O RETRATO DE UMA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA VISUAL SANTOS, Ana Clarinda dos1 - UFSM PEREIRA, Josefa Lídia Costa2 - UFSM Grupo de Trabalho -. Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A presente pesquisa tem como objetivo analisar como se efetiva e implementa a inclusão de um aluno com deficiência visual em uma classe regular da rede pública de ensino do Estado do Rio Grande do Sul. Pretendeu-se nesse contexto verificar como a escola de ensino regular recebeu esses alunos, destacando quais os benefícios e dificuldades do processo inclusivo que envolve esse alunado. Para tanto, foram analisados o trabalho do professor de classe comum, o do Educador Especial e o da Gestão Escolar, agentes relevantes no processo de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência visual. Adotou-se como metodologia a abordagem qualitativa, tendo como instrumento um questionário com perguntas semi-diretivas que tratava de temas como inclusão, deficiência visual, dificuldades, facilidades, atendimento educacional especializado e relações interpessoais. Esse instrumento foi aplicado com uma professora de classe comum, uma Educadora Especial e uma Gestora. Para realizar a coleta de dados, foi solicitada por escrito permissão à Secretaria de Educação e à Gestão da escola. Em seguida, houve o agendamento para a visitação e encontro com as participantes. Para analisar os dados, foi realizada a leitura das falas escritas e depois separadas por temas. Os resultados foram de fato positivos ao reconhecer que a escola busca alternativas positivas para manter o aluno cego em ambiente propício de aprendizagem e convivência social, e não foram visualizadas práticas de exclusão ou discriminação. Pode-se observar o empenho de professores e gestores em torno da resolução de dificuldades inerentes às questões de suporte pedagógico do aluno com deficiência visual. Havia também interação satisfatória dessa aluna com os colegas videntes e o cultivo de boas relações sociais era preponderante entre todos. Enfim, esse estudo contribuiu para a ampliação de conhecimentos e para a visualização de experiências práticas em torno da inserção de alunos cegos na escola comum. Palavras-chave: Educação Especial. Inclusão. Deficiente Visual. Formação Pedagógica. Ensino Regular. 1 Acadêmica do Curso de Educação Especial (Noturno) da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. E-mail: [email protected]. 2 Docente do Departamento de Educação Especial/ Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) .E-mail: [email protected]. 19816 Introdução A inclusão de alunos deficientes visuais em classe regular no sistema público de ensino faz com que a escola promova, além de seu tradicional método de aprendizagem, estimulação e integração social, revertendo seu papel em ações de acesso ao aluno com necessidades educacionais especiais. A escola precisa ter estruturas, profissionais capacitados para reverter situações de exclusão, conscientizando sobre os direitos da criança ou adulto com deficiência, proporcionando assim, uma intervenção de qualidade na escola. Com relação a esse aspecto, Brasil (2005) ressalta: O direito das crianças com deficiência de terem acesso à escola regular foi reafirmado na Declaração de Salamanca, firmada durante a Conferência Mundial de Educação Especial, realizada pela ONU, em 1994. No Brasil, estes princípios foram ratificados, em 1996, através da aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n° 9.394, que define a educação especial como ‘a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais’( p.34). A educação inclusiva ainda é um desafio, principalmente para os docentes que recebem alunos com deficiência em sua sala de aula. Em distintas ocasiões, o professor torna-se um aprendiz por não receber uma preparação antecipada e com o aluno em sala incluído, o docente necessita executar um planejamento que envolva a participação no processo ensino-aprendizagem tanto do aluno especial quanto dos seus colegas. O aluno deve se sentir integrado com os demais, pois “o isolamento na ótica Vygotskiana, não constitui apenas um problema social ou ético, porém representa uma faceta psicossocial muito delicada” (BRASIL.2005. p, 11). A segregação em sala de aula, além do desconforto que traz à criança, também fragiliza o seu desenvolvimento humano e global. A escola precisa de uma inclusão que enriqueça a convivência de todo o grupo escolar sem