensões: a prevenção, o cuidado, a proteção, o tratamento, a recuperação, a promoção, enfim, produção de saúde. Da mesma forma, muitos são os desafios que passamos a enfrentar quando estamos lidando com a defesa da vida, com a garantia do direito à saúde. Apesar dos avanços ocorridos desde sua criação, o SUS ainda enfrenta grandes desafios. A Política Nacional de Humanização (PNH), instituída pelo Ministério da Saúde em 2003, procura, dentro desse contexto, efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. Segundo Brasil (2008), a humanização é vista não como programa, mas como política pública que atravessa as diferentes ações e instâncias gestoras do SUS. Assim, entendemos humanização do SUS como: - Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; - Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos; - Aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos; - Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; - Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde; 4143 Trabalho 494 12 - Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, raça/cor, origem, gênero e orientação sexual. Brasil (2009) aponta o Acolhimento como uma das diretrizes da PNH. Segundo o autor, o acolhimento como postura e prática nas ações de atenção e gestão favorece uma relação de confiança e compromisso entre equipes e serviços. Todos os profissionais de saúde fazem acolhimento. Entretanto, as portas de entrada dos serviços de saúde (Pronto-Socorro, Ambulatório de Especialidades, Centro de Saúde) podem demandar a necessidade de um grupo preparado para promover o primeiro contato com o usuário. Dessa forma, a Classificação de Risco deve ser um instrumento para melhor organizar o fluxo de pacientes que procuram as portas de entrada de urgência/emergência, gerando um atendimento resolutivo e humanizados. Reflete-se numa postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário que inclua sua cultura, saberes e capacidade de avaliar riscos. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO ________________________ O Hospital Inácia Pinto dos Santos - conhecido popularmente como o Hospital da Mulher, foi idealizado pelo médico Colbert Martins na década de 1980 por ocasião do seu primeiro mandato a frente da Prefeitura de Feira de Santana, vindo a ser concluído no ano de 1992, quando o mesmo foi disponibilizado para atender a demanda da clientela feminina de Feira de Santana e região circunvizinha. Tem como proposta de missão assistir a mulher no ciclo-grávido puerperal e ao seu RN (recém nascido) dentro da instituição de forma gratuita e com qualidade de assistência e humanização. Hoje funciona como hospital de referência para outros municípios sempre tentando manter a filosofia original dos seus serviços apesar das dificuldades encontradas ao longo da sua história. 4144 Trabalho 494 13 No ano de 1995, conquistou o título de hospital “Amigo da Criança” concedido pelo UNICEF, é o único no município a realizar a atenção ao parto de forma mais humanizada com instalações adequadas (camas de PPP (pré - parto e parto)) e vêm tentando ampliar suas instalações visando sempre à oferta de serviços públicos com qualidade. Possui ainda laboratório diagnóstico, e um ambulatório que atende a comunidade referenciada, a demanda interna e a demanda espontânea, nas clínicas de: cirurgia de angiologia, geral e proctologia, endocrinologia, psicologia e imunização funcionando em horário administrativo em dias úteis. Como todo hospital e maternidade, este funciona nas 24 horas de forma ininterrupta e contamos sempre com um quadro de funcionários fixo da instituição, concursados desde o ano de 1994 no regime estatutário, e com funcionários terceirizados cooperados ou celetistas. Ainda contamos com uma firma de prestação de serviços médicos licitada a cada dois ou três anos pela Prefeitura Municipal de Feira de Santana (PMFS) para execução das ações de obstetrícia, neonatologia e anestesiologia na instituição a qual tem sua sede/escritório, localizado em outro espaço geográfico, anexo ao hospital. METODOLOGIA ________________________ PROPOSTA DE INTERVENÇÃO O modelo usado como estratégia de ensino-aprendizado permitiu às autoras vivenciar momentos de integração da gestão do cuidado específico e gestão pública de serviços, favorecendo uma melhor reflexão sobre os problemas apresentados e desenvolvimento da escuta qualificada. Diante do que foi exposto, é proposta a implantação do acolhimento com classificação de risco no HIPS. Para colocar este projeto em prática, é necessário lançar mão de algumas estratégias como a sensibilização dos gestores e da equipe de profissionais com apresentação do projeto através de uma oficina, na qual serão mostrados também os benefícios do acolhimento com classificação de risco para as usuárias e para os profissionais envolvidos no atendimento. 