Veículo: Diário do Grande ABC Data: 15.05.11 Poupança é opção para curto prazo, dizem especialistas Pedro Souza Do Diário do Grande ABC Em tempos de altos juros e inflação fisgando o bolso, pessoas beneficiadas com PLRs (Participação nos Lucros e Resultados), acertos ou heranças podem investir o dinheiro e aproveitar o lucro no futuro. Porém, antes de pesquisar as modalidades de investimento, é interessante traçar o prazo em que deixará os recursos aplicados. De acordo com o educador financeiro Mauro Calil, o investidor deve identificar qual é o objetivo da aplicação, o volume de recursos disponível e o prazo para deixar o dinheiro parado. "É muito diferente se você vai investir por dois anos para trocar de carro ou para pagar a festa de aniversário para a filha. Se alguma coisa acontecer de errado nesse tempo será um problema. O veículo pode esperar mais seis meses. Mas a festa não e causaria um drama na família", explicou Calil. Definido o objetivo e verificado o prazo é hora de avaliar as opções. O professor de finanças pessoais da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo Samy Dana avalia que em qualquer aplicação, existe a ordem das grandezas. "Quanto mais investir, mais vai ganhar. Por exemplo, 1% ao ano é diferente para R$ 1.000 (R$ 10) e para R$ 100 mil (R$ 1.000)." No entanto, é consenso entre os especialistas que menores quantias e prazo de até seis meses devem ser destinadas à caderneta de poupança. O produto oferecido pela maioria dos bancos de varejo dá segurança e tem o menor risco do mercado. E, normalmente, perdas para quem tem pouco representam grandes problemas. GARRAS DO LEÃO - O pesquisador do Instituto Assaf e professor a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Fabiano Guasti Lima destaca a principal vantagem da poupança. "Não há cobrança de Imposto de Renda." E o dono do dinheiro pode resgatar os valores quando quiser sem pagar IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), como ocorre em outras modalidades. Porém a caderneta tem a menor rentabilidade entre as opções de investimento. Calil explica que em seis meses, o retorno atinge, em média, 3,8%. Portanto ao investir R$ 10 mil, após um semestre o resgate seria de R$ 10.380. Desses 3,8 pontos percentuais de rentabilidade, 0,8 ponto percentual é referente à TR (Taxa Referencial), que é responsável pela correção do rendimento da caderneta para que a elevação média dos preços não coma o lucro. "Só passa a ser mau investimento quando a inflação entra na casa dos dois dígitos", acrescenta Calil. Neste caso, o conselho é migrar para aplicações indexadas na Selic, pois o BC elevará a taxa básica de juros para conter a inflação. Título do Tesouro é atrativo para quem tem até R$ 50 mil A renda fixa é apontada pelos especialistas como melhor opção para investimentos de até R$ 50 mil e prazos acima de seis meses. Com a inflação e a Selic em alta, os títulos do governo são opções mais rentáveis que a poupança, tendo em vista que são atrelados a esses indicadores. Mas o professor de Finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras Mário Amigo avisa: "É importante conhecer essa ferramenta para não entrar em apuros." Amigo diz que as LTFs (Letras Financeiras do Tesouro), que são atreladas à Selic, estão em vantagem neste cenário de pressão inflacionária. Até a semana passada elas rendiam, em média, 10,6% em 12 meses. Porém os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e Fundos DI, que são atrelados aos CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários), também são indicados. Suas rentabilidades, normalmente, superam a poupança e têm baixo risco. Sem contar a comodidade de apenas deixar o dinheiro com o banco, que por sua vez trabalha para engordá-lo. No entanto é necessário atenção ao investir em CDB. "Se os bancos oferecerem mais de 100% do CDI de rentabilidade, é porque ele está querendo captar e pode não estar saudável", destacou Mauro Calil. Ele aconselha entrar nesta modalidade com mais de R$ 20 mil. Cuidado na hora de analisar taxas aumenta a chance de lucro CDBs, fundos DI, títulos públicos, fundos de renda fixa, variável, multimercado e ações. Em todos são cobrados imposto de renda sobre o lucro. Quanto menor o período em que o dinheiro ficar aplicado, maior será a taxação, cujo máximo é de 22,5%. A menor taxa, com o dinheiro investido por mais de dois anos, é de 15% sobre a rentabilidade E muitas vezes a junção da taxa de administração com os tributos acaba desvalorizando o rendimento. "É interessante aprender um pouco sobre esses investimentos antes de conversar com um gerente de banco ou corretora. E sempre questionar o percentual de taxa de administração", orienta o professor Mário Amigo. Emprestar para o governo é forma de garantir os ganhos A modalidade de investimento que mais se aproxima da poupança em baixo risco são os títulos do Tesouro Nacional. No entanto sua rentabilidade, historicamente, é superior e o aplicador deve conhecer bem a ferramenta para investir. O site Tesouro Direto, no qual é possível adquirir esses papéis, aponta que a menor rentabilidade dos títulos em 12 meses encerrados na semana passada era de 10%. Enquanto isso, a poupança paga, em média, 6% ao ano. A média de ganhos dos papéis do governo, no mesmo período, é de 15%. Segundo professor de finanças pessoais da EESP-FGV Samy Dana, existem apenas dois riscos nesta modalidade. Um é referente às corretoras que fazem a intermediação entre a compra dos títulos. "Se a instituição financeira quebrar e a compra do título já foi efetuada, não há problemas porque o título estará em nome do investidor. Porém se a pessoa tem dinheiro parado na corretora e esta falir antes de realizar a operação de compra, o aplicador pode perder os recursos", explicou Dana. O segundo risco é o governo federal realizar calote, ou seja, não liquidar as suas dívidas com os investidores. Mas essa opção é quase nula, tendo em vista que a hipótese seria viável apenas se o País passasse por dificuldades econômicas graves. Esse risco diminui ainda mais levando em consideração quais são os investidores dessa modalidade. Além dos consumidores, instituições e fundos, a fim de engordar seu capital, também emprestam dinheiro para o governo federal por meio dos títulos do Tesouro. Dana diz que, por esse motivo, o governo não deixaria de pagar suas dívidas, tendo em vista que poderia causar um desastre econômico ainda maior.