menosprezar as identidades e experiências de vida de cada um, valorizando a importância de trocas sociais, entre pessoas com ou sem deficiência. A inclusão de deficientes visuais ou com qualquer outra deficiência em classe regular será legítima desde que se proporcionem a esses a oportunidade de convivência igualitária. Conforme Mazzota: “[...] a existência de uma deficiência não faz necessariamente com que o seu portador não possa ser bem atendido mediante os processos comuns de educação” (MAZZOTA, 1997, p.17). O aluno com deficiência visual sente necessidade de interagir com o mundo, de fazer parte do seu meio, ou seja, tem aspirações como qualquer pessoa sem deficiência, porém não se pode 19817 esquecer de sua forma peculiar de perceber o mundo, uma vez que a falta de visão lhe impõe alternativas diferenciadas e individuais de relações com o ambiente. O relato seguinte exemplifica esse aspecto: É importante, pois, frisar que: o (a) aluno (a) cego (a) não vive num mundo escuro e sombrio. Ele (a) percebe objetos, coisas, ambientes, texturas, cheiros, temperatura, gostos e adquire informações através dos demais sentidos e de tudo o que pode experiênciar com o corpo, o que dá substância e sentido a sua existência (AMIRALIAN, 1997). Método Participaram do estudo três profissionais, todas com formação de nível superior, que atuam na escola de ensino regular da rede pública, sendo uma Professora da classe comum (formada em Pedagogia), uma Educadora Especial (com formação em Educação Especial) e uma Gestora da escola (Licenciada em Letras Espanhol). Para a realização da coleta de dados foram feitas duas visitações numa escola de rede pública estadual, localizada no interior da cidade de Restinga Seca, região central do Rio Grande do Sul. Anteriormente a essa coleta foram tomadas as medidas éticas, como solicitação por meio do termo de consentimento livre e esclarecido e apresentação dos objetivos do trabalho de campo. Ressalta-se que este estudo foi decorrente da proposta feita pela professora da Disciplina Avaliação e Alternativas Pedagógico-Metodológicas para Alunos Deficientes Visuais que teve como objetivo conhecer o contexto educacional inclusivo de alunos com deficiência visual em escolas de ensino regular do Estado do Rio Grande do Sul. Os profissionais que fizeram parte deste estudo foram selecionados porque estabeleceram contato direto com uma aluna deficiente visual incluída na escola de ensino comum. O contato inicial se deu com a diretora da escola, que intermediou e fez apresentação às demais profissionais envolvidas com a aluna deficiente visual. A coleta de dados foi realizada na própria instituição das participantes, em data e horários previamente agendados. Foi observada a estrutura da escola assim como a sala de recursos usada pela Educadora Especial, uma aula na classe comum onde a aluna estava incluída. Depois foi aplicado um questionário com perguntas semi-abertas, cujo objetivo era analisar como a aluna era vista por esses profissionais e sua interação, socialização e participação coletiva com os demais alunos da escola. 19818 A análise dos dados se deu a partir da descrição da realidade observada in loco e da classificação do conteúdo expresso nos questionários respondidos pelas participantes. Resultados e Discussões Os resultados deste estudo envolveram descrições sobre a estrutura física e administrativa da escola no âmbito inclusivo e as percepções das participantes entrevistadas. A partir da análise e organização dos dados foi possível estruturar os resultados em temas da seguinte forma: 1) Descrição da escola de ensino comum com atuação inclusiva e os recursos disponibilizados a alunos deficientes visuais; 2) Formação de professores e aspectos didático-pedagógicos com alunos deficientes visuais; 3) Socialização no ambiente escolar envolvendo suas dificuldades e habilidades; 4) Avaliação pedagógica e mediação da aluna deficiente visual com seus colegas. 