4145 Trabalho 494 14 É de extrema importância que os profissionais se envolvam com a proposta para que ela seja implantada e para que tenha continuidade sem prejuízos à assistência já prestada. Além disso, é necessária a disponibilidade de recursos materiais, estruturais e humanos. BENEFÍCIOS: Para as pacientes • Diminuição do tempo de espera para os casos agudos e os que demandam urgência • Informação sobre o tempo de espera aos usuários e familiares • Melhoria da qualidade da assistência prestada • Co-gestão do cuidado • Alto índice de resolutividade das necessidades Para os profissionais • Melhoria da eficácia e efetividade do serviço • Otimização e valorização do trabalho e trabalhador da saúde • Co-gestão do cuidado • Melhor relação entre a equipe multiprofissional • Aumento do grau de satisfação dos profissionais de saúde • Fortalecimento do vínculo entre profissionais e pacientes Para a instituição • Aumento da credibilidade da instituição • Melhoria na qualidade do atendimento e na eficácia do serviço • Co-gestão do cuidado • Otimização de custos de internamentos e procedimentos desnecessários • Qualificação da equipe para o atendimento DIRETRIZES PRÁTICAS PARA IMPLANTAÇÃO Para a implantação do ACCR no HIPS é necessário se estabelecer diretrizes práticas para os profissionais da equipe multiprofissional a fim de subsidiar a atuação dos mesmos. 4146 Trabalho 494 15 Dessa forma, é fundamental descrever: os profissionais responsáveis e a atuação dos mesmos. PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS • Diretoria da FHFS e do HIPS • Equipe de Enfermagem • Diretoria Médica • Serviço Social • Psicologia • Bolsistas • Recepção • Portaria Os profissionais responsáveis pela realização do ACCR devem estar aptos a trabalhar em equipe atendendo às necessidades no que tange a qualidade da assistência obstétrica. Assim, a identificação das mulheres deve ser realizada de acordo com o quadro clínico e determinação do risco em que a paciente se encontra. Isso se dá através de uma escuta qualificada por parte dos profissionais e a tomada de decisão de acordo com esse protocolo além de experiências e capacidade de julgamento crítico. Inicialmente, quando a usuária chega ao serviço ela é acolhida pelos funcionários da portaria/ recepção e é encaminhada para preenchimento da ficha de atendimento. Após a identificação, a paciente é encaminhada a um espaço destinado ao ACCR onde será feito o acolhimento e a aferição dos sinais pela técnica de enfermagem (devidamente treinada para esta prática) registrando-os na ficha de acolhimento para classificação do risco em obstetrícia (apêndice 1). Feito isso, o enfermeiro realizará uma consulta de enfermagem com escuta qualificada e exame físico/obstétrico baseando-se no protocolo e classificando a usuária em categorias, a saber: 1o Grupo – Prioridade Máxima (Vermelha) - Emergência Atender imediatamente encaminhar diretamente para atendimento medico, no Pré-parto ou Bloco Obstétrico. 2o Grupo – Prioridade I (Laranja) - Muito Urgente Atender em até 10 minutos e encaminhar para consulta médica priorizada. 3o Grupo – Prioridade II (Amarelo) - Urgente 4147 Trabalho 494 16 Atender em até 30 minutos e encaminhar para consulta médica priorizada. Reavaliar periodicamente. 4o Grupo – Prioridade III (Verde) - Pouco Urgente Atender em até 120 minutos e encaminhar para consulta médica sem priorização. Informar expectativa do tempo de atendimento e reavaliar periodicamente. Essas pacientes também podem receber um encaminhamento para as UBS/USFs referenciadas pelo assistente social, via contato telefônico, com garantia de assistência adequada. 