1 Trabalhos em Grupos: Otimizando as Relações Humanas por Meio de Uma Metodologia Eficiente Ângela Sirena Andretta [email protected] Cristiane de Almeida Sirena [email protected] Resumo: Atualmente, os trabalhos em grupo são considerados como uma ferramenta importante no processo de construção do conhecimento. O mercado de trabalho busca cada vez mais por profissionais prontos para atender suas exigências. Além de formação superior, o candidato precisa desenvolver diversas habilidades, em especial execução de tarefas em equipe. No meio acadêmico, as experiências bem sucedidas de projetos realizados em equipes, resultam num valioso retorno para seus membros, que além de aprender a conviver com as diferenças, passam a entender as potencialidades e fraquezas suas e dos outros, desenvolvendo um respeito e crescimento intelectual mútuo. Porém quando os resultados das tentativas de utilizar grupos para realizar atividades acadêmicas são ineficazes, professores e alunos passam a desacreditar nessa metodologia e transferem essa descrença para o mundo profissional. Baseando-se no que hoje é praticado nas IES, torna-se imprescindível que professores de nível superior repensem suas estratégias didáticas, construindo uma metodologia eficiente que garanta o êxito dos trabalhados em grupo. Palavras-chave: Trabalho. Grupo. Metodologia. 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais o trabalho em equipe vem ganhando importância em todas as atividades da nossa vida. O ser humano, seja na família, na comunidade, na profissão, está sempre atuando, conflitando, convivendo em grupo. Entende-se esse convívio como o grande desafio da nossa sociedade regional, que é culturalmente marcada pelo individualismo, fruto da insegurança social. A capacidade de produzir em grupo está sendo mais valorizada principalmente no meio acadêmico. As experiências bem sucedidas de projetos realizados em equipes resultam num valioso retorno para os membros do grupo que além de aprender a conviver com as diferenças, passam a entender as potencialidades e fraquezas suas e dos outros, desenvolvendo um respeito e crescimento intelectual mútuo. A grande vitória dessas experiências é a mudança no comportamento antes individualista dos participantes da equipe, transferindo-a para o mundo profissional. Trabalhar em equipe não é fácil, por isso o mercado de trabalho busca hoje profissionais com habilidades para executar tarefas em conjunto. Ainda nos processos de seleção, os candidatos à vaga são submetidos a testes que 2 avaliam essas habilidades podendo definir se estão aptos ou não para o desenvolvimento daquela atividade. Os trabalhos em grupos, quando feitos com critério e seriedade, são ferramentas eficientes no processo de construção do conhecimento. Porém, na medida em que os alunos e professores não conseguem eficientes resultados nas suas tentativas de utilizar grupos para realizar atividades acadêmicas, passam a desacreditar nessa metodologia e transferem essa descrença para o seu mundo profissional, dificultando a quebra de paradigmas. Sabendo-se que o mercado de trabalho atualmente, além de buscar profissionais com formação superior, necessita de candidatos prontos para atender as suas exigências, enquanto clientes das IES, os alunos buscam desenvolver diversas habilidades. Dessa forma faz-se necessário um estudo que auxilie professores de nível superior a rever suas estratégias didáticas, visando o êxito dos trabalhos em grupo. Para tanto, conhecer melhor o perfil dos alunos e os fatores que podem determinar os resultados dos trabalhos em grupo na visão dos mesmos é fundamental para a eficiência da metodologia de trabalho em questão. O estudo foi realizado na FTEC Caxias do Sul, com alunos dos cursos técnicos e de graduação. Os dados coletados foram analisados e, através dessas informações, novas estratégias de trabalho foram avaliadas e sugeridas aos professores para que otimizem essa metodologia. 