1) Descrição da escola de ensino comum com atuação inclusiva e os recursos disponibilizados a alunos deficientes visuais O relato seguinte foi feito em uma turma de quinto ano, com doze alunos, sendo oito meninas, (entre estas uma aluna com necessidades educacionais especiais na área da deficiência visual) e quatro meninos. Ao se pensar sobre a educação inclusiva de alunos com deficiência visual, é fundamental discorrer sobre aspectos que envolvem as práticas e as políticas educacionais desses educandos. Sabe-se que o aluno tem os seus direitos, resguardados por leis que garantem o seu acesso e permanência no sistema educacional. A escola precisa viabilizar todos os materiais e recursos humanos necessários para o bom desempenho acadêmico de todos seus alunos; para tanto é imprescindível que as instâncias superiores dêem o suporte necessário para a realização satisfatória desse trabalho pedagógico. O número reduzido de alunos em sala de aula gera fatores positivos para o trabalho realizado pela única professora que coordena a turma, sem assistência de nenhum auxiliar em sala. Com relação a esse aspecto, a Revista Nova Escola (2011) destaca: 19819 Ter o tamanho da turma reduzido e contar com um auxiliar é benefício essencial para que a Educação Inclusiva funcione. Infelizmente, muitas vezes é difícil e demorado obter isso junto às redes. “Nos locais em que essa não é realidade, o professor costuma se sentir sozinho em sala de aula”, afirma Sonia Casarin, docente da pós-graduação em Educação Inclusiva do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo (p.50). Na escola visitada observou-se que há grande preocupação tanto da gestão quanto do grupo de professores em prestar um atendimento educacional de qualidade a todos os alunos, inclusive ao aluno com necessidades educacionais especiais. Foi notado, no decorrer da observação, que a aluna com deficiência visual recebe suporte pedagógico tanto do professor de sala comum quanto da Educadora Especial. Essa profissional realiza um trabalho de apoio fundamental ao processo de inclusão, pois “a possibilidade de ajuda ao professor na condução do processo de ensino-aprendizagem” pode trazer contribuições relevantes, permitindo uma inclusão facilitadora (ROCHA & ALMEIDA, 2008, p. 209). A escola foi se moldando com a chegada da aluna deficiente visual, de modo que os seus professores procuram conhecer mais sobre a vida da aluna e formas de ensinoaprendizagem que possam contemplar não unicamente a aluna incluída em sala, mas toda a turma. A professora da classe comum dialogou com seus alunos, informando o quanto seria de grande valor social e de aprendizagem incluir uma pessoa com deficiente visual em sala de aula e que seria um grande desafio para ambas as partes tanto como para a profissional como para os colegas. O relato da Professora da Sala Comum ilustra esse aspecto: Fiquei bastante preocupada, mas me preparei psicologicamente, conversei com a turma e disse que nós tínhamos mais a aprender com ela do que ela conosco, então para mim seria um grande desafio, mesmo porque uma das palavras chaves da inclusão é o desafio, e é uma política que está em plena questão, em pleno debate, e precisa ser vista como uma dialética social e cultural, na família e na sociedade. A instituição escolar foi contemplada com o recebimento de vários materiais adaptados para a área da deficiência visual. Esses recursos foram advindos da escola anterior em que a aluna cega foi alfabetizada pelo sistema Braille. Dentre os materiais doados destacam-se: um alfabeto emborrachado em Braille, livros didáticos, revistas em Braille, figuras geométricas, calculadora com áudio, computador com programa Dosvox instalado e alguns jogos adaptados para a referida aluna. A preocupação da escola com as adaptações e acessibilidade para atender os alunos com necessidades educacionais especiais é demonstrada na fala da professora da classe comum. Eis a seguir trecho desse relato: 19820 [...] a arquitetura da escola que foi toda reestruturada para recebê-los. A escola conta com um laboratório equipado, uma excelente Educadora Especial duas vezes por semana e os outros dias é normal em sala de aula, faz aula de informática, tem conhecimento de todo o teclado em tinta. (Professora da Classe Comum) Com relação ao serviço da Sala de Recursos, pode-se destacar Mazzotta (1997, p.52), que faz o seguinte comentário: “A sala de recursos consiste num ambiente que conta com um professor de educação especial sediado na escola comum, tendo à disposição os materiais e equipamentos especiais, para atendimento dos alunos deficientes visuais em suas necessidades específicas”. No tocante à atuação do professor especializado, percebeu-se que há um intercâmbio favorável entre o professor de Sala comum e o Educador Especial, o que é considerado fundamental para o sucesso do trabalho educacional desenvolvido com a aluna cega. 2) Formação de professores e aspectos