5o Grupo – Prioridade IV (Azul) - Não Urgente Atender em ate 4 horas e informar a possibilidade de encaminhamento para as unidades básicas de saúde de referência (apêndice 2) ou receberem assistência no HIPS. É importante salientar que o apêndice 3 deste protocolo consta de informações específicas para que os profissionais responsáveis possam realizar o ACCR. O anexo enfoca o quadro clínico das pacientes e o grau de urgência das mesmas, classificando em cores específicas cada atendimento. RESULTADOS ________________________ De acordo com o instrumento de avaliação da Oficina (Anexo 01), foi possível analisar diversos aspectos relacionados com a elaboração e desenvolvimento da mesma, como: o tema escolhido, a metodologia adotada, os recursos audiovisuais utilizados, o desempenho das instrutoras e o seu tempo de duração. A partir desse instrumento, tornou-se possível a criação do seguinte gráfico: 4148 Trabalho 494 17 Gráfico 1 Opinião dos ouvintes/participantes da I Oficina sobre ACCR, no HIPS. Durante o desenvolvimento das Oficinas (03), tivemos uma avaliação bastante positiva dos ouvintes, com uma porcentagem de 69,7% dos participantes acreditando que a atividade desenvolvida foi ótima, e os 30,3% restantes como bom. Como crítica construtiva foi dito que “poderia ter mais casos e práticas” e “o tempo foi curto, pois um assunto como esse deveria ser mais discutido”. Ainda partindo do instrumento de avaliação da Oficina, seus participantes puderam expressar a importância de momentos como esse: “é um momento de mútuo aprendizado, onde os participantes podem interagir e todos juntos trocarem idéias e conhecimentos”. Como críticas, seus participantes colocaram, por exemplo, que: “o tempo utilizado foi curto, pois um assunto como esse deveria ser mais discutido”. Por parte das usuárias atendidas, 100% delas consideram a iniciativa como de grande importância para a Instituição, colocando que: “na minha opinião o atendimento feito nesta sala foi muito bom, atendeu a minha expectativa, pois muitas vezes quando sou atendida em qualquer unidade hospitalar fico muito tensa, e hoje vocês me deixaram tranqüila”. Observou-se, durante o desenvolvimento do projeto piloto, a boa aceitação das usuárias ao projeto (mesmo aquelas classificadas com menor prioridade) o interesse da equipe em saber o que é o projeto e qual a sua finalidade, além da disponibilidade da sala e sua boa localização para realização do ACCR (próxima ao consultório). Enfrentaram-se também, obstáculos que devem ser superados, como: buscar uma maior integração do serviço com a equipe médica (que algumas vezes desconsiderava a classificação realizada durante o ACCR), maior cuidado para que as usuárias não passem pelo ACCR e vão embora, sem passar pelo atendimento médico, a dificuldade em manter um ambiente mais reservado para atendimento às usuárias (devido a problemas na climatização da sala), materiais permanentes para a sala: mesa e cadeiras ergonomicamente adequadas e a 4149 Trabalho 494 18 disponibilidade de recursos humanos treinados e capacitados para serem mantidos no ACCR. CONCLUSÃO ________________________ A experiência de implantação do Projeto de Acolhimento com Classificação de Risco no HIPS apresentou-se, durante a prática do Estágio Supervisionado II, como uma oportunidade que nos forneceu crescimento no que diz respeito à visualização de problemas assistenciais e gerenciais garantindo uma formação de qualidade. Entretanto, dificuldades foram enfrentadas quando se buscou maior integração do serviço com a equipe médica, que algumas vezes desconsiderou a classificação feita durante o ACCR. Outra barreira relaciona-se aos recursos físicos para a sala destinada ao atendimento: mesas e cadeiras devem ser ergonomicamente adequadas para o desempenho das atividades. Os valores desenvolvidos durante esta vivência foram colocados em prática, nos tornando enfermeiros com liderança, tomada de decisão, reflexivos e conhecedores do nosso papel para melhoria da assistência à saúde de um indivíduo e uma comunidade. A implantação do ACCR como piloto possibilitou a ampliação do olhar para a humanização da assistência e funcionamento de todo um serviço. Diante de tudo, acreditamos que a nossa semente tenha sido plantada com carinho e que germine, dando frutos enriquecedores, não somente para nós, mas para todos os atores envolvidos. Vale salientar que o projeto foi encaminhado a PROEX/UEFS em março deste ano, e encontra-se aguardando resultado para transforma-se em projeto de extensão, acreditamos que este trabalho pode contribuir para discussões e reflexões no processo de ensino-aprendizagem entre universidade-serviço de saúde e comunidade e na formação da competência do enfermeiro que atua na área de saúde da mulher e da criança. 