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 METODOLOGIA Esse trabalho foi realizado com dados coletados em uma instituição de ensino superior da cidade de Caxias do Sul, RS. A Faculdade de Tecnologia - FTEC Brasil possui atualmente na cidade 1360 alunos, distribuídos em 10 cursos técnicos e 14 cursos de graduação entre outros de qualificação e pós-graduação. Foram avaliados 141 alunos, com idades variando entre 18 a 58 anos de idade e com tempo de curso variando do primeiro ao quarto semestre. A avaliação foi feita por meio de um questionário com 22 questões, sendo 20 objetivas e 2 descritivas. Os questionários foram entregues aos professores que num prazo de trinta dias consecutivos os distribuíram aleatoriamente entre os alunos dos cursos de Técnico em Agrícola, Graduação em Gestão da Tecnologia da Informação, Gestão da Qualidade, Gestão 3 de RH, Gestão Comercial, Gestão Financeira, Marketing, Comércio Exterior, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Logística. O método utilizado para a pesquisa é o hipotético dedutivo e os dados quantitativos e qualitativos obtidos por meio de questionário foram comparados com as hipóteses propostas de que as características individuais do aluno, metodologia adotada pelo professor e influência cultural são fatores determinantes dos resultados do trabalho em grupo. Através da análise dessas informações relacionadas com o que atualmente é praticado, foi proposta uma metodologia mais eficiente para o desenvolvimento dos trabalhos em grupo. 2.2 RESULTADOS Para compreender melhor o processo que envolve a metodologia do trabalho em grupo, faz-se necessário um breve estudo da origem e significado dessa nomenclatura. Nos estudos de diferentes áreas do conhecimento, frequentemente encontram-se dois termos: equipe e grupo. Embora transpareça que o sentido desses dois termos seja idêntico, ambos relacionam-se a conceitos diferentes. A palavra “equipe” originou-se do termo “esquif” que designava uma fila de barcos amarrados uns aos outros e puxados por homens ou cavalos, em época anterior à dos rebocadores. A imagem dos barqueiros ou cavalos puxando, junto aos barcos amarrados, sugere a ideia de trabalho em equipe (HERSEY, 1986). Neste conceito está implícita a ideia de hierarquia, onde os barcos representam à base de uma pirâmide, enquanto o barqueiro ou o cavalo corresponde ao ápice. A palavra “grupo” surgiu no século XVII, proveniente do italiano “groppo”, vocábulo utilizado para designar em Belas Artes, os vários indivíduos pintando ou esculpindo. O vocábulo se estende para a linguagem corrente, designando um conjunto de elementos, uma categoria de seres ou de objetos, formando um todo, um conjunto (ANZIEU, 1993). Considerando a etimologia desses termos, percebe-se que embora tenham sofrido modificações temporais, guardam simbolicamente seus significados de origem. Mesmo tendo origens distintas, os termos hoje são genericamente utilizados para designar o mesmo conceito. Atualmente o termo “grupo” é mais utilizado no meio acadêmico, como metodologia de trabalho, enquanto que o termo “equipe” é mais utilizado no meio empresarial, sendo visto como uma habilidade fundamental e determinante para os profissionais neste meio. Fica entendido, portanto, que “grupo” é um conjunto de pessoas com 4 objetivos comuns que em geral se reúnem por afinidades. O respeito e os benefícios psicológicos que os membros encontram, em geral, produzem bons resultados. No entanto este grupo não é uma equipe. Entende-se que “equipe” é um conjunto de pessoas com objetivos comuns atuando no cumprimento de metas específicas. Dessa forma, a formação da equipe deve considerar as competências individuais necessárias para o desenvolvimento das atividades e atingimento das metas. O respeito aos princípios da equipe, à interação e especialmente o reconhecimento da interdependência entre seus membros na busca pelos objetivos da equipe, deve favorecer ainda os resultados das outras equipes e da organização como um todo. É isso que torna o trabalho desse grupo num verdadeiro trabalho em equipe (FREITAS; LEITTE, 2007). O termo “Grupo” pode ser definido como sendo "conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço e, articuladas por uma mútua representação interna que se propõem explícita e implicitamente uma tarefa, que constitui sua finalidade" (PICHONRIVIÈRE, 1991, p.). Baseando-se neste conceito, que melhor indica a metodologia de trabalho em questão, analisaremos os fatores que podem influenciar nos resultados dos trabalhos em grupo, buscando melhor entendimento do mesmo para aperfeiçoar as relações humanas grupais. Para facilitar a compreensão das preferências dos alunos quanto à metodologia para realização de trabalhos didáticos, serão apontadas algumas características sócio-econômicas dos mesmos. A maior parte dos alunos participantes do estudo (62,41%) é solteira e 77,3% não possuem filhos. Percebe-se que entre casados e solteiros avaliados existem diferenças quanto à preferência por trabalhos individuais ou em grupos. Os solteiros (50,58%) preferem os trabalhos em grupo, enquanto que os casados (69,23%) preferem