didático-pedagógicos com alunos deficientes visuais A Educadora Especial relata a falta de preparo das condições necessárias para receber alunos com deficiência visual em períodos passados na escola, sendo a aluna transferida para outra instituição de ensino a qual abrangia profissionais com métodos e capacidades de alfabetização para a aprendizagem e desenvolvimento de sujeitos deficientes visuais. Com relação a esse aspecto, BRUNO & MOTA (2001) ressalta: Quando se fala na importância de desenvolver capacidades básicas, trata- se de proporcionar ao individuo com qualquer deficiência a oportunidade de desenvolver toda potencialidade, tornando-se um autônomo, participativo, uma pessoa plena, um homem de consciência de si mesmo (p.29). Após quatro anos passados, a aluna retorna a essa escola, uma vez que o acesso se torna facilitado por morar nas adjacências. Toda a comunidade escolar se mobilizou para prestar um atendimento adequado às necessidades educacionais da aluna, sendo aceita pela turma, gestão e toda comunidade escolar. A aluna reconhecia a voz de cada colega que estava no pré-escolar há cinco anos. Sua estimulação, seu empenho é de grande reconhecimento por todos que a conhecem, consegue se expressar com desembaraço escreve e lê corretamente em Braille, se relaciona bem com seus colegas e professores. Esse princípio foi fundamental para a ampliação de suas habilidades, consequentemente sua adaptação apresentou pontos positivos ao retornar à escola. Com relação a esse aspecto, Brasil (2005) ressalta: 19821 A qualidade da comunicação e do manuseio e a instalação da rotina diária permitem à criança com perda visual perceber os indícios que ajudam a antecipar o que vai acontecer. Esses indícios podem ser a voz, os passos, os cheiros, o barulho dos objetos, o movimento e a maneira de pegar. Todos esses indícios além de ajudar a criança a organizar-se para ação, evitando sustos, ajudam na antecipação – capacidade de prever o que vai acontecer (p.103). A Educadora Especial trabalha na escola em turno integral durante 20 horas semanais e o atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais acontece em turno inverso na Sala de Recursos. Segundo BRUNO & MOTA (2001) na “[...] sala de recursos deverão ser atendidos alunos de diversas faixas etárias, matriculados em diferentes níveis ou tipo de ensino, sempre que necessitarem de atendimento educacional especializado, como complemento de ensino ministrado em classe comum” (p.103). Essa educadora informa que possui graduação em Educação Especial, mas no seu currículo não havia habilitação para essa área. Dessa forma, sentia certa insegurança em torno do atendimento de alunos deficientes visuais, apesar de buscar conhecimentos em outras fontes, como por exemplo, cursos de capacitação. Na medida em que os alunos com necessidades educacionais vão adentrando a escola, a professora procura se adequar de modo a possibilitar um serviço e atendimento qualificado que corresponda às expectativas de toda a comunidade escolar e familiar, garantindo desse modo a permanência do aluno na escola. Essa preocupação anteriormente não ocorria devido à ausência de demandas dessa natureza. O aluno com deficiência visual necessita de um ambiente acessível em termos espaciais de modo a ofertar segurança, autonomia e independência, sendo fundamental a sua participação em todas as atividades escolares. “Somente assim estaremos criando, não só um ambiente de ensino acessível especialmente, mas realmente as condições básicas essenciais para permitir um processo efetivo de inclusão no ensino” (BRUNO & MOTA, 2001, p.39). 3) Socialização no ambiente escolar envolvendo suas dificuldades e habilidades A escola, como espaço educacional que trabalha vários aspectos da condição humana, dentre os quais a socialização, pode resgatar princípios que favoreçam o processo de inclusão. Essa interação participativa de professores, alunos, familiares e gestores pode trazer ganhos significativos para o processo ensino-aprendizagem e para as relações interpessoais de todos os envolvidos. Observou-se pelos depoimentos dos entrevistados que a aluna incluída sempre foi muito bem aceita por todos que constituem a comunidade escolar, não apresentou problemas 19822 de socialização ou adaptação e a escola foi bastante receptiva com a presença da aluna. O relato a seguir da Gestora exemplifica esse aspecto: Como a aluna faz parte da comunidade e todos a conhecem não