4150 Trabalho 494 19 APÊNDICE 1 – Ficha de acolhimento para classificação de risco em obstetrícia HOSPITAL INÁCIA PINTO DOS SANTOS FICHA DE ACOLHIMENTO PARA CLASSIFICAÇÃO DO RISCO EM OBSTETRÍCIA* NOME: _____________________________________________________ IDADE: __________ REGISTRO: _______________ DATA: ____/____/____ HORÁRIO DE CHEGADA: ____:____H HORÁRIO DO ACOLHIMENTO: ____:____H HORÁRIO DO ACOLHIMENTO MÉDICO: ____:____H BREVE HISTÓRIA OBSTÉTRICA: G___P___A___ (PN= ____/ PC= ____) DUM: ____/____/____ IG: ____sem ____ dias DPP: ____/____/____ OUTROS:_________________________________________________________ _________________________________________________________________ SITUAÇÃO/QUEIXA: ________________________________________________________________ _________________________________________________________________ MEDICAMENTOS: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ SINAIS VITAIS: PA= __x__mmHg FC= __bpm FR= __ipm T= __oC BCF (bpm):__ MF (+/-):__ SANGRAMENTO VAGINAL (Sim/Não): ________ CONTRAÇÕES UTERINAS (Sim/Não): __ PERDA DE LÍQUIDO (Sim/Não):__ DOR: ______/10 CLASSIFICAÇÃO: ( ) VERMELHO ( ) LARANJA ( ) AMARELO ( ) VERDE ( ) AZUL PROFISSIONAL RESPONSÁVEL: _________________________________ ASSINATURA/CARIMBO: __________________________________________ 4151 Trabalho 494 20 APÊNDICE 2 – Ficha de encaminhamento para as Unidades de Saúde HOSPITAL INÁCIA PINTO DOS SANTOS FICHA DE ENCAMINHAMENTO PARA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE* No dia ______ de ____ de 20____ as ____hrs, a paciente _________________________________________________________________ foi recepcionada, acolhida e classificada no Hospital Inácia Pinto dos Santos (HIPS). No momento do atendimento, não foi observada nenhuma queixa clínica ou alteração de dados vitais que demande atendimento de urgência, motivo pelo qual encaminhamos para atendimento na Unidade Básica de sua referencia para ser acolhida e agendado um atendimento. Salientamos que os dados classificatórios são relativos ao dia e horário informados, devendo o paciente dirigir-se ao local de referenciamento o quanto antes. Encaminhado à Unidade: _____________________________________________________ Assinatura / carimbo: ________________________________________________________ 4152 Trabalho 494 21 APÊNDICE 3 - Fluxograma do ACCR no HIPS* 1º GRUPO – PRIORIDADE MÁXIMA EMERGÊNCIA 4153 Trabalho 494 22 2º GRUPO – PRIORIDADE I MUITO URGENTE 4154 Trabalho 494 23 3º GRUPO – PRIORIDADE II URGENTE 4º GRUPO – PRIORIDADE III POUCO URGENTE 4155 Trabalho 494 24 5º GRUPO – PRIORIDADE IV NÃO URGENTE 4156 Trabalho 494 25 REFERÊNCIAS ________________________ BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Executiva. Programa Humanização do Parto: Humanização no pré-natal e nascimento. Brasília, 2002. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Acolhimento e classificação de risco nos serviços de urgência / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 56 p.: il. Collor. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) INOJOSA, R. M. Acolhimento: a qualificação do encontro entre profissionais de saúde e usuários. Trabalho apresentado ao X Congresso Internacional Del CLAD sobre La Reforma Del Estado y de La Administrassem Pública, Santiago, Chile, p. 18-21, out., 2005. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/OS/inojosa_saude.pdf> Acesso em: 22 nov. 2009. PISTELLI, A.C., SILVA, R. C. G., VIEIRA, R. Informação e comunicação na construção de políticas públicas – o exemplo da Política Nacional de Humanização. Brasília, 2005. REDE NACIONAL FEMINISTA DE SAÚDE. Dossiê humanização do parto. São Paulo, 2002. 40 p. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. Belo Horizonte, Comissão Peri natal. Associação Mineira de Ginecologia e Obstetrícia. Acolhimento com Classificação de Risco em Obstetrícia. SUS-BH. Belo Horizonte, 2009 TORNQUIST, C. S. Armadilhas da Nova Era: natureza e maternidade no ideário da humanização do parto. Revista Estudos Femininos, Florianópolis, v. 10, n. 2, p. 483-492, jul. 2002. 4157