trabalhos individuais. Dentre todos os participantes, 26,95% são considerados chefes de família, sendo os principais responsáveis pelo seu sustento e de outras pessoas, 59,57% contribuem parcialmente para o sustento da família ou de outras pessoas e 13,47% são dependentes, ou seja, recebem ajuda financeira da família ou de outros. Nota-se que os chefes de família (62,16%) preferem trabalhos individuais, possivelmente por não disponibilizar tempo suficiente para encontros com colegas fora do horário de aula. Constatou-se também que 91,48% dos avaliados trabalham e estudam em turno oposto e 65,24% deles com jornada de trabalho de mais de quarenta horas semanais. Destes, 55,11% preferem a realização de trabalhos individuais, evidenciando ainda mais a dificuldade que esses alunos/profissionais enfrentam para conciliar sua vida acadêmica com a profissional. Quanto ao regime da ocupação principal, a maior parte dos avaliados são empregados do setor privado, com cargos ou funções 5 predominantemente de nível técnico ou operacional. Quanto ao tempo de lazer, as atividades mais citadas pelos avaliados foram em primeiro lugar passeios com a família, seguido por atividades no computador/Internet, programas de televisão, leitura de livro e atividades esportivas em equipe. Curiosamente os avaliados que dedicam exclusivamente o seu tempo de lazer com a família, são na maioria mulheres (83,33%), destas 55% são solteiras, 45% são casados, em ambos os casos em média 35% delas possuem filhos e têm preferência pelo trabalho individual (62,5%). Embora com tempo bastante restrito, 58,15% dos alunos citaram ter costume de reservar horários extraclasse para estudo ou resolução de trabalhos de aula. Sabemos que trabalhar em grupo não é fácil, porém extremamente necessário em diferentes situações de nossas vidas. Requer disciplina, tolerância, respeito, dentre tantos outros atributos que devem ser exercitados constantemente para que consigamos atingir objetivos comuns. Quando questionados sobre a sua preferência quanto à realização de trabalhos individuais ou em grupo, 55,31% dos avaliados preferem a prática de trabalhos individuais, 42,55% preferem trabalhos em grupos e 2,12% não responderam. A tabela 1 indica as vantagens e desvantagens desta metodologia, apontadas pelos alunos. Tipo de trabalho Vantagens Desvantagens Individual Expressa ponto de vista individual; Falta de opiniões/debates; Faço quando posso; Falta de ideias; Sou o total responsável; Mais serviço; Troca de ideias/opiniões; Falta de colaboração/desinteresse; Integração/interação; Dificuldade com horários; Menos trabalho; Dependência; Aproximam pessoas; Divergência de opiniões; Grupal Tabela 1: Vantagens e desvantagens do trabalho individual e do trabalho em grupo Fonte: os autores, 2009. Por mais que tenham sua preferência, os alunos avaliados souberam identificar algumas vantagens e desvantagens de cada metodologia de trabalho. Desta forma, percebe-se que todos têm conhecimento sobre ambas ou já vivenciaram diferentes experiências e diante dos prós e contras, optaram pela metodologia que mais se enquadra no seu atual contexto. Embora mais da metade dos avaliados prefira trabalhos individuais, quando questionados sobre o seu nível de envolvimento quando realizam trabalhos em grupo, 63,82% dos alunos consideram-se com envolvimento total com o grupo em todas as atividades, 29,07% deles 6 consideram seu envolvimento parcial e somente 3,54% consideram seu envolvimento superficial, participando apenas com o que o grupo determinou. Não há dados que comprovem quando surgiu a ideia de reunir indivíduos em grupos em prol de um objetivo comum, mas sabe-se que esta concepção de equipe existe há muito tempo, desde que se começou a pensar no processo do trabalho. A ideia advém da necessidade histórica do homem de somar esforços para alcançar objetivos que, isoladamente, não seriam alcançados ou seriam de forma mais trabalhosa ou inadequada e também da imposição que o desenvolvimento e a complexidade do mundo moderno têm imposto ao processo de produção, gerando relações de dependência ou complementaridade de conhecimentos e habilidades para o alcance dos objetivos. Segundo Micheletti (2009) são notórios os benefícios que uma equipe bem afinada pode trazer para a organização. Primeiro, porque uma equipe é formada de pessoas, que trazem consigo histórias de vida e competências diferentes, mas que se relacionam. Um é bom em analisar relatórios, outro fala muito bem em público e o terceiro tem uma boa capacidade para detectar