teve problemas de socialização. A adaptação ocorreu aos poucos até a aluna se familiarizar novamente com a estrutura física da escola [...] A deficiência visual não se constitui como barreira na vida cotidiana da aluna, pois a mesma demonstra organização e dedicação na sua vida escolar. Nas aulas, a única disciplina em que encontra dificuldades é a Matemática, apresenta dificuldades em resolver frações. Desse modo a professora da sala comum não altera ou exclui conteúdos curriculares previstos para aquele nível de escolaridade, mas procura em parceria com a educadora especial, buscar recursos didáticos que auxiliam na compreensão da aluna em torno do assunto ou tema. Diante disso, BRUNO & MOTA (2001) ressalta: Com relação aos conteúdos programáticos, deverão ser os mesmos que os ministrados a qualquer tipo de educando. Nesse sentido, são errôneas as concepções de que as possibilidades dos alunos cegos são limitadas ou ainda, de que não existem meios de levar estes alunos a aprender Matemática. Na verdade, devemos considerar que, além da condição de aluno cego ou baixa visão, o educando apresenta, como os demais, diferenças individuais que influirão direta ou indiretamente em seu desempenho na escola (p.23). Quanto à escrita e leitura, demonstra domínio em ambas, tem raciocínio lógico de tudo que é explicado e comenta com muita facilidade os conteúdos estudados das outras disciplinas, não encontrando dificuldades em sua aprendizagem. Na aula de educação física a aluna muitas vezes prefere não participar quando os exercícios físicos são de grande deslocamento, mas em outros momentos participa ativamente. Para ilustrar esses aspectos, apresenta-se um recorte da fala da Professora da sala comum que faz uma breve caracterização de sua aluna cega: [...] é uma menina muito inteligente, participativa, lê e interpreta qualquer fato novo com clareza e coerência, acompanha todas as temáticas com oralidade e o concreto, o seu cognitivo é bem desenvolvido, isto é, atenção, percepção, raciocínio lógico pedagógico, memória e linguagem. 4) Avaliação pedagógica e mediação da aluna deficiente visual com seus colegas A avaliação pedagógica é um processo fundamental na prática educacional, orienta os profissionais a diagnosticar os ganhos ou perdas de seus alunos em torno de suas 19823 aprendizagens, demonstrando a presença ou ausência de conhecimentos e habilidades. Uma das formas utilizadas pela escola para avaliar os seus alunos é o parecer descritivo, em que são pontuadas informações claras sobre os alunos: como o aluno aprendeu, o que pensa, o que analisa, o que cria, como interage, como se apresenta seus aspectos: intelectual, emocional, comunicativo e social. Em parceria, professora da sala regular e a Educadora Especial analisam todos esses aspectos no que se refere ao aluno com necessidades educacionais especiais. Quanto a esse processo avaliativo, BAIRRÃO (1994) faz a seguinte assertiva: “é um processo de coleta de informações que permite compreender as competências e as necessidades da criança, jovem ou adulto como a tomada de decisão para intervir” (p. 24). Pode-se ainda observar que a idade cronológica da aluna deficiente visual está de acordo com o ano escolar, a escola avalia seus conhecimentos como dos demais alunos, fazendo as devidas adaptações inerentes às suas singularidades em função da perda visual. A aluna faz uso do sistema Braille e do programa Dosvox nas suas atividades escolares. Outro aspecto de grande relevância observado foi a excelente interação com seus colegas videntes, pois estes se tornam naturalmente guias videntes, auxiliando a colega cega em diversos deslocamentos dentro da escola. Sobre esse ponto de relações interpessoais positivas, é importante ressaltar: [“...] A integração social envolve a interação, mediante a comunicação, a assimilação, pela participação ativa e reconhecida do excepcional como elemento do grupo de crianças “normais” e, finalmente, a aceitação, refletida na aprovação da criança excepcional como elemento participante e aceito no grupo, mediante reclamações regulares e espontâneas que fazem com que o excepcional sinta-se parte natural do grupo. [...] (MAZZOTTA, 1997, p. 43 – 44) A aluna recebe compreensão e carinho de seus colegas que se demonstram muito atenciosos e generosos em termos de uma boa convivência e relações de amizades. Esse comportamento colaborativo por parte dos colegas videntes se torna grande estímulo para a colega deficiente visual. Dentre as colaborações prestadas pelos seus colegas videntes, encontram-se auxílios na execução das atividades diárias, como simplesmente se deslocar até o banheiro, buscar o lanche ou mudar a posição de sua reglete. Esse fato chama atenção em decorrência de grandes habilidades demonstradas pela turma em termos de socialização, companheirismo, solidariedade, dentre outros sentimentos positivos. Esses gestos são muito importantes para a construção e formação de uma sociedade mais igualitária e menos discriminatória, onde são respeitadas todas as diferenças e singularidades de seus membros. Nessa escola percebeu-se a preocupação em ofertar uma 19824 educação inclusiva em que o trabalho pedagógico respeite as diferenças de cada integrante desse processo visando sempre ao êxito educacional e ao sucesso de todos os envolvidos. Considerações Finais Analisar e descrever o processo educacional de um aluno com deficiência visual no contexto escolar, quando se está cursando graduação em Educação Especial, torna-se algo fundamental para a formação acadêmica, abrange contato direto com a pessoa com necessidades especiais, com as atividades escolares e profissionais envolvidas no conjunto da inclusão. Esse contato do acadêmico de graduação com a escola inclusiva traz novos olhares para dentro da sala de aula, saindo da teoria em direção à prática, obtendo uma visão diferenciada em torno do aluno deficiente visual e dos profissionais que trabalham com esses alunos. Permite ainda deter a atenção nas condutas pedagógicas administradas ao longo do processo escolar assim como nos recursos didáticos ou comportamentos atitudinais que visem cada vez mais á aprendizagem e á aceitação e interação entre alunos com e sem deficiência visual. A partir do contato com essa escola, foi possível pensar que a inclusão de um aluno com deficiência visual requer o envolvimento de toda a comunidade escolar e familiar, exige uma capacitação adequada, tomada de decisão em torno das questões educacionais, revisão de conceitos e pré-conceitos, mediação nas relações interpessoais dentro e fora da sala de aula. Quando essas questões estão articuladas adequadamente, é possível perceber o convívio e o relacionamento satisfatório de professor-aluno, aluno com deficiência visual e alunos videntes, gestão escolar-professores-alunos-família. A escola está sempre num contínuo processo de aprendizagem para aperfeiçoar seus meios de qualificação para melhor atender aos seus alunos, em destaque o aluno incluído. Vale ressaltar que para isso precisa de muito conhecimento sobre a deficiência e de comprometimento com o trabalho pedagógico. REFERÊNCIAS AMIRALIAN, M. L. T. Morais. Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da cegueira por meio de desenhos-estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 19825 BAIRRÃO, J. A perspectiva ecológica na avaliação das crianças com necessidades educativas especiais e suas famílias: o caso da intervenção precoce. Inovação. Nº 7. Lisboa/Portugal. 1994. BRASIL – Revista de Educação. Inclusão: Revista da Educação Especial/ Secretária de Educação Especial. V.1, n.1(out.2005). Brasília: Secretária de Educação Especial, 2005. BRUNO, Marilda Moraes Garcia; MOTA Maria Glória Batista - Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual vol. 1. Fascículos I-II-III / Marilda Moraes Garcia Bruno, Maria Glória Batista da Mota, colaboração: Instituto Benjamin Constant. _______Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001.196 p. (Série Atualidades Pedagógicas; 6 ) BRUNO, Marilda Moraes Garcia; MOTA Maria Glória Batista - Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual vol. 2. Fascículos IV / Marilda Moraes Garcia Bruno, Maria Glória Batista da Mota,(Coord.) colaboração: Instituto Benjamin Constant. _______Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001.162 p. (Série Atualidades Pedagógicas; 6) INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR: docência e necessidades educacionais especiais/ Organização Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo. – Natal: EDUFRN, 2013. MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Fundamentos da Educação Especial. 1ª ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1997. REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo, Ano XXVI, nº. 244. Absorveu: Inclusão ROCHA, M.M.;ALMEIDA,A.M Ensino itinerante para Deficientes Visuais:UM estudo exploratório.