e resolver problemas. Estas são algumas características que, somadas, podem formar uma equipe coesa e eficiente. São diversos os objetivos e importância de se trabalhar em grupo, dentre eles destacam-se alguns mais lembrados pelos alunos da FTEC, conforme tabela 2. Objetivos N. de alunos % Despertar a liderança; 49 34,75 Socializar vivências; 96 68,08 Diminui a carga de trabalho; 35 24,82 Favorece a criação; 78 55,31 Desenvolver capacidades; 64 45,39 Aprender a ouvir; 86 60,99 1 0,70 Outros Tabela 2: Objetivos do trabalho em grupo 1 Fonte: os autores, 2009. Socializar vivências, aprender a ouvir, favorecer a criação, desenvolver capacidades, despertar lideranças e diminuir a carga de trabalho são os objetivos mais significativos do trabalho em grupo, na visão dos alunos. Contudo, sabemos que intrinsecamente acontece uma transformação que nos modifica, aprimora e nos desenvolve mais como seres humanos. Sabese que a interação entre pares e o potencial de cada indivíduo ficam ainda maiores quando em equipe, pois todos são responsáveis mutuamente pelo resultado, diferentemente de quando se 1 Esta questão permitia múltipla escolha. Ver questionário no anexo A. 7 trabalha sozinho. Com o excesso de problemas e a necessidade de responder rápido em várias frentes que as empresas têm hoje, tornou-se quase impossível trabalhar de forma isolada, cada um pra si. Diante do atual cenário profissional e social, mais importante do que reconhecer a dimensão de conviver e trabalhar em grupos é também necessário exercitar esse hábito em nossa rotina diária de convivência. Cabe ressaltar também que as pessoas envolvidas necessitam resgatar valores como união, respeito, cooperação, participação, envolvimento e comprometimento. Esse resgate é fundamental, para a sociedade como um todo. Nossa região é marcada por essa característica devido às heranças culturais dos nossos colonizadores. Desde os primórdios da colonização da serra gaúcha, os imigrantes ítalogermânicos eram agricultores e não possuíam recursos técnicos para trabalhar a terra, utilizando-se basicamente da mão-de-obra familiar. Dessa forma, cada família lutava pelo seu sustento e desenvolvimento de forma individualizada. Devido a essa influência, é comum encontrarmos empresas, indústrias e comércios administrados por familiares, passando de geração em geração. Além de outros fatores culturais, o clima tipicamente frio também contribui para que as famílias mantenham-se mais isoladas em suas casas. Esse hábito do ser e fazer por si só pode ser considerado um fator extremamente negativo quando falamos de trabalho e convívio em grupo. Talvez seja essa a justificativa pela preferência dos alunos em realizar trabalho individual e pela falta de envolvimento de tantos alunos nos trabalhos em grupo. Fatores N. de alunos % Falta de motivação 36 25,53 Empatia com o grupo 23 16,31 Tempo disponível 84 59,57 Falta de envolvimento do grupo 44 31,20 Tabela 3: Fatores que determinam a falta de envolvimento nos trabalhos em grupo2 Fonte: os autores, 2009. Conforme tabela 3, o fato da maioria dos alunos trabalharem e estudarem em turno oposto, também é uma herança cultural que consequentemente restringe o tempo hábil para demais atividades em grupo. Diante desta realidade, talvez fosse o caso dos professores adotarem uma metodologia de grupo predominantemente em classe, onde todos os alunos pudessem dar suas contribuições e o professor conduzir, avaliar e intervir conforme o desenrolar do grupo. Desta forma professores e alunos só têm a ganhar, primeiro porque 2 Esta questão permitia múltipla escolha. Ver questionário no anexo A. 8 estarão mais próximos; os professores terão maior facilidade em avaliar o desempenho de cada componente dos grupos, podendo intervir quando julgar necessário, e segundo porque o trabalho será mais eficiente; os alunos demonstrarão maior envolvimento e disponibilidade pela atividade, visto que é um exercício que deve ser desenvolvido e aprimorado constantemente, devido à necessidade que a sociedade e o mercado de trabalho nos impõem. Segundo Schutz (apud BERGAMINI,1982) grande estudioso do comportamento humano em pequenos grupos de trabalho, os indivíduos têm três necessidades interpessoais quando se associam em grupos. A primeira delas é a de inclusão, definida pelo autor como a necessidade de estabelecer e manter relacionamento satisfatório com as pessoas, tendo em vista sua interação e associação. A inclusão se dá quando todos os membros sentem que têm sua presença assegurada no grupo e sabem que sua ausência chama a atenção dos demais membros. A segunda é a de controle, definida como a atitude de estabelecer e manter relações satisfatórias com as pessoas em termos de controle e força. Após cada um ter assegurado sua presença no grupo, o indivíduo procura fazer-se conhecer em termos de sua competência pessoal e responsabilidade por determinado papel comportamental assumido, até o ponto em que naturalmente seja estabelecido um clima de respeito mútuo. Para Bergamini (1982, p.87) “em geral, nesta segunda fase podem aparecer tensões e ultrapassá-las significa um passo além da maturidade do relacionamento das pessoas que compões o grupo”. A terceira é a de afeição e, conforme o autor necessidade interpessoal de afeição é a necessidade de estabelecer e manter relacionamentos satisfatórios com outras pessoas no tocante ao amor e à afeição. A necessidade de afeição, definida ao nível de autoconceito, é a necessidade de sentir que se é digno de ser amado. Essas três necessidades exercem influência no comportamento de grupo. Pela análise da tabela 4, fica evidente que os alunos não têm certeza de como é determinada a metodologia dos trabalhos em grupo. Metodologia N. de alunos % O professor determinou previamente; 43 30,49 Os alunos determinaram; 2 1,41 Professores e alunos determinaram previamente em conjunto; 35 24,82 Foi determinada em parte pelo professor e em parte pelos alunos; 54 38,29 Não responderam 07 4,96 Tabela 4: Quanto à metodologia dos trabalhos em grupo realizados na FTEC Fonte: os autores, 2009. Pela pluralidade das respostas, percebe-se que o professor não determina com clareza todos os tópicos do trabalho e os alunos consequentemente definem alguns critérios conforme interesse do grupo. A conduta do trabalho, primeiramente pelo professor e posteriormente 9 pelo grupo é fundamental para o sucesso do mesmo. Quando as regras não são claras, os resultados muitas vezes também não são satisfatórios, pois cada um seguirá a sua linha de entendimento, perdendo a qualidade e eficiência das informações e consequentemente a essência do trabalho em conjunto. Segundo Freitas e Leitte (2007) alguns fatores como a atmosfera de grupo, o estabelecimento de objetivos, a comunicação interpessoal e as normas tácitas de conduta podem influenciar a eficiência dos grupos de trabalho. A atmosfera de grupo se caracteriza pelo fato de que os membros têm grande confiança recíproca e que se ajudam mutuamente nas respectivas tarefas. A congregação de esforços, quando necessário, para auxiliar quem quer que se encontre em dificuldades, ao invés de dedicar-se exclusivamente a seu próprio trabalho, é uma característica marcante desse fator. Para o estabelecimento de objetivos Margerison (1975) atesta que um número considerável de pesquisas afirma existir maior possibilidade das pessoas se interessarem em pôr em prática uma decisão, quando estão envolvidas no estabelecimento de objetivos. Porém salienta que não existe um método universal de se criar grupos eficientes de trabalho. O método empregado deve estar alinhado com as expectativas e desejos dos integrantes do grupo. O grupo de trabalho eficiente se caracteriza por uma sólida comunicação interpessoal. O que ocorre muitas vezes é a informação ser omitida ou ser transmitida de modo insuficiente, gerando dúvidas e ansiedade no grupo. Isto ocorre porque o detentor da informação associa a informação ao poder e que guardando para si próprio o máximo de conhecimento, aumenta seu poder, porém não percebe que perde o contato afetivo com o grupo, assim como a cooperação. Os grupos criam normas tácitas de conduta que efetivamente controlam o comportamento de seus membros. As normas e padrões são bases estabelecidas de comum acordo para o funcionamento de um grupo de trabalho. É claro que o problema dos grupos de trabalho não se resolve facilmente. Esses quatro pontos apresentados indicam algumas das dimensões consideradas fundamentais na tentativa de aumentar a eficiência dos grupos de trabalho (FREITAS; LEITTE, 2007). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nas informações geradas a partir deste estudo, percebe-se que existem alguns fatores fundamentais que determinam o insucesso dos trabalhos em grupo: em primeiro lugar a falta de tempo apontada pelos respondentes. Como a grande maioria possui jornada dupla de trabalho e estudo, o tempo para as atividades extraclasse acaba sendo 10 reduzido. Outro fator que agregado ao primeiro pode ser apontado é a falta de interesse, quando um trabalho não é bem orientado. Além destes, também pode ser considerada a própria competitividade em que vivemos em nossa sociedade atual e até mesmo a herança da sociedade local, bastante individualista e capitalista. Observando os resultados obtidos também fica claro que professores e alunos da FTEC não têm clareza quanto à metodologia dos seus trabalhos em grupo. Professores determinam alguns poucos tópicos e alunos conduzem da forma mais coerente com a sua realidade. Não há uma orientação clara e assim como divisão de tarefas, o que dificulta inclusive a avaliação dos professores em relação aos alunos. A partir do que foi observado e atestado com os resultados obtidos, sugere-se que seja criada uma metodologia para os trabalhos em grupo, uma vez que esta irá contribuir não somente para o meio acadêmico, mas também para o ambiente de trabalho em que estão inseridos. 1) O professor determina junto com os alunos os pré-requisitos para o trabalho: 1.1) Assunto a ser pesquisado e sua abrangência; 1.2) Prazo de entrega; 1.3) Número de componentes do grupo; 1.4) Formas de apresentação (seminários, palestras, teatro, perguntas e respostas, entre outros, conforme criatividade do professor e/ou grupos). 2) O professor determina as regras do trabalho: 2.1) Deverá ser designado um coordenador para cada grupo (escolhido pelos membros); 2.2) Todos os membros do grupo terão uma tarefa a desenvolver no decorrer do trabalho, conforme orientação do coordenador, porém todos os componentes deverão estar a par do trabalho como um todo; 2.3) Será destinada 1 hora/aula no final de cada encontro para realização do trabalho (os alunos deverão apresentar suas considerações sobre a pesquisa e o coordenador será o responsável pela organização do tempo disposto para atividade, para que todos os membros participem igualmente); 2.4) O professor ficará disponível durante o período de realização do trabalho para o esclarecimento de dúvidas e orientações, monitorando o desenvolvimento dos trabalhos em aula; 2.5) Na apresentação final, deverá haver uma divisão de tempo para que todos possam fazer suas considerações; 3) Ferramentas de avaliação do professor: 11 3.1) Todos os integrantes dos grupos deverão entregar um memorial descritivo referente aos encontros de cada aula; 3.2) Apresentação escrita do trabalho; 3.3) Apresentação oral individual de cada integrante do grupo; 3.4) Avaliação do coordenador (deverá entregar um relatório referente à participação de cada integrante do grupo, incluindo a sua); Pela necessidade histórica do homem de somar esforços para alcançar resultados que, isoladamente, não seriam alcançados ou seriam de forma mais trabalhosa e pela imposição que o desenvolvimento e a complexidade do mundo moderno têm imposto ao processo de produção, gerando relações de dependências, o trabalho em equipe é entendido como fundamental para o alcance dos objetivos, uma vez que combinam os talentos individuais gerando melhores resultados individuais e coletivos. Com o trabalho em conjunto, as pessoas desenvolvem seu espírito de cooperação e é dele que nasce o mais nobre dos sentimentos, o afeto. A troca é matéria-prima em uma equipe e, nesse processo, todos, inconscientemente, se alimentam. “Todas as informações contidas nesta obra são de responsabilidade dos autores”. REFERÊNCIAS ANZIEU, D. O grupo e o inconsciente: imaginário grupal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1993. BERGAMINI, C. W. Psicologia Aplicada à Administração de Empresas: psicologia do comportamento organizacional. São Paulo: Atlas, 1982. FREITAS, Valéria S., LEITE, Nildes R. P. O Processo de Trabalho em Grupo: um Estudo de Caso em uma Organização Cooperativa. Disponível em: http://www.ead.fea.usp.br. Acesso em: 26 out. 2009. HERSEY, Paul. Psicologia para administradores: A teoria e as técnicas de liderança situacional. Tradução e revisão técnica da equipe CPB de Edelbino A. Royer. São Paulo: EPU, 1986. MARGERISON, C. J.- Gerência de Grupos de Trabalho. Tradução de Sônia Schawartz, Revisão Técnica de Darci Garçon. São Paulo: McGraw- Hiil do Brasil, 1975. PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 12 COSTA, C. A equipe de vendas e o trabalho em grupo, lenda ou realidade?. Disponível em: <http://www.administradores.com.br>. Acesso em: 22 mar. 2009. MICHELETTI, Camila. Trabalho em equipe: essencial para todas as empresas. Disponível em: <http://www.carreiras.empregos.com.br>. Acesso em 26 out. 2009. WIESEL, Gilberto. Trabalho em equipe: uma vantagem competitiva. Disponível em: <http://www.rh.com.br>. Acesso em 26 out. 2009.